55 - AMIGA, NÓS VAMOS PARA A PORRA DA GRÉCIA

AMORA

Chego em casa e dou de cara com Mahmoud vendo televisão na sala. Estava com a mente tão avoada que acabei esquecendo que viria passar a tarde comigo. Até que sua presença seria boa, pois estava prestes a arrumar minhas malas, voltar à casa de meus pais, pegar minha filha e ir embora para sabe se lá onde.

Assim que percebe minha presença, desliga o aparelho e me encara, esperando por algum tipo de reação em relação a tudo aquilo que estava acontecendo. Antes de qualquer coisa, observei seu semblante e percebi que todo o mau humor com minha notícia de mais cedo havia esvaído. Melhor para ele.

- Vai Amora, pode falar! - me encara, de braços cruzados.

Sento-me ao seu lado, apoio meu rosto no seu ombro e me debulho em lagrimas.

- Mah, eu não acredito que ele está fazendo isso comigo... Não consigo entender! - soluço.

- Amiga - ele acaricia meus cabelos castanhos -, a melhor coisa que você pode fazer é pôr para fora!

- Ai, amigo - dou uma fungada -, você acha que fiquei feia com o tempo? Porra, sério! - levanto e dou uma volta completa -Estou menos gostosa? - cruzo os braços, revoltada.

Mahmoud não consegue segurar uma risadinha que surgia no canto de sua boca, o que acaba conseguindo aliviar um pouco minha tensão.

- Amora, meu amor, homem não trai porque a mulher não é gostosa, e sim por conta da falta de caráter! - levanta e para de frente ao meu corpo, me encarando de perto - Sabe o que estava pensando? Nós deveríamos viajar um pouco para você aliviar a mente..., mas uma viagem babadeira! Estava pensando em irmos à Grécia, o que acha?

Arregalo os olhos e solto uma gargalhada, meio forçada e meio honesta.

- Enlouqueceu? Tenho filha, seu maluco! Trabalho, tenho compromissos... - começo a contar nos dedos.

- E é justamente por isso que precisa tanto de um tempo para si! Vamos, eu pago sua passagem!

Cruzo os braços e o encaro, com uma das sobrancelhas arqueadas. Mahmoud sempre foi mão de vaca quando se tratava de gastar uma grande quantia de dinheiro para coisas que podem ser consideradas supérfluas ou fúteis.

- Não me olha assim, Amora! Eu só quero passar um tempo com você, Lázaro e Dani! Precisamos espairecer a mente.

- E em que momento Daniele e Lázaro entraram nessa equação? -pergunto, emburrada.

- Porra, para de ser ranzinza! Vamos nos divertir, aloprar como nos velhos tempos... - dá um sorriso animado e levanta o dedo indicador, como se tivesse acabado de ter a melhor ideia do mundo - Que tal fazermos a despedida de solteira que você não teve? Porra amiga, imagina o babado!

- Amigo - arregalo os olhos, dou meia volta e jogo o corpo no sofá de coro preto - estou com o casamento em crise e você só consegue pensar nessas baixarias? Pelo amor de Deus, em?

- Amora, meu amor - bufa e senta-se ao meu lado - já se passou na sua cabeça que talvez você esteja vendo coisa onde não tem?

Encaro seus olhos, como se quisesse uma explicação imediata pelo que havia acabado de falar.

- Amiga, pensa comigo... já cogitou a possibilidade de ter sido um encontro de trabalho e a viagem se tratar de negócios? Não acho que Henrique seja esse demônio todo!

Fico boquiaberta com sua afirmativa.

- Você mesmo me disse para prestar mais atenção em suas atitudes, seu maluco!

- É, mas mudei de ideia. Está certa de ter um pé atrás, até porque o ser humano é uma merda, mas não deveria ficar tão apreensiva. Nem tudo é o que parece ser.

- Você está sabendo de algo que não sei, Mahmoud? - o encaro com os olhos cerrados.

Ele dá um pigarro e um leve rubor alcança suas bochechas. Realmente algo estranho estava acontecendo e eu estava muito por fora.

- Amora, a única coisa que estou sabendo é que você está praticamente negando uma viagem babadeira à Grécia! Se você não for, saiba que eu, Lázaro e Dani vamos sem você!

- Hm... - arqueio a sobrancelha - E o que Elioth diz sobre isso? E Janna?

- Ah, eles são duas pessoas muito compreensivas. Capaz de irem até junto! - dá um sorriso - Vai, aceita! Vai ser legal!

Fico em silêncio durante alguns segundos, mas acabo cedendo ao seu pedido.

- Eu vou. Mas não porque quero, e sim por estar precisando aliviar um pouco a mente.

Mahmoud correspondeu minha afirmação com pulinhos e gritinhos felizes.

- AMIGAAA, - dá um largo sorriso - NÓS VAMOS PARA A PORRA DA GRÉCIA.

Queria estar tão feliz quanto ele, mas conseguia me sentir minimamente empolgada por conta de sua excitação. Pois é, eu iria à Grécia.

- E quando seria essa viagem, meu amigo? - cruzo os braços.

- Domingo! - responde, sem conseguir tirar o sorriso do rosto.

- Amigo, mas hoje é quarta-feira! São quatro dias para me organizar em casa, trabalho, ver se meus pais poderão ficar com Sabrina... meu Deus, que insanidade.

- É, está em cima, mas... Já aceitou. Não tem como voltar para trás.

Dou um leve soco em seu ombro e ligo a televisão.

- Tem razão..., agora vem, vamos assistir um filme de romance para que eu possa acabar com todo líquido do meu corpo.

Mahmoud sorri, senta-se ao meu lado e coloca o braço por trás de meu pescoço, em um abraço.

Ele não fala nada, apenas fica ali comigo pelo resto da tarde.

HENRIQUE

Meu coração palpita ao receber uma mensagem de Mahmoud afirmando que Amora havia aceitado a viagem. Meu Deus, o plano estava funcionando perfeitamente.

Fiquei o dia todo batendo a cabeça no trabalho, ansioso pelo fim do expediente. Meus planos estavam funcionando de uma ótima forma, e tudo estava bem..., pelo menos até o momento em que meus amigos me alertaram sobre a possibilidade de Ingrid querer me seduzir nessa porra de viagem.

Inicialmente, não sabia como reagiria à sua presença, até porque nosso relacionamento foi muito intenso, mas quando a vi... tive certeza de que a mulher de minha vida estava ao meu lado. A possibilidade de ter um caso com Ingrid, ser humano que simplesmente fodeu minha mente durante muitos meses, soava como uma puta piada de mau gosto.

O problema disso tudo é que, em certo ponto, eles estavam certos. A proposta estava boa demais para não exigir algo além de meu trabalho em troca. A parte ruim de sempre esperar o melhor das pessoas, é esse..., tomo no cu sem ao menos perceber.

Mas, Deus que me perdoe, tem que ser muito tapada para me oferecer várias passagens à Grécia sem cogitar que alguma delas seja para minha esposa. Ingrid nunca foi a pessoa mais inteligente, mas o esperado é que as pessoas evoluam com o tempo.

Sim, eu tinha como arcar com aquela viagem, tanto para mim, quanto para meus amigos, mas jamais a cogitaria se não fosse por minha ex-esposa. Tirando que seria ótimo receber para estar ao lado de pessoas que amo em um lugar paradisíaco. Resumindo, aquilo tinha tudo para ser maravilhoso, desde que Ingrid não desse de doida e fodesse com tudo.

Estava empolgado e criando um itinerário maravilhoso durante todo nosso trajeto, quando ouço batidas à porta. Tento ignorá-las, mas a cada minuto que se passava, as porradas se tornavam cada vez mais fortes.

Vou andando rapidamente até a entrada, e quando abro, uma surpresa. Igor estava ali, totalmente puto, bufando como um boi raivoso.

- Ué, cara - dou espaço para sua entrada -, pensei que não viria hoje! - fecho a porta assim que adentra minha sala.

- Não viria mesmo - cruza os braços e me olha como um psicopata sádico. Não sei por que, mas seu olhar me proporcionou alguns péssimos arrepios -, mas quando minha filha chega na minha casa chorosa, falando que está com problemas matrimoniais, acabo sendo obrigado a vir conversar com o marido dela.

- Porra, Igor! - sento em minha cadeira - Você me conhece perfeitamente, e sabe que jamais faria nada de ruim para sua filha!

- Não estou aqui como seu amigo, e sim pai da tua mulher. Minha filha está sofrendo, Henrique. Isso me parte o coração! Sei como os homens podem ser, até porque já fui minha pior versão há alguns anos. Olha... - se aproxima e me encara de perto - não quero que Amora passe pelo que fiz a mãe dela passar. Me culpo diariamente por isso, e, sinceramente, não aguentaria mesmo ver minha filha continuar do jeito que está.

- Igor... - reviro os olhos - eu não estou traindo sua filha! Não sou assim, isso realmente não faz meu tipo! - cruzo os braços - até me ofende saber que pensa isso de mim.

- Então o que está rolando? - senta-se na poltrona que tem próxima à minha mesa.

- Olha... - levanto, paro em frente à minha mesa e cruzo os braços, olhando em sua direção - eu teria que pedir ajuda, tanto para você, quanto para Larissa, então... - passo a mão no rosto, incrédulo ao saber que as pessoas realmente acreditavam na possibilidade de trair Amora - só está adiantando o processo.

- Desembucha logo! Estou nervoso! - bate o pé continuamente no chão.

- Estou deixando muito a desejar em meu casamento... Não, não traio sua filha, só tenho trabalhado além do comum. Passo muito tempo fora de casa, então, cheguei à conclusão de que precisava mudar algo para salvar meu casamento.

- É, tenho percebido um afastamento entre vocês - diz Igor, analisando a situação. Meu amigo era formado em arquitetura, mas se comportava como um psicólogo comportamental.

- Pois é, Einstein. Escuta, caralho! - falo, irritado. Igor me encara com um sorriso debochado no rosto. Por mais que esteja bem melhor, meu amigo continuava sendo um pela saco quando se tratava de implicância.

- Foi então que o universo mandou um sinal. Ingrid, minha ex-mulher, me convidou para avaliar um restaurante na Grécia. Ofereceu-se para pagar passagem para todos, então, decidi, junto a Daniele, Mahmoud e Lázaro, fazer uma surpresa para ela.

- Calma, sua ex-esposa? Não se passou pela sua cabeça que ela pode estar fazendo isso para foder seu casamento? Ou tentar... sei lá, te seduzir? - franze o cenho, em uma careta.

- Por que sou a única pessoa que não enxerga isso? Meu Deus, não entra na minha cabeça que ela possa ser pau no cu nesse nível.

- Henrique, pelo amor de Deus, você é muito ingênuo! - dá uma risada irônica - Ela te largou por um cara rico... O mínimo de se esperar dela é o pior. Essa vagaranha não vale um centavo.

- Vagaranha? - cruzo os braços.

- Estou passando muito tempo vendo novelas com Larissa, não me julgue.

Dou uma risada espontânea e ele me acompanha.

- Mas escuta senhor vagaranha! O combinado é que eu vá com ela em um jatinho no sábado e o resto do pessoal vá no domingo, com ela.

- Calma, você vai passar uma noite sozinho com ela lá? Porra, está maluco? Olha... - vem como um touro em minha direção e segura meu colarinho, com força -, se você trair minha filha, vou esquecer nossa amizade e te arrebento por completo.

- Igor, pelo amor de Deus - afasto aquele maluco - não vai rolar nada. Isso só vai contribuir para que o plano funcione melhor. Deixe-a pensar que sou um pau no cu, vou provar o contrário da melhor forma possível! - dou um sorriso malicioso e Igor dá um tapa na minha testa.

- Não exagera, ainda sou o pai dela - tenta segurar o sorriso, mas não consegue.

- Igor - dou uma gargalhada -, você e Larissa poderão ficar com Sabrina?

- Com uma condição - cruza os braços e arqueia a sobrancelha.

- Qual?

- Eu quero uma lembrancinha da Grécia! - faz bico.

Concordo e dou uma gargalhada em seguida. Igor ri em conjunto. Apenas estabilizamos nosso comportamento quando sinto meu celular vibrar e peço para que meu amigo saísse da sala, pois precisava continuar o trabalho.

Tiro o aparelho do bolso, desbloqueio e sinto meu coração acelerar quando vejo a seguinte mensagem:

Ingrid Leroy: Precisamos conversar sobre a viagem. Te encontro no escritório no mesmo horário de ontem! Beijos!

Puta merda, o que essa maluca queria comigo de novo? Já não estávamos com tudo resolvido?

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