• Capítulo Vinte e Dois •
Kevin estava amarrando os cadarços do tênis quando Megan também entrou na sala. Ele não disse nada, mas quando se deparou com os sapatos de salto alto da irmã, ergueu a cabeça e assobiou.
"Aonde você vai?", perguntou com um meio sorriso, analisando Megan que estava obviamente maquiada e tinha feito alguma coisa nos cabelos para que ficassem mais cacheados nas pontas.
"Dar uma volta", ela disse com um pequeno sorriso, mas Kevin percebeu que estava satisfeita por ele ter reparado nela. "Gostou?"
"Você vai me bater se eu disser que não?"
"Kevin, seu..."
Ele riu e se levantou rapidamente do sofá, antes que a irmã o acertasse com sua bolsa.
"Estou brincando. Você tá bem sim." Ele estreitou os olhos para Megan. "Com quem você vai sair?"
"Não é da sua conta."
"Se for um garoto, é sim."
"Olha só para vocês", a voz da mãe disse de repente e ela apareceu na sala vestindo pijama e segurando uma caneca de chá. "Estão tão bonitos... Posso tirar uma foto?"
"Não!", Kevin e Megan responderam ao mesmo tempo, fazendo com que a mãe risse.
"Está bem, está bem. Não está mais aqui quem falou."
Ela já estava saindo da sala quando pareceu se lembrar de algo e voltou-se para o filho.
"Kevin, tente chegar antes das duas da manhã, ok?" E olhando para Megan completou, com um sorriso doce: "Se divirta, querida."
"Por que eu tenho horário para voltar e Megan não?", Kevin resmungou.
"Porque ela é maior de idade e você não. Clame por seus direitos quando tiver dezoito anos." Virginie sorriu e olhou para sua xícara de chá por um momento. "Talvez eu devesse chamar algumas amigas para tomarmos um vinho, não? Já que vou ficar sozinha."
"É uma ótima ideia, mamãe", apoiou Megan animada. "Devia aproveitar que meu pai não está aqui."
"É isso aí", Kevin concordou, mas havia uma expressão sombria em seu rosto. "Pelo menos o trabalho dele serve para mantê-lo longe de vez em quando..."
Virginie sorriu tristemente, mas não disse nada. Antes de desaparecer pelo interior da casa, apenas pediu para que Kevin tivesse cuidado com o carro e não bebesse. Ele então foi em direção à garagem, com Megan ao seu alcance.
"Vai sair com Rebecca, não vai?", ela perguntou com um sorrisinho no rosto.
"Não é um encontro, se é o que você está pensando", Kevin respondeu imediatamente. "Vamos nos encontrar com outros amigos em uma festa."
"É claro", Megan concordou, mas ainda sorria daquele seu jeito implicante. "Posso te dar um conselho?"
"Não, mas é claro que você vai falar do mesmo jeito."
Megan gargalhou e Kevin olhou para a irmã, percebendo um brilho no olhar dela que há algum tempo não via, mais especificamente, desde que tinha terminado de maneira trágica com o namorado e voltado para Luncarty.
Ele sentiu seu coração ficar mais leve diante da felicidade dela.
Quando Kevin abriu o portão da garagem e entrou no carro, Megan se apoiou na janela do motorista e o olhou de maneira séria.
"Não devia deixar uma garota como ela escapar por entre seus dedos, sabia?" Ela disse de maneira direta. "Você vai se arrepender se deixar com que ela acabe indo embora."
Kevin suspirou e desviou os olhos dos da irmã
"Esse é um dos seus conselhos psicológicos?", ele perguntou, tentando disfarçar, mas Megan lhe deu um murro no braço. Um dos fortes.
"Não seja babaca, Kevin. É verdade que não conheço Rebecca muito bem, mas pelo pouco que já vi dela parece ser uma garota muito legal. E, se quer saber, todo mundo já reparou o modo como vocês olham um para o outro. Não deixe isso escapar."
Kevin não respondeu. Estava confuso. Confuso demais. Porém, de uma coisa tinha certeza: o que sentia quando estava perto de Rebecca era algo que nunca tinha sentindo antes. E era algo bom.
Ele começou a dar ré para sair da garagem e sorriu para a irmã.
"Juízo, maninha."
"Não vou desejar o mesmo para você, maninho." Os olhos dela faiscaram. "Às vezes pensar demais faz mal."
Kevin riu e dirigiu para longe de casa, na direção de Rebecca.
Ele estava quase chegando quando viu a luz de faróis na estrada à frente. Ele diminuiu a velocidade quase até parar, assim como o outro carro. Quando percebeu, ele e Simon Uziel estavam parados no meio da estrada, olhando um para o outro pelas janelas dos carros.
"Acho que você está indo buscar a minha irmã", Kevin comentou, olhando fixamente para Simon.
"E eu acho que você está indo buscar a minha", o outro retrucou.
Kev não aguentou. Soltou uma risada.
"Só para saber, Megan acabou de sair de um relacionamento meio conturbado", ele avisou em seguida, em tom mais sério. "Eu acho que você é um cara legal, mas não quero que ela se machuque de novo."
"Eu nunca machucaria sua irmã", Simon disse no mesmo instante, e Kevin viu verdade naqueles olhos que eram tão parecidos com os de Becca. "Eu..." Ele pigarreou e pareceu ordenar o que iria falar. "Megan e eu ainda estamos nos conhecendo. Mas ela é uma pessoa incrível. Não preciso de mais tempo com ela para dizer isso."
Kevin sorriu, satisfeito. Não sabia muito bem como Simon e Megan combinavam em alguma coisa, mas sabia que os dois eram sinceros e pessoas boas que talvez acabassem gostando de verdade um do outro.
Não precisava ter medo pela irmã, além do mais, ela já estava grandinha o suficiente para escolher quem queria ao lado ou não.
"Muito bem", Kevin falou, sorrindo de maneira simpática. "Se divirtam, então."
"E você trate muito bem Rebecca", Simon também avisou, com uma típica postura de irmão mais velho. "Se fizer algo com ela, quebro a sua cara."
Kevin riu. Ele poderia estar errado, mas pelo que já tinha visto de Simon, ele parecia ser um cara muito mais da paz. Mas mesmo assim gostou de ver que ele se importava com a irmã.
"Acho que você não tem que se preocupar", disse Kevin com um meio sorriso. "Ela quebraria a minha cara primeiro."
Simon pareceu considerar a ideia.
"É, quebraria mesmo", concluiu, e com uma postura mais relaxada acrescentou: "Bom, aproveitem a noite."
Ele então voltou a dirigir em direção à cidade e Kevin foi até a torre, onde uma garota incrível o esperava.
Rebecca já estava na varanda de casa quando Kevin chegou. Ela sorriu para a luz dos faróis e sentiu o coração disparar quando ele desceu do carro, lindo todo vestido de preto.
Nicholas chegou até ele primeiro do que ela.
Mesmo de longe, Rebecca viu como Kev ficou todo tenso com a aproximação do cão, mas quando percebeu que Nick balançava o rabo feliz com a presença dele, se abaixou um pouco e fez carinho na cabeça do animal.
"Nem parece que ele tentou me matar um mês atrás", Kev comentou quando Becca chegou perto o suficiente, ela riu e também acariciou Nick.
"O mesmo comigo."
"Ainda tem aquela frigideira?", Kevin perguntou, os olhos castanhos brilhando quando ele olhou para ela. Becca quase perdeu a fala por um momento.
"Está bem segura debaixo da minha cama, não se preocupe."
Becca começou a ir em direção a porta do passageiro, mas antes que fizesse qualquer coisa, Kev correu até lá e a abriu para ela. Becca ergueu uma sobrancelha para ele, mas havia um sorriso em seu rosto.
"Só porque essa semana foi bem cansativa e você merece alguns pequenos prazeres", ele justificou rapidamente, como se não fosse nada demais. "É só uma ocasião especial."
Rebecca riu e concordou, entrando no carro e observando quando Nick foi até a varanda de casa e se enroscou todo no tapete da frente, com certeza pronto para tirar uma bela soneca.
Enquanto Kevin também entrava no carro e se preparava para voltar à cidade, Becca pensou como aquela semana realmente tinha sido cansativa.
Junto com as provas finais, ela também tinha enfrentado horas extras no trabalho, já que Poppy tinha ficado doente, o que acabou encurtando suas horas de ensaio para o festival.
Agora faltavam exatamente sete dias para o evento, e Becca achava que só não tinha enlouquecido ainda por conta do excesso de coisas para fazer, que ocupavam cada espacinho de sua mente.
"É, estou precisando relaxar", ela disse em voz alta, sentindo o vento fresco da noite bater no rosto.
"Só fique longe de qualquer bebida alcoólica dessa vez, ok?", Kevin implicou.
Becca riu e lhe deu um tapa no braço.
"Pode deixar, seu chato."
"E onde está sua mãe e seus irmãos?", ele perguntou depois de um tempo. "Não vi Julie espiando por alguma cortina da casa enquanto eu te buscava hoje."
Becca mordeu o lábio inferior e corou. Sua mãe tinha mesmo que parar com todo aquele drama sempre que ela saia com Kevin.
"Ela está com o turno da noite no hospital hoje, mas disse que é para eu estar em casa até meia-noite sem falta e que vai me ligar para saber se eu cheguei na hora certa." Ela fez uma careta ao dizer aquilo, mas se sentiu um pouquinho melhor do que das outras vezes, pois pelo menos a mãe não tinha brigado com ela por querer sair naquele sábado. Já era um avanço. "Gabrielle foi dormir na casa de uma amiga e Fred quis passar a noite na vovó, ele tem dessas às vezes. Mas foi até bom, já que nem eu nem Simon estamos em casa hoje para cuidar dele."
"Falando em Simon, eu encontrei com ele quando estava vindo te buscar", Kevin comentou, fazendo com que Becca sorrisse inocentemente.
"Mesmo?"
"É. Ele está saindo com Megan. Eu já desconfiava."
Rebecca deixou escapar o suspiro de alívio que estava segurando.
"Ele me contou depois que eu o pressionei a semana inteira, estava me sentindo mal por esconder isso de você", ela disse.
"Não se preocupe. Eu meio que espiei, sem querer, o celular da minha irmã enquanto ela estava conversando com ele.
"Sem querer?" Becca riu. "Vou fingir que acredito."
Ela então encarou a saia do vestido vermelho.
"Isso é meio estranho, não é?", disse baixinho. "Meu irmão saindo com a sua irmã."
Kevin sorriu e deu de ombros, os olhos fixos na estrada.
"Não acho muito estranho, na verdade. Eles têm a mesma idade e podem acabar se dando bem. Não acho que Simon seja um babaca."
"Bom, ele não é!", falou Rebecca no mesmo instante, pronta para defender o irmão. "Simon é muito fechado, acho que nunca se apaixonou na vida, então se está envolvido com Megan é porque ela realmente despertou algo nele, e isso é muito bom."
Kevin lhe lançou um rápido olhar e sorriu.
"Eu concordo."
Alguns minutos mais tarde, quando estacionaram em frente à casa de Lisa Jackson, perceberam que a festa estava muito cheia. Adolescentes se espalhavam pela calçada, alguns conversavam no jardim e aparentemente havia ainda mais gente dentro da casa.
Kevin olhou para Rebecca, que estava absolutamente perfeita naquele vestido vermelho escuro. Ela tinha colocado saltos altos, algo que dava ainda mais destaque para suas pernas curvilíneas, e o cabelo estava totalmente solto, caindo em cascata pelos ombros.
Como se não bastasse, ela o olhou com aqueles seus olhos verdes que transmitiam toda a luz do mundo.
"Está nervosa?", ele perguntou baixinho, sem conseguir tirar os olhos dela.
Becca sorriu de maneira doce e balançou a cabeça.
"Não", revelou despreocupadamente. "Acho que não tenho nada a temer quando estou perto dos meus amigos. E, sinceramente, nos últimos tempos percebi que tudo é uma questão de escolher quem você quer por perto. E eu escolhi as melhores pessoas."
Kevin sentiu o coração palpitar. Ele engoliu em seco e também sorriu.
"Vamos?"
"Vamos."
Juntos eles desceram do carro. Quando estavam lado a lado, Kevin passou um dos braços pelos ombros de Becca, puxando-a para mais perto. Ela pareceu um pouco nervosa, olhando para ele de maneira indagativa.
"Eles vão achar...", ela começou, mas antes que pudesse terminar Kevin a cortou, dizendo:
"Não estou nem aí para o que eles vão achar. Você se importa?"
Becca fitou-o sem expressão por um momento, mas em seguida abriu o mais encantador dos sorrisos.
"Nem um pouco."
E ela relaxou, fazendo com que Kevin aproveitasse a sensação maravilhosa de ter o corpo dela tão perto do seu.
Conforme eles caminhavam pelo jardim, um punhado de gente parou para cumprimentá-los, inclusive a própria dona da festa, que apareceu antes que eles entrassem na casa, com o maior dos sorrisos.
"Kevin! Que bom ver você", Lisa disse com aquela sua voz bem fininha, cumprimentando Kev e em seguida se voltando para Becca. "E você deve ser Rebecca Uziel. Eu ouvi falar muito de você!"
Becca abriu um sorrisinho tímido, mas sua postura era confiante. Kevin se perguntou se ela sabia que Lisa era uma das maiores fofoqueiras da escola, mas, se sabia, parecia não se importar muito.
Elas conversaram por algum tempo até que Alana, Max e Mandy surgiram, vindos de dentro da casa.
Becca pareceu suspirar aliviada assim que viu a melhor amiga e elas logo começaram a conversar, enquanto Lisa falava com Alana.
"Olha só para vocês dois", ela comentou quando Max puxou Alana para mais perto, lhe dando um beijo carinhoso no topo da cabeça. "Diria que são um dos maiores feitos da Princesa dos Corações Apaixonados."
"Ah, você vai ter que me perdoar", Jacob Perell, um dos colegas de time de Kevin, disse, se aproximando de mãos dadas com o namorado. "Nós somos o maior casal que ela já uniu. E aí, MacCormack? Harrison?" Ele cumprimentou Max e Kevin com um soquinho no braço.
"Acho que vou ter que concordar", disse Lisa rindo, encarando Jacob e Mason. "Foi incrível! Ainda não consigo acreditar que vocês dois, anonimamente, ficavam pedindo conselhos para a Princesa sobre como conquistar um ao outro. Foi uma sorte ela ter sacado tudo. Como foi mesmo? Ela mandou mensagens privadas para os dois para confirmar tudo?"
"Isso aí", disse Mason com um sorriso. "Eu nem acreditei quando descobri tudo."
"Nem eu", concordou Jacob com uma risada. "Surreal, né?"
Kevin, discretamente, lançou um olhar para Rebecca, que observava a cena com o mais leve dos sorrisos.
"Seja quem for essa Princesa, ela é uma gênia", disse Alana em tom sonhador. "A quantidade de casais que ela uniu..."
"Ah, para com isso", falou Mandy, entrando na conversa e sorrindo. "Estou começando a me sentir excluída."
Lisa soltou uma gargalhada e concordou.
"Ei, tem bebidas de sobra lá dentro", ela acrescentou, se virando para Becca e Kevin. "E refrigerante também, se não quiserem se embebedar." E ela lançou uma piscadela para Becca. "Se bem que eu adoraria ficar bêbada com você, Rebecca."
"Na verdade, acho que vou pegar um pouco de refrigerante mesmo", ela disse com um sorrisinho sem graça. "Vem comigo, Mandy?" E se voltando para Kevin completou: "Volto já."
Quando elas se afastaram, Max e Alana puxaram Kevin para um canto, sorrindo em expectativa.
"Por que vocês estão me olhando desse jeito?", ele perguntou desconfortável.
"Queremos saber se já rolou alguma coisa entre vocês, é claro", disse Alana, revirando os olhos. "E então?"
Kevin não soube o que responder.
"Você não costuma ser tão lento assim, cara", disse Max, rapidamente sacando tudo.
"Vocês não tem nada melhor para fazer da vida, não?", Kev perguntou com um sorrisinho prepotente.
"Não", Alana respondeu no mesmo instante. "Fala sério, Kevin, vocês ficam praticamente se comendo com os olhos. Todo mundo já percebeu."
Kevin ficou em silêncio, sem saber o que dizer. Se comendo com os olhos? Estava tão óbvio assim o que ele estava sentindo por ela? Mas... Espera um pouco, Rebecca também o estava olhando de uma maneira diferente?
Não, é claro que não. Alana e Max deviam estar ficando malucos.
"Eu acho que já saquei o que está rolando aqui", falou Max então, analisando o amigo como se ele fosse um porco para o abate. "Na verdade está bastante claro."
"Eu não quero nem saber", resmungou Kevin. "Fique quieto."
Naquele momento Mandy e Rebecca voltaram. Alana, com a discrição de um palhaço de circo, puxou Mandy e disse que tinha um monte de caras legais para apresentar para ela. Mandy olhou para Becca, parecendo meio indecisa, mas a amiga só disse para que ela se divertisse. Alana também acabou puxando Max junto, deixando Kevin e Becca sozinhos.
Rebecca estava tão vermelha quanto o vestido que usava quando eles se afastaram.
"Quer ir lá para dentro dançar?", ele perguntou, tentando soar o mais natural possível.
"Na verdade, meio que estou gostando do ar fresco. Tem gente demais lá dentro. Toma, peguei um copo de refrigerante para você."
Kevin agradeceu e então a levou para uma parte mais afastada do jardim, onde eles se sentaram de costas para a cerca baixa que dava para a rua. Ali estava um pouco mais escuro e o som da música não era tão alto. Foi como um déja-vù. De repente e eles estavam de volta à festa de Max, sentados juntos depois de Becca passar um pouquinho dos limites no quesito bebidas.
"Como é para você?", Kevin perguntou com um pequeno sorriso. "Se sentar aqui e ver passar tantos casais do colégio que uniu através do blog?"
Becca sorriu e deu de ombros, como se não fosse grande coisa.
"Bastante satisfatório, na verdade."
Kevin riu.
"Você é uma lenda viva, garota."
"Eu sei. É bastante empolgante, se quer saber."
De repente eles ouviram um som estranho na rua e se viraram, tentando enxergar algo através da cerca, mas não havia nada. Becca deu de ombros e sorriu. Talvez houvesse um casal escondido atrás de um dos carros.
Ela não podia dizer que não sentia um pouquinho de inveja deles.
Eles ficaram em silêncio por um instante, até que Kevin se virou para ela. Seus olhos brilhavam como estrelas na semiescuridão.
"Se eu te perguntar uma coisa, você promete ser sincera?"
Rebecca pareceu pensar por um momento, mas em seguida assentiu.
"Mas então eu também terei direito a uma pergunta", ela falou, esperta. "E você também vai ter que ser totalmente sincero."
Kevin concordou. Era justo.
Então disse:
"Por que no nosso acordo você quis que eu te ajudasse a ser popular? Quer dizer, você não parecia ser muito do tipo que se sentia à vontade perto de muita gente. Então por que desejar algo assim?"
Becca soltou um suspiro e fitou a grama aos seus pés, bebendo um gole do refrigerante para se dar tempo para pensar.
A verdade é que ela já não se importava em contar aquilo para Kevin. Levando em conta o que já tinha revelado um para o outro, aquilo não era assim tão importante. Mas era complicado.
"Bom, você já deve saber que no festival de talentos boa parte dos votos serão distribuídos pelo público que estiver presente, além dos votos dos jurados", ela começou meio sem jeito, e Kevin fez que sim com a cabeça. "Quando eu fui me inscrever, acabei me encontrando com Melissa Jones. Você conhece ela. Lembra aquela vez que se encontrou comigo no corredor e ela estava perto da secretária? Bem, acontece que aquela foi a segunda vez que fui até lá tentar fazer minha inscrição. Da primeira vez Melissa me encontrou e disse que por eu não ser... bem, popular, eu não teria muita chance com os votos do público, já que a maioria vai ser de alunos do colégio e é claro que eles vão favorecer os amigos ou as pessoas mais conhecidas." Becca encolheu os ombros. "Eu sei que parece meio ridículo falando desse jeito, mas até que fazia sentido para mim. Acontece que eu me inscrevi nesse festival principalmente por conta dos prêmios. Pelo dinheiro. Minha família precisa dele, e eu quero ganhar para poder oferecer alguma ajuda..."
Becca parecia envergonhada, mas Kevin sabia que ela não tinha motivo nenhum para aquilo.
"Então, quando me inscrevi, sabia que precisava fazer o possível e o impossível para ficar em um dos três primeiros lugares. Inclusive ser conhecida pela galera do colégio, para ganhar alguns pontos no dia do festival. Foi então que fiz o acordo com você." Ela suspirou. "Não sei se tudo isso vai adiantar alguma coisa, mas, de verdade? Acho que nem me importo mais. Vou dar o meu melhor, e se isso for o suficiente..."
"Vai ser mais que o suficiente", Kevin disse, olhando-a com ainda mais admiração. "Quando todos te ouvirem cantar, loira... Popularidade vai ser a última coisa que qualquer um ali vai pensar."
Becca corou lindamente e sorriu.
"Obrigada." Ela então olhou diretamente para ele e disse: "E, na verdade, acho que também acabei pedindo aquilo para que pudesse sair um pouco da minha torre. Meio que o meu mundinho já não estava me satisfazendo mais..."
Kevin se inclinou para ela e sorriu.
"E agora você está satisfeita?"
Becca o olhou, parecendo um pouco hipnotizada, e os olhos dele foram até os lábios dela.
"Estou sim", ela respondeu.
Kevin sentiu todo o seu corpo pulsar.
"Agora é a minha vez de fazer uma pergunta", ela sussurrou, tentando a todo custo colocar a cabeça no lugar.
Ele sorriu e se forçou a se afastar um pouco.
"Manda a ver, Princesa dos Corações Apaixonados."
Ela riu e olhou fixamente para ele quando perguntou:
"Qual é o motivo por trás da sua parte do acordo?"
Kevin engoliu em seco. Já tinha se arrependido daquela brincadeira.
Ele estava pensando no que dizer quando naquele instante Mandy surgiu com um enorme sorriso no rosto.
"Becca, tá tocando aquela nossa música! Anda, a gente precisa dançar e comemorar o fato que estamos na nossa primeira festa dos populares juntas!"
Becca riu e Mandy a agarrou, puxando-a. E ela, que não era boba, acabou arrastando Kevin junto também, e antes que percebesse ele estava dançando em uma sala de estar lotada de garotas.
Mas aquilo era bem melhor que responder à pergunta de Rebecca.
As horas se passaram sem que eles nem se dessem conta, e Becca se divertiu como nunca na vida. Se sentia feliz e leve ali, aproveitando cada segundo, e de repente nada mais a preocupava. Nem o festival, nem sua mãe, nem os sentimentos avassaladores que sentia por Kevin.
Apenas se permitiu viver e dançar conforte, literalmente, a música tocava.
Antes que percebesse, Kevin a puxou para um canto e disse que já era quase meia-noite.
Becca ficou meio desanimada por ter que ir embora, mas a verdade é que o pai de Mandy já estava vindo buscá-la e aos poucos todos também estavam indo para casa.
Quando se jogou no carro de Kevin, suada e sorridente, se sentiu invencível.
Kevin também estava feliz.
Queria prolongar aquela noite para sempre, era verdade, mas também sabia que os melhores momentos só eram tão especiais porque inevitavelmente chegavam ao fim.
"Gostou?", ele perguntou quando deu partida no carro.
"Eu amei!", ela exclamou, fazendo com que Kevin risse. "Nunca me senti tão relaxada. E você?"
"Eu também gostei, loira. Apesar de você ter percebido que eu sou um péssimo dançarino."
Ela gargalhou. Todo o corpo de Becca parecia luzir, e ele nunca a tinha visto tão viva.
Eles estavam saindo da cidade quando um carro, vindo do leste pela rodovia que tinham de passar antes de fazer a curva pela estrada de terra que levava a casa de Rebecca, se aproximou em alta velocidade.
"Meu Deus, olha aquilo", Becca sussurrou, também avistando o carro. "Eu tenho quase certeza que essa não é a velocidade permitida aqui."
"Pode apostar. Só pode ser um maluco...", resmungou ele.
Kevin estava dirigindo a bons quarenta quilômetros por hora quando, de repente, o carro em alta velocidade mudou de faixa, vindo cada vez mais rápido para cima deles.
Tudo aconteceu em menos de um segundo.
Rebecca soltou um grito surdo e os olhos de Kevin se arregalaram enquanto ele agarrava o volante.
Os carros se chocariam.
Kev nunca soube o que aconteceu naquele instante, mas para um cara que não era muito religioso, ele quase pôde sentir as mãos de Deus pousarem no volante e fazer o trabalho por ele.
Kevin desviou, jogando o carro para fora da pista. Ele viu quando o outro veículo passou raspando na lataria de sua caminhonete e os retrovisores de ambos os carros saíram voando. Kev pisou no freio. O carro deu um arranco brusco e parou com tanta força que ele sentiu sua cabeça se chocar contra o volante.
O som do outro veículo foi se distanciando até sumir, enquanto ali os motores da caminhonete chiavam e alguém gemia ao seu lado.
Depois que aos poucos os sentidos voltaram ao seu corpo, Kevin girou rapidamente e tirou o cinto de segurança, segurando Becca em seus braços.
"Rebecca!", ele gritou, sentindo o gosto do sangue na boca. "Rebecca!"
O medo tomava conta de cada célula de seu corpo. Ele afastou os cabelos de Becca do rosto e viu que ela tinha um corte na testa que escorria um fino filete de sangue. Ela murmurou alguma coisa e abriu os olhos, que estavam enuviados.
"Kevin?"
"Ah, graças a Deus...", ele sussurrou, sentindo também o sabor das lágrimas salgadas na boca quando a abraçou com força, acariciando suas costas. "Você está bem?"
Ela se afastou um pouco dele e fez que sim com a cabeça.
"Eu bati a cabeça no porta-luvas", ela disse num sussurro, seu rosto estava terrivelmente pálido. "Eu achei... Ah, Kevin, eu achei que íamos morrer."
"Foi só um susto", ele disse também baixinho, enxugando as lágrimas dela quando Becca começou a chorar silenciosamente. Ele nunca tinha sentido as mãos tremerem tanto na vida, seu coração parecia prestes a sair pela garganta. "Eu vou te levar para o hospital."
"Não!", ela protestou, enxugando as próprias lágrimas e o olhando seriamente. "Minha mãe está lá agora, Kevin. Ela vai surtar e nunca mais vai me deixar sair de casa na vida. Eu juro que estou bem, foi só o susto."
"Tem certeza?", ele perguntou, começando a percorrer cada centímetro do corpo dela com os olhos para se garantir que realmente não havia mais nenhum ferimento.
"Tenho. Prometo a você que se estivesse sentindo qualquer outra coisa que não um medo terrível te contaria", ela disse, e havia sinceridade em seus olhos. "Graças a Deus não batemos em nada..."
Kevin assentiu. Ele próprio também se sentia bem, apesar do susto. O gosto de sangue que tinha sentido na boca devia ser o resultado de ter mordido a língua.
Em uma torrente de raiva pelo o que quase poderia ter acontecido, ele deu um murro no volante.
"Se eu pegar o desgraçado que estava naquele carro, juro por Deus que..."
Becca acariciou o braço dele, suas mãos também tremiam sem parar.
"Está tudo bem, Kevin. Já passou."
"Não, não está nada bem", ele disse, uma onda de emoções invadindo cada parte dele. "Se algo tivesse acontecido com você, eu... eu não consigo nem imaginar."
Ela segurou o rosto dele com as mãos geladas e o fez olhar para ela.
"Está tudo bem, estamos aqui. Estamos bem."
Ele passou uma mão carinhosamente pelo rosto dela. A estrada era escura apesar da proximidade da cidade, mas ele conseguia ver com perfeição seus olhos.
De repente se deu conta que poderia quase tê-la perdido. Se não tivesse tirado o carro da pista, o que teria acontecido?
Kevin não conseguia imaginar um mundo no qual ela não existisse.
Por Deus, não conseguia mais imaginar sua vida sem Rebecca Uziel nela.
"Kevin...", ela sussurrou baixinho, e aquilo foi o bastante para romper com todas as barreiras dele.
Em um gesto desesperado, ele a puxou para si e colou os lábios nos dela.
Becca, se ficou surpresa, não demonstrou, pois no mesmo instante suas mãos estavam no cabelo dele, nos ombros, em cada parte...
Kevin quis suspirar de alívio por ela ter retribuído, mas estava ocupado demais se sentindo o homem mais sortudo do mundo por ter Rebecca nos braços.
Ela, por sua vez, se entregou completamente ao momento, clamando Kevin para si. Pois naquele segundo precisava dele tanto quanto precisava do ar que respirava.
Ele era tão quente e maior que ela. Parecia envolvê-la por inteiro, explorando-a com suas mãos. E a sensação de ter os lábios dele nos dela...
Era surreal.
Naquele instante, sentiu o poder de seus sentimentos. Percebeu o quanto gostava de Kevin, o quanto ele era importante para ela, o quanto...
O que mais poderia ser aquele sentimento que tomava cada parte dela? Aquele que quase a fazia chorar de emoção?
Não fazia ideia.
Depois de um momento, ele se afastou com um suspiro rouco e olhou para Becca. Seus olhos estavam escuros, cheios de desejo e... algo mais.
Ele afastou os cabelos dela do rosto e a beijou levemente na testa.
"Vamos, eu vou te levar para casa."
Ela assentiu levemente. Ainda estava presa na magia do momento, onde queria ficar para sempre.
Becca olhou para o céu repleto de estrelas e sentiu algo muito bom se espalhar por seu peito.
Era gratidão pelo simples fato de estar viva. De ser alguém. De, naquele mundo tão cheio de dor que era capaz de pegar as coisas mais feias e transformá-las em belas, existir um garoto como Kevin. E uma garota como ela.
Não era a coisa mais linda?
De repente, se sentiu como parte do infinito. E era bom não estar no infinito sozinha.
______________________♥️__________________
Hoje deixo os comentários para vocês. Espero que a espera tenha valido a pena (que medo que eu tô senhor, não quero desapontar vocês rsrs).
Ainda tem algumas (muitas) coisas para acontecer por aqui. Espero que vocês aproveitem os capítulos finais.♥️
Beijão e até domingo!
Ceci.
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