18 - Eu te quero além da cama

AMORA

O dia foi estressante, mas consegui levar numa boa. Após minhas horas extras, saí sem me despedir de Henrique, que no mesmo momento percebeu minha irritação.

Assim que cheguei em meu apartamento, dei de cara com a presença de Helena na porta. Minha amiga tinha a pele e cabelos negros, corpo esbelto e o porte um pouco menor que o meu. Mesmo assim, parecia uma boneca, de tão perfeita.

- Garota, você está péssima! - Diz, assim que olha o meu rosto.

- Se tem uma coisa que admiro em você é a sinceridade.

- Ah amiga, você sabe que eu falo mesmo. - Me abraça - O que está acontecendo?

- Ah Helena, muitas coisas, sabe? Meus pais estão daquele jeito, o Lucas... - Henrique chega no momento e nos encara de rabo de olho, enquanto tira as chaves do bolso. - Meu chefe é um baita pau no cu - aumento o tom. Mas entra, amiga. Preciso me arrumar e ficar bem gostosa. Acho que hoje nem você me segura.

Helena ri e me segue. Ela gostava do meu lado festeiro, principalmente quando estava revoltada com alguma coisa. Tudo indicava que a noite seria muito boa.

Fomos a boate e, assim que chegamos, dois homens de aproximadamente 40 anos nos abordaram. Não me importei, cheguei a conclusão de que queria aloprar e recuperar todo o tempo perdido.

Eles estavam dispostos a bancar nosso rolê, e quem sou eu para negar? Estava mesmo querendo juntar uma grana para comprar um celular novo... Que se foda, eu só precisava pensar em outra coisa que não fosse aquele filho da puta.

Bebi algumas doses de tequila e misturei a diversas outras bebidas que nem fiz questão de ver o nome. Beijei um dos caras mais velhos e senti um gosto azedo de cigarro. Eca.

Quanto mais bebia, mais sentia a necessidade de conversar com Henrique sobre meus verdadeiros sentimentos. Bêbado é foda, mas pelo que me conheço, não iria sossegar enquanto não falass com ele.

Chamei Helena em um canto e expliquei que precisava voltar para casa, mas não queria deixá-la sozinha com aqueles velhos. Ela decidiu voltar comigo e dei graças a Deus por isso.

Os homens pareceram decepcionados, sem dúvidas queriam nos comer no fim da noite, mas não posso fazer nada se pensaram que iria rolar. As expectativas eram deles, não nossas.

Após deixar minha amiga em casa na parada do carro, volto ao meu prédio, pensando em como agir com aquele babaca. Eu estava puta, mas queria desabafar tudo que sentia.

Enquanto subia as escadas, meu salto quebrou. Ótimo. Tinha decidido vir por aqui para criar um roteiro do que falar, mas tomei no cu. É foda, tomara que as coisas fluam diferentes quando chegar lá.

HENRIQUE

Me orgulho do que fiz com Amora? Não. Faria de novo? Talvez. Agora que tinha me comprometido com o fato de realmente me afastar daquela garota, precisava lhe fazer me olhar como chefe, nem que fosse um "pau no cu", como a mesma disse.

Ouvi a afirmativa com um sorrisinho de lado, pois sabia que dizia aquilo para me provocar. Por mais que tivesse sido escroto mais cedo, tinha uma leve noção de que, de certa forma, ela me curtia.

Era engraçado ver como minhas atitudes mexiam com aquela garota. Aquilo me lembrava outras experiências, que foram até boas, mas deixei passar. Nunca quis me envolver com aquelas mulheres, então não fazia sentindo iludi-las.

Fiz macarrão com creme de leite na panela de pressão, assisti um pouco do meu reality show musical e fui dormir antes das onze horas. Sempre que minha mente se distraia um pouco, memórias sexuais com a filha de Igor surgiam, juntamente a uma bela ereção. Ao mesmo tempo que era tomado pelo desejo, me sentia extremamente filho da puta ao desejar tanto a filha de um amigo tão próximo. Aquilo me perseguiria pelo resto da vida.

Caralho, que inferno. Por que esse tipo de coisa acontece comigo? Porra, não consigo paz nunca? Ainda tinha o assunto da Mônica que me atordoava. Decidi pagar uma indenização, mesmo que contrariado, e aquilo me deixava puto para caralho, pois sabia que estava com a razão.

Depois de algumas horas, ouço batidas estrondosas vindas da cozinha. Levanto um pouco desnorteado, mas vou rapidamente à entrada, com medo de algo sério estar acontecendo. Era Amora, com um vestido rosa de seda colado ao corpo, maquiagem borrada de choro, um salto fino no pé e o outro na mão, quebrado.

É oficial: o universo queria me FODER, e nem era da forma boa. Puta que pariu, que vontade de fumar um cigarro e me jogar da janela em seguida.

- Amora? Você está ficando louca? São duas horas da manhã, de uma segunda-feira! - Caralho, ainda não conseguia acreditar no que estava acontecendo.

Ela ignora meus questionamentos, entra sem ser convidada e vai direto à sala. Entrona como o pai. Inclusive, lembrar disso era como um soco no estômago. Puta que pariu, eu sou um verdadeiro pau no cu.

- Henrique - soluça - eu não tenho tempo para isso. - Passa o braço embaixo dos olhos, limpando as lágrimas - meu salto quebrou e eu preciso que você concerte.

Acendo as luzes e ando em sua direção. Amora estava completamente bêbada. Ótimo, ainda teria que lidar com mais aquilo... e não estava preparado. Quando está bêbada, um espírito tarado entra em seu corpo, e cisma comigo. Pedi ao universo que agora seja diferente... ela precisava ir para casa!

- Garota, vai para casa!

- CARALHO, HENRIQUE! - Levanta, furiosa - TEM COMO VOCÊ CONCERTAR ISSO PARA MIM? - Me entrega o salto, chorando como se não houvesse amanhã.

Encarei seus olhos azuis, que agora transbordavam, com um enorme aperto no peito. Por mais que tivesse jurado me afastar e não envolver qualquer tipo de sentimento em nossa relação, era impossível não agir a vendo daquela forma. Ela me envolvia com seus olhares como uma cigana. Era hipnotizante. O efeito que suas palavras e atitudes tinham sobre mim eram assustadores.

Coloco o sapato na outra extremidade do sofá, sento-me ao seu lado e toco seu ombro.

- O que está acontecendo? Foi o Lucas de novo?

- Henrique, pelo amor de Deus, Lucas não faz mais parte da minha vida desde aquele Baile. - Funga e fala arrastado.

- Vi vocês dois no almoço ontem, pensei que haviam feito as pazes.

- Você tira conclusões precipitadas e nem sequer procura se realmente são verdadeiras. Que inferno isso! Ele me chamou porque precisava desabafar.

Encaro-a silenciosamente, começando a sentir remorso por ter lidado com aquela situação da forma que lidei. Eu odeio ser tão ciumento.

- Aconteceu alguma coisa? - Pergunto, sem querer saber da resposta.

- Ele engravidou a sua outra secretária.

- Secretária? No caso, você está querendo falar da Mônica?

- Essa aí, a chorona.

- Ela era minha estagiária.

- Foda-se, tanto faz. - Se estica para trás, expondo suas roupas íntimas.

- Então por que está nesse estado? Já que não se importa? - Digo, ajeitando seu vestido.

- Henrique, você não percebe, né? - Vira seu corpo em direção ao meu.

- Amora, você está bêbada. Não vou levar a sério nada do que me falar agora.

- Melhor assim. - Levanta e senta com as pernas ao redor da minha cintura.

- O que você está fazendo, Amora? Pelo amor de Deus, você não está em estado de fazer isso agora! - O espírito tarado tomou conta. Deus, dai-me forças para segurar a vontade de foder com ela. A garota estava podre de bêbada, não tinha condições de tomar uma atitude desse tipo.

- Não quero foder agora! É que o que eu tenho para lhe dizer, tem que ser falado olhando nos olhos.

Fico em silêncio, nervoso pelo que viria a seguir. Porra, que merda do caralho.

- Hoje, enquanto conversava com Lucas, descobri o porquê de o fato dele ter engravidado Mônica não ter me afetado.

- E?

- Esse "porquê" é você, Henrique. - Coloca os lábios próximos ao meu ouvido - Eu te quero além da cama. E sei que você me quer também. - Passa a língua lentamente em minha orelha, seguindo para meu pescoço. Ah, pronto. Ela também tem sentimentos por mim. Aquilo daria uma merda do caralho... não poderíamos ter chegado a esse ponto, mas infelizmente é tarde demais. Que vontade de dar com a cabeça na parede! A culpa disso é minha, que me deixei ser seduzido por aquela pirralha gostosa.

- Amora, para com isso. - Tento me afastar, mas é como se seus toques me hipnotizassem. Ela era foda.

- Eu sei que você está gostando, Henrique! - Rebola no meu colo, provocando uma ereção. Meu Deus do céu, eu precisava sair daquela situação, senão não conseguiria me conter e transar com mulheres bêbadas é uma coisa que repudio.

Cuidadosamente coloco seu corpo no sofá, me levanto e ajeito a calça de moletom.

- Você está bêbada. Podemos ter essa conversa em outro momento? Acho melhor você ir para casa.

- Você não me quer? - Me encara com os olhos cheios de lágrimas. Por Deus, ela estava mais bêbada que a última vez. Vê-la falar daquela forma acabava comigo.

- Amora, quando você estiver sóbria nós conversamos sobre isso.

A garota me encara e, no lugar de responder, abaixa a cabeça e vomita uma mistura de bebidas direto no meu tapete.

- Meu Deus, Amora, meu tapete! - Falo, com as mãos atrás da cabeça. Isso é o universo me castigando por querer tanto foder com ela.

Ela não estava em condições de responder. Pelo visto, o porre chegou bem mais cedo que imaginava, portanto, se jogou ali mesmo, sem forças para levantar. Pronto, eu teria que cuidar de uma bêbada sem papas na língua. A madrugada seria longa.

Respirei fundo e prontamente a peguei no colo e levei em direção ao banheiro. Precisava ajuda-la e, para isso, antes de tudo, lhe daria um banho, para tirar aquele cheiro intragável de álcool.

- Henrique, eu gosto de você. De verdade. - Cochichava em meu ouvido, enquanto tirava seu vestido e colocava na banheira.

- Você não sabe o que está falando, Amora. - Ligo o chuveiro e lhe ajudo com o que posso.

- Você tem algum sentimento por mim? Ou só gosta de me foder? - A maquiagem escorria por todo seu rosto.

Me abaixo, passo a mão embaixo de seus olhos e seguro seu queixo, levantando levemente seu rosto em direção ao meu.

- Amora, eu gosto de você. Sim, queria ter algo além de sexo contigo, mas não podemos. O que fazemos já é errado o suficiente. Lembre-se: seu pai é um de meus melhores amigos, e temos quinze anos de diferença. - Desabafei. Ela estava tão bêbada que duvido que lembraria dessas palavras quando acordasse.

- Então você gosta de mim? - Sorri.

- Você não ouviu nada do que eu disse? - Pergunto, emburrado.

- As outras coisas são meros detalhes.

- Ah, Amora, quem me dera. - Desligo a água que caia sobre seu corpo, desço da banheira e, cuidadosamente, coloco-a no chão. Me agacho, pego uma toalha limpa no armário da pia e lhe entrego. Não podia toca-la.

- Pode se enrolar. Venha, vou te emprestar um blusão. - Seguro sua mão e a guio até meu quarto. A garota ainda está um pouco tonta, e observa silenciosamente tudo ao redor.

- Obrigada por estar me ajudando. - Se joga nua na minha cama - Já me sinto melhor.

- Vista isso! - Jogo uma blusa aleatória sobre seu corpo e olho para cima. Porra, porra, porra!

- Posso dormir com você? - Pergunta, senta-se e coloca a blusa. Ah, meu Deus! Por que o universo me odeia tanto?

- Você pode dormir aqui. Eu coloco um colchonete no chão para mim. - Vou andando até a porta.

- Para com isso, Henrique... Dorme do meu lado..., de conchinha. Eu preciso disso. Preciso de você hoje.

Senti minhas bochechas queimarem. Da mesma forma que seu pedido me trouxe um enorme conforto, aquilo me deixava em pânico. Não gostava de ter sentimentos por alguém, ainda mais se essa pessoa fosse filha de um dos meus melhores amigos. Resumindo: estava fodido.

- Está bem, mas por favor, pelo bem da minha sanidade, coloque uma calcinha.

- Você pode pegar no meu apartamento? Está na primeira gaveta do lado esquerdo do armário.

Reviro os olhos e vou rapidamente até seu apartamento. Ao chegar em seu quarto, abro o armário e me deparo com inúmeros pares de langeries rendadas. Por Deus, essa garota não tem uma calcinha box? Ou sei lá..., algo mais fechado? Que merda!

Após alguns minutos de procura, finalmente encontro algo que não seja fio dental. Respiro fundo, seguro a vontade de pegar uma das peças e guardar no bolso como lembrança, fecho as portas e volto para meu apartamento, onde encontro Amora quase dormindo em minha cama.

- Tome. Vista isso, pelo amor de Deus.

A garota sorri e coloca ali, deitada mesmo. Precisei desviar o olhar porque, por mais que não fosse me relacionar com ela naquele estado, era impossível não sentir tesão lhe observando nua. Me sentia um babaca por pensar isso, mas nesse momento esse era um dos meus menores problemas.

- Pode vir, seu bobo. - Sorri, abrindo espaço para mim.

Deito ao seu lado e ela se aproxima, encostando suas costas à minha barriga. A sensação é gostosa, principalmente se levando em consideração que haviam anos que não dormia de conchinha com alguém.

Naquele momento, pude perceber que estava extremamente fodido porque, se dependesse de mim, ficaríamos ali pelo resto da semana, deitados, se sentindo..., e sem pensar duas vezes. Era oficial: eu estava começando a ficar apaixonado por Amora. E aquilo me assustava em um nível surreal.

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