I - Investigação

Viktor saiu de seu carro e encarou a entrada do hotel. As luzes dos carros de polícia piscavam sem parar. Haviam jornalistas, fotógrafos e curiosos para todos os lados, sendo restritos da entrada apenas por policiais e suas faixas de "não ultrapasse".

Ele bufou. O trabalho de detetive ficava cada vez mais cansativo. Mais monótono. Ele já podia imaginar o que encontraria por lá. Talvez um crime passional, ou um corpo que morreu por overdose, quem sabe uma briga entre amantes que acabou mal? Em um lugar como aquele, havia possibilidades previsíveis. Escondendo as mãos no bolso do sobretudo, ele caminhou até a entrada do hotel e não demorou para que os policiais o reconhecessem e abrissem passagem.

No hall do hotel, alguns funcionários eram entrevistados, peritos andavam de um lado para o outro com sacolas nas mãos, tirando fotos, aplicando químicos nas paredes a procura de impressões digitais e qualquer outra pista.

— Chegou bem na hora da festa.

Viktor sentiu alguém tocar em seu ombro. Ao virar, se deparou com alguém conhecido.

— Oficial Petrov, — Ele estendeu a mão para um aperto firme, cujo velho homem de bigode e distintivo retribuiu. — é bom vê-lo de novo.

O homem sorriu.

— É uma pena que eu só te encontre quando tem um corpo pra ser visto, certo? Bom...pelo menos na maioria das vezes.

— "Maioria"?

O oficial deu a ele um olhar de certa antecipação, como se o que estivesse prestes a ver fosse um pouco incomum.

— Anda, é por aqui.

Viktor seguiu o policial pelos corredores do hotel, até chegarem a um elevador. Haviam mais fitas amarelas em volta dele.

De longe, o detetive viu um dos homens da perícia fotografando o local, enquanto outros dois conversavam ao lado de fora e faziam suas anotações. Ele olhou para o oficial, que assentiu com a cabeça, assobiando para o pessoal da perícia, que entenderam o recado assim que viram o detetive e então, recolheram suas coisas e saíram.

Viktor se aproximou lentamente do elevador e, quando finalmente ficou frente a frente com ele, de portas abertas, a primeira coisa que viu foi a si mesmo no reflexo do espelho que havia ali. Era um elevador estranhamente chique. Logo abaixo do espelho havia um banco de couro vermelho e, um pouco mais afastado um banco para o ascensorista, ou melhor, o "homem do elevador".

Mas, algo se destacava.

Sangue.

Sangue nas paredes, nos botões, no espelho, no piso. Era claro que algo havia acontecido ali dentro, algo violento, mas faltava uma peça chave.

Viktor se virou, olhando para o oficial, que também encarava a cena com certa curiosidade.

— O corpo já foi recolhido para a autópsia?

— Esse é o problema.

— Não temos um corpo?

— Temos, mas...











[...]











— Foi você quem fez a autópsia no corpo, certo?

Viktor perguntou ao legista do necrotério, um jovem baixo de cabelos ondulados e óculos. Ele parecia nervoso, suado, era claramente novo na área.

Quando o oficial disse a Viktor que o corpo foi roubado do necrotério a poucas horas, o rapaz fez questão de ir até o local para investigar e questionar por si só. Como um corpo pode ser roubado de um necrotério sem que ninguém veja?!

— S-sim senhor, eu fui!

— E o que fez logo depois?

— Eu fiz os relatórios e os registros das amostras! D-depois eu só ensaquei e coloquei na sala de resfriamento.

— E depois?

— Eu fui fazer minha pausa...e, d-depois fui fazer outras autópsias! Aí, duas horas depois, no último exame do meu turno, eu entrei na sala de resfriamento pra guardar mais um corpo e, q-quando eu entrei, a gaveta dela estava vazia! Não tinha nada, n-nadinha e ninguém sabia dela!

— Entendi. — Viktor anotou todos os detalhes que achava necessário, e então começou a olhar em volta, reparando que o local tinha algumas câmeras. — Essas câmeras funcionam?

— Ahm...eu acho que sim. Quem cuida disso é a segurança daqui, e-eu não sei de muita coisa.

— Antes de terminarmos, quero ver os registros dela, tudo que você fez.

— Sim, senhor!











[...]










Sentado em uma sala qualquer do necrotério, Viktor lia as informações da vítima.

Era uma garota. Uma garota jovem, com seus dezoito ou dezenove anos, a parte da ficha onde deveria estar seu nome ainda estava em branco, ela tinha por volta de seus um e cinquenta e cinco de altura, pesava cinquenta e dois quilos, cabelos azuis, olhos da mesma cor e pele clara.

Pelas fotos, estava claro que ela foi cruelmente dilacerada. Haviam cortes de faca por todo o seu corpo, e em detalhes foi escrito que apenas um dos dez cortes desferidos era profundo, estava bem no lado esquerdo de seu peito. Além disso, seus tornozelos foram quebrados. Não havia qualquer sinal de violência sexual ou DNA de outro indivíduo em seu corpo, nada em seus dentes, em sua intimidade ou embaixo de suas unhas.

O relatório dizia que a causa mortis foi uma hemorragia.

Assim que terminou de ler, e de fumar seu cigarro, Viktor vou atrás da segurança do local.











[...]










— Temos dez câmeras espalhadas por aqui, mas como não são permitidas gravações nas salas de exame, só podemos fornecer gravações do frigorífico.

— Mas parte dessas câmeras estão nos corredores, certo? Deve ter alguma de frente par a porta do frigorífico.

— Sim, nós temos. Temos da entrada do frigorífico, da entrada da sala de exame, dos corredores, porta de frente e dos fundos...tudo. Só não podemos ter do lado de dentro.

— Quero ver as filmagens, — Viktor colocou a mão no bolso, tirando seu distintivo. — por favor.

O segurança deu de ombros, saindo de sua cadeira e dando lugar ao detetive, na frente do computador.

— É todo seu.

Viktor se sentou, olhando para a tela do computador, com filmagens esverdeadas das câmeras de segurança e de tudo que acontecia naquele exato momento. Ele resolveu que assistiria todas as gravações daquele dia. Desde o primeiro legista que entrou, até o momento que o corpo entrou no local e a hora do seu sumiço.










[...]









— Aqui, — Viktor jogou duas fotos impressas na mesa do oficial, que bebia seu café. — temos um suspeito.

Petrov o olhou com certa surpresa, ele reparou em como haviam olheiras profundas nos olhos de Viktor, que lutavam para ficar abertos, além da forma com que cambaleava um pouco.

O oficial pegou fotos, eram duas imagens de câmeras de seguranças impressas, de um homem entrando e saindo da sala de resfriamento. Era difícil enxergar bem, mas ele parecia ser alto, magro, usava um jaleco com blusa azul, bermudas escuras e...meias compridas? Ele tinha um sorriso suave e segurava uma prancheta em ambas as imagens.

— Então...quem é o palhaço?

— Se referiram a ele como doutor Masacrik.

— Masacrik? E porque o consideraríamos um suspeito?

— Ele foi o último a entrar e sair da sala de resfriamento antes do legista que examinou a garota voltar com outro corpo e encontrar a gaveta vazia. Olhe, — Viktor apontou para o canto da imagem, onde haviam alguns números. — Essa é a hora que ele entrou e saiu de lá. Entrou às sete em ponto e saiu às sete e vinte. Ele ficou vinte minutos lá dentro, e logo depois, o corpo sumiu.

— Temos imagens dele saindo com o corpo?

O detetive hesitou em responder.

— Não, mas...não tem como ser outra pessoa. Ele foi o único.

Petrov ergueu uma única sobrancelha, olhando para Viktor.

— Olha, é um pouco difícil incriminar o cara se não temos imagens do cara saindo com o corpo, entende? Qualquer câmera e qualquer um o veria saindo de lá com um saco enorme.

Viktor não pareceu satisfeito com a resposta.

— Então precisamos investigar a sala de resfriamento, procurar por buracos, provas, alguma coisa. Além do mais, eu ainda acho válido considerá-lo como suspeito, no mínimo, fazer um interrogatório.

Petrov suspirou.

— Já sabemos aonde esse caso vai dar, não sabemos? Ninguém foi atrás da garota, nenhum parente, namorado, colega de quarto...nada.

— Senhor, eu preciso tentar. O corpo de uma garota simplesmente some de um necrotério depois de ser brutalmente assassinada em um elevador e nós não vamos fazer nada? Quem a matou? O assassino e quem sequestrou seu corpo são a mesma pessoa? Além disso, quem é aquele doutor? Que conexão ele...

— Viktor! — O delegado levantou a voz, fazendo o rapaz parar de falar. Ele suspirou novamente. — A investigação vai seguir, só estou apontando o óbvio. Podemos considerar um interrogatório com o tal doutor, mas se não houver nada demais sobre ele, não vá muito longe. Nós dois sabemos que você tem uma tendência a...se envolver demais.

Viktor franziu o cenho, um pouco contrariado e ofendido, porque no fundo ele sabia que era verdade, mesmo enxergava de outra forma. Ele enxergava o seu "se envolver demais" muito mais como uma "indignação" e "senso de justiça".

Ele recolheu as imagens da mesa de Petrov e deu as costas.

— Vou começar pelo hospital em que ele trabalha, depois vou procurar por mais detalhes no hotel.

— Viktor são duas da manhã. Já chega por hoje, não acha?

— A noite ainda não acabou, oficial. Eu tenho tempo, muito tempo.







.

Oi pessoal! Tudo bem? Queria avisar que a autora dessa fic resolveu descontinuar a obra, e eu pedi a permissão para continuá-la, então aqui estamos! Espero que gostem da obra!

Aparentemente não existem muitas fanfics de Psychocutie no Wattpad, por isso seria interessante dar continuidade a esta!

Se vocês querem saber mais sobre Psychocuties, o primeiro episódio pode ser encontrado no canal da autora TAMAKUZ, no youtube.

(Lembrando, tanto Ushka quando Masacrik são maiores de idade, tanto canonicamente quanto nesta obra!)

Não esqueça de deixar seu voto "⭐️" e comentário!

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