• Capítulo Um •
"Escute, Kev, você é o máximo. Que garota no mundo pensaria o contrário? Mas eu..." Abby soltou um suspiro um tanto quanto dramático para os ouvidos já cansados de Kevin. "Eu quero algo mais, entende? Quero alguém mais... bem, mais cavalheiro. E romântico. Estou em busca de um relacionamento que dure mais do que uma noite."
Kevin olhou para a garota parada em sua frente, se perguntando se tinha ouvido direito ou se já estava bêbado o suficiente para imaginar coisas. Ou melhor, ouvir, coisas.
Coisas absurdas, sem dúvida.
Da última vez que tinha checado, seu caso com Abby Collins estava indo de vento em polpa, e ele, apesar de contragosto, poderia até admitir que gostava um pouco da garota.
Mas agora, aparentemente do nada, ela o estava dando um fora?
Um fora?
Era inacreditável demais para que Kevin MacCormack acreditasse.
Abby era uma líder de torcida. Uma garota linda e simpática, que já tivera casos com metade do time de futebol americano e não parecia ser muito chegada a romances nem nada disso. Porém, de repente, ela parecia ter se transformado em uma dessas antigas princesas da Disney, esperando um príncipe encantado.
"Eu posso ser o príncipe encantado", Kevin falou sem pensar, abrindo seu típico meio sorriso que geralmente fazia as garotas derreterem como sorvete ao sol. "Desses de cavalo branco e tudo."
Abby se encolheu no lugar, contorcendo o rosto perfeito em algo semelhante a uma careta.
"Bom, você se parece com um príncipe, Kev, com certeza", ela disse, fazendo com o que o sorriso de Kevin se alargasse ainda mais. "Mas, em relação a modos e cortejos, está mais para o Shrek."
O queixo de Kevin caiu, enquanto seu cérebro já meio entorpecido de cerveja tentava assimilar o que ela tinha dito.
Shrek?
Aquela era nova.
"Bom, se é isso que você quer...", ele falou depois de alguns segundos, se endireitando no lugar e dando um passo para trás. "Saiba que eu... não guardo ressentimentos."
Por mais que, lá no fundo, ele já estivesse borbulhando com todos os ressentimentos possíveis.
"Mesmo?", disse Abby, parecendo surpresa. "Bom, foi mais fácil do que eu pensei..." Ela sussurrou para si mesma, parecendo aliviada.
"Pelo amor de Deus, o que você achou que eu faria?", Kevin perguntou, se fingindo de indignado. "Apesar de agora a pouco você ter me definido como um ogro, saiba que eu sou cem vezes mais gentil do que qualquer um dos meus colegas de time. Não vou te encher o saco. Relaxa."
Abby ergueu uma sobrancelha loura para ele, parecendo se divertir.
"É o que eu espero. Bem, foi bom... passar um tempo com você, Kev."
Passar tempo?
Nunca nenhuma garota tinha se referido aos momentos que passava com ele daquele jeito. Geralmente, quando Kevin terminava tudo, elas pelo menos faziam uma cara chateada e diziam que tinha sido maravilhoso e inesquecível cada segundo ao seu lado.
Pelo jeito, aquele não era o caso de Abby.
A garota já estava saindo do canto da sala onde Kevin a tinha chamado minutos mais cedo, a fim de saber se poderia ter o prazer de seus beijos durante aquela festa absurdamente chata e barulhenta, quando ele se lembrou de uma coisa e se virou para ela.
"Se não se importa em me dizer", ele falou baixinho, porque o cômodo estava consideravelmente cheio e por mais que se sentisse patético ao pensar naquilo, Kev não queria que o colégio inteiro soubesse que Abby e ele já tinham ido para o espaço. "O que a fez mudar de ideia a respeito de..." Kevin pensou por um momento. "Bom, a respeito dos relacionamentos no geral? Até onde me lembro, você, assim como eu, não se importava nem um pouco com os nossos casos de uma noite."
Abby abriu um sorrisinho doce, seus olhos castanhos cintilando como duas estrelas quando algo aparentemente doce e cor-de-rosa surgiu em sua mente.
"Sabe, foi ela quem abriu meus olhos. Me mostrou que... Bom, que o amor de verdade é o que qualquer garota realmente merece. Além de cumplicidade, gentileza e romantismo. Não é maravilhoso?"
Kevin conteve a vontade de revirar os olhos.
"Claro, realmente maravilhoso. Mas quem é ela?"
Abby abriu um sorrisinho e revirou os olhos para ele.
"Ora, Kev, quem mais seria? Foi A Princesa dos Corações Apaixonados."
E naquele instante Kevin percebeu que aquela noite definitivamente não sairia conforme o planejado.
Sentado na caçamba de sua caminhonete, com uma lata de cerveja na mão, Kevin se perguntou por que simplesmente não entrava no carro e dava o fora daquela festa no meio do mato.
Só o fato de ele preferir o conforto da sua cama ao invés de uma noite de bebedeira e conversas com os amigos já era um indicativo e tanto de que sua vida não estava muito normal.
Primeiro, Max o tinha abandonado na deliciosa vida de libertinagem que eles levavam juntos em troca de um namoro sério com Alana Scott, agora, para completar, Abby, a garota que talvez Kevin tivesse começado a gostar, tinha lhe dado um fora alegando que ele não era... gentil o suficiente? Cavalheiro o suficiente?
Kev nunca tinha nem cogitado a ideia de que um dia seria rejeitado por conta de qualquer uma daquelas coisas.
Bom, pelo menos ele tinha alguém a quem culpar por todas aquelas desgraças. Culpar pelo namoro enjoativo de tão romântico do seu melhor amigo, o fora deprimente que recebera de Abby e o fato de que as festas do ensino médio não eram mais nem de longe o que costumavam ser há seis meses, quando metade da galera popular do colégio de Luncarty ainda era solteira e não dava a mínima para romance.
Era ela. A garota do blog.
A Princesa dos Corações Apaixonados.
Pelo amor de Deus, alguém tinha noção do quanto aquele nome era ridículo? Porque não era possível que sua perícia em relacionamentos amorosos e sua habilidade em unir casais cegassem todos para o fato da tal garota carregar aquele nome horripilante.
Isso. Sem dúvida era horripilante.
Kevin já estava decidido a se despedir de Jack Harrison, o dono da festa, e dirigir o um quilômetro de volta para cidade quando a visão de Max e Alana o fez congelar.
"Olhe só para eles", Kevin sussurrou para si mesmo, sua atenção voltada principalmente para Max. "Você é o maior traidor da história, cara. Judas teria inveja de você."
Antes que pudesse ao menos pensar em se esconder, Alana o viu e acenou, puxando Max para o canto escuro debaixo de um alto pinheiro onde Kevin tinha estacionado sua caminhonete.
Ali o barulho da festa não era tão alto, mas mesmo assim Kevin tinha uma visão privilegiada das poucas pessoas que ainda dançavam e conversavam do lado de fora da casa de Jack.
Quando Max e Alana chegaram até ele, Kev soube instantaneamente por suas expressões que apesar das poucas pessoas na festa, a notícia do seu "término" com Abby já tinha se espalhado aos sete ventos.
"E então, qual é a sensação?", Max perguntou com a naturalidade de sempre, se pendurando na caçamba da caminhonete ao lado de Kevin. "Como é levar um fora pela primeira vez?"
"Max!", Alana repreendeu. "Tenha um pouco mais de tato."
"Tem razão, desculpe bonequinha", Max respondeu, lançando um olhar carinhoso para a namorada.
Kevin quis vomitar.
"Se quer saber, acho que isso foi até bom", Max falou, voltando o olhar para o amigo. "Esses casos que vêm e vão não são nada bons, Kev."
Kevin se remexeu no lugar, olhando para Max como se ele fosse um idiota.
"Temos dezessete anos, cara! Os casos que vêm e vão são justamente o que devíamos estar procurando."
Alana fechou a cara e virou o rosto para Kevin, aparentemente nada satisfeita com o comentário.
"Fala sério, Kev", disse Max, dando um empurrãozinho no ombro do amigo. "Fala se você também não quer isso, alguém com quem possa contar e um relacionamento duradouro e feliz."
Kevin se virou para Max, pela centésima vez naquela noite perguntando-se o que havia de errado com o mundo.
"Quantos anos você tem? Cinquenta?!" Kevin soltou um suspiro exasperado. "Olha, não estou dizendo que essa coisa de amor e tudo mais não seja legal, mas... Eu não sei não. Não sei se esse tipo de coisa acontece por aqui, em Luncarty. Todo mundo já conhece todo mundo, sabia? Se o amor das nossas vidas estivesse por aí, nós já saberíamos."
Kevin não se importava de dizer aquelas coisas um tanto quanto melosas para Max, aliás, eles se conheciam a vida inteira e ambos sabiam tudo da vida um do outro, mas mesmo assim se sentiu meio patético por admitir tudo em voz alta.
"Bom, aconteceu com Max e eu", falou Alana, lhe fitando com seriedade. "Pode acontecer com você também."
Max se remexeu ao seu lado, inquieto.
"Bom, até pode, mas você... Kev, você é bastante conhecido por quebrar corações. Nenhuma garota com juízo se aproximaria de alguém assim."
Alana sorriu, orgulhosa do comentário do namorado.
"É exatamente o que a Princesa, diz."
Kevin se virou para o amigo, ao mesmo tempo indignado e furioso.
"Você também está lendo aquilo?"
Max encolheu os ombros, como se não tivesse muita escolha.
"Cara, você deveria ler também. Seja lá quem for essa garota, ela manda muito bem."
"Foi ela quem uniu nós dois, não foi, docinho?", disse Alana com uma voz fininha, piscando para Max.
Kevin realmente iria vomitar.
A qualquer momento.
"Bom, seja como for, você também costumava partir corações, Max", disse ele, tentando se concentrar na conversa e não no enjoo em seu estômago. "E olha só agora."
Max soltou uma gargalhada.
"Bem melhor, não é?"
Eu não teria tanta certeza.
"Seja como for, você pode mudar algumas dessas suas atitudes, Kevin", Alana falou com ar sábio. "Abby é minha amiga e ela me disse algumas das coisas que fizeram com que ela... Bem, te desse um pé na bunda, como dizem." Ela soltou uma risadinha. "As pessoas não mudam, mas suas atitudes sim. Pelo menos um pouquinho."
"Não estou interessado em um romance", Kevin disse simplesmente. "Esqueçam."
Nem Max nem Alana disseram mais alguma coisa, mas Max olhou para o amigo e eles tiveram aquele momento de comunicação clara que não precisava de palavras. Eles tinham convivido por tempo o suficiente para se aperfeiçoarem naquilo.
Kevin podia apostar que o amigo pensava:
"Não está interessado em romances, hein? Não é o que suas canções dizem."
E Kevin, por sua vez, era mais sucinto:
"Você pode fazer o enorme favor de calar a boca?"
Max soltou uma risadinha, voltando a olhar para a namorada.
Mas, de repente, como se um ET tivesse aparecido no quintal da casa de campo de Jack Harrison, os olhos de Max se arregalaram e seus músculos ficaram tensos.
"Ei, Kevin, não olhe agora, mas Hannah Julians está vindo na nossa direção."
Kevin engasgou com a cerveja, seus olhos voando exatamente para o ponto onde uma morena de vestido vermelho varria tudo com os olhos, a procura de alguma coisa.
Dele.
"Corra", Max disse desesperado. "Corra o mais rápido que puder. Eu encubro você."
Kevin não precisou ouvir duas vezes.
Ele pulou para fora da caçamba da caminhonete e se escondeu atrás do grande pinheiro, espiando quando Hannah se aproximou do carro e olhou para Max.
"Ei, Stuart, você por acaso viu Kevin? Estou procurando por ele desde que..." Ela soltou uma risadinha. "Desde que soube que Abby e ele não estão mais... Bem, juntos? Não sei se essa é a palavra certa. Você sabe, o que eu e ele tivemos foi muito mais intenso."
Do seu esconderijo, Kevin teve de lutar para não soltar uma gargalhada incrédula.
Hannah e ele? Intensos?
Era uma piada.
Kev não considerava nada mais do que divertido o fim de semana que eles tinham passado juntos quando Paul Adams organizou uma festa de três dias em sua casa de praia há três meses.
Mas, aparentemente para Hannah, aquele fim de semana tinha sido muito mais do que só divertido.
Desde que tudo acontecera, Kevin recebia pelo menos cinco mensagens dela ao dia, mensagens que se forçava a responder de maneira direta para pelo menos não parecer tão rude e ignorar tudo. A escola havia se tornado uma verdadeira arena dos Jogos Vorazes para ele, onde sua maior prioridade era sumir por corredores e salas antes que Hannah o achasse e o matasse de constrangimento e perguntas que ele definitivamente não queria responder.
A garota era um furacão. Um furacão que simplesmente não conseguia aceitar um "não", além de acreditar que a resposta educada para um dos seus "como vai?" era um pedido de casamento.
"Bom, nós não o vimos, não", disse Max com um sorrisinho forçado enquanto tentava olhar para qualquer coisa que não fosse Hannah. "Acho que ele foi... hum... no banheiro."
Kevin fechou os olhos com força, se perguntando o motivo pelo qual ainda acreditava na capacidade de Max de mentir e acobertar alguém.
"É mesmo?", Hannah perguntou desconfiada, seus olhos de lince de repente varrendo a escuridão das árvores ao redor. "Espera um pouco..." Seus olhos se arregalaram e um sorriso enorme se espalhou por seu rosto. "Kev, é você aí atrás?"
Talvez, se não estivesse ligeiramente bêbado, Kevin teria a hombridade de sair de trás daquela árvore e enfrentar Hannah Julians como vinha fazendo nos últimos meses, mas, infelizmente e devido a uma conclusão idiota que sua mente entorpecida por algum motivo achou brilhante, Kevin percebeu que sua melhor alternativa era correr.
Correr para dentro da floresta.
E foi o que ele fez.
Enquanto corria e pulava as raízes de árvores retorcidas, as luzes da casa de Jack ficaram para trás, assim como os gritos encabulados de Max e Hannah.
Kevin pensou satisfeito que a garota jamais o alcançaria com aqueles saltos agulha, mas quando ouviu um estalar noturno da floresta atrás de si, pôde jurar que ainda era ela o perseguindo, com as unhas enormes à mostra em forma de garras, pronta para agarrá-lo.
Em algum momento Kevin acendeu a lanterna do celular – provavelmente depois de ter caído na mata pela terceira vez – mas ela se mostrou um tanto quanto inútil, pois, depois de cerca de dez minutos de corrida frenética pela pequena floresta ao redor leste de Luncarty, ele viu luzes por entre as árvores.
Diminuindo o ritmo, Kevin apoiou as mãos nos joelhos para tomar ar.
Os treinos que geralmente participava por conta do futebol americano, faziam com que ele não fosse lento ou mole, mas devia admitir que saltar por aí em uma floresta cheia de obstáculos quando uma árvore às vezes se transformava em duas diante dos seus olhos era um tanto quanto exaustivo.
Recompondo-se, Kevin pensou em voltar, mas pensou em Hannah e soube que dez minutos talvez não fossem o suficiente para que ela desistisse de montar guarda perto de seu carro até ele voltar.
Por isso, ao perceber que as sombras da floresta não eram nem um pouco convidativas, Kevin MacCormack caminhou em direção às luzes.
Assim que saiu do amontoado de árvores, se viu em uma trilha de pedras que se estendia por alguns metros atrás de si até a estrada que levava a Luncarty. Mas não foi a estrada que lhe chamou a atenção, e sim o castelinho que se encontrava do outro lado, iluminado pelas luzes de uma varanda.
A casa não era grande, mas as janelas em forma de arco e o telhado muito inclinado davam ao lugar uma aparência diferente, além dos magníficos jardins de flores que se encontravam do lado esquerdo da casa.
Mas não era só aquilo que fazia o lugar parecer um pequeno castelo, e sim a torre ligeiramente mais alta que toda a casa que se encontrava do lado leste da propriedade, anexada a construção.
"Legal", Kevin disse com um sorrisinho. "Será que está tarde demais para pedir um copo d'água?"
Mas ele nunca pôde saber.
Porque, enquanto caminhava pela trilha até a varanda da casa, um rugido fez com que ele congelasse.
"Oi? Tem alguém aí?", ele perguntou baixinho, olhando para os lados.
Porém, antes que conseguisse determinar se estava em apuros ou não, um enorme lobo pulou, saindo da sombra de uma macieira do jardim da casa e atingindo Kevin no peito, fazendo com que ele rolasse na grama bem cuidada.
O garoto gritou, se deparando com os olhos azuis da fera.
O lobo saiu de cima dele, rosnando, e Kevin tentou se arrastar pelo chão como um animal ferido.
Quando se colocou de pé, pronto para correr até a casa, alguém gritou ao seu lado.
Um grito feminino.
"Pegue ele, Nicholas!"
O lobo rugiu e Kevin se virou para o lado a tempo de ver o brilho de uma... frigideira?
Seja o-que-quer-que fosse, aquilo o atingiu na cabeça com força.
Antes de apagar, Kevin ouviu um grito assustado. Aparentemente, quem tinha lhe acertado estava com mais medo dele do que ele do lobo, o que definitivamente não era uma coisa boa.
Kevin tentou manter os olhos abertos enquanto pontos pretos dançavam diante de seus olhos, mas quando deu um passo para frente, pensando que poderia pedir ajuda e fugir do lobo, outro grito soou e a frigideira voou, lhe atingindo com um estrondo.
A última coisa que Kevin viu foram olhos verdes amedrontados lhe encarando, e seu último pensamento, é claro, foi de como estava arrependido por não ter ficado em casa naquela noite.
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Oii meus amores!!! Com vocês, o primeiro capítulo dessa nova história!
Espero muito que tenham gostado e nunca fiquei tão ansiosa para saber a opinião de vocês a respeito do capítulo!
Qual foi a primeira impressão que vocês tiverem dessa Kevin adolescente? O que acharam do Max? E esse final?? Tem muita coisa vindo por aí!
Bom, espero realmente que tenham gostado!
Beijos e até a próxima,
Ceci.
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