• Capítulo Quatorze •

Para a sua primeira festa, Rebecca pensou que tinha mandado bem.

Não que seu vestido preto de renda fosse algo glamoroso, caro ou sofisticado, mas de longe era a melhor peça de seu guarda-roupa, que usava só em ocasiões especiais. O tecido escuro realçava sua pele clara e os longos cabelos presos em uma trança de lado, que ia até um pouco abaixo da cintura, havia dado um toque seu a coisa toda. Os sapatos também pretos com um salto não tão grande, faziam com que ela se sentisse um tanto quanto poderosa e ousada, algo que raramente tinha experimentado ao longo da vida.

No geral, ao seu olhar no espelho depois de ficar duas horas escolhendo cuidadosamente o que usar, maquiar-se e perfumar-se nos lugares corretos, Rebecca podia dizer que estava muito feliz com o resultado.

Esperava que aquilo tudo não fosse em vão quando fosse falar com a mãe. Aliás, Kevin apareceria a qualquer instante, e Becca tinha quase certeza que sua mãe não ia gostar nada de não ser avisada sobre um garoto batendo a porta e procurando por Rebecca sem nem saber do que se tratava.

"O que você acha, Nick?", ela perguntou ao cão deitado ao pé da cama. Ele levantou os olhos para ela e balançou o enorme rabo. "Acho que gostou, né?"

Rebecca soltou uma risadinha nervosa e se ajoelhou no chão, entrelaçando os braços no pescoço do cachorro. Ele - como Becca o havia treinado muito tempo antes - levantou uma das patas e pousou delicadamente em suas costas.

"Me deseje sorte."

Ela então se levantou e saiu do quarto, descendo as escadas da torre.

Ao entrar em casa ouviu o barulho da TV ligada e foi até a sala, sentindo a barriga revirar e o suor brotar em sua testa. Ela esperava que aquilo não borrasse a maquiagem leve que tinha demorado centenas de anos para fazer, vendo vídeos em pelo menos cem canais diferentes no YouTube.

Mas não foi a sua mãe que Rebecca encontrou na sala de TV. Simon estava em uma poltrona velha no canto, zapeando os canais com o controle remoto enquanto mantinha os olhos fixos na tela do celular. Gabrielle brincava com uma pista de corrida e carrinhos de brinquedo, fingindo que eles conseguiam voar de um móvel a outro da sala. E Fred, por último, estava deitado de barriga para baixo no tapete, com a língua de fora e concentrado em montar pecinhas de lego.

Becca não soube dizer qual poder emanou dela naquele momento, só soube que, no momento em que colocou o primeiro pé na sala, todos os seus irmãos pararam imediatamente o que estavam fazendo e olharam para ela.

Rebecca abriu um sorrisinho, sem graça.

"Aonde você vai?", Simon perguntou no mesmo instante.

"Que vestido lindo! Você me empresta?", exclamou Gabrielle, já correndo até ela.

"Você tá muito bonita, Becky", disse Fred, piscando.

Por um segundo, todo o nervosismo de Becca foi dissipado e ela finalmente respirou aliviada.

Todo aquele trabalho para ficar bonita tinha valido a pena, afinal...

"Obrigada, Fred", ela respondeu ao irmão mais novo, indo até ele e lhe dando um beijinho naquelas bochechas enormes. "Gabrielle, esse vestido ainda não serve em você, mas quando ficar maior e se ainda quiser, ele é todo seu. E...", ela então finalmente se virou para o irmão mais velho, abrindo um sorrisinho tímido, "vou sair."

Simon ergueu uma sobrancelha para a irmã, mas havia um sorriso em seu rosto.

"Com a Mandy?"

Rebecca abriu a boca para responder, mas tudo o que saiu dela foi monossilábicos incompreensíveis. Ela respirou fundo e tentou de novo.

"Na verdade, não", respondeu. Suas mãos voaram para o cabelo, os dedos brincando com o rabo da trança nervosamente. "É uma festa na casa de um dos jogadores do time do colégio."

Simon ergueu sua sobrancelha ainda mais, fazendo com que ela quase sumisse por baixo de seu cabelo castanho.

"Não parece muito a sua cara", ele constatou.

Becca deu de ombros.

"Estou tentando coisas novas."

"E me pergunto quando eu iria saber dessas coisas novas..."

Rebecca gelou e olhou para trás, vendo a mãe surgir pela curva do corredor. Se sentindo ridícula, ela constatou que seu coração estava disparado. Pelo amor de Deus, aquela era sua mãe. Não precisava ter tanto medo de falar com ela.

Mas Becca ainda se sentia abalada pelo que havia acontecido mais cedo, por isso limitou-se a dar certa distância entre as duas.

"Desculpe não ter pedido permissão antes", ela disse sinceramente, fitando o tapete. "É que fiquei ocupada o dia todo e nem lembrei."

Ok, aquilo era uma mentira.

Depois que as audições tinham acabado e Becca aceitou o convite de Kevin para a festa, nada mais havia ocupado sua atenção. Era um milagre que tivesse conseguido preparar o post do blog para o dia seguinte.

Julie olhou atentamente para a filha por alguns instantes, como se de repente Rebecca tivesse criado chifres e uma cauda. Aparentemente, queria entender de onde tinha vindo aquela vontade de sair para festas do ensino médio. Bem, Becca também não tinha certeza. Ficava dizendo a si mesma que só estava fazendo aquilo para fazer certa propaganda de si mesma até o festival, mas já não tinha tanta certeza...

Seria boba por admitir que estava até um pouco ansiosa para a festa e por passar algumas horas longe de casa?

"Com quem você vai, Rebecca?", Julie perguntou então, e Becca tentou não demonstrar o alívio que sentiu pela mãe estar pelo menos considerando a possibilidade de deixá-la ir.

"Com..." Ela olhou para Simon, que parecia tão interessado na conversa quanto a mãe. Aquilo era desconcertante. "Com Kevin MacCormack."

"MacCormack?!", Simon exclamou antes que a mãe pudesse dizer alguma coisa. Ele olhou surpreso para a irmã. "Desde quando você anda com os riquinhos metidos?"

"Ele não é um riquinho metido", rebateu Rebecca no mesmo instante, sem nem pensar. "É um cara legal."

"É o mesmo cara com quem saiu para o piquenique na semana passada?", perguntou Julie, cruzando os braços, mas Becca não teve oportunidade de responder.

"Piquenique?", perguntou Simon novamente, agora pulando da poltrona como se ela tivesse sido tomada por escorpiões. "Rebecca, você está saindo com esse cara? Tipo, para valer?"

"Ele é só um amigo!", guinchou Becca, sentindo as bochechas corarem e as mãos pingarem suor. Estava odiando todo aquele interrogatório por algo tão trivial. "Qual é o problema em aceitar que um garoto e uma garota podem ser só amigos?"

"Rebecca..."

Becca fechou as mãos em punhos, tentando se concentrar e dizer as palavras certas.

"Mãe, Kevin é um cara legal. Eu sei disso. Não precisa se preocupar."

Julie soltou uma risadinha.

"Talvez você o veja como um amigo, mas e ele?" Julie deu um passo à frente e ficou cara a cara com a filha. "Você sabe o que garotos dessa idade querem. Você só vai ser feita de boba..."

Rebecca pensou que seus dentes se quebrariam, tamanha era a força com que estava cerrando os maxilares. Não acreditava nem por um segundo naquelas palavras, e o ressentimento que a inundou naquele instante foi ainda maior do que o de mais cedo, quando tinha enfrentado sua mãe na cozinha.

"Mãe, se não quer acreditar em mim, eu não posso fazer nada", ela disse, e se surpreendeu com a firmeza em sua voz. "Mas hoje, uma vez na vida, eu quero sair um pouco com alguém que gosto e interagir com outras pessoas. Posso fazer isso?"

Julie piscou, como se não esperasse por aquelas palavras. Na verdade, nem Becca esperava.

Ela sentiu o corpo vacilar um pouco quando a mão quente e reconfortante de Simon envolveu seu ombro.

"Sabe, acho que estamos exagerando um pouco, mãe", ele disse, e Becca nunca se sentiu tão grata. "Becca tem dezessete anos e nós sabemos que tem juízo. Faz bem sair um pouco."

Rebecca trocou um rápido olhar com o irmão mais velho e sorriu. Às vezes tinha vontade de abraçar Simon e nunca mais soltá-lo.

Porém, antes que sua mãe pudesse dizer qualquer coisa, o barulho de um carro se aproximando na estrada foi ouvido. Becca sentiu o estômago dar cambalhotas.

Quando o som da campainha ecoou pela casa, ela já estava uma pilha de nervos, o que era ridículo. Era só uma festa. Era só Kevin.

"Eu atendo", disse Julie friamente, dando as costas para Rebecca e sumindo pelo corredor. Becca sentiu seus ombros se curvarem, dissipando o peso que parecia estar carregando desde o momento em que a mãe entrara na sala.

"Ei, Becky?", Simon chamou, fazendo com que ela olhasse para ele. "Não fique brava com a mamãe. Ela só..." Ele suspirou e seus olhos se perderam por um momento. "Ela tem muito medo que algo aconteça com a gente, principalmente com você, eu acho, porque vo..."

"Por que eu sou muito ingênua?", perguntou Rebecca na defensiva, amarrando a cara. "Era isso que você ia dizer, não é?"

Simon não se preocupar em negar.

Rebecca bufou e caminhou em direção ao corredor.

"Não se preocupe, Simon. Sei cuidar de mim mesma."

Ela então caminhou até a porta da frente, dividida entre o nervosismo e a irritação. Não entendia toda aquela comoção pelo simples fato de ela querer sair num sábado à noite. Era horrível.

Ela então parou quando avistou a porta da frente, observando a silhueta pequena da mãe de frente para um cara pelo menos quinze centímetros mais alto e irritantemente bonito. Bonito até demais.

Rebecca não pôde deixar de sorrir. Era bom ver Kevin.

O olhar dela deve ter chamado a atenção dele, pois enquanto conversava com Julie, Kevin ergueu o olhar e seus olhos castanhos brilharam. Ele a observou e ela corou, gostando de ver quando sua boca se abriu em forma de "o" e suas sobrancelhas se arquearam em surpresa.

Julie deve ter notado o rapaz mudo, pois se virou para trás e deu de cara com Rebecca, que mantinha um sorriso tímido nos lábios.

"Eu estava conversando com Kevin sobre onde vocês vão, Rebecca", ela disse então, chamando a atenção dela. "Parece ser na casa de Max Rubbel. Conheço a mãe dele."

"Max é uma ótima pessoa, Sra. Uziel", disse Kevin então, tirando os olhos de Rebecca com certa dificuldade e encarando Julie. Ele sorriu para ela, aquele sorriso lindo de tirar o fôlego de qualquer um. Sua mãe, porém, nem piscou. "Prometo trazer Rebecca de volta na hora que a senhora marcar."

Julie pareceu pensar por um instante, olhando de Kevin para Rebecca e de volta para Kevin.

"Meia-noite em ponto", ela disse por fim, e Rebecca se sentiu uma criança de novo, desejando dar pulinhos pela casa quando ganhava um brinquedo novo. "Nem um minuto mais tarde."

Rebecca sorriu radiante e se aproximou da porta, ficando ao lado de Kevin.

"Vou estar aqui."

"E mais uma coisa..." Ela ergueu os olhos para Kevin e Becca viu o quanto ele parecia nervoso, apesar do sorriso relaxado. Suas costas estavam eretas e os músculos do pescoço tensos. Por algum motivo, aquilo fez uma satisfação muito grande percorrer o corpo de Rebecca. Ele estava tentando agradar sua mãe, e aquilo era importante para ela, pois sabia que ela não era nada fácil. "Eu sei sobre as bebidas nessas festas de jovens, e acho que seria prudente dizer que não ficaria satisfeita se você dirigisse bêbado, Kevin."

"Mãe!", Rebecca exclamou, sentindo o corpo queimar de vergonha.

Mas Kevin não titubeou, respondendo logo em seguida:

"Não vou beber, Sra. Uziel. Prometo trazer Rebecca em segurança."

Julie estalou a língua, analisando-o dos pés a cabeça. Becca queria evaporar dali...

"Certo. Divirtam-se então, mas com juízo."

"Ótimo. Até mais tarde, mãe."

E então ela agarrou o braço de Kevin com as unhas e o arrastou para fora da varando como o diabo foge da cruz.

Quando se jogou no banco do passageiro do carro de Kevin, um enorme suspiro de alívio varreu seu corpo. Nunca tinha estado tão tensa na vida.

Kevin deu partida no carro e deu ré, girando o volante e tomando a estrada até a cidade. Havia um sorriso tranquilo em seu rosto enquanto ele dirigia.

"Desculpe por isso", Becca murmurou, fitando o chão do carro. "A minha mãe... Ela é paranóica demais às vezes."

"Relaxa, loira", ele disse, lançando uma piscadela para ela. "Toda mãe é assim. E ela tem motivos para estar meio apreensiva, aliás, é a primeira vez que a filhinha preciosa dela vai para uma festa."

Rebecca sorriu e mexeu na trança, sentindo o coração bater forte no peito.

"Bom, você se saiu bastante bem com ela. Parecia bem relaxado..."

Kevin murmurou um palavrão.

"Relaxado? Acho que nunca fiquei tão nervoso na vida. Sua mãe parecia querer me devorar vivo!"

Rebecca riu, gostando de ouvir o que já sabia.

"Um cara grande como você com medo de mamães indefesas?"

"Eu posso estar errado, mas sua mãe não parece nada indefesa."

Eles ficaram em silêncio por algum tempo, até as luzes da cidade ficarem mais fortes e Kevin lançar um rápido olhar para Rebecca.

"Aliás, você não está nada mal, loira", ele comentou baixinho, e as palavras saíram meio estranhas de sua boca. Rebecca sorriu, sentindo-se reluzir por alguns instantes. Ela tinha certeza que aquele "nada mal" era o jeito de Kevin elogiar uma garota. Era a cara dele.

"Obrigada", ela murmurou, e em tom mais bem humorado perguntou: "Esse é mais um dos momentos em que você está me usando de cobaia para suas recém-adquiridas habilidades de conquista?"

"Isso aí", ele respondeu com um sorriso convencido.

"Kevin!"

Ela deu um tapa no braço dele e os dois riram. Então ele olhou para ela, ainda sorrindo, e disse:

"Tô brincando. Você está bonita mesmo. Estou até me sentindo mal arrumado..."

"Você não está mal arrumado", ela rebateu no mesmo instante, porque era verdade.

Aquela calça jeans abraçava suas pernas musculosas com perfeição, a camisa azul marinho se agarrava ao seu abdômen claramente bem definido e a jaqueta de couro estilo Grease o deixava ainda mais gato.

Não que ela estivesse dando importância a tudo aquilo. É claro que não.

Quando Kevin adentrou a cidade, dirigiu mais alguns quarteirões até estacionar em frente a uma casa bonita de dois andares, de jardim bem cuidado e cercas baixas. O som da música dava para ser ouvido da esquina, e a fila de carros estacionados rodeava o quarteirão.

Rebecca podia ver a sombra de pessoas nas janelas, e viu mais um punhado de gente nos jardins. Podia ser só impressão, mas ela jurava que um casal estava se agarrando perto do canteiro de margaridas.

"Vamos lá?", Kevin falou animado, tirando o cinto de segurança. Ele já estava pulando da caminhonete quando percebeu que Becca ainda nem tinha se movido, seus olhos vidrados na casa e na festa que acontecia lá dentro. "Você não está esperando que eu vá abrir a porta do carro para você, né? Porque, loira, você vai ficar sentada aí para o resto da vida se..."

"Não é isso", ela respondeu antes que ele continuasse, fitando as mãos no colo. "É só..." Ela suspirou pesadamente e fechou os olhos. "Estou um pouco nervosa, só isso. Sei que é bobo, aliás, é só uma festa. Às vezes me sinto uma idiota."

"Você não é uma idiota", disse Kevin no mesmo instante, pulando no banco do motorista novamente. "E não tem nada de bobo nisso. Você nunca foi a uma festa com gente da sua idade na vida, é normal que esteja nervosa."

"Mas..."

"Nada de mas." Ele suspirou pesadamente e passou uma das mãos pelo cabelo, tentando desesperadamente achar as palavras certas. "Ei, loira, olha para mim."

Rebecca pareceu relutante, mas ergueu o olhar.

Ele engoliu em seco quando se deparou com aqueles olhos verdes e brilhantes que naquele momento pareciam tristes e apreensivos. Tudo o que Kev queria era afastar aquele medo deles.

"Eu vou estar com você, ok? Não vou sair do seu lado se não quiser. Prometo te apresentar só para as pessoas legais."

Rebecca abriu um pequeno sorriso, e Kevin se pegou olhando para aqueles lábios com mais atenção do que devia. Eles eram delicados, como tudo nela, mas muito rosados, como se ela sempre estivesse usando batom.

"Sabe, a cada dia que passa te enxergo menos como um cara babaca e metido e mais como alguém legal", ela falou, o que o fez soltar uma gargalhada.

"Eu deixo você pensar assim, se quiser", ele disse, mas em seguida se inclinou mais para ela e sussurrou: "Mas não fale isso para ninguém, ok? Sabe, eu tenho uma reputação a zelar."

"Retiro a parte do metido."

Ele riu e em seguida ergueu uma sobrancelha para ela.

"Então, a gente vai para uma festa ou não, Rapunzel?"

Rebecca sorriu e de repente foi como se tudo ficasse mais claro e confortante.

"Vamos lá, bad boy."

Kevin sorriu e pulou do carro. Rebecca veio logo atrás dele.

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Oii gente! Capítulo novinho para vocês ❤️ Espero que tenham gostado!

Me contem TUDO! O que acharam do capítulo? O que acham que vai acontecer na festa? Ahh... Já estou louca para liberar o capítulo para vocês!

Enfim, espero que realmente tenham gostado! Beijos e até o próximo!

Ceci.

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