"Mexendo no meu celular
de novo, me sentindo ansioso
Com medo de ficar sozinho
de novo, eu odeio isso"

-In my Blood

Eu queria vomitar, quem sabe assim saia de uma vez tudo que eu queria falar!

Já minha mãe tinha me criticado por um bom tempo apenas por não espessar nenhum sentimento des da noticia, segundo ela, "eu não precisava me fingir de forte".

Na verdade eu não estava fazendo nada disso, eu simplesmente queria chorar e abraçar todos a minha volta, mas simplesmente não conseguia! As lágrimas ficavam presas na garganta, me impedindo de respirar e meus braços não tinham forças nem para levantar, pedindo um simples abraço.

Meu cérebro estava em delei, eram muitas e ao mesmo tempo poucas informações para assimilar, não sabia nem mesmo o que pensar.

Lembrei-me de mais cedo, mais especificamente 11:50 na manhã daquele mesmo domingo horrível, aquele que não passava nunca.

Eu fiz todo o trajeto de carro da casa da amiga da minha mãe à minha casa em silêncio, minha mãe chorava um pouco ao meu lado.

E bem... Eu.... não.

Meu cérebro estava com aqueles 3 pontos de quando algo esta carregando ou os 3 pontos que os escritores usam para demonstrar que alguem foi interrompido ou esta pensando (...). Este pedia desesperadamente por explicações do escritor dessa história ,que eu ainda não descobri quem era.

Mas o que mais me estranhava era eu não estar esperando por aquilo! Realmente, eu esperava o que ? Por um milagre ? Por alguma mágica?

Acho que sim

Bem, a mais ou menos 5 meses atrás eu tinha recebido a notícia que .... que eu sou um pedaço de nada inútil, e por me sentir um pedaço de nada inútil com isso me faz mais um pedaço de nada inútil ainda. A única coisa que eu conseguia pensar é "eu devia ter aproveitado", "eu não vou conseguir repetir isso" ,"por que eu não dei atenção a isso !".

Acho que as lembranças a  longo prazo são as que mais te tocam, são as te estimulam a ... existir!
E ao ter uma, acaba tendo outra e outra e no final você está totalmente imersa nos seus pensamentos, lembranças e sensações !

Era isso que eu estava fazendo as 11 e poucas de uma manhã de ... Quinta ? Não sei ! O fato é que eu estava naquele momento que você está com muita muita vontade de gritar, porém está no meio de muitas pessoas - uma delas é o seu professor que provavelmente está falando algo importante para a prova da próxima semana - e ao mesmo não está.

Explicando os meus devaneios de uma forma que não pareça que eu sou uma louca de pedra, eu recebi uma notícia que ninguém realmente espera. Não para uma menina de 14 pra 15 anos; Ou é de se esperar que uma menina totalmente saudável e forte (e bota forte nisso) a alguns messes tenha leucemia? Desculpa eu não sei nada sobre esses tipos de doenças. Mas, pelo menos eu, não esperava.

É isso! Minha melhor amiga, ou o que eu considerava como a uns anos trás ,tinha leucemia !

E nesses longos 4 MESES ! Eu não fui capaz de fazer NADA, nem uma mensagem eu consegui mandar, nem uma visita pra dizer que eu existia, nem ... Não sei... Eu não consegui!

Me desculpa Mila.

Quando mandei meu único sinal de vida e que eu me importava, você não viu. Não você não podia, devia estar em cima de uma maca em algum hospital bem longe de mim, ou do seu celular. Isso foi um mês antes de hoje. É ... ela não viu !

E hoje ... Todas as memórias que tinha dela pareciam meio cinzas, meio acabadas, todas misturadas, todas emboladas, nenhuma fazendo sentido algum.

Percebi então que minha mãe e meu pai tinham começado uma conversa, e eu estava participando dessa conversa com meus "hurum's".

Finalmente avistei o local que era o meu destino, já tinha passado muitas vezes por este caminho, mas apenas uma (duas com essa) para ir a um velório.

"Podem entrar, vou estacionar" - comunicou Henrique, meu pai, quando estacionou na frente do grande prédio. Não estava tendo um bom relacionamento com ele nos últimos dias, semanas ou messes.

Lembrei claramente de quando minha mãe falou para ele que Mila tinha morrido - eu estava no meu quarto, evitando tudo - ele falou um simples "poxa" como se não fosse nada. A frase seguinte me fez esquecer de qualquer pensamento positivo que eu talvez tivesse naquele dia "mas elas nem eram realmente amigas"...

Saímos ,por fim ,do carro, ajeitei o meu casaco xadrez em meu corpo e obriguei-me a sair do carro, torcendo para ninguém me reconhecer.

 "Olha só, quele ali, ele deve estar lembrando que você era uma das únicas amigas dela e a abandonou." meus pensamentos me acusavam frequentemente. "Ah aquele ali não é primo dela? Ah caramba, lembra da feira de ciências onde ela queria te apresentar a ele e você foi super rude" e continuavam. "Olha, aquela não era sua professora? Será que ela lembra da vez que" tentei calar eles por uma fração de segundo, não aguentava mais.

Eu não queria entrar, não tinha nem chegado na porta e meus pensamentos já estavam acabando comigo, imagine dentro?

"Ah claro, comprimente os da porta, sua mal educada! Ele deve ter visto vocês duas crescerem juntas até você a abandonar, sua idiota!" sorri para o porteiro de minha antiga escola, ele estava sentado no banquinho que tinha na frente da porta, talvez tomando coragem para entrar, assim como eu.

Encarei por alguns segundos a porta de espelho.
Me pergunto por que alguém faz esse tipo de lugar com uma porta de vidro espelhado? É pra, quem entra ,se olhar e ficar remoendo todos os seus pecados da vida? Por que, se esse era o propósito ,eles conseguiram!

Entrei, não que eu quisesse, não que eu estivesse feliz em estar aqui ,não que passar por aquele pedaço de vidro fosse algo que meu corpo tivesse forças para fazer, mas entrei. No mesmo momento que coloquei meus pés lá dentro tive a leve sensação que todos estavam me olhando, me julgando, esperando eu dar um paço em falso. Mas eu não era tão importante assim.

Podia sentir claramente o nó na minha garganta aumentar a cada pessoa que falava algo como "ah, ela era sua melhor amiga, né?"  ou "ela gostava tanto de você" ou ainda "vocês sempre estavam juntas ,né?" não suportava todos martelarem nesta ideia.

Eu sei que me considerava como suas melhores amigas! Eu sei eu e ela eramos inseparáveis! Mas será que eles não conseguiam entender que esse tal de "ERA" dói ? Eu sei que eu praticamente a abandonei!

"Sim, você a deixou de lado, Nara, como você é falsa! Agora vai ! Devia se sentir culpada! Você é como essas que vem em enterros só para aparecer!"

+Nina Folly "Folha"