AMORA

Mahmoud e Daniele me obrigaram a passar a noite trancada no quarto. Não sei o porquê dessa fixação em me manter fiel a um casamento fracassado. Foda-se, cara! Já deu errado. Ele me traiu com a porra da ex-mulher, então não faz mais sentido algum fingir que tem algum tipo de resolução.

Acabamos discutindo, porque já não aguentava mais toda essa proteção. Mas, depois de um tempo, acabei cedendo e passamos o restante do tempo disponível na hidromassagem, rindo dos últimos acontecimentos. De acordo com meus amigos, se tivesse feito o que estava pretendendo fazer, iria me arrepender 'amargamente'. Talvez estivessem certos em algum ponto, mas precisava jogar todo esse ódio fora de alguma forma, e que fosse sentando em um pau desconhecido.

Depois de muito tempo imersa naquela hidromassagem maravilhosa ao lado de duas pessoas que amo, consegui acalmar um pouco meus ânimos. Cheguei à conclusão de dar em cima de Ícaro no dia seguinte, pois não sou nenhuma safada para perder a oportunidade de me vingar de Henrique da melhor forma possível. Atitude infantil? Sim, para um caralho, mas estou me dando o direito de errar. Estava muito foda estar metida em um limbo de confusões de meu marido.

Tomei uma ducha rápida e deitei-me naquela cama maravilhosa. Nunca dormi em um colchão tão confortável. Inclusive, fiz uma nota mental de perguntar aos responsáveis pelo local de que era feito, pois sem dúvidas compraria um para mim quando voltasse ao Brasil.

Por mais que estivesse extremamente confortável e quentinha, não conseguia dormir de forma alguma. Os roncos de Mahmoud ecoavam pelo quarto, e Daniele estava apagada em um nível que era necessário vez ou outra conferir se estava viva ou não.

Estava tentando ser forte, e queria muito superar o quanto antes todos aqueles sentimentos ruins. O problema, é que nunca amei tão intensamente uma pessoa como Henrique. Sério, é absurdo como sua presença em minha vida parecesse necessária para que pudesse respirar. Era doloroso pensar que ele me fez acreditar que era reciproco por tanto tempo.

Sei que seu relacionamento com Ingrid não terminou bem. Ela simplesmente o largou, sem mais nem menos, e foi embora. É óbvio que sua volta mexeria de alguma forma com seu coração. Mas porra, trocar o certo pelo duvidoso? Meu Deus, tem uma família em jogo... A vida de uma criança está envolvida nessa situação, o que me deixa mais puta ainda.

Mais cedo, havia entrado em contato com meus pais, e passei um bom tempo conversando com Sabrina através de áudio. Somos muito apegadas, e me orgulho demais dessa relação. Sabia que esse relacionamento me ajudaria a superar toda aquela merda.

Depois de tanto tempo lutando contra meus próprios demônios, finalmente consegui dormir. Até que foi um sono tranquilo, pois Deus sentiu pena de meu psicológico e me poupou de ter pesadelos.

Acordamos mais cedo que o necessário, mas até que foi bom, pois o tempo estava maravilhosamente lindo. Estávamos em um quarto com vista para o mar, o que me empolgava ainda mais para dar um mergulho naquelas águas maravilhosas.

Tomamos um café da manhã reforçado, e, antes de partirmos àquela Praia moldada por Deus, decidimos pegar um solzinho na piscina. Quer dizer, eu fui tomar banho de sol, enquanto Mah e Dani aproveitavam a água climatizada na piscina.

Para minha felicidade, Ícaro estava por ali, tirando algumas folhas da piscina, e coisas do tipo. Meus amigos deram um mergulho, e eu, que não sou nenhuma safada, aproveitei a distância para pedir que o homem gostoso passasse protetor solar nas minhas costas e bunda.

Optei em usar um biquini fio dental branco, quase transparente, que exibia muito mais que todos naquele país estavam acostumados a ver. Assim que tirei o roupão, por mais que estivesse um pouco distante e tentasse disfarçar ao máximo, pude reparar seus olhares maliciosos. A tensão sexual entre nós dois arrepiava cada pelo de meu corpo e, depois de muito tempo, me sentia empolgada por estar em uma "nova caçada".

- Ícaro! - chamo, e ele leva um susto, pois nesse momento, estava observando minha parte traseira.

Meus amigos me encaram desaprovando a situação, mas ligo o foda-se com força.

- Ah - o homem solta um pigarro de nervoso -, oi Amora, bom dia! - dá um sorriso e coça a nuca, tentando disfarçar.

Dou um sorriso largo, e ele entende o porquê, o que imediatamente traz um forte rubor em suas bochechas. Pensei que fosse impossível, mas seus olhos azuis ganharam ainda mais evidência.

- Pode passar protetor nas minhas costas? - pergunto, cinicamente. Ele estava entendendo meu jogo, e, pelo que pude perceber, estava mais do que gostando da situação.

- Claro! - dá um sorrisinho de lado e vem andando calmamente em minha direção.

Entrego o creme em suas mãos e ele começa a espalhar nas minhas costas, como se estivesse massageando meus músculos. Devo admitir que a sensação era muito boa, mas melhorou ainda mais quando suas mãos desceram à minha bunda. Alguns arrepios alcançaram meu corpo. Percebi que havia reparado por conta da maior intensidade em seus movimentos.

Mahmoud e Daniele pareciam extremamente descontentes com a situação, e Dani até tentou começou a sair da piscina para me tirar dali, mas já estava preparada para lhe dar um corte. Sei que Henrique era seu melhor amigo, mas no momento, o assunto não era esse, e sim o fato de ter me traído como se nosso relacionamento não valesse de nada.

Estava excitada, e não era pouco. Já fazia muito tempo que não era tocada daquela forma, e cada vez mais arrepios alcançavam meu corpo. Se continuasse daquela forma, o arrastaria ao banheiro mais próximo quando ele menos esperasse.

Quando estava prestes a levantar e agarrá-lo, cedendo às súplicas de minha buceta, ouço um grito muito mais familiar que o necessário.

- SEU FILHO DA PUTA, TIRA A MÃO DA MINHA MULHER!

O homem que estava em cima de mim leva a porra de um soco no rosto vindo de ninguém menos que meu marido. A única coisa que se passava na minha cabeça era "QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?"

Olho ao redor e a porra de um aperto alcança meu peito. Grito como louca para que Henrique não agredisse Ícaro, enquanto os dois rolavam pelo chão, feito dois adolescentes violentos. Lázaro vinha correndo na direção dos dois, com o propósito de separá-los. Mahmoud também nos alcança, juntamente a Dani. Uma mulher loira, dos olhos azuis, e muito magra, vem correndo na direção da briga, totalmente desesperada. Os quatro se encarregam do trabalho, enquanto Janna vem em minha direção, ao lado de ninguém menos que a VAGABUNDA da Ingrid.

- Eu preciso que você mantenha a calma, Amora - diz Janna, passando o braço ao redor de meus ombros, enquanto tenho meus olhos fixados em Ingrid, que nesse momento dirige um sorriso extremamente sonso a mim.

- O que essa COBRA está fazendo aqui? - pergunto, tentando me desvencilhar de Janna, mas a mulher é bem mais forte do que aparenta.

- Ah - ela ri. Sua voz fina arranha meus tímpanos -, você realmente levou a sério aquela mensagem? Ah, fofinha, estava brincando contigo! - debocha.

- Claro que sim - rosno -, não é como se você estivesse fodendo com meu marido! - tento avançar nela, mas Janna me impede.

- Ah, querida... - suspira - por mais que quisesse, - sorri, debochada - estamos aqui a negócios. Para ser sincera, pensei que você nem viria.

- Se você continuar agindo dessa forma - Janna diz, emburrada -, juro que vou soltá-la e sair de perto.

Ingrid revira os olhos e sorri.

- Você não tem mesmo bom humor. É só uma brincadeirinha.

- Claro que é! - diz Janna, me puxando para longe, deixando a vaca ali plantada, sozinha.

Sinto meu corpo tremer de raiva. Odiava estar envolvida em qualquer situação que não consigo entender. Todos ali me deviam explicações o quanto antes.

Janna puxa uma cadeira para que eu pudesse me sentar, o que faço prontamente. Assim que me acomodo, ela cruza os braços e me encara, fixamente.

- Você precisa manter a porra da calma, Amora! - diz, nervosa, andando de um lado para o outro.

- Como? Como você quer que eu fique calma, Janna Duarte?! Não estou entendendo porra nenhuma do que está acontecendo aqui! Essa viagem era para fugir do que está acontecendo no meu casamento, daí, quando menos espero, a porra do meu marido pula em cima do meu ex-futuro-peguete como um louco e soca seu rosto.

- Nem tudo é o que parece ser, Amora! - ela finalmente para, agacha em minha frente e apoia as mãos em minhas coxas desnudas - É sério... agora que estamos tendo a oportunidade de conversar, te garanto que o que está acontecendo, não é o que você acha.

Encaro seus olhos, confusa.

- Janna, eu sei o que li! Ele estava mentindo, agindo por trás e pior, me evitando. Jogou nosso casamento no lixo. Não estou minimamente a fim de vê-lo, tampouco de conversar.

- É, mas não me importo se você quer ou não. Vai conversar com ele e ponto.

Reviro os olhos e antes que pudesse responder, ela me interrompe.

- Nós não viemos à Grécia à toa. Você vai conversar com ele sim! Precisa entender que porra está acontecendo.

Respiro fundo e olho para o lado, evitando encará-la. Antes não tivesse feito isso, pois quando me dou conta, Lázaro e Ingrid vinham andando em nossa direção.

- Janna - Lázaro fala, encarando a mulher com os olhos arregalados, como se quisesse comunicar algo a mais -, leve Amora para o quarto. Ela te guia.

Janna assente e me puxa em direção ao elevador dos fundos, já que o da frente estava ocupado.

HENRIQUE

O homem, que descobri ser Ícaro, irmão de Lara, era muito mais forte que eu. Apenas não saí na pior por pegá-lo desprevenido.

Rolamos pelo chão, e quando percebi, Daniele, Lázaro, Mahmoud e Lara tentavam nos separar. Lara e Mahmoud puxavam Ícaro, enquanto Dani e Lázaro se encarregavam em me tirar dali.

- Que porra é você?! - grita Ícaro, nervoso, enquanto finalmente consegue ser puxado para longe de mim - Está maluco? -passa a mão no rosto, limpando o pouco sangue que escorria do canto da sua boca.

- Sou o marido da mulher que você estava apalpando! - esbravejo.

Ele me encara, confuso e dá um sorriso irônico.

- Passando protetor solar, você quis dizer, né? - cruza os braços - E outra, se você trai sua esposa, não deveria ficar tão puto vendo outro homem tocando as mãos nela.

Tento avançar no homem novamente, mas Dani e Lázaro me seguram com força. Lara se coloca no meio da situação, brava.

- Ei, chega! - cruza os braços, me encara e, em seguida, fixa o olhar no irmão - Ícaro, o problema não é nosso! - esbraveja e agarra sua mão - Venha, vamos limpar esse rosto - puxa o irmão bruscamente para direção oposta.

Quando estão distantes o suficiente para que não possamos ouvir mais, Daniele me solta e para de frente ao meu corpo.

- Que porra você está pensando, Henrique? - cruza os braços.

- Perdi a cabeça - desvencilho meu ombro bruscamente de Lázaro.

- É, querido, isso todos nós percebemos! - diz Mahmoud, se afastando - Vou atrás de minha amiga, pois sem duvidas ela precisa muito mais de mim do que você agora.

Sinto meu rosto formigar intensamente. Porra, aquilo não poderia estar acontecendo.

- Dani - encaro minha amiga e sento-me em um banquinho que tinha ali -, ela se envolveu com esse Ícaro? - pergunto, já me preparando para o pior.

- Não, Henrique - senta ao meu lado -. Mas porque eu e Mahmoud impedimos. Sabe como Amora é quando quer se vingar.

- E é justamente por isso que estou perguntando - suspiro, sentindo-me muito aliviado após ouvir aquilo. Passo a mão no rosto dolorido e limpo o suor.

- É o seguinte - diz Lázaro, com as mãos na cintura -, Dani, leva o Henrique para o quarto em que vocês estão hospedados, e aguardem Amora lá. Vou conversar com Janna, pedi-la para que a leve juntamente a Mahmoud, enquanto acompanho Ingrid ao restaurante que precisa de nossa análise.

- Mas ela quer minha avaliação - suspiro.

- Não, Henrique! Ela quer seu pau. Ela não se importa se vai ou não avaliar o prédio. Relaxa... - dá um sorriso irônico - E não é o momento de pensar nisso. Agora precisamos salvar a porra do seu casamento.

Daniele agarra meu braço e me puxa em direção ao elevador. Penso em voltar ao carro para pegar minhas malas, mas deixo para trás, na expectativa de algum dos funcionários leva-las depois.

No caminho, olho para o céu e peço ao universo algum tipo de ajuda. Amora precisava me dar a oportunidade de explicar tudo que estava acontecendo.