33 - A doida da calcinha

HENRIQUE

Assim que fechei a porta, Dani saiu correndo em círculos como uma louca pela cozinha. Inicialmente não entendi sua reação, afinal, já tinha se passado tempo o suficiente para o efeito do álcool diminuir. Apenas quando ela me olhou que compreendi o que havia acontecido.

- Henrique! - gritou, animada - Você viu como ele reagiu ao nosso "relacionamento"? - Fez questão de desenhar as aspas com as mãos.

- Fala baixo, maluca..., vai que alguém escuta! - Sorrio. Gostava de vê-la feliz daquela forma.

- Não estava levando fé nesse plano idiota, Henri..., mas depois disso, sem dúvidas uma hora ele vai surtar. Conheço a peça, sei como é ciumento.

- Então arrasamos, mozão! - Falo, com a voz afinada.

Daniele não se aguentou e começou a rir, e eu a acompanhei. Enquanto gargalhávamos feito loucos, barulhos de passos vinham em nossa direção, mas simplesmente não nos importamos. Estávamos felizes demais com o resultado do início do plano.

Eis que uma mulher toda malhada e alta, com cabelos descoloridos e olhos castanhos se recostou sobre a divisória da sala com a cozinha, cruzou os braços e ficou nos encarando, até que parássemos o que estávamos fazendo para observa-la.

- Que porra é você? - Encaro a loira, que está com uma mini camisola rosa bebê rendada.

- Isso sou eu que pergunto, não acham? O que vocês dois - aponta para mim e Daniele - estão fazendo na casa do meu namorado?

Viro minha cabeça para Dani, arregalo os olhos e não consigo conter a risada. Sério, aquela cena parecia uma piada.

- Posso saber o que tem tanta graça? - pergunta a mulher, emburrada. Suas atitudes estavam começando a me estressar.

Dani me encarou e percebeu que eu estava prestes a dar um grande fora na desconhecida, então, puxou a cadeira e sentou-se, apenas aguardando pelo show que estava prestes a acontecer. Não vejo problemas em Igor trazer mulheres para casa, afinal, ele está morando no meu apartamento há dois anos. O que me estressa - e muito - é gente abusada, e disso essa mulher tem de sobra.

- Então, minha querida - cruzo os braços e dou um sorriso cínico - qual o seu nome mesmo?

Ela me encara de cima a baixo e faz uma careta de deboche.

- Júlia, mas no que isso te interessa? Porra, Igor não disse que iria receber pessoas tão mal educadas uma hora dessas... - olha para o celular que segurava em uma das mãos - porra cara, são oito horas. Qual o problema de vocês?

Antes que eu pudesse falar algo, Igor aparece atrás dela, meio perdido. Claramente tinha acabado de acordar.

- O que está acontecendo aqui? - pergunta, ajeitando os óculos.

- Essas pessoas entraram na sua casa sem ao menos serem convidadas. Pior, estão rindo feito duas hienas. Não sabia que você tinha amigos tão mal educados.

Igor me encara constrangido, enquanto Dani segura a risada que começa a surgir no canto de sua boca. Juro que antes estava a fim de lhe dar um puta fora, mas agora estava ansioso pelo que ele iria falar.

- Júlia... - nos encara com um sorriso forçado - lembra do Henrique? Meu amigo que se mudou para o exterior e que é dono desse apartamento?

Ela arregala os olhos e balança a cabeça, assentindo seu questionamento. Antes que Igor conclua sua linha de pensamento, ergo minha mão e sorrio, me divertindo bastante com o constrangimento daquela mulher.

- Prazer, Henrique!

Daniele não se contém e solta uma forte gargalhada.

- Meu Deus, me desculpe! Porra - ela se vira para Igor, de cara emburrada - por que não avisou que seu amigo iria voltar? Puta que pariu, olha a vergonha que você me fez passar!

- Bom, você não teria passado tanta vergonha se não fosse tão estupida com desconhecidos, não acha? - Pergunta Dani, levantando-se e vindo em minha direção.

- E quem é você? - A loira coloca a mão na cintura, aguardando uma resposta para saber se poderia ser grossa ou não.

- Essa aqui, Júlia - puxo Daniele pela cintura, colando nossos corpos. Nesse meio tempo, ouço o barulho da porta, mas não me importo. Meu maior objetivo naquele momento era constranger aquela escrota da namorada de Igor -, é a Daniele Vitter, minha namorada.

A loira revira os olhos e encara Igor.

- Cara, eu vou embora - se aproxima dele, bufa e vai em direção ao quarto.

Quando finalmente decido olhar para a entrada do meu apartamento, percebo que quem havia feito o barulho com a porta era Amora.

Ela estava usando uma calça jeans clara folgada e uma blusa preta apertada com um pequeno girassol desenhado no meio. A garota parecia ter saído de uma revista de roupas vintages. Por mais que odiasse admitir, ela estava muito linda.

- Ah... - Amora se aproxima - então quer dizer que vocês dois realmente estão namorando? - pergunta, demonstrando mais interesse que o normal. Aquilo me causou algumas borboletas no estômago.

Daniele percebeu que aquela pergunta havia me desconcertado, então decidiu tomar a frente e responder por mim.

- Sim, estamos. Começamos de verdade ontem a noite! - Dá um sorriso forçado.

Igor aproxima-se da filha e, durante alguns minutos, havia esquecido de sua presença ali. Amora realmente conseguia me deixar completamente fora do eixo.

- Caralho, Henrique! Nunca pensei que nessa vida o veria namorando. Qual foi a última vez que gostou de alguém? Há treze anos? - Perguntou, referindo-se a Ingrid, minha ex-esposa.

- Não - sorrio e encaro Amora, que agora me olha fixamente, aguardando ansiosamente por uma resposta - antes de Dani - aperto sua cintura - gostei de uma mulher há dois anos... Até teria dado certo, mas eu acabei surtando por conta de meus sentimentos - olho diretamente nos olhos de Amora - me arrependo muito por isso - sorrio amargamente - mas não tem como voltar no tempo.

- E agora estamos juntos! - Diz Dani, tentando disfarçar o clima quase palpável entre Amora e eu. Ela sabia da história, então não seria um problema..., já Igor, não podia nem sonhar. Só Deus sabe o que aconteceria comigo.

- Fico feliz por vocês - Diz Amora, com lágrimas nos olhos. A garota forçou um sorriso, mas era visível como minhas palavras haviam mexido com seus sentimentos.

- O que houve, Amora? - Pergunta Igor, percebendo as lágrimas que estavam prestes a descer dos olhos da filha.

- Estou com uma alergia horrorosa - passa a mão embaixo dos olhos -. Mas não vim aqui para saber sobre a vida amorosa do Henrique, e sim para avisar que não vou passar essa noite em casa, portanto, não precisa se preocupar.

Igor pretendia dirigir a palavra para mim, mas ficou incomodado com o que sua filha havia falado.

- Vai dormir na casa do Elioth? - Pergunta Igor, já emburrado.

- Não. Vou à boate com Ava, minha colega de turma da faculdade. Já que Helena e Mah se mudaram, preciso de novos amigos. Uma mulher como eu - aponta para o corpo, me fazendo aguar ainda mais em suas curvas - não nasceu para viver de relacionamentos.

- Ah, sem problemas minha filha. - Igor sorri. Era perceptível como a ideia da filha estar longe de Elioth era boa para ele. Meu Deus, da onde surgiu tanta raiva pelo rapaz?

Antes que a conversa terminasse, a tal da Júlia surge do quarto com uma bolsa e anda emburrada até a porta, sem ao menos se despedir de Igor.

Assim que a porta se fecha, todos nós nos encaramos e caímos na gargalhada, até mesmo Igor. Meu Deus, era cada namorada que meu amigo arrumava, que só jesus. Pelo menos essa era menos pior que a doida das calcinhas.

Sei que as pessoas têm fetiches, e isso é normal. Gosto é gosto, e quem sou eu para falar algo, certo? O problema é que ela simplesmente era doida por calcinhas comestíveis, o que deixava Igor MUITO desconfortável. Principalmente devido ao fato DELE ter que usar as peças, e não ela. O relacionamento não durou muito tempo, mas me provocou boas crises de riso.

Antes de ir embora, Amora me encara mais um pouco, olha para cima, respira fundo, se vira e sai. Sua reação novamente me trouxe borboletas no estômago. Como o Henrique de dois anos foi burro em ter se mudado e perdido a oportunidade de ter aquela mulher ao seu lado. Por isso, naquele momento, percebi que seria capaz de virar o mundo de cabeça para baixo para tê-la de volta.

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