70 - Se aproxima dele de novo que te deixo careca!

HENRIQUE

Não consigo entender muito bem o que está acontecendo, principalmente quando Amora grita que já sabe da verdade. A situação piora de forma drástica quando Janna simplesmente decide socar o rosto de Ingrid inúmeras vezes.

Que porra está rolando?

Não dá tempo de pensar muito bem, pois sobra para mim e Lázaro separar as duas, pois Daniele, Mahmoud e Amora ficam na torcida por Janna, pedindo para que a mulher acerte cada vez mais golpes.

- Quebra o nariz dessa vaca! - grita Daniele.

Que caos.

Lázaro finalmente consegue tirar a esposa de cima de Ingrid. Nossa, Janna era muito mais forte do que aparentava.

Com muito custo, ajudo minha ex-esposa a se levantar. A mulher estava meio tonta, então precisa se apoiar no meu ombro com força. Nesse momento, o Rocha aparece no meio dos outros hóspedes do hotel que observavam a porradaria.

O homem vem como uma força da natureza em direção à Ingrid, completamente desnorteado, o que até fazia sentido, pois ele era pago para que situações desse tipo não acontecessem.

- O que está acontecendo aqui? - pergunta, tomando a mulher de meu apoio para seu colo. Ingrid geme de dor, mas não diz nada. Sangue escorria por suas narinas, o que emputecia ainda mais Rocha.

O homem atacaria qualquer um naquele momento, e isso era perigoso demais. Janna percebeu o perigo, então tomou uma distância segura.

- O que aconteceu, - diz Amora, tomando a frente. Meu coração se aperta... tinha medo dele ataca-la, e pior, ainda não estava pronto para vê-la - é que descobrimos a porra da verdade.

Ele fica em silêncio, observando Amora.

- Não vai falar nada?! - esbraveja.

- Do que você está falando, Amora? - pergunto, desnorteado.

Não estava pronto para encara-la, mas não podia ficar por fora da situação. Algo de muito errado estava acontecendo, e sei que Janna não agrediria Ingrid a toa. Sim, sabia que minha amiga não suportava sua presença, mas ela era racional.

Amora dá um sorriso psicótico, o que me assusta.

- Rocha, eu gostaria muito que Ingrid contasse, mas acho que ela não tem condições agora, né? - ri, debochada.

O homem rosna.

- Vocês vão se arrepender muito disso, pode ter certeza! Ingrid só está correndo atrás do que sempre lhe pertenceu! - fala, com convicção.

- Eu não sei quem é mais doido! - diz Mahmoud, indignado.

- Os dois estão no mesmo nível! - esbraveja Daniele.

- ALGUÉM PODE ME EXPLICAR?! - grito, transtornado.

Uma grande discussão começa entre Rocha, Amora, Janna, Mahmoud e Daniele. Minha esposa e seus amigos tentavam convencê-lo a falar, já que tinha participado de sabe se lá o que.

Lázaro perde a paciência e dá um grito, ordenando que todos ficassem quietos.

Meu amigo sempre foi um homem muito controlado e calmo. Vê-lo daquela forma me deixava ainda mais perturbado.

- Acontece, Henrique - passa as mãos no rosto, limpando o suor -, que essa suposta traição, foi arquitetada por Ingrid e esse brutamontes. Amora não sabia de nada!

- Como pode isso? - pergunto, confuso.

- É que você é impulsivo, e simplesmente não se atentou ao horário das mensagens! A troca foi enquanto meu celular estava sumido! - diz Amora. Sua bochecha estava vermelha de raiva.

Fico em silêncio, tentando digerir a nova informação. Percebi que Ingrid ia retomando pouco a pouco as forças, pois seus olhos, por mais que inchados, já estavam bem atentos a tudo.

- Essa MALUCA - diz Mahmoud, apontando para Ingrid - roubou o celular de Amora quando o alarme de incêndio tocou. Por isso a conversa amigável! Era tudo a porra de um plano!

Não, não era possível. Sabia que Ingrid era capaz de qualquer coisa para conseguir o que quer, mas aquilo era demais até para ela.

Não fazia sentido! O que achou que ia acontecer!? Será que cogitou que, com o término do meu casamento, o nosso voltaria? Pelo amor de Deus!

O máximo que teríamos seria o envolvimento de uma noite, e não por ele, e sim para magoar Amora. Sei que é errado e sujo, mas preciso ser sincero comigo mesmo.

- Isso é verdade, Ingrid? - pergunto, dirigindo a atenção à mulher que estava deitada nos braços de seu segurança.

Ela respira fundo e se desvencilha. Antes de descer, encara o rosto do homem e sorri de forma forçada.

- Está tudo bem, meu amigo. Deu errado... Não tem mais como voltar atrás.

Ingrid desce e se aproxima. Amora de coloca em minha frente, bloqueando sua passagem.

- Fala daí, senão vou ser obrigada a terminar de arrebentar sua cara!

Rocha dá um passo à frente, mas o encaro emburrado.

- Juro que se encostar nela, você é um homem morto. Não é ameaça, e sim aviso.

Ingrid o encara compassivamente, como se pedisse para ficar aonde estava.

- Eles tem razão, Henrique. Foi tudo planejado - suspira.

- E o que você achou que ganharia com isso, Ingrid?! Que voltaríamos?

- Sim, tinha esperanças disso. Apenas queria recuperar o tempo perdido. Te largar foi um erro que jamais poderei concertar.

- Você tem razão, Ingrid. Jamais mesmo! E mesmo se meu casamento chegasse ao fim, o nosso não teria chance alguma. Hoje em dia você se tornou um grande nada para mim. É como se nosso relacionamento tivesse acontecido em nossa vida.

Amora me encara, chorosa.

- E hoje tenho consciência de que encontrei o amor da minha vida! - me aproximo de Amora e dou-lhe um abraço - Essa mulher é tudo e mais um pouco. Não a trocaria por nada, nem ninguém. Muito menos por você.

Os olhos de Ingrid se enchem de lágrimas, mas ao invés de despeja-las, ela sorri amargamente.

- Você ainda vai mudar de ideia, Henrique. Juro! - dá uma risada - E vai se arrepender demais por ter me humilhado dessa forma - passa os dedos debaixo dos olhos, limpando as lágrimas que insistiam em descer.

- Mulher, tu precisa de uma terapia urgente! - diz Mahmoud, apavorado.

Meus amigos riem da afirmação, o que emputece ainda mais Ingrid. Ela encara Amora e sorri mais uma vez.

- Você venceu a batalha, mas a guerra ainda não chegou ao fim.

Amora se aproxima e a encara de forma desafiadora.

- Se aproxima dele de novo que te deixo careca! - ri da própria fala - Ah, fofinha - debocha - tenta a sorte.

Ingrid não responde nada, apenas dá de costas, anda em direção ao segurança, agarra seu braço e sai do local.

Os outros hospedes aplaudem a forma que o 'evento' da noite havia terminado, o que é até engraçado.

Todos voltamos ao quarto, incrédulos.

Assim que a porta se fecha, encaro Amora e dou um sorriso desesperado.

- Você me desculpa por ter agido dessa forma? - aproximo ainda mais meu corpo do seu.

- Não precisa se desculpar, meu amor. Eu teria agido pior.

Todos do quarto riem, inclusive eu. Aproximo meu rosto do dela e dou-lhe um beijo desesperado, como se quisesse avisá-la que nunca iria embora.

Eu a pertencia por completo, e nenhum maluco seria capaz de nos separar. Ela entende o recado e corresponde as carícias.

- Ei, tem mais gente no quarto! - diz Lázaro, rindo.

Separo meu rosto do dela e dou um sorriso largo.

- Que tal sairmos para comemorar o término dessa loucura? Eu pago!

Todos concordam e comemoram, dando gritinhos. Saímos dali, em direção à recepção. A noite seria ótima.

AMORA

Fazem exatamente dois meses desde que a maluca da ex-esposa de Henrique cismou de 'acabar' com nosso casamento. Admito que me senti em uma novela mexicana, onde a 'bandida' faz de tudo para conquistar o mocinho.

Mas, de uma forma bem estranha, até que tudo isso contribuiu para uma melhora surreal dentro de meu relacionamento. Descobrimos que a maioria dos nossos problemas podem ser evitados com uma simples conversa. Comunicação dentro de um relacionamento é essencial.

Quando voltamos à nossa amada cidade, foi quase um evento para explicarmos tudo o que aconteceu aos meus pais. Dona Larissa ficou doidinha, jurava que teria acabado com a raça de Ingrid se estivesse ali presente. E, de verdade, não duvido nem um pouco disso.

Foi um período de tempo muito tranquilo, no qual acabei tomando uma nova decisão que poderia alavancar minha carreira dentro do direito. Resolvi me afastar da empresa e abrir meu próprio escritório.

A questão é que sempre sonhei em trabalhar na parte criminal, mas nunca tive coragem de deixar para trás certo para correr atrás disso. Mas essa viagem mudou minha perspectiva.

Tem muita gente filha da puta que passa impune de tanta merda. Não quero mais fechar meus olhos para isso. Me formei em direito para contribuir com a mudança da sociedade, e havia chegado o momento de fazê-lo.

A primeira pessoa com quem conversei sobre minha decisão foi Henrique, afinal, não tratava-se apenas de minha carreira. Estávamos lidando com o destino de nossas vidas... esse trabalho pode ser realmente perigoso.

Para minha surpresa, a resposta de meu marido foi extremamente positiva! E isso aquecia meu coração de uma forma inexplicável.

É muito bom estar ao lado de uma pessoa que torce tá tô por meu crescimento profissional.

O único problema seria informar meu pai sobre a decisão. Conheço muito bem o senhor Igor, e sei como pode ser sentimental. De qualquer forma, ele não teria muitas escolhas além de respeitar.

Estava em meu escritório de casa, montando uma planilha sobre os novos gastos, e pesquisando valores de lugares bem localizados. A concentração tomava conta de cada parte de meu corpo de tal forma, que nem ouço batidas à porta. Só me toco de que tem alguém ali quando vejo a maçaneta girar.

Igor Bragança, sua cabeça calva e seus óculos tortos adentram a sala. Sua feição era um tanto quanto desconfiada, o que me proporcionou um leve frio na barriga.

O homem estava de terno e gravata, o que era surpreendente, porque ainda estavamos no período da manhã. Ele adentra a sala e senta-se em minha poltrona.

- Não tem nada para me contar, Amora? - questiona, com os braços cruzados e sobrancelha arqueada.

O encaro aflita. Pelo que pude perceber, não sou tão boa de guardar segredos como imagino.

Dou um longo suspiro, coloco os papéis à mesa e paro de frente a ele.

- Sobre o que exatamente o senhor está falando? - pergunto, fingindo plenitude.

- Não se faça de sonsa, Amora. Sabe muito bem do que se trata essa pergunta! - aponta às planilhas - É sério que achou que eu não iria notar o que estava acontecendo?

- Ah, pai... - passo as mãos no rosto - Estava arrumando uma forma de falar. Não é tão fácil assim, pois sei que vai ficar magoado...

Ele levanta, irritado, e para em minha frente.

- Magoado, Amora? Sério? Você pensou que eu, seu pai, não te apoiaria seguir seus sonhos? Essa insinuação me mágoa.

Sinto algumas lágrimas alcançando meus olhos. Aquela situação me deixou extremamente emocionada.

- Ah, meu deus - dou um sorriso largo e espontâneo -, eu sei que minha presença na empresa é importante para o senhor. Por isso estava arrumando uma forma de dizer que irei sair.

- Eu tenho notado seus movimentos estranhos desde que chegaram na Grécia. Porra, Amora, sou seu pai! É óbvio que ia notar.

- Hmmm... - O encaro, desconfiada.

- E sua mãe me disse, - revira os olhos - mas isso não é tão importante.

Dou uma risada estridente. Sabia que deveria ter contado para os dois ao mesmo tempo.

- Então é isso, pai. Vou sair da LHR, e montar meu próprio escritório. Vou me especializar na área criminal e me tornar uma advogada fodona de Cabo Frio.

Ele dá um sorriso, me abraça e dá um beijo estalado em minha bochecha.

- Me orgulho muito disso, Amora. Muito mesmo. Apenas fico preocupado, pois nessa cidade tem muita gente maluca. Promete que vai se cuidar?

- Ah, meu Deus, que fofinho! - dou uma risada - O senhor fica tão lindo se preocupando comigo!

Ele revira os olhos e dá um sorriso bobo. Fico impressionada como nossos traços se pareciam quando ele está feliz.

- Estou falando sério, porra! - ri - Não me deixe sem graça, filha. Você precisa mesmo se cuidar dentro dessa área!

Reviro os olhos, tediosa. Sua preocupação era compreensível, mas sabia me cuidar bem o suficiente.

- Pode ficar tranquilo, pai. Vai ficar tudo bem comigo!

- Ótimo! Agora oferece um café da manhã para o seu pai, que ele está cheio de fome. Sabrina e Henrique ainda estão dormindo, fui obrigado a usar a chave escondida.

Dou uma risada e assinto. Vamos andando até a cozinha, conversando sobre a nova realidade que batia em minha porta.

Alugaria um novo lugar ainda naquela semana. Estava muito empolgada!

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