• Capítulo Vinte e Sete •


O COLÉGIO DE LUNCARTY TINHA dois ginásios enormes que, sem sombra de dúvidas, não eram muito proporcionais a quantidade de alunos que estudavam ali. Felizmente, o espenormesaço extra era bem útil para qualquer tipo de evento que realizavam, especialmente o festival de talentos.

Um dos ginásios era coberto enquanto o outro ficava ao ar livre, lembrando um grande pátio onde os alunos tinham aulas de educação física no período letivo. Como estavam em uma estação quente e o tempo era firme, o festival tinha sido organizado para acontecer a céu aberto.

Tudo estava tão lindo que Rebecca, observando tudo pela primeira vez, quase podia esquecer seu nervosismo e se entregar totalmente a magia do momento.

O palco tinha sido devidamente posicionado para que ficasse de frente a dezenas de fileiras de cadeiras. Os alunos responsáveis pelo cenário e decoração do evento tinham conseguido uma enorme cortina de veludo vermelha que seria usada entre as apresentações e todo o lugar estava iluminado com lanternas coloridas, que tinham sido colocadas em cima de mesinhas cobertas de flores ou penduradas nas árvores ao redor. Bem de frente ao palco estava a bancada dos jurados, que já deviam estar quase chegando, e, ao lado, de maneira também visível, havia a banda do colégio que seria responsável pela parte instrumental de cada canção do festival.

Conforme o tempo passava, mais e mais pessoas chegavam, aos poucos preenchendo cada lugar nas cadeiras. A cada rosto conhecido, Becca sentia as borboletas voarem descontroladas em seu estômago e as mãos pingarem de suor.

"Quer um copo d'água?", perguntou Mandy naquele instante, ao lado de Becca.

"É melhor não", ela disse em tom mais alto, para que fosse ouvida apesar do ruído da pequena multidão que se formava. "Acho que não consigo colocar nada para dentro agora que não me dê a sensação que vou vomitar."

"Você sabe que se sofrer um ataque isso já te elimina automaticamente da competição, não é?", Mandy comentou em seguida.

"Não estou sofrendo um ataque."

"Ah, não?" A amiga apontou para as mãos de Becca, que tremiam no colo.

Rebecca se obrigou a respirar fundo algumas vezes antes de dizer qualquer coisa. Mandy tinha razão. Ou ela se acalmava ou passaria a vergonha de desmaiar no meio de toda aquela gente.

Já não bastava o que de tinha que enfrentar naquela noite...

Depois que a direção do colégio tinha reunido todos os participantes em uma sala de aula uma hora atrás, Becca ficou sabendo dos últimos detalhes do festival. Como já tinha sido passado para ela antes, ela seria a última a se apresentar no festival, o que lhe dava certo alívio. Pelo menos seu sobrenome esquisito tinha lhe dado algum conforto pela primeira vez...

Becca estava na fileira da frente naquele momento, bem perto do palco, junto com todos os outros participantes. Como o festival ainda não tinha oficiante começado, outras pessoas poderiam estar ali com os amigos, então ela estava tentando aproveitar ao máximo a companhia de Mandy antes de ser deixada completamente sozinha por sua conta.

Naquele instante, ela sentiu mãos macias taparem seus olhos por trás. Quando Becca se virou, deu de cara com o sorriso radiante de Alana.

"E aí? Como tá seu coração?", a garota perguntou, dando pulinhos de empolgação.

"Disparado", Becca falou com um sorrisinho envergonhado, lutando para não passar as mãos nervosamente pelo cabelo e receber um tapa de Mandy no processo. "Mas acho que logo, logo vou ficar bem."

"É claro que vai", disse Max, que também se aproximava e passou o braço pelos ombros da namorada. Ele tinha um sorriso confiante e relaxado no rosto, um sorriso que Becca invejou bastante. "É sempre assim quando vou entrar em campo, não importa quantas vezes eu faça isso. Mas relaxa, depois que os holofotes já estão em você, a sensação passa e você só se entrega ao momento. É claro que eu nunca fui totalmente o centro das atenções como você vai ser, aliás, existe uma diferença entre jogar uma partida de futebol com um monte de caras em um campo onde ninguém sabe direito quem é quem e uma apresentação de canto para quase a cidade inteira..."

"Max!", reclamou Alana, dando uma forte cotovelada nas costelas do namorado. "Isso não está ajudando. Olha só a cara da Becca!"

Becca não fazia ideia de como estava sua cara, mas pelos olhares dos amigos, ela devia estar demonstrando explicitamente o terror que sentia por dentro.

"Não liga para ele, Becca", falou Alana com um sorriso gentil, enquanto Max esfregava a lateral do corpo com uma careta de dor. "Olha só o que eu fiz para nós!"

Ela então abriu a bolsa que levava no ombro e tirou de lá faixinhas cor-de-rosa com Team Rebecca estampado em grandes letras cursivas.

Becca tentou demonstrar surpresa diante do olhar desesperado de Max, que já tinha contato a ela sobre as tais faixas alguns dias atrás.

"É incrível, Alana, obrigada!", ela disse, enquanto a garota amarrava uma em sua cabeça e entregava as outras duas para Mandy e Max. Ver o grande jogador de futebol americano usando aquela coisa fez com que um riso involuntário escapasse dos lábios de Becca e ela se sentisse um pouquinho menos nervosa.

"Eu e Max vamos nos sentar um pouco mais atrás", disse Alana naquele momento, tendo de forçar um pouco a voz, já que o lugar ficava cada vez mais cheio. "Só tente relaxar, ok? Vai dar tudo certo."

Becca sorriu e agradeceu, logo em seguida se despedindo dos dois, que em menos de um segundo sumiram na multidão.

Naquela instante, alguém passou raspando ao seu lado. Becca ergueu os olhos e viu Melissa, que a olhava intensamente e fazia sinal para o banheiro feminino, que ficava atrás de todas as fileiras.

Lentamente, Becca assentiu e engoliu em seco.

Estava na hora.

Mandy deve ter percebido o que tinha acabado de acontecer, pois segurou a mão da amiga com força e a olhou nos olhos.

"Vai mesmo fazer isso?"

Becca, apesar da apreensão que sentia no momento, assentiu.

Respirando fundo, ela entregou a Mandy seu celular.

"Você sabe o que fazer, não é?", ela disse, só para confirmar. "Tudo o que você precisa está no primeiro bloco de notas do celular, deixei tudo pronto."

Mandy assentiu e, antes que Becca seguisse Melissa para o meio da multidão, ela lhe deu um abraço apertado.

"Acabe com aquela vaca", ela sussurrou em seu ouvido. Becca abriu um pequeno sorriso e se afastou.

Precisava se apressar.

Quando conseguiu chegar ao banheiro, percebeu que havia apenas duas garotas retocando o batom uma da outra, mas bastou um olhar gélido de Melissa para que as duas murmurassem alguma coisa e saíssem rapidamente, sem nem olhar para trás.

Becca então encarou Melissa, que estava absurdamente deslumbrante.

Ela vestia um vestido vermelho longo que reluzia como se estivesse coberto por pequenos diamantes, e seus cabelos negros estavam soltos, caindo em ondas pelos ombros.

Surpreendentemente, Becca percebeu que não estava com medo daquela conversa. Não como tinha ficado em todas as vezes que encarara Melissa nas últimas semanas, pelo menos.

"Você não saiu do festival", Melissa disse naquele instante em um tom baixo e contido. Seus olhos faiscavam.

"Não", Becca respondeu simplesmente, dando de ombros. "Estou aqui, não estou?"

"Você é mais teimosa do que eu pensava..."

"E você mais inconveniente."

Melissa pareceu demonstrar surpresa, e aquilo foi o que deu forças e coragem para que Becca continuasse.

"Nós éramos amigas", ela começou, se aproximando de Melissa e não se intimidando pelo fato da garota ser pelo menos quinze centímetros mais alta que ela com aqueles saltos gigantes. "Você não se lembra disso? Fazíamos tudo juntas, até você se distanciar sem nem ao menos me dar uma explicação. Aquilo magoou, sabia? Magoou de verdade. Foi horrível começar o ensino médio, uma fase bastante complicada, por sinal, sem ter você ao meu lado." Becca engoliu em seco, tentando manter suas emoções sob controle, caso contrário nunca sobreviveria àquela noite. "Mas então eu observei, de longe, que você tinha mudado muito, decidi que nós tínhamos nos tornado pessoas diferentes e que era até bom estarmos afastadas. Eu podia lidar com aquilo, Melissa, podia mesmo, mas então você começou a infernizar a minha vida por conta desse festival."

Becca parou, respirou fundo e ficou encarando Melissa. Seu peito subia e descia em uma respiração irregular e seus lábios estavam secos.

Ela odiava ter de confrontar as pessoas daquele jeito, mas levando em conta o que estava acontecendo naquele exato momento e a quantidade de ressentimento que ela tinha guardado, tentou não brigar consigo mesma por conta daquilo.

Aliás, foi só naquele momento, enquanto encarava Melissa nos olhos e dizia todas aquelas coisas em voz alta, que ela percebeu como se ressentia da ex melhor amiga por tudo o que tinha acontecido.

"Quando o ensino médio começou, eu só pensava em uma coisa, Rebecca", Melissa disse então, de repente. Becca fechou as mãos em punhos e aguardou em silêncio. Os olhos de Melissa, embora estivessem fixos nela, pareciam perdidos em algum outro lugar. "Eu pensava em ser aceita. Em fazer parte de um grupo. Em ser popular como aquelas garotas mais velhas que eu via e admirava. Eu fui atrás disso. E consegui." Melissa engoliu em seco e fechou os olhos por um instante, agora sem mais encarar Rebecca. "Me afastei de você porque eu sabia que não iria entrar naquela comigo. Você sempre foi certinha demais para isso, não é? Então eu me envolvi com outras pessoas e experimentei o que é ser conhecida e admirada por todos, até mesmo temida." Ela soltou uma risadinha seca e balançou a cabeça. "Mas, quer saber? Isso não preencheu o vazio que eu sempre senti."

As duas ficaram em silêncio por um instante. Lá fora, o som de gente conversando ficava cada vez mais alto, mas, ali dentro, era como se Becca só pudesse ouvir a sua respiração e a de Melissa.

"Acho que nunca me senti eu mesma, mesmo depois de ter conseguido o que eu queria. Mas sempre achei que fosse tarde demais para desmanchar a fachada que construí para mim, então continuei. Continuei fingindo." Melissa piscou rapidamente, como que para afastar as lágrimas, e caminhou até as pias do banheiro, os saltos altos produzindo ecos ao se encontrar com o chão. "Mas você não precisa saber disso. Não foi para isso que te chamei."

Becca se aproximou de Melissa lentamente, sentindo o coração bater forte no peito.

"Foi para o quê então?", ela perguntou.

"Foi para dizer que não vou revelar seu segredo", Melissa falou de uma só vez, erguendo a cabeça para encarar Rebecca. "A verdade é que cantar sempre foi a única coisa que eu soube fazer direito a minha vida toda, desde pequena, e eu queria..." A voz dela falhou. Melissa pigarreou e continuou. "A verdade é que eu queria ter certeza que me sairia bem pelo menos nisso, queria ter certeza que venceria alguma coisa sendo quem eu sou, sendo de verdade."

Becca piscou, tendo dificuldade de absorver tudo aquilo.

Será que estava sonhando ou Melissa estava realmente dizendo tudo aquilo para ela?

"Foi uma maneira bem psicopata de conseguir, sabia?", Becca falou, percebendo que era a única coisa que poderia dizer e que, também, aquele seria bem o tipo de comentário que Kevin faria, em uma tentativa de suavizar ou clima ou, sei lá, apenas ser ele.

Será que ela sempre levaria um pedaço dele com ela, não importava quanto tempo passasse?

Mas antes que se afundasse em mais amarguras a respeito de Kevin - aliás, aquilo era o que mais tinha feito nos últimos dias - Melissa soltou uma risada e revirou os olhos.

"Sinto muito, Melissa", Becca disse então, quando percebeu que a garota parecia não ter mais nada a dizer. "Sinto por..."

"Não, não quero sua pena", a garota rebateu no mesmo instante, empinando o nariz e fechando a cara. "E nem pense que te disse tudo isso porque precisava de algum tipo de redenção e..."

você quem está dizendo isso."

"Que seja." Melissa suspirou e tirou um batom da bolsa, olhando-se no espelho e retocando os lábios. "Eu só pensei que talvez devêssemos resolver isso como adultas, já que você não quis sair do meu caminho. Vamos lá para fora e vamos competir. Que vença a melhor."

"Nós não precisamos ser inimigas", Becca reclamou ao ouvir aquilo. "Se quer saber, eu não me importaria se você vencesse, embora eu queira muito isso também. E..." Ela suspirou e olhou fixamente para Melissa quando disse: "Nunca é tarde para voltar atrás, como você pensa."

A garota pareceu pensar por um instante, mas em seguida riu e falou:

"Ah, Rebecca... Você não mudou nada mesmo, não é?"

Melissa já estava saindo do banheiro quando Becca se lembrou de algo e disse:

"Então não vai contar para ninguém que eu sou a Princesa dos Corações Apaixonados?"

Melissa olhou para trás e deu de ombros.

"Não", ela respondeu simplesmente. "Apesar do papo sobre redenção... Bem, espero que pelo menos isso te recompense pela dor de cabeça que eu devo ter te causado nas últimas semanas. Foi totalmente intencional, a propósito."

Becca sacudiu a cabeça e abriu um sorrisinho.

O mundo dava mesmo muitas voltas...

"Bom, parece que não adiantou nada", ela disse com um profundo suspiro, pensando em Mandy, que provavelmente já tinha feito o que Becca tinha combinado com ela horas atrás. "Eu acabei de postar um texto no blog, Melissa. Me revelei. Agora já era."

Melissa arregalou os olhou e ficou olhando estática para Becca por uns dois segundos antes de dizer:

"Você fez o quê?!"

"Eu não queria ficar dependendo de você", disse Becca, mais tranquila do que ela provavelmente deveria estar naquele momento. Mas, aliás, o que poderia fazer? Já estava feito, não adiantava se lamentar por causa daquilo. Já tinha tomado sua decisão dias antes, depois de Melissa tê-la encurralado no armário de vassouras. "Eu pensei que poderia tentar me chantagear de novo."

"Mas...", Melissa começou a dizer, porém Becca se aproximou.

"Não preciso mais me esconder atrás daquela identidade falsa", ela falou, mais para si mesma do que para Melissa. "Acho que não preciso me envergonhar pelas coisas que escrevi no blog, entende? Sou mesmo uma romântica incurável e tenho esse lado sentimental. Enjoativo de tão doce, como ouvi uma pessoa dizer uma vez..." Becca sorriu tristemente ao se lembrar de Kevin, na noite em que eles tinham se conhecido. "Acho que não é uma coisa ruim por ser reconhecida, não é?"

"Bem..." Melissa sacudiu a cabeça e deu de ombros. "Eu acho que não."

Becca sorriu, de repente sentindo uma euforia muito estranha - mas muito bem-vinda, também - tomar conta de cada parte dela.

"Boa sorte no festival Melissa, de verdade."

Melissa ficou calada por um instante, mas em seguida assentiu lentamente.

"Certo, Uziel."

Becca fez uma careta ao ouvir o sobrenome, mas já pensava que aquilo era uma conquista. Uma das grandes.

Com o coração aos pulos, saiu do banheiro.

Rebecca estava voltando para o seu lugar na fileira da frente quando, no meio da multidão, ela ouviu uma voz familiar gritar seu nome.

Ela olhou para toda aquela gente e reconheceu sua família em uma fileira mais afastada do palco. Sua mãe e sua avó acenavam, alegres, Gabrielle e Fred estavam em pé em cima das cadeiras, dando tchauzinhos animados, e Simon formava um coração com as mãos para ela.

Becca não teria percebido Megan ali se ela também não tivesse acenando para ela, sorrindo de orelha a orelha, ao lado de Simon.

Rebecca sorriu, feliz de vê-los ali. Aquela era a primeira vez que Simon e Megan saiam juntos com a família de Becca, e ela estava contente por eles.

Pelo menos podia ficar feliz pelo caso de amor de seu irmão mais velho estar dando certo, já que o dela tinha ido para o ralo de vez...

Naquele instante, quando Becca já pensava em ir até eles, a diretora do colégio apareceu no palco e cumprimentou todos os presentes, pedindo também que os participantes do festival agora fossem para os seus lugares, já que as apresentações iriam começar dentro de alguns minutos.

Quando Becca chegou ao seu lugar, se deparou com Mandy, que andava de um lado para o outro e segurando seu celular como se fosse uma batata quente.

"Ah, graças a Deus!", a amiga disse quando a viu, indo até Rebecca. "Eu fiz o que você pediu. O post já está no ar. Por Deus, Becky, estou tremendo da cabeça aos pés, mais parece que joguei uma bomba na cidade. O texto já tem um monte de comentários!"

Becca assentiu, respirou fundo e sorriu.

"Tudo bem, Mandy, obrigada."

"E como foi com a va..."

"A gente conversou", Becca disse, antes que a amiga dissesse qualquer coisa. "Meio que estamos em trégua."

O queixo de Mandy caiu e ela olhou fixamente para Rebecca, sem nem piscar.

"Mas, o post..."

"Está tudo bem", Rebecca apressou-se a dizer, segurando a mão de Mandy. "Isso é uma coisa que cedo ou tarde eu iria fazer, Mandy. Não estou arrependida. Não tenho nada do que me envergonhar. Além do mais... Bom, nós já estamos de férias, não é? Quando eu voltar para o colégio daqui dois meses, ninguém vai dar mais importância a isso."

"É claro que você não tem motivos para ter vergonha, mesmo se tivesse de aparecer no colégio na segunda-feira!", disse a amiga no mesmo instante, olhando para Becca como se ela fosse idiota. "Eu só pensei que você gostasse de manter o segredo."

"Eu gostava", Becca falou no mesmo instante. "Mas talvez ainda consiga unir alguns casais por aí com o blog e posso continuar postando dicas amorosas. As pessoas saberem quem está por trás dos posts não vai mudar o conteúdo do blog. Eu só não queria ter feito isso hoje, sabe? Devia ter postado o texto ontem ou assim que Melissa começou a me chantagear, mas estava confusa demais... Estou com medo que as pessoas pensem que fiz essa revelação justo hoje só para ter mais votos por parte dos alunos no festival..."

Mandy revirou os olhos e deu um empurrãozinho em Rebecca, que mordia o lábio inferior com força.

"Becky, quando você subir naquele palco e começar a cantar, não vai ter uma alma viva nesse colégio que vai dar atenção a outra coisa que não seja sua voz, ok? É incrível como você consegue se desprender de uma paranóia e no momento seguinte cair em outra!"

Becca sorriu, agradecida por aquilo. Ela esperava que Mandy estivesse certa.

"Eu amo você." Ela então deu um rápido abraço na amiga e disse: "Anda, você não pode ficar aqui. Minha família está lá atrás e eu tinha pedido que minha mãe guardasse um lugar para você mais cedo. Pode ficar com o meu celular?"

"Claro."

"Obrigada por tudo Mandy..."

A amiga abraçou Becca outra vez e sorriu, ajeitando as flores em seu cabelo e vistoriando sua maquiagem uma última vez antes de desejar boa sorte e sumir na multidão.

Becca respirou fundo, tentando não entrar em pânico. Quando se sentou em seu lugar, Melissa surgiu e se sentou ao lado dela.

"O show vai começar", ela sussurrou para Becca quando, quinze minutos depois, a diretora do colégio tinha dito como aquele festival era um evento importante em que os alunos se empenhavam bastante para fazer acontecer, que aquele ano o evento tinha sido patrocinado por inúmeras empresas da cidade e que entre os prêmios para os vencedores estava uma viagem com direito a dois acompanhantes para Los Angeles. "Está nervosa?"

"Numa escala de zero a dez, nove", ela disse, feliz por pelo menos Melissa estar conversando com ela civilizadamente. Becca não era uma pessoa rancorosa e estava disposta a esquecer tudo o que tinha acontecido no último mês entre as duas. "E você?"

Melissa riu e olhou para Becca em descrença.

"Eu já nasci pronta, queridinha."

Rebecca sorriu e assentiu. Talvez ela não ficasse tão sozinha quanto pensava naquele momento...

"Mas essa noite vai ser ainda mais especial, senhoras e senhores", a diretora disse naquele instante, chamando a atenção de Rebecca. "Eu e todas as outras pessoas envolvidas na organização desse projeto, ao longo das últimas semanas percebemos como os alunos estavam empolgados e como estavam se doando completamente para que essa noite fosse perfeita para todos aqui. Por isso nós temos uma surpresa para cada um dos participantes do festival desse ano." A diretora sorriu enigmaticamente e Melissa e Rebecca trocaram um olhar intrigado. "Durante cada apresentação, nós preparamos uma surpresa relacionada à música que cada participante decidiu desempenhar aqui hoje. Eles não sabem o que é e eu, como todos os que me ajudaram nisso, fizemos de tudo para que cada apresentação se torne ainda mais inesquecível. Então, senhoras e senhores, que comece o Segundo Festival de Talentos do Colégio Luncarty!"

Todos gritaram e bateram palmas, as luzes abaixaram e o primeiro participante subiu ao palco. Da posição em que estava, nem Becca nem nenhum outro participante podia ver as expressões dos jurados, que estavam bem de frente ao palco. Becca ficou grata por aquilo, aliás, não ficaria sempre tentando adivinhar quantos pontos cada um estava dando para cada participante e avaliando suas chances a todo momento.

"Que tipo de surpresa será que eles estão falando?", Becca perguntou nervosamente. Ela não sabia se aguentaria mais surpresas naquela noite sem sofrer um treco...

"Eu não faço ideia", respondeu Melissa. "Mas espero que seja algo bem feito. Eu realmente me dediquei muito para esse dia."

E, quando o aluno que estava no palco chegou ao refrão da música que cantava, que era Firework, da Kate Perry, e fogos de artifício coloridos foram lançados ao céu acima de suas cabeças, o queixo de Becca caiu, como o de todas as centenas de pessoas presentes.

Aparentemente, eles tinham preparado algo muito bem feito.

Conforme a próxima hora passou, Becca se sentiu mais relaxada, por incrível que pareça.

Ela não podia mentir e dizer que não se sentia pelo menos um pouquinho pressionada, aliás, todos ali cantavam tão bem que sua insegurança começou a bater à porta, mas ela tentou sufocá-la e se concentrar no momento.

Conforte as apresentações aconteciam, Becca se deu conta que as surpresas que a diretora tinha mencionado não faziam jus ao nome, pois eram verdadeiros espetáculos!

Quando a vez de Melissa chegou e ela começou a cantar My Heart Will Go On, a música tema de Titanic, uma projeção foi lançada na parede falsa que tinha sido montada atrás do palco, e cenas do filme começaram a passar, dando um verdadeiro show.

Becca não conseguia parar de pensar no que eles tinham preparado para ela, e aquilo a deixava até mesmo excitada para que sua vez chegasse logo!

Em contrapartida, um pedacinho dentro dela também sempre se entristecia quando um dos participantes começava a cantar uma música romântica, pois aquilo a fazia se lembrar de Kevin, e pensar em Kevin doía.

Ela queria tanto que ele estivesse ali. Queria tanto que, se só a força do desejo pudesse realizar coisas, Kevin já estaria em sua frente há horas.

Mas ele não estava. Tinha deixado seus próprios motivos o afastarem dela, aparentemente sem nem se importar com o que Becca sentia.

Aquilo a deixava irritada, por isso continuava xingando Kevin mentalmente toda vez que sentia uma recaída, pois preferia a raiva à tristeza. Porque a tristeza fazia todas as melhores lembranças que ela passara com Kevin doerem profundamente, pois Becca sabia que elas tinham ficado para trás, como ele.

Por isso agradeceu mentalmente quando um dos participantes começou a demonstrar suas habilidades vocais com um pop nada romântico. Definitivamente aquilo era bem melhor do que músicas que falavam sobre corações partidos e amores inalcançáveis...

Do outro lado do ginásio, bem longe de Rebecca, Kevin olhou nervosamente para a sua mãe, que andava de um lado para o outro com uma prancheta nas mãos, se certificando que tudo estava correndo bem no festival.

"Tem certeza que está tudo certo?", ele perguntou pela centésima vez na última hora, sem conseguir parar quieto e seguindo-a para todo lado.

"Sim", Virginie respondeu, também pela centésima vez. "Você devia beijar meus pés, sabia? Tem ideia de como foi difícil convencer Margaret?"

"A diretora não recusaria um pedido desses", falou Kevin com um pequeno sorriso, tentando dissipar pelo menos um pouco o nervosismo que sentia. "Mas obrigado, mãe, de verdade."

Naquele momento uma garota ruiva subiu ao palco e Virginie disse que ela era a penúltima a se apresentar. Quando ela terminasse seria a vez de Rebecca.

"É melhor você ir", disse Virginie ao filho, parando por um segundo e encarando Kev com um sorriso gentil. "Não se preocupe, eu já ajeitei tudo para você."

Ele assentiu e deu um beijo no rosto da mãe, colocando seu violão nas costas.

"Como estou?", ele perguntou antes de ir, passando uma mão pelos cabelos já bagunçados e tentando ajeitar a camisa que definitivamente não estava alinhada.

Virginie soltou um risinho e olhou de maneira carinhosa para o filho.

"Está com a cara de quem vai reconquistar uma garota", ela disse tranquilamente.

"Não cante vitória antes da hora", falou Kev nervosamente. Seu coração batia tão rápido que ele estava com medo de sofrer um ataque antes que pudesse consertar toda a bagunça que tinha feito. "Me deseje sorte."

"Boa sorte."

Kevin, encarando o palco e a multidão a sua frente, respirou fundo.

Era agora ou nunca.

Quando a penúltima apresentação terminou, Becca soube que ou se levantava naquele exato instante ou não teria coragem de deixar o seu lugar nunca mais.

Em sua mente, ela relembrava todos os ensaios que tinha feito antes daquele dia, ensaios em que sua voz saia perfeitamente bem e tudo estava mil maravilhas.

Ela precisava se agarrar às coisas boas e acreditar em si mesma, pois naquele instante só tinha a si própria.

"Vou te acompanhar até o palco", disse um garoto de óculos que estava ajudando a organizar os participantes, surgindo ao lado dela de repente.

Becca assentiu e se levantou, passando as mãos pela saia do vestido lilás.

"Não passe vergonha", a voz de Melissa disse naquele instante, e quando Becca olhou para ela viu um sorrisinho travesso em seu rosto. "Se ficar duvidando de si mesma, não vai dar certo."

Becca parou, respirou fundo e assentiu com a cabeça. Melissa estava certa.

Deus, ela nunca imaginou que poderia pensar uma coisa daquelas cinco dias atrás!

Rebecca já estava quase chegando às escadas que a levariam para o palco quando a diretora passou em sua frente e abriu um pequeno sorriso, pedindo que ela aguardasse um minuto, pois precisava dar um recado.

Becca ficou sem entender o que estava acontecendo, mas obedeceu, por algum motivo ficando parada no mesmo lugar. Talvez ela estivesse nervosa demais para que seu cérebro coordenasse os movimentos necessários para que ela voltasse à sua cadeira.

"Agora, antes de irmos à última apresentação do nosso festival, vamos interromper nossa programação por alguns minutos para um aluno que, em cima da hora, decidiu que também tinha algo especial para nos mostrar hoje", disse a diretora naquele instante, as luzes focadas nela. "Admito que não sou o tipo de pessoa que faz mudanças de última hora, senhoras e senhores, mas acredito que essa é por um bom motivo." A diretora então sorriu jovialmente e anunciou em alto e bom som: "Com vocês, Kevin MacCormack!"

Ao ouvir aquele nome, Becca sentiu suas pernas bambearem e seu coração pular no peito.

Sem pensar, ela agarrou o braço do aluno que a estava acompanhando, que a olhou desesperado. Provavelmente ele não saberia como reagir se ela desmaiasse bem diante dele.

Antes que Becca se quer pudesse pensar, ela viu um rapaz alto subir as escadas até o palco e se posicionar, com um violão nos braços.

Ela olhou fixamente para Kevin, que vestia as mesmíssimas roupas da noite em que eles tinham se conhecido. Era a mesma calça jeans desbotada e blusa escura, o mesmo sorriso atrevido no rosto e cabelo bagunçado.

Deus, ela estava com tanta saudade dele...

"Bom, essa é a primeira vez que eu faço algo do tipo, então já peço desculpas se algo sair errado", ele disse no microfone, sua voz ressoando pelos quatro cantos do ginásio. "Eu não sou um cantor tão bom quanto os alunos que se apresentaram aqui hoje, mas eu sei tocar e também...", ele pareceu hesitar por alguns segundos, mas em seguida disse: "Eu também componho umas músicas de vez em quando." Kevin sorriu de lado e passou uma das mãos pelo cabelo, daquele seu jeito de menino malandro, mas também parecendo um pouco tímido, algo que deveria ser novo para ele. "É, eu sei que muita gente que me conhece agora deve estar pensando que eu enlouqueci, mas a verdade é que eu não conto isso para as pessoas. Eu meio que escondia de todo mundo, até que conheci uma pessoa que me fez enxergar que eu não devia ter vergonha de ser quem eu sou ou de fazer as coisas que eu gosto, e é para essa pessoa que eu vou cantar essa música hoje."

Sussurros curiosos percorreram todo o ginásio e Becca ouviu várias pessoas soltarem assobios e gritinhos entusiasmados, mas ela não conseguia tirar os olhos de Kevin, que estava iluminado pelos holofotes e mais lindo do que nunca.

Ela pensou que seu coração fosse parar quando ele começou a dedilhar notas no violão e ajeitou o microfone, mas a verdade é que seu coração só batia mais forte, de maneira que ela nunca tinha sentido antes.

Quando ele começou a cantar, seus olhos castanhos se encontraram com os dela.

Kevin não precisou soltar a voz mais do que cinco segundos para que todos o aplaudissem, entusiasmados pela sua voz e pela canção, que já embalava todos os presentes.

A letra da música falava sobre amor, sobre encontrar alguém que vira seu mundo de cabeça para baixo no melhor sentido possível. Falava sobre sorrisos soltos pelo caminho e beijos roubados na noite, mas, sobretudo, falava sobre como alguém pode chegar de repente e roubar seu coração por completo, sem nem pedir permissão.

Becca não conseguia respirar. Ela só olhava para Kevin, que tinha os olhos fixos nela também, como se todas aquelas pessoas não existissem ou simplesmente não importassem.

Lentamente, ele foi tocando as últimas notas, até que a música cessou por completo e sua voz diminuiu até sumir.

No mesmo instante todos começaram a gritar e a bater palmas. Becca tinha os olhos cheios de lágrimas e mal conseguia se mexer. Seu coração não parecia caber mais no peito.

"Eu compus essa música há duas semanas", disse Kevin naquele instante, fazendo com que todos se calassem para ouvir o que ele tinha para dizer. O silêncio era quase espectral. "Compus quando percebi que o que eu sentia por uma pessoa era tão forte que não cabia mais dentro de mim, que tinha de sair de algum jeito e se transformar em alguma coisa. No meu caso, em uma canção." Kevin desviou os olhos brevemente de Becca e encarou a multidão. "Como eu disse, antes eu tinha vergonha disso, da música, de compor, por isso eu escondia. Mas, como muitas outras coisas, essa garota me ensinou que eu estava sendo um idiota. E... Bem, eu sou um idiota, porque eu a deixei ir embora e ela tem todo o direito do mundo de não querer mais olhar na minha cara." Risadinhas percorreram o ginásio, e naquele momento Kev voltou a olhar para Rebecca.

"Becca", ele disse, seus olhos castanhos completamente voltados para ela, sua voz repleta de uma emoção que ela podia sentir na pele. "Eu errei e quero te pedir desculpas. Não deveria ter me afastado de você, mas a verdade é que eu tinha medo, tanto medo, que acabei fazendo a maior burrada de todas. Eu pensei muito no que eu poderia fazer para ter você de volta, aliás, você sempre teve os melhores conselhos para esse tipo de coisa..." Becca riu, as lágrimas borrando sua visão. "Mas então percebi que, talvez, você gostaria que eu só fosse eu mesmo. E esse sou eu. O cara que compõe músicas românticas e que tinha vergonha de admitir isso, o cara que, apesar de tudo, você se apaixonou. E eu sou a pessoa mais sortuda do mundo por isso. Porque eu não mereço você. Mas, mesmo assim, estou tentando consertar tudo, porque você é uma das melhores coisas que já me aconteceu." Ele sorriu para ela. "Eu nunca na minha vida pensei que tudo podia mudar para mim naquela noite em que o seu cachorro me atacou e você me acertou com sua frigideira. Três vezes." Kevin riu, mas Becca o conhecia e viu a emoção em seus olhos. "Loira, sabe qual foi a primeira coisa que eu pensei quando acordei depois daquilo e te vi? Pensei que você fosse uma espécie de anjo. E você é. Sempre foi. Se você me perdoar, eu juro que nunca mais vou embora."

Becca, sem nem saber direito o que estava fazendo, caminhou até o palco. Quando chegou lá em cima, ela não lembrava mais que havia uma plateia, pois tudo o que ela podia ver era Kevin e a emoção genuína nos olhos dele.

Ela foi até ele e percebeu que suas mãos estavam trêmulas sobre o violão.

"Você me perdoa?", ele perguntou, olhando diretamente para ela, o microfone esquecido.

Becca o olhou fixamente por alguns segundos, enquanto um filme passava em sua cabeça. Se lembrou de todas as vezes que tinha visto aqueles olhos castanhos, todas as vezes que ela vira Kevin como um porto seguro, como alguém que, independente de qualquer coisa, estaria ao lado dela.

Ele a tinha mudado e Becca sabia que ela tinha feito o mesmo por ele de alguma forma, e aquilo, mais do que qualquer outra coisa, tinha uma força impressionante.

"Dá próxima vez que você me mandar embora, eu vou te acertar com aquela frigideira", ela disse calmamente, fazendo com que Kevin soltasse uma gargalhada e seus olhos ficassem marejados. "E vai ser com muita mais força."

"Se isso acontecer, e eu garanto que não vai", ele disse com um enorme sorriso, "eu te deixo me bater o quanto quiser com ela, loira."

Aquilo já era o bastante.

Ela pulou nos braços de Kevin e ele largou o violão, a segurando com força bem perto dele.

Em algum lugar de seu inconsciente, Becca se deu conta dos aplausos e gritos alucinados da plateia, que aumentaram ainda mais quando Kevin a beijou. Um beijo que demonstrava o sentimento que ambos guardavam dentro deles.

Era algo...

Inexplicável.

"Eu te amo, Becca", ele sussurrou só para que ela ouvisse, a voz fraca pelo alívio de tê-la nos braços. "Eu te amo e sinto muito."

Becca olhou para Kevin, para aquele garoto que conhecia tão bem, que era tão diferente e ao mesmo tempo tão parecido com ela, e naquele instante a intensidade de seus sentimentos a fez ficar tonta.

"Eu também te amo", ela disse com toda a certeza do mundo. "E está tudo bem, Kevin."

Ele então a colocou no chão, lhe deu um último beijo nos lábios e se inclinou para o microfone, enquanto a plateia ainda gritava e assobiava e tirava fotos de toda a cena.

"Agora que eu já dei meu show, está na hora da Becca dar o dela", ele disse radiante, na verdade desejando tirar Rebecca dali no mesmo instante e beijá-la sem parar, tentando compensar os dias perdidos.

Mas eles teriam tempo.

Uma vida inteira se dependesse dele.

Kevin então saiu do palco, deixando uma Becca muito feliz e atordoada diante de uma plateia que já estava eufórica.

Porém, quando os primeiros acordes de sua música começaram a tocar, ela forçou-se a se concentrar e deixar para pensar no que tinha acontecido ali mais tarde.

Com certeza alguém tinha gravado todo o momento para que ela visse infinitas vezes sem nunca sem cansar.

Com um suspiro feliz, ela começou a cantar.

"All those days watching from the windows
All those years outside looking in
All that time never even knowing
Just how blind I've been."

Conforme Becca cantava, ela colocou toda a alegria e amor que sentia na canção. Ao olhar para baixo, viu um brilho de compreensão passar pelos olhos de Kevin, que estava bem perto do palco.

Aquela era a música que ele tinha tocado semanas atrás no orfanato. Becca a havia escolhido, em parte, porque fora naquele dia que percebeu seus sentimentos por Kevin com clareza, e aquilo tinha sido libertador.

E também a tinha escolhido porque... Bom, não sabia muito bem, mas se identificava bastante com a canção.

"And at last I see the light
And it's like the fog has lifted
And at last I see the light
And it's like the sky is new
And it's warm and real and bright
And the world has somehow shifted
All at once everything looks different
Now that I see you."

Quando Becca começou o segundo refrão, algo no fundo do ginásio chamou sua atenção. Eram... luzes.

Mas não luzes qualquer, eram lanternas flutuantes!

Ela teve de se concentrar muita para não começar a chorar bem ali.

Para todos os lados que olhava, alguém lançava uma lanterna no ar, que iluminava tudo a sua volta. Aos poucos, o céu acima do pátio onde estavam estava coberto de lanternas de diversos tamanhos e formas que mais se pareciam com estrelas.

Lá em baixo, Kevin conseguiu pegar uma. Com um sorriso, ele a lançou em sua direção.

Quando Becca terminou de cantar, dando o máximo de si, as pessoas se levantaram como um avalanche para aplaudi-la. Ela sorriu e olhou para todas as lanternas que a rodeavam, iluminando-a com aquela luz alaranjada, e se sentiu mais viva do que nunca.

Becca então desceu do palco, tremendo dos pés a cabeça, e foi acolhida por um abraço de Kevin.

"Você arrasou", ele disse em seu ouvido, sorrindo para ela. "Desculpe, mas é que eu não consigo parar de olhar para você e pensar que sou o cara mais sortudo do mundo."

Rebecca riu e o beijou. Aquela era sua nova coisa favorita no mundo.

Tinha como aquela noite ficar mais perfeita?

"Você fez o maior ato romântico que eu conseguiria ter imaginado um dia, Kevin. Foi perfeito", ela falou, acariciando o rosto dele de leve quando eles se afastaram. "Mas você está bem? Quer dizer, as coisas que disse para mim na quarta..."

"Eu estou", Kevin falou baixinho, brincando com a ponta da trança dela. "Eu só precisei de uma conversinha com a minha irmã para perceber umas coisas, e agora... Bom, agora eu consigo entender tudo. Entender que nunca devia ter te deixado ir. Mas, ei, a gente vai ter muito tempo para conversar sobre isso depois, ok? Se concentre na sua noite."

"Minha noite já está perfeita, Kevin", ela murmurou radiante. "Mas sabe o que não está perfeito? A minha maquiagem. Você me fez chorar bastante e a Mandy vai ficar uma fera por eu ter estragado a obra de arte dela."

Kevin jogou a cabeça para trás e gargalhou, e Becca soube que poderia ouvir aquela risada para sempre.

E, provavelmente, ela iria.

Quarenta minutos depois e todos os participantes estavam em cima do palco. A diretora tinha um cartão na mão, onde estava o resultado do festival.

Becca não se sentia muito nervosa. Ela sabia que sua noite já estava ganha apesar do resultado e que jamais se esqueceria daquele dia. Porém, dez minutos depois, quando a diretora terminou o seu discurso e agradeceu a cada pessoa que tinha tornado aquele dia real, Becca admitiu para si mesma que estava um pouquinho apreensiva sim.

Ela tinha se preparado tanto para aquele dia...

A diretora então anunciou o terceiro colocado, que era um aluno que Becca só conhecia de vista, do terceiro ano. Houve muitas palmas e assobios, em seguida uma pausa excessivamente dramática e o anúncio do segundo colocado.

"Melissa Jones!", a diretora anunciou.

Ao seu lado, Melissa cobriu a boca com as mãos e não disfarçou a alegria que estava sentindo. Ela até sorriu para Becca, o que, em sua opinião, era algo maravilhoso.

Depois que Melissa recebeu um lindo buquê de flores e foi muito aplaudida pela multidão, a diretora pediu um pouco de silêncio para que finalmente pudesse anunciar o ganhador.

"Primeiramente, queria dizer que todos aqui têm talentos magníficos e que, com toda a certeza do mundo, deveriam tentar carreira na música", ela disse alegre, aumentando ainda mais a tensão de Rebecca. "Também queria dizer que todos foram muito bem votados tanto pelo público quanto pelos jurados e que já são grandes vencedores. Mas, agora, sem mais delongas, vamos anunciar o primeiro colocado." Ela fez uma pausa, sorriu e gritou no microfone: "Rebecca Uziel!"

Becca piscou, sem reação. Aparentemente a informação estava demorando um pouco para chegar em seu cérebro, porque ela nem se moveu até que um mar de gente se fechou em volta dela.

"Você tem algo que quer dizer, Rebecca?", a voz da diretora ecoou no microfone alguns minutos depois, quando Becca já estava segundo um buquê de rosas enormes e flashes de câmeras não paravam de disparar do meio da plateia.

Becca assentiu e segurou o microfone com a mão trêmula.

"Eu queria agradecer à minha amiga, Mandy, que foi quem me convenceu a estar aqui hoje", ela disse, tendo certeza de que em algum lugar no meio de toda aquela gente Mandy estava dando gritinhos entusiasmados. "E à minha família e amigos, que me apoiaram desde o início." Ela então fez uma pausa, respirou fundo e disse: "Eu sei que a essa altura muitos de vocês já devem saber que eu sou a autora do blog Doces e Amores. Quem ainda não sabia... Bom, surpresa!" Becca soltou um risinho e sentiu seu coração bater forte no peito. Ela não sabia de onde esta tirando coragem para dizer tudo aquilo, mas agora que tinha começado o jeito era seguir em frente. "Eu estava com muito medo de revelar para todo mundo quem eu era, mas agora vejo que não tenho mais motivos para isso. O blog foi a ferramenta por onde eu consegui, indiretamente, ajudar algumas pessoas, e é isso que pretendo continuar fazendo. Se vocês quiserem e continuarem comigo, é claro."

Becca mal terminara de falar quando muitas pessoas começaram a aplaudir e gritar. Ela percebeu que eram, em grande parte, alunos do colégio.

"Nós te amamos!", uma voz disse em meio a multidão, e houve um coro de concordância e assobios.

Aquilo a emocionou de uma forma nunca poderia descrever. A fez ter um orgulho tão grande de si mesma que era como se estivesse brilhando.

Becca nunca saberia dizer o que aconteceu nos próximos segundos, mas, algum tempo depois, quando já estava fora do palco segurando seu buquê maravilhoso e um pequeno troféu dourado, ela finalmente percebeu o que tinha acontecido.

Ela tinha ganhado!

Tinha ganhado uma significativa quantia em dinheiro que poderia ajudar e muito a sua família e também... Deus do céu, uma viagem para Los Angeles!

Em volta dela, todos comemoravam.

"Eu sabia! Eu sabia!", sua mãe não parava de dizer em meio as lágrimas, abraçando e beijando a filha sem parar.

"Ela herdou o talento de mim, sabiam?", falava sua avó para todos que quisessem ouvir. "Veio todinho de mim!"

"Parabéns Becca!", gritou Max, a erguendo do chão como se não pesasse mais que uma pena e pulando com ela nos braços. "Ou eu devia te chamar de Princesa?" Becca não conseguia parar de rir.

"Fui eu quem a fez se inscrever!", gritava Mandy de algum lugar, felicíssima. "Fui eu!"

"Minha irmã vai ficar famosa!", dizia Simon, rindo. "Vocês vão ver!"

Depois de receber comprimentos de pessoas que ela nem conhecia e se sentir mais radiante do que nunca, Becca finalmente conseguiu escapar um pouquinho de toda a comoção e se sentar mais afastada, olhando para o céu estrelado e para as flores em seus braços, que ela se recusava a soltar para que alguém guardasse.

Um mês atrás, ela nunca imaginaria que sua vida teria dado aquela guinada...

"Está feliz?", Kevin perguntou de repente, surgindo e se sentando ao lado de Becca.

"Nunca estive mais feliz", ela respondeu com um sorriso, o coração inchando ao vê-lo ali tão perto dela.

"Eu já sabia que você iria ganhar, se quer saber...", ele disse com um sorrisinho.

"É mesmo? Depois daquele seu show, eu pensei que eles dariam o prêmio para você."

Kevin sorriu e passou um braço pelos ombros dela, chegando mais perto.

"Como a gente ficou todo esse tempo sem admitir o que sentíamos um para o outro, hein?", ele perguntou, o rosto enterrado na curva do pescoço dela. Becca sentia todo o seu corpo se arrepiar com aquele toque.

"Eu percebi há muito tempo", ela disse sorrindo. "Você que é um lerdo."

"É, eu acho que sou mesmo", ele concordou, agora traçando uma trilha de beijos pelo pescoço dela. Becca fechou os olhos por um instante, pensando ter perdido a capacidade de falar.

"Estamos em público!", ela conseguiu guinchar depois de alguns segundos completamente perdida nas sensações que os lábios de Kevin provocavam nela.

Ele se afastou e riu.

"E daí?"

Becca sorriu e deu um tapinha no ombro dele.

"Kev, você está bem com isso mesmo? Com a gente?", ela perguntou depois de algum tempo, olhando séria para ele. "Porque apesar de eu ter ficado zangada com você na quarta, agora eu sei e entendo o que você está passando e seus motivos para se afastar."

Kevin então segurou a mão dela na dele, a acariciando de leve.

"Becca, uma hora ou outra eu iria perceber que não podia deixar o meu pai tirar tudo de mim, de modo que eu vivesse para sempre nessa sombra", ele disse baixinho, fazendo com que o coração dela doesse no peito. "A verdade é que ele é sim uma pessoa horrível e eu não gosto nem de imaginá-lo perto de você."

"Ah, Kev...", Becca murmurou, desejando protegê-lo de tudo aquilo. Mas, para a sua surpresa, Kevin sorriu.

"Não se preocupe com isso. A minha mãe vai se divorciar dele e ela, Megan e eu vamos construir uma outra vida na qual ele não vai fazer mais parte."

Becca levou uma das mãos à boca, sem acreditar no que estava ouvindo.

"Você está falando sério?", ela perguntou, e Kevin sorriu ainda mais, assentindo em resposta. "Kevin, isso é maravilhoso!"

Ela o abraçou com força.

Becca tinha uma noção de como toda aquela situação com o pai machucava Kevin, na verdade, ela diria que tinha uma noção até grande demais. Ela não conseguia imaginar os anos de dor que ele tinha tido de enfrentar com um pai daqueles, mas pensar que eles estavam acabando... Era maravilhoso!

"Não acho que vai ser fácil no início", Kevin continuou dizendo baixinho. "Mas minha mãe vai tomar todas as precauções para que ele não possa fazer nada estúpido. Acho que com o tempo as coisas vão se ajeitando."

"É claro que vão", ela disse, acariciando o rosto dele. "Não se preocupe."

"Bom, e tem as outras coisas que eu te disse...", Kev continuou, dessa vez parecendo um pouco envergonhado. "Becca, eu às vezes tenho os meus momentos ruins, entende? Como todo mundo. Às vezes preciso ficar sozinho para que as coisas na minha cabeça se ajeitem. Eu pensava que você não gostaria de ficar ao lado de alguém assim, mas agora sei que você não desistiria por causa disso."

"Não mesmo", ela disse no mesmo instante, aliviada por ele ter percebido tudo aquilo. "Kevin, eu vou estar do seu lado quando você precisar, e, se também quiser um tempo sozinho, é claro que eu não vou brigar com você por conta disso, contanto que me avise e me diga se está tudo bem. Nada de sumir do mapa."

Kev olhou fixamente para Becca e sorriu, se perguntando o que tinha feito para merecer uma garota como aquela em sua vida.

"De todo modo, acho que vou seguir o conselho da minha irmã e fazer terapia", ele disse para ela. "Acho que é uma boa ideia."

"É uma excelente ideia", Becca concordou, os olhos brilhando. "E, se quer saber, eu vou fazer a mesma coisa."

Kevin assentiu e, sem conseguir se conter, se inclinou para beijá-la.

Becca pensou que nunca na vida se acostumaria com aquela sensação avassaladora que os lábios dele provocavam. Era como se de repente estivesse em uma órbita própria.

Quando ele se afastou o suficiente para olhá-la, Becca viu o sorriso travesso em seus lábios.

"O que foi?", ela perguntou, franzindo as sobrancelhas.

"Quando a gente se beijou, no carro, aquele foi seu primeiro beijo?"

Becca corou até o último fio de cabelo e tentou se mostrar bastante confiante quando disse:

"Foi tão ruim assim?"

Kevin riu e sacudiu a cabeça.

"Na verdade, foi o melhor de toda a minha vida. Por isso estou perguntando. Se foi a primeira vez, estou grato por ninguém ter chegado antes de mim, se não você não estaria mais disponível."

Becca lhe deu um empurrãozinho.

"Você é um chato."

"Mas você gosta de mim mesmo assim."

"E eu tenho escolha?"

Naquele momento um grupo de alunos do primeiro ano passou por eles sorrindo e cochichando, seus olhos principalmente voltados para Rebecca.

"Mandy me mostrou o post que você publicou mais cedo", Kev falou quando eles se afastaram, brincando com o cabelo de Becca. "Quando foi que você decidiu tirar os óculos, Clark Kent?"

"Quando Melissa me chantageou", disse ela tranquilamente, fazendo com que Kevin ficasse instantaneamente em alerta e olhasse para ela. Becca sorriu e suspirou. "É uma longa história. Eu vou ter tempo para te contar no avião."

Kevin ergueu uma sobrancelha para ela.

"Avião?"

"É", Rebecca disse com um sorriso travesso, tentando imitar aquela expressão toda confiante que Kevin vivia exibindo. "Você vai para Los Angeles comigo e com a Mandy, não vai?"

Kev se afastou um pouco e olhou espantado para ela.

"Então eu sou um dos seus acompanhantes na viagem que você ganhou?"

Becca riu e revirou os olhos.

"Você é lerdo mesmo, não é? Mas tudo bem se você não quiser ir." Becca desviou os olhos por um momento, sentindo as bochechas arderem. "Talvez seja um passo grande demais, eu entendo. Quer dizer, a gente nem oficializou as coisas direito e eu sei que você nunca teve um relacionamento de verdade na vida. Não que eu tenha tido, mas..."

Antes que Rebecca pudesse tagarelar mais, Kevin colocou as mãos em seu rosto e a fez olhar para ele.

"Loira, se você acha que eu não quero levar isso adiante, você está muito enganada", ele disse calmamente, olhando para aqueles olhos verdes que o conheciam tão bem. "Só para deixar claro, porque eu sei que você é a pessoa mais cheia de paranoias do mundo, no momento em que subi naquele palco aquilo era um pedido de desculpas e de namoro."

"Era?", Becca perguntou baixinho, em seguida se sentindo muito estúpida.

Kevin riu e assentiu. Ela era a coisa mais linda do mundo inteiro.

"É claro que era." E, sorrindo, perguntou: "Então, quando é que sai o nosso voo para Hollywood, Rapunzel?"

Becca riu ao mesmo tempo em que seus olhos se enchiam de lágrimas. Nem um sonho seria tão bom quanto aquilo.

Então ele a beijou mais uma vez e segundos depois Simon e Megan apareceram de mãos dadas, dizendo que todo mundo estava indo para uma pizzaria próxima para comemorar a vitória de Rebecca no festival.

"E vocês não vão acreditar na fofoca que está circulando!", falou Megan logo em seguida, sorrindo de orelha a orelha e olhando para Kevin e Rebecca. "Parece que tinha uma espécie de caçador de talentos aqui hoje à noite! Já pensou se ele contata você, Becca?!"

"Ou o Kevin", disse Simon com um meio sorriso. "Ele poderia se tornar um compositor famoso."

Becca e Kevin olharam um para o outro por dois segundo em completo silêncio. Então caíram na gargalhada.

"Até parece", disse Kev, enxugando os olhos que tinham começado a lacrimejar.

"Já pensou? Kev, você podia escrever as músicas e eu fazer shows!", falou Becca, também rindo. "Que loucura seria..."

"Ah, fiquem quietos", reclamou Megan, mas ela também estava rindo. "Andem, vamos logo."

Eles concordaram e se levantaram, se reunindo com os outros.

Minutos mais tarde, quando Becca se viu sentada em uma mesa grande com todas as pessoas que amava por perto, a mão de Kevin despistadamente segurando a sua por debaixo da mesa, ela soube que em nenhum filme ou livro de romance do mundo encontraria uma história tão incrível quanto a dela naquele momento.

Porque por mais que a vida real não fosse perfeita, por mais que os felizes para sempre não existisse, ela sabia que nada no mundo seria melhor do que a realidade que estava vivendo agora, pois ela era completa, real e mágica.

E o mais engraçado é que Becca só precisara descer um pouquinho de sua torre para encontrá-la.

_____________________✨___________________

Oii gente! Socorro tô nervosa. Muito. Só não mais do que a Rebecca antes da apresentação hahaha.

Nem preciso dizer que eu quero saber tudinho o que vocês acharam desse último capítulo, né? (Aí que dor no coração de falar isso) Suas teorias estavam certas? Vocês gostaram do final? Qual parte gostaram mais? Acham que algo podia ter saído diferente? Podem dizer tudo!

Enfim, eu só tenho que agradecer a você que leu até aqui. É sério. A quantidade de leitores novos e incríveis que esse livro atraiu é maravilhoso e eu sou muito grata a vocês, leitores novos e antigos, por me apoiarem e acreditarem no Kevin e na Becca tanto quanto eu!

Eu sou infinitamente grata.

Nos vemos nos comentários e no epílogo, que vou tentar postar no domingo.

Do Alto da Torre sempre vai estar aqui para vocês, sempre, sempre. Escrever esse livro foi maravilhoso e eu vou me lembrar de cada sensação, de casa postagem e de cada comentário lindo que me fez chorar e acreditar em mim mesma enquanto postava o livro aqui.

Esse livro é para vocês.

Um milhão de beijos,

Ceci.

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