• Epílogo •
Um mês depois
"Está pronta?", disse Kevin em um tom divertido, as mãos firmes pousadas nos ombros de Rebecca.
Ela fez que sim com a cabeça, dando pulinhos no lugar.
"Anda logo!"
A risada dele se fez ouvir e Becca sentiu a faixa que cobria seus olhos ser desamarrada. Mesmo quando se viu livre dela, continuou de olhos fechados. Algo dentro dela queria prolongar a excitação um pouco mais.
"Pode abrir", Kev disse, saindo de trás dela.
Becca respirou fundo, contou até três e então abriu os olhos.
"Ai meu Deus!", ela gritou, ficando alguns segundos totalmente imóvel, olhando para o mar infinito a sua frente. Ele era tão... grande. E bonito. Muito mais bonito do que as câmeras conseguiam captar e transmitir pela TV.
Como se um instinto invisível a guiasse, Becca caminhou até o mar, sentindo a maresia no rosto e o vento do litoral puxar seus cabelos para trás.
Ela então se ajoelhou na areia, estendeu as mãos e, quando uma onda veio, ela sentiu a água gelada nos dedos.
"E aí? Era como você pensava?", Kev perguntou com um sorriso, se abaixando ao lado dela.
"É muito mais bonito ao vivo", Becca disse meio hipnotizada. Ela então soltou uma risada e anunciou: "Vou entrar."
"Você disse que não sabe nadar direito, Becca", advertiu Kevin, franzindo um pouco as sobrancelhas. "Só não vai tão fundo, ok?"
"Você pode vir comigo", ela chamou, em menos de um segundo arrancando as roupas que vestia e jogando-as na areia. Antes de sair do hotel Becca tinha vestido um biquíni por baixo, pois se conhecia bem o suficiente para saber que não aguentaria ficar só olhando para o mar sem entrar nele um pouco.
Além do mais, de jeito nenhum ela passaria por Los Angeles sem experimentar cada pedacinho daquela viagem maravilhosa, e entrar no mar pela primeira vez em toda a sua vida estava no topo da lista que ela tinha feito ainda em Luncarty.
"Ah, eu não sei não", respondeu Kevin, olhando para o mar meio desanimado. "A água está gelada demais."
Becca riu e revirou os olhos.
"E isso vai te impedir?"
Ela então saiu correndo, sentindo a água salgada na pele. Assim que se viu coberta até a cintura, mergulhou de uma vez, antes que perdesse a coragem.
Becca sentiu um frio terrível e voltou à superfície, tremendo e ofegante. Então começou a rir e um calor estranho pareceu se apoderar de todo o seu corpo rapidamente.
Devia ser felicidade.
Uma onda veio e ela a atravessou, sentindo-se mais viva do que nunca.
Ela então acenou para Kevin, que continuava parado na areia, sua silhueta recortada pelo sol que se punha.
"Não vai vir?", ela gritou rindo. "Você é um frouxo!"
Aquilo foi incentivo o suficiente para o ego um tanto quanto frágil de Kevin. Com um sorriso provocante ele tirou a camisa – dando a Becca uma bela visão de seus músculos definidos, diga-se de passagem – e entrou na água.
Quando chegou até ela, Kev tremia dos pés a cabeça.
"Por que a gente não veio mais cedo?", ele perguntou batendo o queixo. "Sério, loira, não dá para ficar aqui."
Becca riu e, antes que ele se afastasse dela, jogou água em seu rosto.
Kevin se assustou e olhou sério para ela por dois segundos, até avançar e agarrá-la pela cintura, fazendo com que Becca risse e tentasse se soltar, mas ele era cem vezes mais forte que ela.
Eles nadaram por algum tempo até que a maré começou a subir e Kevin segurou a mão de Becca, para que eles voltassem juntos para a areia.
Lá, ele estendeu uma toalha grande e eles se deitaram, observando enquanto o sol de punha no horizonte.
O céu parecia se misturar com o mar ao longe e Becca tinha a impressão que aquela era uma das coisas mais lindas que já tinha visto na vida.
"Mandy e Margaret deviam ter vindo", ela comentou então, aconchegada de encontro ao corpo de Kevin. "Olha só que bonito..."
"A diretora disse que não é muito fã do mar, lembra?", ele comentou. "E Mandy falou que não consegue dar mais nem um passo depois dos passeios de hoje." Kev sorriu, passando os dedos pelo cabelo de Becca de maneira carinhosa. "Para falar a verdade, você é a única do grupo que ainda parece ter combustível. Sério, Becca, você não tem o botão de desligar não?"
Becca riu, apoiando-se no cotovelo para olhar para ele.
"Fiquei a minha vida inteira sem mal sair de Luncarty, Kev, agora preciso aproveitar o máximo possível."
"E isso significa não parar quieta nem um segundo desde que desceu do avião?"
Ela sorriu para ele de modo enigmático.
"Talvez."
Com um sorriso satisfeito, Becca pensou no último mês.
As últimas semanas tinham sido uma loucura, mas uma loucura muito boa.
Com os preparativos para a viagem, ela mal tivera tempo para respirar, mas agora que estava finalmente em Los Angeles, queria aproveitar cada segundo dos dias que teria ali ao lado de Kev, Mandy e também da diretora do seu colégio, que tinha sido designada por acompanhá-los na viagem, já que os três eram menores de idade e não podiam ficar sozinhos.
Eles só tinham chegado há dois dias, mas já tinham feito e visto tanta coisa que Becca poderia dizer com facilidade que aqueles tinham sido os melhores dias de toda a sua vida!
Kevin também não pensava diferente.
Os últimos trinta dias tinham sido meio complicados na família com toda a situação do divórcio dos pais. Frank não tinha aceitado a situação e tentara se aproximar da mãe novamente, mesmo quando eles saíram da casa em que tinham vivido a vida toda e se mudaram para o outro lado da cidade, em uma casa nova, cheia de possibilidades e isenta de qualquer lembrança ruim.
Felizmente, sua mãe tinha tomado as medidas necessárias e nada de ruim tinha acontecido.
Outra coisa boa era que todas as questões burocráticas que davam a mãe direito total ao orfanato tinham levado menos tempo do que todos esperavam e o lugar agora estava livre das mãos do pai. Como que para fechar tudo com chave de ouro, Kevin também ficara sabendo alguns dias atrás que o homem estava se mudando de Luncarty.
Aparentemente o pai não tinha aguentado os olhares e cochichos de toda a cidade quando a esposa e os filhos o abandonaram de uma vez por todas.
Se dependesse de Kevin, ele nunca mais veria o homem na vida.
"Ei, Kev, olha para cá", disse Becca, chamando a atenção dele. Ela estava com o celular na mão, a câmera apontada para ele. "Sorri. Sua irmã pediu para eu mandar uma foto sua."
Ele fez o que ela pediu. Megan, apesar da idade, parecia uma daquelas suas tias de cinquenta anos, que gostavam de ver fotos da família inteira durante qualquer viagem.
"Ela disse que você está uma gracinha, mas que parece estar esquecendo de passar o protetor solar e vai ficar cheio de sardas", Becca falou algum tempo depois, os olhos voltados para a tela do celular. "E Simon disse que concorda."
Kev abriu um sorrisinho e revirou os olhos.
"Eles ficam sempre juntos agora? Como gêmeos siameses?"
Becca olhou para Kevin e ergueu uma sobrancelha para ele.
"Como se a gente tivesse o direito de falar alguma coisa, não é?"
Kev riu e passou os braços pela cintura de Rebecca, puxando-a para mais perto.
"Mas nós não somos grudentos que nem eles", ele disse com um sorrisinho preguiçoso.
"Tem razão, não somos", Becca falou rindo. "Mas Simon está ajudando Megan a montar o consultório, lembra? Então é normal que eles passem ainda mais tempo juntos esses dias."
Bom, naquilo Kevin tinha que concordar.
Desde que Megan decidira que era uma boa ideia ficar em Luncarty de vez e que poderia abrir um consultório na cidade para exercer sua profissão, Simon tinha sido uma das pessoas que mais a ajudara.
Kev ficava feliz pela irmã. Ele sabia que Simon era uma boa pessoa e que os dois se davam muito bem. Depois do trauma pelo qual Megan tinha passado em seu último relacionamento, Kevin se sentia mais que aliviado em saber que algo do tipo nunca aconteceria enquanto ela estivesse com Simon.
Naquele momento ele ouviu o som de risadas infantis por perto e viu um homem que devia estar na casa dos trinta com uma menininha no colo e um garotinho de uns seis ou sete anos andando ao lado dele, chutando uma bola colorida.
Ele deve ter ficado observando a cena por tempo demais, pois Becca passou uma mão pelo seu rosto e fez com que olhasse para ela.
"Tudo bem?", ela disse baixinho, em um tom de compreensão que só fez com que Kevin a amasse mais.
"Tudo", ele respondeu. "Eu só já estou morrendo de saudades das crianças do orfanato."
Becca abriu um sorrisinho triste, mas não disse mais nada. Queria que Kevin fosse capaz de se abrir com ela de maneira natural e espontânea, sem que ela precisasse forçá-lo a isso.
Felizmente, ela não precisou esperar muito.
"Sabe, depois da minha sessão de terapia da semana passada, eu andei pensando e acho que percebi umas coisas", ele falou de repente. Rebecca percebeu que ele estava um pouco envergonhado, mas já se sentia grata por ele confiar nela para dizer aquelas coisas. Sempre quis que Kevin entendesse que não precisava guardar todos os seus problemas a sete chaves dentro de si, como se fossem coisas que jamais deveriam vir à tona.
"Que coisas?", ela perguntou.
"Aquele acordo que eu fiz com você foi porque eu não... Bem, eu não sentia que era capaz de manter uma garota por perto por muito tempo se eu realmente quisesse isso um dia, então pedi para que me ensinasse tudo o que sabia sobre conquista, romance... Você sabe." Becca assentiu com um pequeno sorriso. Sim, ela sabia.
No dia seguinte ao festival, semanas antes, Kev e ela tinham conversado por horas sobre o relacionamento dos dois, principalmente a respeito do que Kevin sentia e ainda não tinha contado a ela.
Os motivos por trás da parte dele naquele acordo que tinham feito era algo que Becca ainda não tinha conhecimento e se revelou ser bem mais profundo do que esperava. Para ser sincera, ela pensava que até mesmo Kevin tinha se surpreendido com as suas razões depois de ter admitido tudo em voz alta.
"E...", ela incitou então, depois que ele ficou calado por longos segundos. "Tem um e aí, não tem?"
Kevin assentiu lentamente e engoliu seco, olhando para ela com as sobrancelhas franzidas.
"Percebi que talvez também quisesse aprender tudo aquilo para, se um dia eu encontrasse a pessoa certa, tentar compensar de alguma maneira o que eu não podia dar. Como se, se eu fosse um cara desses que a maioria das mulheres sonha, eu pudesse manter a pessoa que gosto por perto apesar de não poder ter... você sabe. Filhos."
Becca ficou em silêncio. Estava ocupada tentando lidar com o nó gigante que tinha na garganta ao mesmo tempo em que procurava as palavras certas.
Porém, antes que dissesse qualquer coisa, Kevin soltou uma risadinha e desviou os olhos.
"É meio idiota, não é? Eu não deveria estar preocupado com coisas do tipo aos dezessete anos, mas isso é algo que carreguei comigo por tanto tempo que acabou se tornando uma questão enorme para mim." Ele passou uma mão pelo cabelo e olhou para o céu. "Não devia ficar tão preocupado com o futuro desse jeito. Nem quando fiz aquele trato com você e nem agora."
"Kevin, se preocupar com o futuro faz parte de quem somos. E o seu problema não é idiota, de jeito nenhum. Faz parte de quem você e pelo que passou", ela conseguiu dizer.
Becca então se sentou na toalha e olhou para Kevin, segurando sua mão na dela.
"Não vou dizer para você parar de pensar nisso e seguir em frente, porque nós dois sabemos que não funciona assim." Ela suspirou e olhou para aqueles olhos castanhos que transmitiam tanta coisa. "Provavelmente isso vai ser algo que vai doer em você pelo resto da vida, mas em intensidades diferentes. É por isso que é importante fazer terapia e é por isso que é importante conversar a respeito das coisas que te magoam com quem confia." Ela sorriu para ele da maneira mais corajosa que conseguia. "Só tente não pensar mais que é um problema idiota. Ou que não devia dar tanta importância a isso agora ou em qualquer idade. Isso só vai empurrar a dor para longe e você nunca vai conseguir encará-la de frente."
Kevin ficou calado por algum tempo, como se estivesse absorvendo as palavras dela.
Então, de repente, ele a puxou para si e a beijou.
Quando se afastaram, Becca estava com as bochechas vermelhas, sorrindo como a grande boboca apaixonada que era.
"O que eu fiz para merecer você?", ele sussurrou baixinho, afastando os cabelos do rosto dela para vê-la melhor.
"Invadiu meu quintal tarde da noite", Becca respondeu imediatamente com uma risada.
"Foi simples assim?"
"Mais ou menos."
Becca sorriu, se deitando e apoiando a cabeça no ombro de Kevin.
Agora já estava quase escurecendo.
Olhando para o mar, para as ondas que se agitavam e quebravam, ela pensou em como a vida, apesar de similar, não era exatamente como muitos de seus filmes ou livros favoritos. Na vida nem sempre tudo se resolvia magicamente no final, e as pessoas dificilmente vivem seus felizes para sempre, sem mais nenhum problema ou obstáculo.
Não. Não era assim que funcionava.
Mas não era exatamente aquilo que tornava tudo ainda mais excitante?
Naquele momento o celular de Becca apitou e ela se mexeu para ver o que era, fazendo com que Kevin resmungasse em protesto.
Ela riu e deu um tapinha nas mãos dele, que a puxavam para perto.
"Quem está sendo grudento agora?", ela provocou.
Com um sorriso, Becca olhou para a tela do celular e viu que tinha recebido um e-mail de um tal de Jeff Williams.
Curiosa, ela leu o que ele dizia, e a cada segundo seu coração batia mais e mais rápido.
"Ai meu Deus!", ela gritou depois de terminar, soltando o celular e fazendo com que Kevin se levantasse no mesmo instante.
"O que foi?!", ele perguntou em estado de alerta, mas Becca não conseguia falar, as palavras pareciam ter se perdido completamente no caminho entre seu cérebro e a boca.
Ela então apontou para o celular e Kevin o pegou, lendo o e-mail. Quando terminou, ele não sabia se estava mais ou menos surtado que Rebecca.
"Ele é o caçador de talentos que todos disseram que estava no festival!", ele falou, ficando de pé em um pulo. As pessoas ao redor começaram a olhar para ele, que gesticulava sem parar, como se estivesse tentando encontrar as palavras que não conseguia pronunciar no ar. "Ele é daquela gravadora superfamosa, Becca! Ele quer uma reunião com você!"
"Eu sei!", Becca disse, sua voz quase sumindo, de tão aguda que estava.
Ela também se levantou, agora dando pulinhos.
"Kevin, ele falou de você também!", ela disse, apontando para o celular. "Você não leu?"
"Eu parei no primeiro parágrafo", ele admitiu, agora andando de um lado para o outro e voltando os olhos para a tela do celular. Porém, antes que recomeçasse a leitura, Becca soltou:
"Ele disse que vai entrar contato com você também! Disse que assistiu a sua apresentação e ficou impressionado com a qualidade da música que você compôs. Kev, ele disse que vai te encaminhar para alguns amigos e..."
Ela não conseguiu continuar. Começou a se abanar com as mãos, pensava que a qualquer momento fosse desmaiar.
Kevin leu o restante do e-mail e quando terminou sua pele estava mais branca que papel.
"Cristo..."
Becca olhou para o mar, para o céu, para a areia e depois para Kevin. Aquilo era sério mesmo? Devia ser uma pegadinha...
"Acha que estamos criando expectativas demais?", ele perguntou então, indo até ela.
"Kevin, já consigo me imaginar no palco, cantando músicas que você compôs para milhares de pessoas."
Eles se entreolharam por três breves segundos e depois caíram na gargalhada. Riram tanto que as pessoas ao redor com certeza pensaram que eram malucos.
Quando conseguiram se recompor, Kev envolveu Becca nos braços, pousou o queixo no topo de sua cabeça e olhou para o horizonte, que de repente parecia tão cheio de possibilidades.
Era algo assustador. Mas excitante. Excitante porque ele de repente se deu conta que teria Becca ao seu lado.
E aquela era a melhor coisa do mundo.
"É melhor a gente voltar para o hotel e responder esse e-mail", ela disse então, erguendo a cabeça para olhá-lo.
Kevin sorriu.
"Não podemos deixar Jeff Williams esperando, não é?"
Becca riu e fez que não com a cabeça.
"Quem sabe não é a chance das nossas vidas?"
Eles então recolheram as coisas que tinham jogado na areia e entrelaçaram as mãos.
Não conseguiam parar de falar sobre o que tinha acabado de acontecer. Ainda tinham dificuldades para acreditar que aquilo era real mesmo.
Eles, juntos em Los Angeles, vendo o mais belo pôr do sol do mundo e recebendo um e-mail de um cara que trabalhava numa gravadora famosa?
Era bom demais.
Inesperado demais.
Mas, pensando bem, talvez as melhores coisas da vida viessem exatamente daquela forma: de surpresa.
Kevin, pelo menos, sabia que o golpe de frigideira que tinha recebido de Rebecca meses atrás tinha sido bastante inesperado, e olha só onde ele lhe trouxera...
_____________________❤️___________________
Foi um prazer escrever essa história.
Foi um prazer ter vocês aqui comigo.
Becca e Kevin vão estar para sempre nesse cantinho do Wattpad, para quando vocês decidirem visitá-los.
Muito obrigada por lerem o livro. Eu sou eternamente grata.
Kev, Becca, Max, Mandy e todo mundo que fez essa história criar vida mandaram um abraço!
Até logo,
Ceci.
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