A garotinha loira, com olhos grandes
"Mas os tempos difíceis
valem ouro.
Porque eles levam
aos dias melhores!
-
Nós vamos ficar bem.
Nós vamos ficar bem.
Nós vamos ficar bem.
-
Amor, você não sabe?
Todas as lágrimas vêm e vão."
- Be Alright
Andei, sem rumo pelo grande salão. Eu estava tentando evitar qualquer contato com pessoas, algo que era muito raro de ser ver por parte de Nara.
Mas poucos em segundos minha mãe frustou todas as minhas tentativas, por me chamar para perto de algumas das minhas antigas professoras presentes no local, boa mãe!
Arrastei meu corpo na direção de algumas pessoas e permaneci lá, vendo a minha vida como uma telespectadora.
"Enquanto outros conversavam com Nara, a abraçavam e falavam coisas que ela sabia que era mentira (mas estava cansada de mais para discutir) a menina apenas forçava um sorriso e assentia a tudo, mas seus pensamentos não estavam ali, ou pelo menos ela tentava tira-los daquele lugar enfadonho."
Minha mãe continuava a socializar com todos e meu pai estava em um canto qualquer ,ou conversando com algum conhecido ,ou mexendo no celular. Ele estava esperando ansiosamente o relógio dar 4horas para ir embora.
Já eu estava encarando a plaquinha que eles colocaram em uma das salas
"Sala 3 - Mila Branches"
Meu cérebro acabado demorou a ligar isso com o fato dela, ou o seu corpo sem vida, estar ali. Na verdade ele só percebeu isso quando a porta dupla da salinha foi aberta por um funcionário mau humorado e pude ver seu corpo, ou melhor, seu rosto, já que todo o resto estava coberto pela tampa do caixão. (Sempre achei estranho os caixões ter a "porta" dividida em 2, um para tampar o corpo e a outra a cabeça.)
Voltei minha atenção para a plaquinha. Meu olho novamente começou a encher de água e passei a mão impedindo que ela descesse e me recrimina-se.
Automaticamente voltei aos vários anos consecutivos onde, na chamada, eu vinha logo após deste nome, logo após do "presente" dito pela dona do nome.
Lembrei-me também da primeira vez que ouvi esse nome, da boca da professora, um pouco antes de anunciar meu , já conhecido pelos outros, nome. Ela tinha sentado na cadeira a frente da minha naquele primeiro dia de aula ... Nós não trocamos muitas palavras durante uma semana ,até a garotinha sem vergonha nenhuma na cara começar a puxar assunto e ser chata o suficiente para as duas virarem, até o final do ano, melhores amigas.
A garotinha relativamente loira, com olhos grandes - e sem ter a minima noção do que a palavra "vergonha" significava - era o tipo que amava implicar, irritar até dizer chega e depois abraçar dizendo um "eu te amo", tinha um leve síndrome de amiga super protetora e que era um chiclete.... Bem ,essa garota era eu.
Depois de Mila ,meu próximo alvo foi Lauren Miller e Lilia Bush, Lilia já era conhecida, tanto pela pequena Nara, quanto por Lauren. L e L, como eram chamadas no começo do ano, não paravam de falar um minuto em toda a aula, os professores já tinham até desistido! Mas ao tentar se aproximar a loirinha descobriu que Lauren não era assim com todos. (Algo que mudou até o final do ano.)
A partir daí o trio era sempre o mesmo, na verdade, na época era 5 pessoas, Nara, Lauren e Mila, juntamente com Lilia e Henrique Hernandes (um descendente de latinos americanos, super legal que tinha se tornado o melhor amigo de Nara.) Mas ignorando os 2 últimos (que sempre boiavam entre outros grupos na sala) as 3 meninas podiam ser consideradas o terror da sala, não paravam de falar um minuto. Claro que as duas loiras se destacavam pela voz alta e meio aguda, que sempre levavam a bronca, mesmo que toda a sala estivesse fazendo baderna (algo que deixava a mais sangue quente do grupo irritadissima e com sede de vingança, ou quase isso).
Mas nada disso era real na atual situação das 3, no caso 2, e ,neste momento, apenas eu.
Lauren estava em casa, não teve coragem de vir, mas tinha pelo menos tido coragem de mandar mensagem, diferente da idiota aqui. A loira de olhos grandes e sem vergonha, eu, estava agora sendo total e completamente encoberta por essa palavra, "vergonha".E Mila ... bem, agora Mila descansava.
Será que é egoísta da minha parte estar triste?
Minha mãe insistia para eu "vê-la". Segundo ela, isso ia me fazer sentir mais leve. Relutei por um tempo mais fui...
"Garota estupida, menina arrogante!"
Eu não queria ter ido, eu não devia ter ido até lá!
Seu corpo estava pálido, meio arroxeado e cheio de machucados, seus olhos fechados pareciam me julgar.
"Seus olhos não abrem mais. Machucados, não podem ver"
Cada machucado dela, estavam doendo em mim. Esses estávamos principalmente no rosto e pescoço. O que fazia minha mente me lembrar do dia que recebi a noticia que ela estava em cima induzido. Ela estava vivendo, cada dia mais, só com ajuda de maquinas, até não viver mais.
Era deprimente, tudo lá era extremamente ruim. A cena era horrível de presenciar: Seu corpo pálido e machucado sobre um caixão aberto, sua mãe, desesperada, "conversando" com algo totalmente sem vida.
As memorias dançavam tristemente pela minha cabeça machucada - não no coração, pois ele já estava despedaçado de mais pra isso - elas me transportavam para um passado que eu queria ter aproveitado mais. Para um passado onde eu queria estar. Para um passado onde eu estava segura, onde tudo ainda estava "bem". A um passado onde Mila colocava os garotos no chinelo, onde ela era a mais forte de todos. Nesse passado ela ainda esnoba força e coragem, onde ela ainda se fazia de boba, mas era mais ardilosa que serpentes.
Sim, eu preciso voltar a esse passado urgentemente.
Mas não posso, pois o passado é passado, ficou pra trás. É o tempo negativo, ele é insistente, ele não pode existir, não mais.
Esse passado me faz chorar agora, sim ele me faz chorar muito. Não quero mais lembrar , não!
Eu não queria mais lembrar!
Mas meu corpo não me obedecia, eu não conseguia sair da frente do caixão onde o corpo frio de (quem um dia foi) Mila. Minhas memorias não paravam, eu lembrava, sim, eu lembrava de tudo e nada. Eu lembrava, mas não sabia se era Real, era tudo muito fragmentado. Coisas que não lembro mais hoje.
Não ,eu não lembro mais de nada daquele dia, não lembro da hora que o caixão fechou e Márcia deu um grito de dor, parecendo que ela ia desmaiar de tão longo que foi.
Não lembro de quando olhei os trabalhadores da funerária tirando a plaquinha que dizia que ali estava o corpo de Mila.
Não lembro da hora que o corpo foi levado ao cemitério, e todos os familiares abraçaram Márcia e minha mãe falou:
"Se oferece-se agora a joia mais preciosa ela não iria querer. Ela quer a Mila, viva e bem."
Não lembro como aquilo doeu, e como desejei estar sonhando.
Não era um sonho....
+Nina Folly "folha"
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