12. Beijo

Não prestei atenção no caminho, minha cabeça estava a mil por hora, meus pensamentos corriam, não sabia ao certo o que pensa, na verdade, era muita coisa, muita informação.

Enfim eu soube o que Trevor passou, e tive a resposta de tantas perguntas, eu podia vê o por quê do medo em nossa aproximação, o por quê da promessa, e o por quê do cuidado comigo, mas não entendia o por quê dele se fechar, pelo que ele disse, Jenny tinha deixado claro que não ia querer isso pra ele.

Mas eu não poderia fazer nada, isso era algo que somente ele poderia mudar, somente ele poderia se curar, se perdoar e superar.

Quando ele parou a moto, consegui sair dos meus devaneios, quase não acreditei quando olhei em volta.

   "Peraí, você é quase meu vizinho! Como não me disse antes?" Eu disse em tom surpresa.

A casa dele, era na rua de trás da minha.

   "Eu sempre fui andando, você poderia usar a lógica de que era perto, não é?" Ele disse rindo.

   "Pensei que você vinha andando do ponto de ônibus!" Eu expliquei, ainda chocada.

Andamos em direção à casa, era um tanto estranho Trevor morar ali, a casa era grande, e quem visse por fora, poderia garantir que quem morava ali, era uma família, e não um jovem de 22 anos.

   "Então?" Ele perguntou, assim que entramos na casa.

   "Você mora sozinho aqui?" Queria saber se pelo menos dividia a casa.

   "Yeah!" Ele falou balançando a cabeça.

   "Não é grande pra você? Parece uma casa de família." E realmente parecia, era decorada como tal.

   "É que... Essa casa... Nós passamos por aqui, e sonhamos em comprá-la, ter nossa família aqui, eu e... Jenn." Ele parecia constrangido em admitir.

   "Ah!" Não consegui disfarçar a surpresa.

   "Quando voltei pra faculdade, vi que estava à venda, não sou de pedir nada aos meus pais, mas eu queria e precisava de um lugar meu... então." Ele falou abrindo os braços pra demonstrar.

   "E não é doloroso?Se apegar a isso? Não seria melhor você esquecer? Viver aqui não machuca?" Eu o enchi de perguntas, com minha curiosidade.

   "Ela ia querer que eu me lembrasse dela todos os dias." Ele respondeu fechando a cara.

   "Mas existem várias formas de lembrarmos de alguém. Talvez ela não quisesse..."

   "Você não a conhecia!" Ele aumentou o tom de voz repentinamente, me assustando e me fazendo dá uns passos para trás.

   "Ei! Me desculpa, me dói falar dela, não quero..." Ele se aproximou passando a mão em meus braços.

Eu vi que esse assunto realmente tirava o equilíbrio de Trevor, e preferi não insistir mais.

   "Tudo bem, me mostre sua casa." Eu falei com um sorriso tímido.

Ele me mostrou todos os cômodos, na sala haviam vários porta retratos, com fotos com Trevor e Jenny, e uma família, que arrisco dizer ser a dela.

Não sei se tudo isso, era algo saudável, a casa era como um santuário de lembranças, entendia por que era difícil pra ele superar, ele se cercou e se fechou de recordações dela.

Pelas fotos, percebi que Trevor realmente estava certo quando disse que ela era linda, e na aparência, ela não parecia nem um pouco comigo, ela era morena, seus cabelos escuros e cacheados, que só acentuavam mais sua beleza.

Por mais que eu não quisesse, vê as fotos deles, tão felizes, me deu uma pontada de ciúme, não deles, mas por saber que ela teve o Trevor que eu poderia nunca conhecer.

Paramos em seu quarto, e novamente, fotos de Jenny espalhadas. Revirei os olhos, sem que ele percebesse.

Até que era um quarto legal, paredes brancas, em duas delas, tinham umas pinturas em preto, como se fossem tatuagens tribais, era muito maneiro. Passei a mão pela parede.

   "Isso é legal!" Eu falei em relação à pintura.

   "Eu fiz, se quiser, podemos pensar em fazer no seu quarto também, algo assim..."

   "Seria ótimo! Por isso a Triss falou para pintar meu quarto, ela já tinha vindo aqui!" Eu disse constatando.

   "Na verdade não. Eu nunca trouxe alguém aqui." Ele disse passando a mão na nuca.

O que ele disse me deixou desconcertada, não sabia o que falar, ele não queria nada entre nós, mas falava essas coisas, me deixava confusa, corri os olhos pelo quarto, até vê um violão, e pensar em uma oportunidade.

   "É seu? Você toca?" Eu disse apontando para o violão.

   "É sim, eu tento... quer ouvir?" Ele perguntou com certa presunção na voz.

   "Na verdade, não." Eu falei rindo e ele instantaneamente fechou a cara.

   "Ah claro, eu não sou o Jackson." Ele falou, com uma careta, como se fosse um menino fazendo birra.

   "Não, não é, você é o Trev, e isso é ótimo." Eu disse olhando em seus olhos.

Um sorriso de orelha a orelha brotou em seu rosto, eu fui até o violão, o peguei, e sentei na cama dele.

   "Na verdade, eu quero que você me ouça." Falei rindo timidamente.

   "Você toca?" Ele disse parecendo surpreso.

   "Unhum, e canto." Eu falei timidamente.

   "Nunca me disse isso." Ele falou sentando ao meu lado.

   "Poucos sabem, minhas amigas de infância... Danny... É algo muito particular meu... Posso?"

Ele apenas assentiu, com um sorriso doce e um olhar curioso.

Eu planejava algo, seria minha última tentativa, a última tentativa de mostrar um pouco do que eu estava sentindo, então escolhi cantar "Say Somenthing", esperando que ele entendesse o que eu tinha a dizer.

Caso contrário, se ele quisesse seguir com essa vida presa a recordações, e com essa promessa ridícula, eu aceitaria de vez.

Comecei a cantar, olhando fundo em seus olhos, às vezes fechava os olhos, quase desejando que aquilo fosse real, minha entonação no refrão era mais forte, queria que ele sentisse cada palavra dita.

"Diga alguma coisa, ou estou desistindo de você
Eu serei a escolhida se você me quiser
Eu teria te seguido para qualquer lugar
Diga alguma coisa, ou estou desistindo de você
E eu
Estou me sentindo tão pequena
Foi demais para minha cabeça
Eu não sei absolutamente nada
E eu
Tropeçarei e cairei
Ainda estou aprendendo a amar
Estou apenas começando a engatinhar
Diga alguma coisa, ou estou desistindo de você
Me desculpe por não ter conseguido chegar até você
Eu teria te seguido para qualquer lugar
Diga alguma coisa, ou estou desistindo de você" (Tradução da música)

No fim da música, meus olhos lacrimejavam, e eu me segurava para não chorar.

E por mais que eu tivesse pensado, que ele não iria entender, ele tirou o violão dos meus braços, e se aproximou devagar, com cuidado.

Quando seu rosto estava a centímetros do meu, eu sentia sua respiração quente, seus olhos não encaravam mais os meus, em vez disso olhavam minha boca, o nervosismo ferveu em mim, eu sabia o que aconteceria, mordi os lábios, ele passou seus dedos com carinho neles, depois subiu o carinho pra minha bochecha, eu fechei meus olhos e em menos de segundos, ele selou sua boca na minha.

Fogos de artifícios, era como eu sentia dentro de mim, milhões de fogos explodindo, acendendo cada célula do meu ser. O beijo começou lento, gentil, e aumentou a intensidade pouco a pouco, sua barba arranhava meu rosto e fazendo cosquinha.

O que senti foi incomparável, muitos sentimentos explodiam em mim, naquele momento conclui que já tinha quebrado a promessa.

Eu tinha me apaixonado.

Ele se afastou, e olhou para mim, corei na hora, eu devia estar com um sorriso de orelha a orelha. Queria saber se ele sentiu o mesmo que eu.

Eu estava tão feliz.

   "Eu..." Comecei a falar mas fui interrompida.

   "Pronto! Era um beijo que queria, não é? Desde o dia da cozinha? Não precisa mais pensar em como seria, já foi! Agora podemos seguir em frente sem pensar 'E se...', somos amigos, entendeu agora?" Ele disse áspero, é rude, sem nem me olhar nos olhos.

Meu sorriso murchou pouco a pouco a escutar aquelas palavras, eu não acreditava, aquilo me destruiu. Ele não sentiu o mesmo que eu, só queria provar que realmente só éramos amigos. Lágrimas começaram a se formar em meus olhos, e eu não conseguia segurar, não dessa vez.

   "Como assim Trevor? O que você está falando? Isso tudo foi só pra mostrar que não sente nada por mim? Foi só mais um beijo pra você?" A mágoa era presente em minha voz, me levantei e me apressei a sair do quarto.

   "Quis te mostrar que não é nada demais! Você já beijou o Danny, está acostumada, não é?" Ele disse enquanto eu saía.

Não o respondi, o Danny foi diferente, ele sabia, já tinha explicado a ele, como pôde falar assim comigo? Como se eu saísse beijando todos os meus amigos por aí. Não evitei e deixei que as lágrimas corressem por meu rosto, chorei de decepção, vergonha, raiva e magoa.

Saí dali, o mais depressa possível, sem olhar para trás, não queria que ele me visse chorando, ele também, não se deu ao trabalho de sair do quarto, de se desculpar, vir atrás de mim.

Fui correndo para casa, as lágrimas caiam cada vez mais.

Não parava de pensar no beijo, eu tinha gostado tanto, as sensações novas que ele me trouxe, foram incomparáveis, e tudo isso só fez com que eu me arrependesse cada vez mais.

"Merda de beijo, merda de beijo, merda de beijo". Eu pensava incessantemente.

O dia já estava amanhecendo, passei a noite toda com Trevor, sem perceber.

Cheguei em casa correndo, bati a porta, e fui direto para cozinha, precisava de um copo d'água para me acalmar, quando cheguei, Danny já estava lá.

   "Danny? O que está fazendo aqui tão cedo? Veio tomar café conosco de novo? Eu falei surpresa, querendo enche-lo de pergunta, mas minha cabeça estava a mil.

Ele praticamente ignorou minhas perguntas, quando me viu, se aproximou e me abraçou

   "Ally, você está chorando, onde você estava? Está tudo bem?O que aconteceu?" Ele falava enquanto acariciava meu cabelo.

Eu aproveitei seu abraço e seu afago caloroso, enquanto um pensamento surgia em minha cabeça, eu me afastei pegando o celular.

   "Nada aconteceu, Danny! E você estava certo, as coisas realmente mudam!" Eu falei enquanto discava no celular e limpava as lágrimas.

   "Para quem você tá ligando?" Danny perguntou enquanto me observava preocupado.

Fiz sinal para que fizesse silêncio e esperei um tempo escutando o chamar da ligação.

   "Alô?" A voz conhecida disse sonolenta.

Juntei a raiva e a mágoa do Trevor, com a lembrança boa que ainda tinha guardado da noite anterior, e por mais que fosse bobo, consegui reunir coragem para fazer algo que nunca tinha feito.

   "Jackson? Oi, é a Ally! Desculpa te ligar tão cedo, mas eu queria saber uma coisa. Quer sair comigo hoje?" Eu perguntei apressada, sem hesitação alguma na voz.

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"Amo vocês, K"

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