11 - Sabe que isso vai dar uma merda do caralho, né?
AMORA
Minha vida nova estava prestes a começar. Estava colocando a última caixa de roupas no quarto, feliz da vida, assim como uma criança fica ao ganhar um brinquedo novo.
Por mais que precisasse de alguns ajustes, aquele apartamento parecia ter sido feito para mim. Não tão pequeno, mas aconchegante. Uma sala com uma lareira elétrica, com paredes vermelhas sangue, que combinam perfeitamente o sofá bege que havia comprado. A cozinha tinha uma bancada firme de mármore, numa tonalidade creme. Os quartos eram claros, sendo um maior, e outro menor. Ali tinham dois banheiros, um no quarto maior e outro na sala, para visitas. Ambos tomados por azulejos alternando azul claro e azul marinho, com o piso escuro. A única diferença é que o da suíte tinha uma bela e convidativa banheira. Sem dúvidas a estrearia naquela mesma noite, com uma boa taça de vinho. Para minha sorte, o local já estava equipado com um ótimo ar-condicionado.
Ouvi um pequeno falatório vindo da porta, e como sou curiosa, fui imediatamente ver o que estava acontecendo. Meus pais estavam prestes a comunicar minha mudança ao Henrique, mas fiz questão de interrompê-los e contar antes.
Diminui a intensidade de minhas investidas, mas não significava que havia esquecido do sabor de seu beijo... muito pelo contrário. Aquilo foi tão gostoso que precisei mudar o foco, então, tenho dedicado minha atenção a Roger.
O garoto forte e de olhos claros não chegava aos pés da beleza de Henrique, mas era o suficiente para me divertir durante um tempo. Sei que sou inexperiente se tratando de homens, mas, se realmente quisesse impressionar o amigo do meu pai, precisava praticar de alguma forma.
E por mais que fosse difícil de admitir, Roger era um cara atencioso. Porém, apenas me permitiria envolver sentimentalmente com outro homem quando em fim conseguisse seduzir Henrique. Não que ele seja isso tudo, mas suas negações constantes feriram um pouco meu ego. Nada de muito preocupante, apenas o suficiente para despertar parte do meu lado insano.
Mas que se dane. Sabia que era só questão de tempo até Henrique ceder ao desejo que sei que sente.
Estava com um short curto de lycra, que costumo usar no pole dance e um top preto com detalhes de flores rendadas. Modéstia à parte, mas aquelas vestes exibiam perfeitamente meu corpo definido. Dava duro para me manter em forma, o mínimo que podia fazer era exibi-lo.
— Amora, não tem roupa mais decente? — pergunta meu pai, jogando seu casaco sobre meu corpo.
Henrique me encara em silêncio, ainda tentando digerir a nova notícia. Lázaro segura a risada e minha mãe encara o marido, irritada. Ela odiava quando meu pai dava pitaco nas minhas roupas.
— Deixa a garota, Igor. Está calor! — diz minha mãe, de braços cruzados.
Meu pai me encara, emburrado. Sei que algumas de minhas roupas o incomodavam, mas agora estava em casa. Estava livre para usar o que quisesse, inclusive, até mesmo para não usar nada. Estava ansiosa para experimentar a sensação.
— Desculpa, pai. — sorrio — Estava arrumando as coisas. Não pensei que seus amigos viriam! — Encaro maliciosamente Henrique, que ainda tentava desviar o olhar de minha presença. Lázaro observa toda a situação atentamente.
— Não precisa se desculpar, filha! Você está na sua casa, tem direito de usar o que quiser! — minha mãe sorri, orgulhosa.
— Essa foi a última caixa, certo? — pergunto ao meu pai, que segue emburrado.
— Sim. Essa foi a última.
— Então estou oficialmente morando sozinha? — pergunto, emocionada. Ainda estava enrolada no casaco de meu pai.
— Que orgulho! — diz minha mãe, me abraçando. Meu pai deixa de lado o machismo e se une ao abraço em família.
— Desculpa cortar o clima, mas preciso entrar. Muito trabalho... Sabe como é, né? — diz Henrique, coçando a nuca.
— Você se importaria se eu fosse junto? — pergunta Lázaro, com a sobrancelha arqueada.
Henrique da de ombros e entra, e Lázaro vai logo atrás. Nunca quis tanto ser uma mosquinha para ouvir uma conversa como naquele apartamento.
HENRIQUE
A menos que fosse um idiota completo, Lázaro percebeu os olhares que Amora me dava. Beleza, sem pânico. Precisava me recompor. Não é porque seria minha vizinha que a garota me atacaria de madrugada, não é mesmo?
Para ser sincero, não sei. Nunca conheci uma mulher tão atentada ao que é proibido como aquela. E o pior é que isso me dá mais vontade ainda.
Parei na cozinha, em silêncio. Tantos lugares para o filho da puta do Igor comprar um apartamento à filha, precisava ser um em frente ao meu? Por Deus, aquilo só poderia ser sacanagem do destino. Nossa, eu precisava muito de uma cerveja.
— É impressão minha ou rolou uma tensão sexual fodida entre você e a filha de Igor? — pergunta Lázaro, encostado na entrada da cozinha.
— Cara, pelo amor de Deus, não me encha a paciência — abri a geladeira e peguei a bebida com maior teor alcoólico que tinha ali.
— Sabe que isso vai dar uma merda do caralho, né? — pergunta, se jogando no sofá da sala.
— Não vai dar! Porque para dar merda, tem que estar acontecendo algo e entre nós dois não está rolando NADA! — respondo, impaciente, enquanto sento ao seu lado.
— Sabe que não precisa esconder nada de mim, né?
— Lázaro, pelo amor de Deus, cale a boca e peça uma pizza tamanho família pelo aplicativo? — arranco os sapatos e coloco o pé sobre a mesa, sem me importar com o possível chulé que tinha ali.
O homem caiu na gargalhada e atendeu meu pedido. Conversamos durante algumas horas, porém, como trabalharíamos no dia seguinte, Lázaro precisou ir embora por volta das 21h, me deixando ali, só, imerso em meus próprios pensamentos.
Tinha planejado ir em algum bar e saciar o que tanto me matava, mas a presença de Amora no outro lado do corredor me deixou um tanto quanto perturbado.
Tomei uma ducha fria, para acalmar os ânimos e deitei logo depois. Por mais que não estivesse acostumado em dormir cedo, seria necessário naquele dia. Fecho os olhos e, poucos minutos depois, sou tomado por um sono leve.
***
Ouço uma música alta e acordo imediatamente. Olho para o relógio ao lado de minha cama, em cima da escrivaninha. Meia noite e meia. Quem poderia ser o filho da puta que colocaria um som alto desse jeito durante a madrugada? Por Deus, tem que ser muito pau no cu para fazer isso.
Como costumo dormir de cueca, tiro uma calça de moletom cinza de dentro do armário e visto, ficando despido apenas da parte de cima. Ando em direção à saída, que fica na cozinha, já com os ânimos a flor da pele.
Sinceramente, não sei por que não imaginei que a melodia viria do apartamento de minha nova vizinha. Na verdade, acho que minha mente não aceitou muito bem a ideia ainda.
O som do "Baco, Exu do Blues" estava tão alto que fazia o chão tremer. Provavelmente outros vizinhos também estavam incomodados, porém, sem dúvidas seria o único a ir até lá. Nesses momentos a fama de não levar desaforo para casa me vestia muito bem.
Respiro fundo, vou até o corredor e bato fortemente à porta. O som continua alto e não recebo nenhuma resposta. Bato mais algumas vezes e o cenário continua o mesmo.
Toco a maçaneta e percebo que está destrancada. Por Deus, Amora tinha acabado de se mudar e já estava vacilando dessa forma. E se fosse algum pervertido? Igor era muito irresponsável de deixar aquela garota morar sozinha. Era evidente que ainda não estava preparada.
O apartamento é um pouco menor que o meu, e bem aconchegante. A música vinha de um aparelho de som ao lado da lareira elétrica que tinha ali.
Ando até lá, irritado e abaixo o som. Por Deus, que alivio. Não que a música fosse ruim, muito pelo contrário, mas tudo excessivamente alto me estressava de uma forma inexplicável, principalmente se for de madrugada.
Vou andando em direção à saída quando ouço passos pesados vindo até a sala. Sabia exatamente de quem se tratava. Quando olho para trás, vejo algo que não estava preparado psicologicamente para presenciar. Amora nua.
AMORA
Dei graças a Deus quando meus pais foram embora. Era como um sonho ter aquele lugar só para mim! Dentre tantas opções, escolhi a melhor de todas para comemorar meu primeiro dia ali: beber uma garrafa de vinho ao som de "Baco" enquanto estreio aquela maravilhosa banheira no meu quarto.
Admito que o vinho adocicado tem um efeito afrodisíaco sobre meu corpo. Era como se me tornasse a mulher mais sexy de todo o mundo. Perdi a noção do tempo enquanto aproveitava minha própria companhia naquela banheira, quando a música do nada é interrompida. Era só o que faltava, meu aparelho de som dar defeito logo agora.
Não perdi tempo me enrolando em toalha alguma, afinal, estava a sós dentro de meu próprio apartamento. Era tão prazeroso pensar nisso. "MEU PRÓPRIO APARTAMENTO". Juro que se pudesse, tatuaria isso na minha testa.
Enxuguei os pés e fui rapidamente até a sala, com o propósito de colocar a música novamente e voltar à banheira. Eis que me deparo com Henrique parado em frente a porta.
— O que você está fazendo aqui? — pergunto, emburrada e bêbada.
— Amora... — fita meu corpo e olha para baixo — Já se passa de meia noite! Com essa música alta fica impossível dormir!
— E por que não bateu?— cruzo os braços, esquecendo completamente o fato de estar nua.
— Eu bati! Muitas vezes! — me encara e abaixa a cabeça novamente — Tem como colocar uma roupa? — pergunta, envergonhado.
Só nesse momento me recordo de estar nua. Oh Deus, que vergonha. Ando rápido até o sofá para pegar uma almofada e escorrego na poça de água que se formou ao meu redor. Henrique arregala os olhos e vem correndo em minha direção.
— Amora, o seu pé! — diz, tentando me levantar.
— Ele já está bem! — falo, tentando fugir da dor que me alcançava naquele momento.
— Pelo amor de Deus, garota! Tome mais cuidado! — após perceber que não conseguiria erguer o corpo com tanta facilidade, agarra minha cintura e puxa, até que fique em pé.
— Obrigada — falo, olhando diretamente em seus olhos.
Henrique me solta, encara meu rosto em silêncio, morde a parte inferior dos lábios e olha para cima, com as mãos atrás da cabeça.
— Por que você reage assim sempre que me vê? — pergunto, de braços cruzados.
— Amora, caso não tenha percebido, você está completamente nua, parada a um palmo de distância do meu corpo. Pode ser filha de Igor, mas eu sou um homem hétero, portanto, é um pouco complicado lidar com isso — ri ironicamente. O caos que a situação causava em sua mente era nítido, e, por mais que fosse estranho, aquilo me divertia ainda mais.
— Pare de bobeira! Até parece que nunca viu uma mulher nua! — reviro os olhos, me afastando de seu corpo.
— Amora... Você tem dado em cima de mim desde o dia do Baile, mesmo sabendo da nossa diferença de idade e, principalmente, tendo noção da minha amizade com seu pai — senta no sofá, desnorteado.
— Até parece que você não gosta — sorrio, indo em direção ao quarto.
— O problema não é esse! — eleva o tom.
— Então qual é? — pergunto, enquanto escolho uma das minhas melhores langeries dentro do caixote onde guardei minhas roupas íntimas. Ainda não tive tempo para arrumar tudo aquilo.
Depois que me visto, coloco um roupão e volto à sala. Apenas naquele momento percebi o corpo exposto de Henrique. Era impressionante como quase não sobrava partes sem tatuagem em seu peitoral.
— Suas tatuagens são lindas — sorrio, sentando ao seu lado.
— Amora, atenda meu pedido —vira de lado e me encara, sério.
— Estou ouvindo — sorrio maliciosamente, virando em sua direção.
— Teria como parar com esse joguinho insano? Amora, você é uma garota maravilhosa... — Encara minhas pernas desnudas — e muito... MUITO gostosa. Pode ter quem quiser! Pelo amor de Deus, pare com isso.
O encaro, em silêncio.
— Está bem — sorrio.
— Só isso? — pergunta, surpreso.
— Se você não me quer, eu paro. Sem problema algum! — dou de ombros e ando até a porta.
Henrique levanta e anda em minha direção.
— Não é isso, Amora. Pelo amor de Deus, não é isso! — diz, empurrando a porta no momento em que comecei a abrir.
— Então é o que? — pergunto, sínica. Sabia exatamente o motivo, apenas queria ouvir de sua boca.
— Você é território proibido, Amora — passa a mão pelo rosto, abatido.
Me afasto de seu corpo e jogo o roupão no chão, exibindo a langerie quase transparente que havia escolhido.
— E é exatamente disso que estou falando! Você precisa parar com isso! — tenta desviar o olhar, mas falha.
— Sabia que suas reações apenas me instigam mais? — pergunto, mordendo o lábio inferior.
Henrique me encara, em silêncio.
— Eu tenho uma proposta — sorrio, me aproximando.
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