4 - A Mônica deu em cima de mim

HENRIQUE

Todos os funcionários estavam agitados porque, além de serem obrigados a ir nesse bendito baile, acreditavam que se estivessem extremamente arrumados, nos impressionariam de alguma forma. Por essas e outras que preferia ficar na parte administrativa. Lidar com esse tipo de estresse me causava fadiga.

Enquanto meus estagiários andavam para cima e para baixo dentro daquele prédio, fiz questão de me isolar de todos, inclusive de Lázaro, e principalmente de Igor. Amo meus amigos, mas ouvir todo esse "mi, mi, mi" sobre o evento era desgastante.

Estava terminando de preencher um relatório importante sobre um prédio que estava sendo desenhado por uma filial nossa no Norte do país e ignorei as fortes batidas à porta. Depois de alguns minutos, quem estava do outro lado perdeu a paciência e simplesmente entrou, sem pensar duas vezes.

- Senhor Henrique, precisamos conversar - diz Mônica, transtornada.

- Espero que seja algo muito sério para atrapalhar minha concentração dessa forma - bufo, enquanto fecho a tela de meu notebook.

- Desculpe-me, mas estou SURTANDO com essa porcaria de baile. Tentei fingir estar empolgada, mas não está rolando. Roger me tira do sério! - desabafa, irritada.

- E você me interrompeu para dar um chilique? - Dou uma risada - Mônica, qual a sua idade?

- Vinte e dois. - Revira os olhos - Não é chilique. É que minha função aqui não é essa! Pelo amor de Deus, eu quero aprender coisas sobre arquitetura, não sobre a diferença entre rosa quartzo e rosa choque.

- Rosa choque é aquele que faz arder os olhos - debocho.

- Não estou brincando!

- Mônica, entenda uma coisa. Todo mundo começa por baixo para, aos poucos, subir. Você tem apenas vinte e dois anos, ainda vai se foder muito no mercado. Apenas se contente e agradeça por ter uma função dentro da LHR & CIA - respiro fundo, procurando paciência onde não existia - Essa agonia acaba hoje a noite, está bem?

- E eu sou obrigada a ir? - pergunta, enquanto faz um coque em seus longos cabelos negros.

- Infelizmente. Saiba que não é a única a ter repulsa a esse tipo de evento - reviro os olhos.

- Você só pode estar de sacanagem - cruza os braços.

- Mônica, já gastei muito tempo com o seu chilique. Pelo amor de Deus, vá arrumar alguma coisa para fazer.

- A propósito, você quer ser o meu par? - pergunta, com um sorriso maldoso no rosto.

A encaro, sério. Era só o que me faltava.

- Isso é muito inapropriado. Muito MESMO! - Digo, enquanto ando em direção à porta.

- Sem segundas intensões, Henrique - Faz careta de cão abandonado.

- Pelo amor de Deus, Mônica! Imagine, o que vão pensar de mim? Sou seu chefe, porra! Vão pensar que estou me aproveitando de você! - ando até a maçaneta para colocá-la para fora.

- Pare de bobeira, Henrique! Só não quero ir sozinha! Vamos, aceite! Sei que também está sem companhia - dá um sorriso forçado.

Sem segundas intenções... Sei.

- Vou pensar sobre isso. Agora, por favor, saia da minha sala? - aponto para fora, constrangido.

Não posso negar que Mônica é uma mulher extremamente atraente, e é por isso que aceitar seu convite é algo tão perigoso e inapropriado.

Nunca havia pensado na possibilidade de nos relacionarmos (fisicamente) até então. Filha da puta. Fiquei tão transtornado que já não conseguia mais prestar atenção no que estava fazendo. Sem saber o que fazer e como reagir, mandei uma mensagem no grupo que tinha com Igor e Lázaro.

Henrique Macedo - Venham à minha sala. AGORA.

Lázaro Duarte - Aconteceu alguma coisa? Pelo amor de Deus!!!

Igor Bragança - Conta a fofoca logo!

Henrique Macedo - Apenas venham!!! LOGO!!!

Os homens adentraram minha sala como um furacão em menos de cinco minutos, o que era surpreendente, principalmente se levar em consideração o fato que os dois trabalham no andar de cima.

- O que houve??? - pergunta Lázaro, esbaforido.

- A Mônica deu em cima de mim - diz, fechando a porta.

- A sua estagiária? A gostosinha? - pergunta Igor, animado.

- Larga de ser nojento, seu animal! A garota tem quase a mesma idade de sua filha! - repreendo.

- Como assim ela deu em cima de você? - pergunta Lázaro, se divertindo com a situação.

- Ela simplesmente me chamou para ir ao baile com ela. Por Deus, estou me sentindo um adolescente no ensino médio. NÃO SEI O QUE FAZER! - Jogo-me em minha cadeira e passo as mãos no rosto.

- Então ela não deu em cima de você, apenas convidou para acompanhá-la no baile. Qual o problema disso? - pergunta Igor, enquanto pega um refrigerante no frigobar.

- Você é muito abusado, Igor! - repreendo, mas já era tarde demais. O homem já estava no terceiro gole.

- Ele está certo, Henrique. Pode ser que ela apenas queira sua companhia - diz Lázaro, de braços cruzados.

- Lembra quando trabalhamos no escritório da Senhorita Almeida? - pergunto, envergonhado.

- Puta que pariu, tem razão - diz Lázaro, boquiaberto.

- O que rolou? - pergunta Igor, após dar um arroto.

- Henrique a comeu. Vrau, foi com tudo! - disse Lázaro, rindo.

- Como assim? - Perguntou Igor, interessadíssimo.

- Me arrependo dessa merda, mas estava precisando muito ser efetivado. Foi assim que consegui - sinto um leve rubor alcançando meu rosto.

- Sou teu fã! - Igor dá um soco fraco em meu ombro.

- Recuse, ué - diz Lázaro.

- Você está louco? - pergunta Igor, virando-se para ele - Já viu a Mônica de perto? Aqueles olhos castanhos, cabelos pretos, bunda redondinha... - Lambe os beiços.

- Cara, você é nojento. Larissa estava mais que certa em te colocar para fora - Digo, bufando.

Igor abaixa a cabeça e recosta sobre a parede. Havia lhe atingido em cheio.

- Quer saber? Acho que vou aceitar. Ela disse que não tem segundas intenções, e eu também não tenho. A garota deve estar querendo fazer uma boa imagem para o chefão! - aponto para minha própria barriga.

- Não sei por que, mas sinto que isso vai dar uma merda do caralho - diz Lázaro, balançando a cabeça negativamente.

- Não vai. Não sou como Igor, sei controlar a cabeça de baixo - não consigo conter a gargalhada, nem Lázaro. Igor fica puto, sai da sala e bate a porta. Como era bom manter aquela amizade saudável.

AMORA

Não conseguia entender como uma pessoa conseguia ser tão filha da puta. Sabe quando você se dedica 101% a alguém e no fim acaba levando uma facada nas costas? Então, era exatamente assim que estava me sentindo.

Deitada ao lado de minha mãe, a observava dormir serenamente, como se nada de ruim estivesse acontecendo em nossas vidas. Juro que queria ter essa paz de espírito, mas Deus me deu um gênio descontrolado.

Enquanto ainda refletia sobre a possibilidade de voltar a dormir, navego pelas redes sociais. Depois de um tempo, encaro a tela do celular durante alguns segundos e decido bloquear o aparelho. Por mais que estivesse envolvida até o pescoço, precisava ter em mente que aquele problema não era meu. Os dois que se virem.

Tentava ao máximo ignorar os acontecimentos do dia anterior, mas os gemidos daquela mulher na cama com Lucas ainda ecoavam em minha mente. Por Deus, ninguém merece passar por esse tipo de situação. E o pior de tudo é que lhe entreguei uma das coisas que mais tinha de precioso. Guardei a virgindade por tanto tempo e acabei cedendo àquele imbecil, ou seja, as oportunidades de sexo que deixei passar foram em vão.

Refletir sobre isso me deixava com fogo nos olhos. A vontade que sentia era de transar com qualquer um que passasse em minha frente, mas precisava segurar meus impulsos. Sabia que me arrependeria depois.

Porém, enquanto o pseudo-surto não passa, decido levantar dali e dar uma observada nas opções de roupa que teria àquela noite. Por mais que odiasse o calor excessivo, o declínio brusco de temperatura que chegava junto ao inverno não era nada agradável.

De qualquer forma, teria que descartar as opções mais abertas. Não estava a fim de pegar um resfriado. Após olhar tantas roupas, encontrei exatamente o que procurava. Um vestido longo e rendado vermelho, com um grande decote V nas costas. Por mais que pudesse sentir um pouco de frio, o fato de ter mangas longas acabava equilibrando. Cheguei à conclusão de que aquela veste era perfeita para a ocasião.

Após deixar tudo separado, tomei um breve banho, coloquei meu uniforme de trabalho, me encarei no espelho e fiz um grande coque no cabelo. Ter que encarar Lucas na empresa seria a mesma sensação que levar uma facada nos olhos. Fazer o que, né? Aquele era um dos problemas que teria que lidar para juntar alguma quantia de dinheiro.

Meu pai já ofereceu inúmeras vezes uma vaga no escritório, mas sempre fiz questão de recusar. Por mais que trabalhasse na empresa de um familiar, preferia manter distância dele. Não que sua presença me perturbasse, mas sei que seria muito mais complicado sair de casa com tanta proximidade entre nós dois.

Cogitei ligar para meu avô, pai de minha mãe, inúmeras vezes e pedir uma folga, mas seria muito errado de minha parte. Não podia aproveitar do fato de ser sua neta para conquistar algum tipo de benefício. De qualquer forma, querendo ou não, era um problema que precisaria encarar de frente.

***

Dou de cara com o filho da puta assim que entro no elevador. Era só o que me faltava.

O clima ali dentro era extremamente desconfortável, principalmente levando em consideração que trabalhávamos no vigésimo andar. Por mais que fosse distante, estava me arrependendo de não ter ido de escadas.

O garoto me fitava algumas vezes, mas quando percebia que percebia os olhares, desviava o foco. Aconteceu três ou quatro vezes. Seus olhos negros eram penetrantes, portanto, era difícil não os notar.

Mantive o silêncio durante quase todo o percurso, e ele também. Só que, pelo visto, a culpa era tão amarga em sua garganta, que não aguentou e finalmente resolveu falar.

- Amora, eu posso te explicar. Juro, posso mesmo! - disse, enquanto apertava o botão que parava o elevador.

- Não estou muito a fim de ouvir sua voz, sabia? - reviro os olhos e recosto meu corpo no elevador.

- Não seja infantil! - esbraveja.

- Você só pode estar de sacanagem, né? Caralho, Lucas! Eu vi você fodendo com outra mulher... quer o que? Que eu te dê um abraço e diga que está tudo bem? Não porra, não está tudo bem - digo, me aproximando de seu corpo. A vontade que tinha era de lhe dar uma surra.

- Foi o calor do momento, Amora. Sabe que você que mora no meu coração... - Me olhou com careta de cachorro abandonado.

- Cara... pelo amor de Deus. Você acha que eu sou o que? Uma idiota? Uma garotinha inocente? Vai se foder! Não é porque decidi perder a virgindade mais velha que não sei como funciona a mente de um babaca como você.

- Porra Amora, sério? Vai ficar nessa?

Não conseguia acreditar que aquele escroto estava tentando inverter a situação. O mau do "esperto" é achar que todo mundo é idiota. Encarei seus olhos negros e me aproximei, vagarosamente. Toquei seus ombros e escorreguei minhas mãos até sua cintura, devagar. Chegando ali, puxei seu corpo contra o meu e automaticamente senti sua animação pela calça do uniforme. Apoiei minha cabeça próximo ao seu ouvido direito e cochichei.

- Vou - sorri -. Aceite. Você perdeu uma baita gostosa por uma tarde de sexo médio - afastei-me e apertei o botão que dava movimento novamente ao elevador.

Lucas bufou e escorregou as mãos pelo rosto. Era bom vê-lo desnorteado daquela forma. Seria interessante seguir essa linha de comportamento, apenas para vê-lo passar por uma situação constrangedora. Querendo ou não, aprendi a excitá-lo como ninguém. Sabia de seus pontos fracos. Encaro meu reflexo no espelho e dou um sorriso. Aquele dia seria interessante.

HENRIQUE

As coisas desandaram depois de aceitar o convite de Mônica. Não que o clima tenha ficado ruim... eu que não soube lidar com a situação. Sempre levei jeito com mulheres, desde que não fossem de meu ambiente de trabalho. Era difícil entender suas reais intenções.

De qualquer forma, precisei lidar com aquilo, por mais que estivesse tomado pela timidez. O baile começaria às 21h, então combinei de pegá-la por volta das 21:10. Não estava a fim de ser o primeiro a chegar no evento.

A única coisa que me acalmava era o fato de poder tomar alguns drinks quando chegasse a hora. Isso sim suavizaria o clima.

Quando estava prestes a ir para casa, encontro um bilhetinho com um número de celular de Mônica e uma marca de beijo. Puta que pariu, no que fui me meter?!

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