• Capítulo Dezoito •
Kevin estacionou o carro junto ao meio-fio depois de deixar Rebecca em casa. Passando uma mão pelo cabelo, ele pensou em tudo o que tinha acontecido naquele almoço de domingo que deveria ter sido inofensivo. Não que tivesse sido um desastre, mas entre seu pai deixar Rebecca extremamente desconfortável e ela descobrir sobre suas músicas, ele não conseguia se decidir qual tinha sido o pior.
Durante toda a parte da refeição desejou que seu pai desaparecesse com seus olhares cortantes e palavras frias. O fato de ele estar descaradamente medindo Rebecca o deixou louco de raiva e a ponto de também dizer bobagens para defendê-la de algum modo. Porém, quando aquilo finalmente terminou, Becca acabou descobrindo uma de suas canções que ele deixara tão descuidadamente em cima da escrivaninha de seu quarto.
Mas ela não riu dele quando leu a letra. Também não fez comentários sarcásticos como ele esperava. Ao invés disso elogiou a letra da música, o forçou a tocar e disse... Como era mesmo? Ah, que gostava dos dois Kevins.
Kevin não era do tipo que falava sozinho, mas a confusão de seus pensamentos e emoções acabou extravasando em um ponto que ele se viu sussurrando dentro do carro:
"Essa garota é real mesmo?"
Ele balançou a cabeça e perguntou-se – dessa vez mentalmente – se estava ficando maluco. Não se lembrava da última vez que dera tão certo com alguém no mesmo nível que estava se dando bem com Rebecca. E isso era um feito e tanto, levando em conta que nos primeiros dias da "amizade" dos dois ela queria matá-lo a cada segundo.
Ao lembrar-se daquilo, sorriu. Mais parecia que eles se conheciam há meses e não poucas semanas.
Kevin saiu do carro e foi em direção à sua casa. Queria tomar um copo d'água antes de ir até a casa de Max ajudá-lo com a bagunça que a festa da noite anterior tinha provocado. O amigo havia lhe mandado uma mensagem mais cedo dizendo que os pais chegariam a qualquer momento a partir três, já que tinham passado dois dias em uma conferência do trabalho na cidade vizinha, e que ele e Alana não iriam conseguir nem em mil anos deixar a casa apresentável até esse horário. Então, ou Kev ajudava o melhor amigo ou o próprio ficaria de castigo até completar cinquenta anos. Não tinha escolha a não ser dar uma mãozinha.
Ele estava indo em direção à cozinha quando escutou a voz alta do pai ressoar pelas paredes, vinda de algum lugar mais para o interior da casa.
Sentindo o sangue correr acelerado em seus ouvidos, ele seguiu a voz e percebeu que vinha da pequena sala de jogos da casa. Ele se manteve ao lado da porta, no corredor, onde não poderia ser visto. Nem sabia o motivo pelo qual estava se escondendo, mas algo o fez ficar parado ali, sem se mexer.
"Pensei que tinha deixado esses projetos para trás, Virginie", o pai falou zangado então. "Não tem nada melhor para fazer? Ainda mais um festival de canto... Pelo amor de Deus."
"Frank, qual é o problema com o festival?", a mãe falou baixinho, e Kevin percebeu instantaneamente como sua voz estava fraca e cansada. Provavelmente eles estavam naquela discussão desde que Kevin saíra para levar Becca para casa depois do almoço. "Ele não está me ocupando muito tempo, afinal."
"E isso importa?", Frank perguntou com desdém. Kevin sentiu a raiva queimar em seu estômago quando percebeu a voz levemente enrolada do pai. Ele estava bebendo? No meio do dia? "Você nem pensou em me consultar sobre isso, não é? Até hoje de manhã, eu nem sabia que estava organizando este maldito festival. Então convidou aquela garota para cá..."
"É uma coisa sem importância, Frank. Nem me lembrei de comentar com você..." Ela fez uma pausa, e em seguida acrescentou: "Desculpe."
"Você está sempre pedindo desculpas."
"Pai, deixa isso para lá", uma outra voz feminina disse, e só então Kevin percebeu que Megan também estava na sala. "Logo, logo esse festival vai passar. O senhor sabe que a mamãe gosta de trabalhar em projetos escolares. Não é nada demais."
"Eu não me dirigi a você, Megan", ele falou friamente. "E como se tivesse o direito de falar qualquer coisa... É você quem deveria estar procurando algo para fazer, ao invés de passar vinte e quatro horas em casa como uma adolescente que terminou com o namorado." Kevin escutou passos pesados andando pela sala. "Desde o início não queria que se formasse em psicologia, é verdade, mas você fez o que quis e estava até ganhando certa reputação na capital. Então jogou tudo para o alto por causa de um garoto. Não sente vergonha? Hein?"
Kevin se remexeu, pronto para entrar na sala e defender a irmã. Mas sua mãe fez isso antes dele.
"Não fale assim, Frank. Megan está sofrendo e tem todo o direito do mundo de passar um tempo longe da capital para se recuperar. Ela..."
"Cale a boca, Virginie. Você não sabe de nada."
"Se quiser discordar do que eu faço, tudo bem, mas você não pode se voltar contra a nossa filha. Você..."
"Como assim eu não posso?"
Passos repentinos soaram.
"Pai!", Megan choramingou.
Antes que se desse conta, Kevin tinha adentrado a sala e corrido em direção a mãe, que estava acuada em um canto da parede. Em um milésimo de segundo ele viu o pai com um braço levantado, pronto para desferir um golpe contra a mãe, enquanto Megan estava pálida junto à mesa de jogos, as mãos tapando a boca.
Kevin se colocou entre a mãe e o pai, o coração batendo tão forte no peito que ele jurava que todos podiam ouvir.
Na mesa ao lado de Megan, ele pôde ver uma garrafa de Vodca aberta, assim como um copo meio cheio da mão esquerda do pai.
"Você ia bater nela?", Kevin perguntou em um tom de voz surpreendentemente calmo. Ele cerrou as mãos em punhos, tentando fazer com que elas parassem de tremer.
Frank manteve os olhos fixos no filho. A surpresa que ele demonstrara ao ver Kevin surgindo de repente na sala já dera lugar a uma raiva controlada.
"Saia daqui garoto", foi tudo o que ele falou.
"Eu não vou para lugar nenhum", Kev respondeu friamente. "Não enquanto você não me disser a verdade."
"Kevin...", foi Megan quem sussurrou, seus olhos cheio d'água. "Por favor, Kevin, deixa isso para lá."
"Eu não vou deixar merda nenhuma para lá!", ele praticamente gritou, e agora sua mente girava com mil pensamentos diferentes. Seu corpo pulsava em um ritmo descontrolado, tudo o que ele conseguia ver era o homem a sua frente. "Anda, fala logo, há quanto tempo você vem batendo na minha mãe de novo? Que a tortura emocionalmente eu já sabia, mas pensei..." Kevin engoliu em seco. Se sentia estúpido. Forçou-se a sussurrar: "Pensei que isso tinha acabado."
Ele queria que o pai dissesse que aquela seria a primeira vez em dois anos. Que nunca tinha acontecido de novo desde aquela briga terrível em que Kev, com quinze anos, havia enfrentado o pai pela primeira vez e impedido que agredisse a mãe depois de um comentário qualquer que ela havia feito.
Mas então, de repente, as coisas se tornaram bastante claras:
Kevin não estava o dia todo em casa. Nem sempre estava por perto quando o pai e a mãe ficavam juntos.
E se... Não, não queria pensar naquilo. Não podia.
"Você é um covarde", ele disse então, sem pensar, sem ter noção das palavras, a raiva e a mágoa rasgavam sem peito. "Se eu souber que me espera sair para encostar nela..."
"Você não sabe de nada, moleque. Saia daqui. Agora!"
Kevin olhou para o pai. Ele era maior do que ele agora. Não tinha mais medo dele como tinha quando era criança, quando lhe espancava por qualquer coisinha que tivesse feito errado. Não. Aquele homem não podia machucá-lo mais, mas enquanto a sua mãe e Megan...
"Você ainda não me respondeu", Kevin continuou, e nem sentiu quando sua mãe tentou puxá-lo pelo braço para fora da sala. "Não me respondeu há quanto tempo vem batendo nela de novo e..."
O rosto de Frank assumiu um tom de vermelho escarlate e em um milésimo de segundo o copo de vodca que ele tinha na mão voou contra a parede e se partiu em mil pedaços. Megan gritou e cobriu o rosto com as mãos.
"E quem disse que eu parei?!", o pai gritou, vociferando e vindo para cima do filho. "Se eu não controlar a vadia da sua mãe você acha que..."
O corpo de Kevin agiu como que por extinto. Tudo se tornou um borrão vermelho e sem foco, tudo o que ele conseguia ver era o homem que devia ser seu pai. Mas era um monstro.
Ele viu suas mãos agarrarem a garganta dele e sentiu seu corpo ir de encontro ao chão. Pensava ouvir gritos ao seu redor, mas não sabia de quem eram.
O homem embaixo dele se remexeu e grunhiu em fúria, mas seu rosto lentamente se tornou roxo devido a pressão que Kevin fazia em sua garganta.
E se Kev acabasse com aquilo? Com toda aquela dor e sofrimento? Nada lhe dava mais prazer do que provocar pelo menos um pouco da dor que o pai havia causado na mãe por todos aqueles anos.
Mas ele não podia. Não queria ser igual a ele. Não queria passar o resto da sua vida pensando que também era um monstro.
Antes que tirasse as mãos da garganta do pai, Frank reagiu. Sua mão tateou o chão em desespero e encontrou algo que Kevin não pôde ver. No segundo seguinte, sentiu algo afiado lhe cortar a bochecha direita.
Ele grunhiu, sentindo o sangue quente escorrer pelo rosto. Só naquele momento sentiu as mãos desesperadas de Megan e da mãe o puxando pelos ombros.
Kevin saiu de cima do pai, mal se dando conta da dor na bochecha. Só conseguia pensar no que tinha acabado de acontecer.
Seu peito subia e descia em uma respiração irregular. O mundo parecia fora do eixo. Ao olhar para a irmã, viu o medo genuíno nos olhos dela, e aquilo foi como um murro no estômago.
Tossindo, Frank se sentou no chão, afrouxando a camisa e procurando desesperadamente por ar. Em sua mão, havia um caco de vidro ensanguentado.
Por alguns segundos, foi como se o mundo tivesse parado. A pequena família tremia na sala. Virginie estava mais branca que um fantasma, e Megan parecia que a qualquer momento iria desmaiar.
Quando a tensão se alongou por um tempo excruciantemente demorado, Frank se levantou do chão com as pernas trêmulas e olhou para o filho ainda no chão.
"Se intrometa novamente, garoto, levante a voz ou a mão para mim de novo e eu juro que vou tirar tudo de você." Ele tossiu, massageou o pescoço e completou: "Eu reduzo aquele orfanato às cinzas, juro por Deus. Eu acabo com a merda da sua vida."
Ele então agarrou a garrafa de Vodca de cima da mesa, deu um profundo gole direto do gargalo e saiu da sala sem olhar para trás.
"Relaxa, Rebecca. Está ouvindo? Relaxa. Se você passar, ótimo! Se não... Ah, droga, quem eu quero enganar? Eu tenho que passar."
Becca se olhou no espelho uma última vez antes de pegar a mochila e descer para pegar uma carona com Simon até o colégio. Ela passou as mãos pela calça jeans e a blusa colorida, tentando alisá-las o máximo possível. O cabelo estava solto, mas ela tinha passado um laço rosa clarinho em torno da cabeça.
"Tudo ótimo", ela sussurrou para si mesma, tentando se convencer mentalmente que não era louca por falar sozinha. "Tudo perfeito. Estou pronta."
Ela se despediu de Nick com um afago na cabeça e desceu as escadas de sua torre de dois em dois degraus.
Era isso. Aquele era o dia.
Além de saber se iria ou não cantar no festival de talentos, aquele seria o seu primeiro dia na escola depois da festa fatídica de sábado. Rebecca colocara na cabeça que, se sobrevivesse àquele dia, nada mais teria o poder de abalá-la.
Enquanto tomava seu café da manhã na companhia da mãe e dos irmãos na cozinha de casa, ela checou o celular pelo menos três vezes, esperando encontrar algo que definitivamente não estava lá.
Desde que Kevin a deixara em casa depois do almoço em sua casa, ele não tinha mandado nenhuma mensagem nem respondido as que ela tinha enviado. Becca estava tentando não dar muita atenção àquilo, mas a verdade era que algumas horas sem conversar com Kevin já tinha mostrado ser algo bastante incômodo.
Nas últimas semanas, ela tinha se acostumado à presença dele de uma maneira que nunca pensou ser possível com um garoto, muito menos com ele. Mas era aquilo, tinha acontecido e agora Kevin MacCormack era alguém importante em sua vida.
Quem diria...
"Boa sorte com a seleção, querida", a mãe de Becca falou naquele instante, do outro lado da mesa. "Eu tenho certeza que você passou."
Becca forçou-se a sorrir.
"Eu espero que sim. Te mando uma mensagem assim que descobrir o resultado."
Julie lançou uma piscadela para a filha e sorriu.
"Não surte, ok?"
"Estou tentando..."
Naquele instante Simon se levantou e fez sinal para Rebecca.
"Melhor a gente ir então. Tenho certeza que você não quer chegar atrasada hoje."
Rebecca assentiu e terminou rapidamente de comer, despedindo-se da mãe e dos irmãos mais novos antes de seguir Simon para fora da casa.
Becca checou o celular de novo, mas nada de Kevin. Tentou não ficar aborrecida com aquilo, aliás, ele também tinha uma vida e outras pessoas além dela. É claro que sim. Era ridículo que estivesse tão consternada com o breve sumiço dele.
Ela olhou para Simon e percebeu que o irmão também parecia entretido com o próprio celular. Ele sorria para a tela de um jeito boboca e tropeçou em uma pedra solta da trilha que levava até a garagem de casa.
"Com quem você está conversando?", Becca perguntou cuidadosamente, tentando esconder o sorriso que ameaçava tomar conta de seu rosto.
Simon olhou para ela sobressaltado e no mesmo instante escondeu o celular no bolso da calça.
"Com ninguém", ele respondeu rápido demais.
Becca sentiu uma onda de satisfação lhe invadir.
"É uma garota?"
"Não tem garota nenhuma."
"Vou te encher o saco até que você me conte quem é."
"Então graças a Deus que a cidade não é muito longe, não é? Já, já te deixo no colégio."
Rebecca riu e entrou no carro velho da família enquanto Simon dava partida, aos poucos se distanciando da casa.
"Mas e você com aquele Kevin?", o irmão perguntou, erguendo uma sobrancelha para Rebecca. "Aquilo lá é só amizade mesmo ou..."
"Nem vem", Rebecca gemeu, sentindo-se corar até o último fio de cabelo. "Já disse um milhão de vezes que não tem nada entre a gente."
Simon sorriu e deu de ombros, em seguida ligando o rádio numa estação de música Country.
"Se você insiste, maninha..."
Quando Simon a deixou em frente ao colégio, Rebecca se agarrou com força à alça da mochila e desceu do carro, encarando o mar de alunos como se eles fossem tubarões prestes a devorá-la.
Porém, logo percebeu que ninguém estava apontando para ela e cochichando para os amigos, na verdade, tudo parecia bem normal. Tirando o fato que foi parada pelo menos três vezes antes de entrar no colégio por pessoas que nem sabia o nome, mas que mencionavam animados a festa de Max no sábado à noite, tudo estava tranquilo. Durante as breves conversas, Becca forçou-se a sorrir e agir naturalmente, tentando a todo custo não precisar dizer o nome de qualquer uma daquelas pessoas em voz alta.
Graças aos céus, Mandy a socorreu antes que Becca passasse uma vergonha ainda maior. Assim que a amiga lhe livrou de duas garotas tagarelas que falavam em parar sobre a festa de Max, Mandy perguntou de onde Becca as conhecia.
Bom, agora não tinha mais escapatória. Ela disse de forma rápida, como se tivesse tirando um band-aid:
"Fui numa festa sábado à noite. As conheci lá."
Mandy parou no meio do corredor como se Becca tivesse revelado ser uma espiã do FBI disfarçada.
"Uma festa?", ela praticamente gritou. "Como assim uma festa, Rebecca?"
"Uma festa, ué", Becca disse, tentando dar menos importância àquilo. "Decidi experimentar. Nada demais."
Mandy semicerrou os olhos e cruzou os braços.
"E com quem você foi nessa festa, hein?"
Becca engoliu em seco.
"Eu..."
"Ok, não precisa inventar uma desculpa qualquer", Mandy disse, balançando a cabeça e fazendo uma cara de desaprovação. "Já sei com quem você foi. Estava me perguntando quando iria me contar sobre seu rolo com MacCormack."
Rebecca deixou o queixo cair sem cerimônia e olhou para Mandy como se ela fosse uma bruxa ou algo assim.
"Como você..."
"Ah, pelo amor de Deus, Becky." Mandy revirou os olhos e se aproximou mais da amiga. "Qualquer um com olhos poderia ver como vocês tem se olhado nas aulas que têm em comum, como se se conhecessem e partilhassem uma piada íntima. Além do mais, eu meio que vi algumas das mensagens que vocês trocaram. Desculpa, mas você é a única pessoa do mundo que ainda coloca a data de aniversário como senha do celular. A culpa é sua."
Becca não respondeu. Estava dividida entre o choque e a vontade de rir. Então Mandy já sabia sobre Kevin... Mas estava preocupada com o quanto ela sabia.
"Relaxa, não invadi muito a sua privacidade", a amiga disse, como se tivesse lido seus pensamentos. "Na verdade, não li quase nada, mas quero saber como vocês começaram a conversar." Ela então fez uma cara chateada. "E acho que você deve saber que estou profundamente chateada por ter escondido isso de mim."
Becca riu e segurou o braço da amiga.
"Desculpa, Mandy. É só que... É uma história confusa. A gente se conheceu meio que por acaso e estamos conversando de vez em quando. Somos só amigos, ok? Nada de suposições malucas."
Mandy fez uma cara de desconfiada.
"Quem em plena consciência seria só amiga daquele gato? Fala sério, Becca! Se você beijar ele eu até te perdoo por não ter me contado antes."
Rebecca riu e deu um empurrãozinho em Mandy, sentindo as bochechas arderem ao pensar em beijar Kevin.
A cena... Céus, a cena era estranha. Mas ela não tinha certeza se era um estranho bom ou ruim. Era só... Não sabia descrever, e também não sabia se aquele calor que estava sentindo no momento tinha alguma coisa a ver com...
Antes que pudesse concluir o pensamento, Mandy puxou seu braço e Becca foi brutalmente puxada para a realidade.
"Olha!", ela sussurrou, apontando para o fim do corredor onde um dos zeladores do colégio parecia pregar algo no quadro de avisos. "Só pode ser a lista dos selecionados, Becca!"
Rebecca sentiu seu coração triplicar a velocidade de batimentos cardíacos. De repente, sua boca ficou seca como papel e todos os barulhos externos se silenciaram.
Ela sentiu seu braço ser puxado por Mandy, e viu quando uma pequena aglomeração de alunos se juntou para ler o anúncio no quadro. Suas pernas pareciam se mover automaticamente e, quando chegou até lá, não teve nem tempo de passar os olhos pela lista antes de Mandy gritar algo em seu ouvido e puxá-la para um abraço desajeitado.
"Eu sabia! Sabia!"
Becca sentiu uma onda de alívio tomar conta de cada célula do seu corpo, ao mesmo tempo em que se virava e via com os próprios olhos o nome na lista dos selecionados. E de repente tudo se tornou real e palpável. Ela iria cantar no festival. Cantar para centenas de pessoas. Tinha uma chance.
Estava dividida entre surtar e rir de felicidade.
"Obrigada", ela forçou-se a dizer para a amiga, que pulava ao seu lado como uma criança que acabara de ganhar um presente de Natal. "Se você não tivesse me convencido..."
"Não me agradeça ainda", falou Mandy com um sorriso enorme. "Só me agradeça no fim, se você ganhar."
Rebecca sorriu e assentiu em silêncio, abraçando Mandy com força. Naquele instante, viu Melissa Jones se aproximar do anúncio e sorrir triunfante. Ela se virou para as amigas populares e incrivelmente bonitas e disse:
"Eu passei, é claro. Eu já sabia."
Então o olhar dela deve ter sido atraído pelo de Rebecca, pois Melissa a olhou de maneira fria e voltou-se para a lista dos selecionados. Um momento se passou até seu rosto se endurecer por completo.
Devagar, ela se aproximou de Rebecca.
"Depois, não diga que eu não te avisei, Uziel."
E jogando os longos cachos por um dos ombros, ela saiu pelo corredor com a confiança nata que apenas Melissa Jones era capaz de ter.
"Ainda não sei porque você era amiga dessa garota, Becky", Mandy sussurrou, puxando Becca para longe das pessoas que se aglomeravam cada vez mais em torno do quadro de avisos. "Ela é uma metida insuportável."
"Ela não era assim antes", Becca sussurrou baixinho. O comentário de Melissa havia ofuscado um pouco a felicidade que tinha sentido antes.
Mandy começou a tagarelar algo sobre como aquilo era impensável quando o olhar de Becca foi atraído para o fim do corredor. Ali, encostado relaxadamente em um armário, Kevin MacCormack piscou para ela.
Becca sentiu o sorriso se espalhar por cada centímetro de seu rosto e o coração palpitar descontrolado no peito. Ele não tinha sumido afinal.
Mandy devia ter notado a dispersão da amiga, pois olhou por cima do ombro e soltou um gritinho ao olhar para Kevin.
"Parece que alguém mais quer te dar parabéns", Mandy disse com um sorrisinho provocante. "Anda logo, o que você está esperando? Vai lá."
Rebecca não precisou ouvir duas vezes. Um pouco envergonhada, se aproximou de Kevin.
A primeira coisa que percebeu ao olhar para ele, foi o curativo discreto que tinha na bochecha. Antes que pudesse perguntar o que era aquilo, ele disse:
"Eu te avisei, não avisei?", ele falou com aquele sorriso convencido. "Avisei que iria passar."
"É, avisou", Becca provocou, sem conseguir parar de sorrir. "Mas mesmo assim gostei da surpresa."
Kevin riu e jogou algo que estava segurando para cima. Por extinto, Rebecca agarrou e viu o que era.
"Eu amo esse chocolate!", ela exclamou quando viu o doce embrulhado em sua mão. Impressionada, olhou para Kevin. "Como você sabia?"
"Adivinhei."
Ela soltou uma risadinha e olhou para ele.
"Você sumiu ontem", ela disse baixinho, tentando não parecer ressentida ou boba. "Te mandei algumas mensagens e você não respondeu. Fiquei... preocupada."
O brilho no olhar de Kevin se apagou no mesmo instante. Becca viu seu sorriso desaparecer e percebeu quando ele encarou o chão.
"Pois é. Meu celular acabou a bateria e eu não sabia onde tinha metido o carregador. Só fui achar hoje de manhã." Ele então a encarou novamente e sorriu de maneira provocante. "Já está tão viciada em mim desse jeito, loira? Sabia que a minha companhia é irresistível, mas não sabia que provocava um efeito tão rápido nas pessoas."
Rebecca forçou-se a sorrir, mas a verdade é que não acreditava muito naquela história do carregador. Mas por que ele mentiria para ela, afinal? Não sabia muito bem o que pensar.
"E isso aí no seu rosto? Brigou com um gato, foi?"
Kevin levou a mão à bochecha instintivamente.
"Mais ou menos", ele falou, mas quando ficou claro que não entraria em mais detalhes, Rebecca se sentiu desconfortável.
"Todo mundo está olhando para a gente", ela comentou baixinho, quando percebeu que, assim como na festa de sábado à noite, muitos alunos do colégio olhavam de Kevin para ela, provavelmente se perguntando o que um cara como ele estava fazendo com alguém como ela. Provavelmente eles seriam assunto dos fofoqueiros por alguns dias.
"Eu não me importo muito", disse Kev então, dando de ombros. "E você?"
Becca mordeu o lábio inferior antes de responder.
"Não", admitiu por fim.
"O que você acha de darmos mais assunto a eles?"
"O quê..."
Mas antes que ela completasse, Kevin se inclinou e lhe deu um beijo na bochecha, em seguida a puxando para um abraço que era tudo, menos desconfortável.
Ele era bem maior que ela, por isso Becca teve de ficar na ponta dos pés para alcançar seus ombros. Enquanto estava ali, envolta no corpo absurdamente quente de Kevin MacCormack, sentiu o coração vibrar.
Nada parecia mais certo no mundo.
Ele então se afastou, abrindo um sorriso provocante e despreocupado. Ela ainda conseguia sentir os lábios dele em sua bochecha, quentes e macios.
"Por que fez isso?", ela perguntou então, tentando encontrar as palavras que pareciam ter se perdido no caminho entre seu cérebro e a boca.
"Se vamos ser assunto, então que tenhamos realmente feito algo para as pessoas comentarem." Ele então se inclinou para ela. "Além do mais, tô tentando cumprir minha parte no acordo. Comigo do seu lado você vai ser a garota mais comentada desse colégio rapidinho."
Rebecca revirou os olhos, não sabendo muito bem como se sentir sobre aquilo.
"Você é a pessoa mais metida e convencida que eu já conheci", disse por fim.
"E o mais bonito também."
De jeito nenhum ela concordaria com aquilo em voz alta.
Naquele instante Rebecca viu um garoto e uma garota de mãos dadas se aproximarem. Ela os reconheceu como Max e Alana.
"Acabamos de ver seu nome na lista dos participantes do festival", Alana disse se aproximando de Rebecca. "Boa sorte!" Ela então a abraçou calorosamente.
"Vamos estar na primeira fila torcendo por você", comentou Max com uma piscadela. "E nem pense em se esquecer da gente se pegar um voo para Los Angeles."
Rebecca riu e sentiu o coração bater mais forte. Com um aceno, chamou Mandy para se juntar a eles, e a amiga logo se enturmou com Max e Alana.
Enquanto conversavam, Rebecca vez ou outra lançava um olhar para Kevin. Ele parecia distraído, aquele brilho em seus olhos não estava realmente ali. Ela sabia que tinha algo errado, mas não tinha certeza se ele a contaria o que tinha acontecido.
E aquilo era triste, pois ela confiava em Kevin. Confiava muito. Queria que ele sentisse o mesmo que ela, pois agora, olhando para aquele garoto doce e gentil e para aquele bombom em sua mão, ela sentiu algo que nunca tinha experimentado antes surgir em seu peito.
E não fazia ideia de como lidar a respeito.
__________________❤️____________________
Oii gente! Capítulo novinho para você! Gostaram?
Uau, esse foi difícil de escrever hahaha. Vocês já devem imaginar o motivo. O que acharam do que aconteceu entre Kevin e o pai? Tenso, né? E a Becca? Ela está oficialmente no festival de talentos! Alguém tinha dúvidas?
Me contem tudo aqui nos comentários, estou louca para papear com vocês.
Muitos beijos!
Ceci.
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