52 - Quem morreu?

HENRIQUE

Chego em casa extremamente animado, pensando em mil e uma formas de surpreender Amora. Já estava pretendendo organizar um grupo no whatsapp com meus amigos, para que possam me ajudar a organizar tudo. Sei que jamais negariam uma viagem paga para outro país, principalmente se tratando da Grécia.

Deixei meu telefone com Ingrid, para que pudéssemos nos comunicar sobre os detalhes da viagem. Estava extremamente empolgado, que nem notei que Amora me esperava acordada.

Minha esposa queria me surpreender, e conseguiu. Joguei meu celular na cama, pedi para que me aguardasse e fui correndo tomar um banho. Teríamos uma noite de amor, que há muito não tínhamos. Fui o mais rápido possível no chuveiro, e quando voltei, para minha surpresa, Amora estava enrolada no edredom, virada para o lado.

- Amor? - deito-me ao seu lado - Aconteceu algo?

- Não, meu bem... Só bateu um mal-estar. Vou dormir que amanhã tem trabalho.

- Já que é assim... - coloco minha boca próxima ao seu ouvido - boa noite, meu amor! Amo você mais que tudo.

- Boa noite, Henrique. Eu... eu também - responde, sem sequer me encarar.

Fico perplexo. O que pode ter acontecido para que seu humor mudasse tão repentinamente? Será que estava passando mal mesmo?

Viro para o lado contrário ao seu e faço o grupo com meus cumplices, que, de início, ficam confusos com a reunião cibernética.

Daniele Vitter - Quem morreu?

Mahmoud - Gente, é madrugada, o que está acontecendo??? Amora está passando mal?

Henrique - Ninguém morreu e Amora está ótima. Mas vai ficar melhor, e para isso, preciso da ajuda de vocês!

Lázaro - Ah, pronto, lá vem Henrique com seus planos mirabolantes. Isso aqui é vida real, amigo! Não estamos na turma da Mônica!

Henrique - Larga de ser sem graça, Lázaro! É o seguinte..., preciso da ajuda de vocês para realizar uma surpresa romântica para Amora. Mas para contar os detalhes, preciso que se dirijam ao meu escritório amanhã, no período da tarde.

Daniele Vitter - Você acha que não temos vida? Porra, Henri, eu te amo, mas as coisas não podem ser organizadas de um dia para o outro... precisamos de tempo!

Henrique - E se eu falar que esse plano inclui uma viagem gratuita à Grécia para vocês três?

Mahmoud - Que horas é para estar no escritório?

Daniele Vitter - Ah, sendo assim, posso abrir um espaço na minha agenda.

Lázaro - Bando de interesseiros! HA, HA, HA! Pode contar comigo.

Dou um sorriso e encaro a tela do celular. Amora sente minha agitação, mas não se dá ao trabalho de virar em minha direção e ver o que estava acontecendo. O clima estava estranho, mas em breve tudo mudaria!

Henrique - Amanhã, 14h, no meu escritório. Boa noite!

Dou uma olhada em minhas mensagens antes de bloquear o celular para dormir, e percebo uma mensagem de Ingrid.

Ingrid Leroy - Obrigada pela noite, meu querido! Aguardo ansiosamente por nossa viagem! :*

É inevitável não bufar. Tinha concordado em firmar nossa parceria, não em virar seu "amiguinho". Minha ex-esposa me irritava com essa mania de forçar a barra.

Penso até em deixa-la no vácuo, mas seria falta de educação de minha parte, até porque, ela bancaria a passagem de meus amigos e esposa para outro país. Não que não pudéssemos pagar, mas era quase impossível não aceitar a proposta.

Depois de pensar em mil formas de respondê-la sem que entenda algo que não exista, pois ela tinha essa péssima mania de procurar cabelo em ovo e achar coisa onde não tem, mandei apenas um sinal de positivo. Agora nossa relação era profissional, e, de todo coração, espero que Ingrid entenda isso.

Não que não fosse atraente, muito pelo contrário. No auge de seus trinta e nove anos, minha ex-esposa tinha um corpo esbelto e muito bem conservado. Tinha tatuagens de mandala que preenchiam todo seu braço e mãos, o que chama bastante atenção de quem gosta desse tipo de arte corporal. Ou seja, Ingrid era sim uma mulher bonita, mas preciso admitir que jamais chegará aos pés de Amora.

Não gosto de comparar belezas, até porque isso é muito subjetivo, mas minha esposa era a mulher mais linda que já vi nesse mundão. E olha que já viajei para tudo quanto é lugar. Seus olhos azuis hipnotizantes, lábios em formato de coração... meu Deus, eu sou o homem mais sortudo do mundo! E é exatamente por isso que estou tão ansioso para essa surpresa... Quero lembrá-la do tamanho do meu amor.

Coloco o celular na bancada e viro para seu lado, abraçando sua cintura. Amora até tenta se afastar, mas cede e encaixa na conchinha. Ah, como amava a sensação de ter seu corpo colado ao meu.
AMORA

A madrugada foi longa, e eu não consegui dormir nem por duas horas. Minha cabeça foi tomada por teorias e mais teorias, e eu apenas queria afundar minha cabeça no travesseiro e nunca mais sair dali.

Sinto o corpo de Henrique colado ao meu e o aperto no coração apenas aumenta. Nossa história é tão linda, lutamos tanto um pelo outro... Não tem que acabar desse jeito. Não mesmo.

Estava exausta. Exausta de ter nosso relacionamento negligenciado por meu marido. EXAUSTA de não me sentir amada. Porra, eu sentia falta de carinho.

Minha mente era tomada por pensamentos autodestrutivos, e nem percebo a porta abrir. Ergo um pouco o corpo, e percebo que é Sabrina entrando no quarto. Sem pensar duas vezes, a pequena se enfia nas cobertas e fica no meio de nós dois.

Ela joga uma perna em cima de mim e outra no Henrique, que imediatamente acorda com um grande sorriso no rosto. Automaticamente sinto vontade de revirar os olhos, mas seguro. A noite poderia ter sido boa àquele filho da puta, mas para mim... foi torturante.

- Bom dia, meu amor! - agarra a bochecha da criança e dá um beijo estalado.

Dou um sorriso forçado, sento e dou um beijo no topo da cabeça de Sabrina.

- Bom dia, minha princesinha! - levanto, evitando contato visual com meu marido - Mamãe te ama mais que tudo nesse mundo, mas precisa trabalhar, está bem?

Como resposta, a criança se levanta, vem andando em minha direção e agarra minha cintura.

- Fica mais, mamãe, por favor!

Meu coração se aperta novamente, mas além de realmente ter que ir trabalhar, precisava respirar um ar longe de Henrique.

- Ah, meu amor - abaixo em sua direção e levanto seu queixo - mais tarde nós vamos ficar sozinhas, está bem? Sabe que mamãe não demora para voltar... - sorrio ironicamente - família é sempre prioridade - alfineto meu marido, dou outro beijo no topo da cabeça de Sabrina e dou de costas, indo em direção ao closet do quarto.

Há alguns anos, sem duvidas teria surtado com Henrique assim que visse aquela merda de mensagem, mas hoje em dia não. Atualmente tento pensar duas vezes antes de agir, para não tomar nenhuma atitude precipitada. Não por ele, até porque se dependesse da raiva que estava sentindo naquele momento, seria capaz de quebrar algum pote de vidro em sua cabeça, mas sim por Sabrina. Ela não merecia ver sua mãe fora de si.

Depois que escolho uma roupa básica, decido realizar minha higiene no banheiro do andar de baixo, para que não precisasse lidar com aqueles sentimentos que tanto me sufocavam. Precisava desabafar com alguém, e já sabia exatamente com quem.

O efeito da água quente escorrendo pelo corpo conseguia me acalmar de certa forma, e ainda bem. Por mais que tivesse amadurecido meu lado impulsivo, não era de ferro. Não tenho sangue de barata.

Assim que termino tudo que deveria fazer, peço um uber e aguardo o carro em frente ao portão. Meu marido insistia para que contratasse um motorista, já que tinha tanta repulsa em dirigir, mas achava extremamente desnecessário.

Enquanto aguardava o carro, desbloqueio o celular e mando mensagem para Mahmoud, que agora morava novamente em Cabo Frio, para minha felicidade. Sem duvidas não conseguiria lidar com esse tipo de coisa sem seu ombro amigo. Sim, agora tinha Lázaro e Dani no meu grupo de amigos mais próximos, mas, querendo ou não, os dois eram muito mais próximos de Henrique do que de mim.

Amora - Amigo, está aí?

Por mais que fosse seis e meia da manhã, torcia para que estivesse acordado. Precisava MUITO de sua ajuda naquele momento.

Mahmoud - Oi, gata! Estou aqui sim! Aconteceu alguma coisa?

Amora - Estou precisando muito desabafar com você. Teria como me encontrar na empresa no meu horário de almoço?

Ele demora um pouco para responder, o que é compreensível, afinal, nem eram sete horas da manhã.

Mahmoud - Que horas?

Amora - Amigo, eu saio para o almoço uma hora da tarde, e depois vou direto para casa.

Mahmoud - E Henrique?

Encarei o aparelho durante alguns segundos, tentando entender o porquê daquele questionamento. Sabrina geralmente almoçava na casa de meus pais, e ele chegava por volta de meio dia. Antigamente até almoçávamos juntos, mas com o tempo ele parou de fazer questão.

Amora - Chega da empresa meio dia. Por quê?

Vejo o carro que pedi se aproximando da calçada e dou um sorriso aliviado. Queria chegar no meu escritório o quanto antes, onde poderia me recostar na poltrona e analisar alguns documentos. Aquilo me distraia, e isso era o que mais estava precisando no momento.

Entro no banho de trás do veículo, cumprimento a motorista e encaro o celular novamente.

Mahmoud - Nada, gata. Te encontro no seu escritório nesse horário! Agora tchau, porque vou voltar a dormir!

Amora - Durma bem, Mah. Obrigada por isso!

Bloqueio o aparelho e encaro a janela do carro. Devido ao horário, o sol ainda estava fraco, e poucas pessoas andavam pelas ruas. O veículo andava vagarosamente devido ao trânsito que já se formava, mesmo sendo tão cedo.

Pensamentos de como teria sido minha vida caso tivesse ficado com Elioth entravam involuntariamente em minha mente, o que me deixa um tanto quanto culpada. Não tinha sentimentos por ele, e, para ser sincera, acho que o que tivemos um pelo o outro foi carência sentimental. Nos usávamos para preencher um buraco que não seria tampado, a não ser se fosse pelas pessoas certas.

De qualquer forma, os devaneios vinham por conta da estabilidade de nosso relacionamento. Tínhamos sintonia, principalmente na forma que agir. Era difícil admitir, mas vez ou outra minha diferença de idade com Henrique pesava. Eu gostava do fogo, contato... Aventura. E, principalmente, inovação. Já ele, curtia a calmaria, monotonia... rotina. Não que fossem coisas ruins, mas um relacionamento não se mantém dessa forma.

Para piorar, além de me sentir pouco a pouco abandonada pela pessoa que mais amava, aparentemente, estava ganhando um belo par de chifres. Eu não era o suficiente? Porra, sou gostosa para um caralho! Além disso, sou uma pessoa boa, inteligente... dedicada. Amorosa. Daí ele vai, e troca tudo isso por sexo ruim com aquela vagabunda da Ingrid.

A mulher o deixou na foça! Cuspiu e pisou nele com intensidade. E o que ele faz? Dá umazinha com a piranha na primeira oportunidade.

Sentia minha bochecha queimar e, antes que começasse a chorar de raiva, o carro para em frente à empresa, o que acaba me assustando. Estava tão imersa em pensamentos autodestrutivos que sequer percebi que havíamos chegado.

Cumprimentei a motorista, verifiquei se o pagamento havia sido feito e saí, ainda meio desnorteada com tudo que estava acontecendo. O desgaste psicológico já era enorme antes dessa mensagem, mas agora... puta que pariu, agora estava prestes a explodir merda para tudo quanto é lado.

Mal havia chegado e já estava ansiosa pelo horário do almoço. Para ser sincera, sabia que a única pessoa capaz de me acalmar, seria Mahmoud.

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