• Capítulo Dezesseis •


A luz forte do sol que entrou pela janela fez com que Kevin acordasse. Ele se remexeu em meio aos lençóis e abriu os olhos, percebendo que provavelmente havia ficado na cama mais do que o usual. Mas não se importava. Era domingo.

Enquanto estava ali deitado naquele estado grogue e preguiçoso, lentamente as lembranças da noite anterior lhe invadiram. Ao se dar conta daquilo, levantou-se da cama em um pulo e procurou pelo celular na escrivaninha bagunçada.

Assim que o encontrou, mandou uma mensagem para Rebecca.

Kevin: Bom dia, loira. Já acordou? Está com dor de cabeça?

Ele ficou olhando para a tela ansiosamente, esperando que ela ficasse online e lhe enviasse uma resposta.

Depois de levar Rebecca para casa um pouco antes da meia-noite, ela já parecia bastante bem, embora reclamasse sem parar que queria dormir e estava morta de cansaço.

Quem os recebeu, é claro, foi Julie Uziel. Se ela percebeu que a filha tinha recentemente passado por uma bebedeira, não demonstrou, pois Rebecca rapidamente subiu até seu quarto e não apareceu mais. Kev não sabia se chegar um pouco antes do horário marcado fez com que Julie lhe odiasse um pouco menos por ter tirado sua preciosa filha do ninho, mas ele esperava que sim.

Algo lhe dizia que estar na lista negra da mãe de Rebecca era de longe a coisa que ele menos queria na vida.

Enquanto Rebecca não respondia, Kevin foi escovar os dentes e trocar de roupa. Não tinha muitos planos para aquele dia, embora um colega de time o tivesse chamado para uma festa na piscina mais tarde. Talvez programasse algo com Megan e adiantasse as tarefas da semana para o colégio.

Ele estava passando uma camisa pela cabeça quando ouviu seu celular apitar. Algo em seu peito se remexeu instantaneamente e ele apressou-se a vestir a camisa, pegando o celular e abrindo na conversa de Rebecca.

Rebecca: Nem me fale de dor de cabeça. Estou morrendo de vergonha por ter ficado bêbada. Me desculpe se te dei trabalho.

Kevin sorriu ao ler a mensagem, conseguindo visualizar com perfeição o rosto corado de Rebecca naquele momento. Era claro que ela estava com vergonha, embora, na opinião dele, não houvesse motivo algum para aquilo.

Kevin: Você deu um belo show ontem à noite. Mas, se isso te consola, você não me deu trabalho nenhum e tenho certeza que seu plano de ficar popular subiu em 100% depois que começou a dançar em cima da mesa.

Rebecca: Eu dancei em cima da mesa??? Eu nunca mais vou pisar no colégio de novo...

Kev riu com gosto.

Kevin: É claro que vai. Mas você não se lembra de nada mesmo?

Rebecca: Só de alguns flashes, mas nada muito específico. Quero morrer de tanta vergonha...

Ele hesitou antes de responder. Se ela não se lembrava da noite anterior, aquilo queria dizer que provavelmente boa parte da conversa que tinham tido debaixo daquela árvore também havia sido apagado da mente dela.

E... Bom, por que ele se importava, afinal?

Se pensasse bem no assunto, poderia até ficar aliviado com aquilo. Se Rebecca não se lembrava de nada, aquilo queria dizer que a história que ele havia contado a ela a respeito de uma parte da sua infância também havia sido esquecida. O que era bom.

Durante toda a noite depois da festa, Kevin tinha ficado acordado pensando no que tinha dito a ela e o motivo pelo qual revelara tanto. É claro que tinha tentado consolá-la quando estava aos prantos, dizendo como gostaria de ser mais corajosa para viver a vida, mas não se sentindo boa o suficiente para fazê-lo. Porém, ao dizer aquelas coisas a ela, Kevin também sentiu que tinha se exposto um pouco demais. Confiava em Rebecca, é claro que sim, mas a verdade era que não tinha certeza se queria que ela soubesse muito a seu respeito ou sobre seu passado.

Havia coisas que ele preferia deixar guardadas, bem fundo em algum lugar dentro dele onde talvez não ferissem tanto. O problema era que, enquanto estava com Rebecca debaixo daquela árvore, ele também desejou, mesmo que inconscientemente, que tivesse a coragem que ela tinha de expor suas fragilidades e suas tristezas sem medo de ser julgada.

Não que ele tivesse tantas fragilidades e tristezas... Pelo menos, tentava pensar assim.

Ao perceber que estava de novo se afogando em pensamentos, ele voltou-se para o celular e digitou:

Kevin: Você não deu um vexame tão grande, se quer saber. Na verdade, metade das pessoas na casa de Max ontem estavam tão ou mais bêbadas do que você, por isso também não devem se lembrar de muita coisa. Nada de ficar paranóica, ok?

Rebecca: Vou tentar. Mas juro que nunca mais bebo na vida!

Kevin: Todos dizem isso...

Com um sorrisinho ele saiu do quarto, ouvindo a barriga roncar em protesto por um belo café da manhã. Ao chegar à sala de jantar, viu a mesa posta e a mãe sentada em uma das cadeiras da ponta. Havia uma pilha de papéis ao seu lado e ela digitava furiosamente no laptop.

"Bom dia", ele disse, puxando uma cadeira e já atacando um bolinho doce.

"Bom dia, querido", ela respondeu vagamente, sem nem erguer o olhar. "Você até que chegou cedo ontem."

"Estava me esperando acordada?", Kev perguntou, se servindo de um pouco de café. Fazia um tempo que a mãe tinha desistido de esperá-lo acordada depois de uma festa no fim de semana, principalmente porque ele quase nunca chegava antes das três da manhã.

Mas já havia dois fins de semana que aquilo não acontecia. Desde Rebecca.

"Na verdade, eu estava trabalhando", ela respondeu. "Ouvi quando você abriu a garagem."

"Isso tudo são papéis do orfanato?", ele perguntou, ao lançar um olhar para todas aquelas coisas na mesa.

"Na verdade, não."

"Então o que é?"

Virginie finalmente desgrudou os olhos da tela do laptop e olhou para o filho, que agora remexia no cesto de frutas.

"Estou fazendo parte da comissão organizadora do festival de talentos do seu colégio esse ano. Estou atolada de coisas para fazer."

Kevin quase engasgou com a maçã que estava comendo. De olhos arregalados, ele olhou para a mãe.

"Desde quando a senhora está participando disso?"

"Desde o início da semana, quando sua diretora me convidou para fazer parte."

Kevin encarou a mãe, processando a informação.

Virginie havia se formado em letras há mais de vinte anos, mas ela lhe contara que depois do casamento com o pai tinha abandonado as salas de aula e se dedicado completamente à gestão do orfanato e à administração da empresa da família, já que detinha boa parte das ações. Às vezes, quando ela dizia se sentir ociosa, acabava se envolvendo em algum projeto relacionado à educação nas escolas de Luncarty. O pai sempre a aborrecia quando ela estava envolvida em algo do tipo, dizendo que deveria ocupar seu já pouco tempo livre com algo rentável, ou até mesmo se dedicar mais aos negócios da empresa. Ele havia feito tanta tempestade por conta daquilo que ela acabara abandonado por um tempo a educação.

Mas agora parecia que tinha mudado de ideia.

"E o que exatamente a senhora está organizando?", perguntou Kevin.

"Mais coisas relacionadas ao dia do evento. Luzes, músicas, a estrutura do palco... E também estou responsável por escrever os anúncios relacionados ao festival." Ela abriu um sorrisinho, olhando para a tela do laptop. "Estou fazendo a diagramação da lista dos selecionados agora."

Não houve erro daquela vez. Kevin se engasgou com a maçã.

Ele tossiu tanto que Virginie se levantou e deu tapas nas costas do filho.

Quando Kev finalmente conseguiu puxar algum ar para dentro de seus pulmões, se levantou da cadeira e foi até onde o computador da mãe estava. Ao passar os olhos pela lista de classificados, um sorriso se espalhou por seu rosto ao ver com clareza o nome de Rebecca na tela.

"Ela passou!", ele exclamou sem pensar, olhando do computador para a mãe com o maior sorriso do mundo. "Ela passou!"

"Quem passou?", Virginie perguntou, olhando para o filho como se ele tivesse enlouquecido.

"Rebecca. Rebecca Uziel. Ela é... minha amiga."

Lentamente, os olhos de Virginie se iluminaram e ela bateu palmas.

"É mesmo? Eu estava conversando com os jurados ontem à noite e eles me contaram que uma garota havia se destacado muito. Tenho certeza que eles disseram que o nome dela era Rebecca."

Kevin sentiu o coração dar um salto. Becca ficaria radiante. Precisava contar a ela...

Virginie viu quando o filho sacou o celular do bolso da calça, mas antes que ele pudesse fazer qualquer coisa ela correu até ele e tirou o aparelho de suas mãos.

"Você não vai contar a ela! O resultado só sai amanhã e se mais alguém ficar sabendo que ela soube da classificação antes, pode achar que Rebecca está sendo favorecida de alguma forma." Virginie olhou feio para o filho. "De jeito nenhum. O senhor vai ficar de bico fechado e esperar até que ela saiba amanhã, junto com todos os outros."

Kevin, embora quisesse ligar para Becca no mesmo instante e dar a notícia, concordou que a mãe tinha razão. Era melhor que fosse uma surpresa e que ela soubesse daquilo normalmente, no dia seguinte.

Ele mal podia esperar para ver a reação dela...

"Você poderia convidá-la para almoçar aqui em casa hoje", Virginie disse naquele instante, os olhos brilhando.

"Almoçar?"

"Isso mesmo. Eu adoraria conhecê-la. Todos falaram tão bem da voz dela, e se ela é sua amiga... Você não traz muitos amigos aqui a não ser Max."

"Ela é tímida", Kevin respondeu. "Duvido muito que aceitaria."

"Bobagem!", exclamou Virginie com um gesto displicente. "Almoços de domingo são bem melhores com pessoas a mais. Além disso, ser gentil de vez em quando não mata ninguém..."

"Quem vocês querem convidar para almoçar?", uma voz perguntou naquele instante. Kevin se virou para Megan.

"Uma amiga de Kevin", respondeu Virginie.

"Amiga, é?" Megan cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha para o irmão. "Desde quando você está namorando, irmãozinho?"

"Eu não estou namorando!", respondeu ele, sentindo a ponta das orelhas queimarem. "Eu por acaso tenho cara de quem namora? Ela é só uma conhecida."

"Está bem", respondeu Megan, mas aquele sorriso provocante ainda estava em seu rosto. "Eu vou fingir que acredito."

Kevin revirou os olhos. Naquele instante, percebeu que a irmã vestia um vestidinho de mangas curtas, e viu que não havia mais sinal dos hematomas em seus braços.

Como havia feito por toda a semana, se perguntou se a mãe havia visto os machucados antes que eles desaparecem por completo. Ele esperava que não.

"Então está decidido", falou Virginie contente, colocando o celular na mão de Kevin. "Ligue para ela. Se for preciso posso conversar com seus pais..."

"Enquanto ao meu pai?", ele perguntou antes de discar o número, tentando não soar apreensivo. "Ao contrário da senhora e Megan, ele não é do tipo que gosta de pessoas novas em casa. Não quero que ele a deixe desconfortável."

Kev viu quando a mãe mordeu o lábio inferior e desviou os olhos, abraçando a si mesma em um gesto instintivo.

"Deixa que eu lido com seu pai", ela disse por fim. "Nós quase nunca temos alguém diferente por aqui, uma vez só não vai matá-lo."

Kevin ficou em silêncio, olhando para o celular.

Imaginar Rebecca ali, na sua casa, era ao mesmo tempo bom e apreensivo. De algum modo tê-la ali, com suas roupas coloridas, laços e risadas calorosas, provocava um contraste enorme com a atmosfera meio fria do lugar, principalmente com seu pai por perto.

Mas ele não deixaria que o pai novamente tirasse algo dele. Mesmo algo tão pequeno quanto convidar Rebecca para um simples almoço.

Aquilo, o desafio por fazer algo que o pai não gostaria tanto, foi o que fez digitar os números e ir para o corredor, onde poderia falar com ela em particular.

"De jeito nenhum." Foi o que Rebecca respondeu depois que Kevin terminou de falar.

"Por que não?", ele insistiu, franzindo as sobrancelhas.

"Porque não", ela respondeu do outro lado da linha. "Não tenho coragem."

Kevin abriu um meio sorriso enquanto encarava a parede do corredor.

"Tem vergonha de vir à minha casa para um almoço? Por quê?"

"Porque sim."

"Sabe, você não costuma ser tão obtusa."

"Sinto desapontá-lo, mas nem sempre temos respostas inteligentes e bem articuladas para tudo na vida. Às vezes, um não é simplesmente um não. Sem motivos."

"Sempre há motivos."

"E você sempre é tão insistente..."

Kevin riu. Quase podia ver a expressão resoluta de Rebecca a sua frente.

"Minha mãe gosta muito de música e está louca para conhecer os possíveis participantes do festival, como acabei de te falar", Kevin disse calmamente. "É só um almoço, loira."

"Por que você não me disse antes que sua mãe estava na comissão organizadora do festival?", ela perguntou, obviamente tentando mudar de assunto.

"Ela só me contou agora, então eu também não sabia. Mas, então, você vem?"

"Não."

"Por quê?"

Do outro lado da linha, Kevin ouviu Rebecca soltar uma risada exasperada.

"Podemos ficar nisso o dia todo, queridinho."

"Pode apostar que sim, queridinha."

Se ela era teimosa, ele podia ser cem vezes mais. Sem problema nenhum.

Rebecca parecia ter noção disso, pois ele a ouviu suspirar pesadamente, como se estivesse passando por um terrível martírio.

"Kevin, o que minha mãe vai pensar?", ela soltou por fim, baixinho. "Ela já está com uma pulga atrás da orelha desde que soube que você é o mesmo cara com quem saí para aquele piquenique na semana passada. Se eu falar para ela que estou indo até sua casa para um almoço de domingo, vai ser o mesmo que admitir que estamos juntos, com casamento marcado e prontos para ter filhos!"

Kevin riu da comparação.

"Não parece ser um cenário muito ruim."

"Você pode parar de fazer graça?", ela resmungou irritada.

Kevin engoliu o riso e se endireitou, agora andando pelo corredor.

"Certo, escuta. É só um almoço. Você sabe disso, minha mãe sabe disso e eu também sei disso. Se sua mãe ficar desconfiada, só explique para ela que somos amigos e que minha mãe quer te conhecer porque está fazendo parte da organização do festival. Simples. Se ela não acreditar..." Kevin suspirou e passou uma mão pelo cabelo. "Você realmente se importa se ela não acreditar?"

Rebecca ficou em silêncio por alguns segundos. Kevin não a pressionou.

"Não sei", ela admitiu por fim, em seguida suspirando de novo. "Quer dizer, talvez. É só que... Ela parece meio assustada, entende? Eu sempre fui de ficar em casa, de no máximo ir até a casa de Mandy ou tomar um sorvete... Ela está meio confusa e eu entendo isso."

"Eu também. Mas talvez esteja na hora dela perceber que seu círculo social está crescendo e que isso não tem necessariamente a ver com você estar saindo romanticamente com alguém."

"Sair romanticamente?" Ela soltou uma risada abafada. "Acho que nunca ouvi isso antes."

"Então, você vai vir." Não era uma pergunta.

"Pelo jeito, vou. Além do mais, não quero fazer desfeita do convite da sua mãe."

Kevin abriu um sorrisinho e sentiu uma onda de animação lhe invadir.

"Isso aí. Te pego pouco antes de meio-dia, o que acha?"

"Tem certeza? Posso pedir para o meu irmão me levar."

"Relaxa, loira, não vai ser problema nenhum."

"Tudo bem então... Vou preparar alguma coisa."

"Não precisa."

"Cala a boca. Me deixe pelo menos não chegar de mãos vazias."

Kevin sorriu.

"Como quiser."

"Até daqui a pouco."

"Até daqui a pouco."

Então ele desligou, percebendo naquele instante que seu coração batia acelerado.

Droga, que merda estava acontecendo com ele?!

"Puxa, essa garota mora longe mesmo, hein?", disse Megan, enquanto olhava a paisagem pela janela.

"É só um quilômetro da cidade. Já estamos chegando. Aliás, ainda não sei porque você quis vir", resmungou Kevin, dirigindo pela estrada de terra que já havia se tornado tão familiar para ele nos últimos dias.

"Ora, quero conhecer sua namorada primeiro do que todo mundo lá em casa", ela falou despreocupadamente, colocando os pés no painel do carro e sorrindo para o irmão.

"Ela não é minha namorada, Megan. Pode parar de insinuar isso? Se Rebecca ouvir, no mínimo vai pular do carro e morrer de vergonha."

Megan riu com gosto.

"Eu gosto de pessoas tímidas. Geralmente elas nunca nos decepcionam."

Kevin pensou em Rebecca e nos momentos que eles já tinham passado juntos. Ela nunca o tinha decepcionado, mas ele pensava que aquilo tinha menos a ver com o fato de ela ser tímida e mais com seu caráter e jeito de ser.

Naquele instante a estrada começou a se alargar e as árvores ficaram mais distantes e escassas. Menos de dois minutos depois, a casa de Rebecca foi vista em uma ampla clareira.

"Que legal!", Megan exclamou naquele instante, tirando os pés do painel e olhando maravilhada para a casa. "Parece um castelinho!"

Kevin riu e apontou para a torre anexada à casa.

"E o quarto de Rebecca fica bem ali."

"Adorei!"

Então Kevin estacionou o carro perto de uma árvore e desceu, Megan o acompanhando de perto. Eles estavam quase chegando à porta da frente quando um barulho os fez olhar para o bosque à direita. Ali, perto das árvores, havia um rapaz sem camisa cortando lenha.

"Uau", Megan sussurrou naquele instante, sem desgrudar os olhos do rapaz. "Quem é esse deus?"

"Acho que é o irmão mais velho de Rebecca", Kevin respondeu, franzindo as sobrancelhas para a irmã em seguida. "E você está encarando demais."

"E tem como não encarar?"

Naquele instante o rapaz ergueu os olhos e encarou os irmãos MacCormack. Ele enxugou o suor da testa e cravou o machado em uma tora de madeira, em seguida se aproximando deles.

"Oi", ele cumprimentou quando chegou até eles. Seus olhos, tão parecidos com os de Rebecca, se fixaram em Kevin. "Você deve ser o Kevin. Minha irmã falou de você." Ele estendeu a mão que Kev não hesitou em apertar. "Sou Simon."

"É um prazer te conhecer, Simon." Kevin abriu um sorriso. Se não conseguia conquistar a mãe de Rebecca, que pelo menos conseguisse agradar seu irmão mais velho. "Essa aqui é minha irmã, Megan."

Simon girou os olhos para Megan e abriu um pequeno sorriso. Kevin, que conhecia a irmã desde que se entendia por gente, viu o leve rubor que lhe subiu as bochechas. Sem querer, sentiu uma onda de ciúme invadir seu peito. Aquele cara não podia vestir uma camisa?

"Becky me contou que vai almoçar com vocês hoje", Simon continuou, depois de apertar a mão de Megan. "Vou chamá-la. Acho que está na cozinha."

Ele subiu as escadas para a pequena varanda da frente e abriu a porta, os convidando para entrar. Simon indicou um sofá no hall de entrada e Kev e Megan se sentaram, esperando.

Eles tinham acabado de se acomodar quando Kev viu duas crianças espiarem por uma porta no corredor à direita. Eles mantinham o corpo escondido em um cômodo enquanto os olhavam com interesse.

Kevin ergueu uma mão e acenou. Ao perceberem que ele os tinha notado, as crianças soltaram gritinhos e voltaram a se esconder.

"Quem são eles?", perguntou Megan com um sorrisinho.

"Acho que são os irmãos mais novos de Rebecca."

"Meu Deus! Quantos irmãos essa menina tem?", ela perguntou de olhos arregalados. Kevin riu.

"Três."

Então as crianças, provavelmente vencidas pela curiosidade, voltaram a surgir no corredor e lentamente se aproximaram.

"Oi", Kevin disse com um sorriso. "Não precisam ter medo. Somos legais."

"Bem, eu sou legal", disse Megan, também sorrindo. "Já esse garoto feio ao meu lado eu não sei."

Kevin lhe deu uma cotovelada de leve nas costelas, o que a fez soltar um gemido de dor exagerado. As crianças riram e se aproximaram mais.

"Quais são seus nomes?", Megan perguntou.

"Eu sou Gabrielle", a garotinha disse. Ela devia ser um pouco mais velha que o menino e tinha longos cabelos, assim como a irmã mais velha.

"E eu sou o Fred", o garotinho respondeu envergonhado.

"Você deve ser o garoto que minha irmã saiu ontem à noite", Gabrielle disse, agora olhando atentamente para Kevin. "Vocês são namorados?"

Ao seu lado, Megan soltou uma gargalhada.

"Não", ele explicou pacientemente pelo que devia ser a centésima vez naquele dia. "Somos só amigos."

"E ela?", Fred perguntou, apontando para Megan. "Ela é sua namorada?"

Kevin fez uma careta monstruosa.

"Não. É minha irmã."

Gabrielle e Fred riram. Agora já estavam bem perto deles.

"Ela nem parece ser minha irmã, não é?", Kevin continuou, agora dando total atenção às crianças. "Ela é muito feia e eu sou lindo de morrer."

Megan lhe deu um tapinha nas costas, mas estava rindo, assim como Fred e Gabrielle. Quando Simon e Rebecca finalmente chegaram, a garotinha já estava sentada em uma das pernas de Kevin e Fred na outra, os dois falando acelerados sobre a escola e os amigos que tinham.

"Parece que você conheceu meus irmãos", Becca comentou com um sorrisinho ao ver a cena. "Espero que eles não tenham te cansado."

"Que nada. Eles são bem bonzinhos. Além do mais... por que você não me disse que eles eram tão legais?"

Gabrielle corou e olhou para Kev como se ele fosse um herói, enquanto Fred estendia a mão e batia com ela na de Kevin.

"Agora eles nunca mais vão te deixar em paz", respondeu Rebecca rindo. "Você vai ver."

Kevin se levantou e só então reparou em Rebecca direito. Ela estava vestindo um vestido de estampas de girassóis e tinha um laço amarelo na cabeça, prendendo o rabo de cavalo que usava.

Estava linda daquela sua maneira natural e espontânea. Tão... ela.

Ele então apresentou Megan para Rebecca e viu quando ela corou, envergonhada. Mas Megan era toda sorrisos e gentileza, por isso Becca logo pareceu ficar mais confortável.

"Minha mãe fez uma torta para a sobremesa", ela anunciou então. "Nem sei do que é, mas ela deixou na geladeira. Pode me ajudar a buscar, Kevin?"

Kev tinha certeza que Becca não precisava de ajuda para pegar uma torta, e o olhar de advertência que Simon lhe lançou também não era nada convidativo. Porém, levando em conta que ele também estava deixando sua irmã sozinha com ele, pensava que estavam quites.

Ele seguiu Rebecca para mais dentro da casa.

"Então, onde está sua mãe?", Kevin perguntou para Becca, quando eles entraram na cozinha vazia.

"Teve de sair há meia hora para o turno dela no hospital. Suponho que você esteja aliviado com isso", ele disse a última frase com um sorriso irônico.

Aliviado? Aquilo era pouco para o que Kevin realmente sentia.

Não queria encarar os olhares gélidos de Julie tão cedo.

"Que nada. Sua mãe vai acabar me adorando, assim como seus irmãos." Ele sorriu despreocupadamente e se recostou na parede. "E, me fala, como está se sentindo agora?"

Rebecca se encolheu e fez uma careta. Obviamente sabia do que ele estava falando.

"Não quero me lembrar dessa festa tão cedo. Só de pensar..." Ela estremeceu. "Que vergonha!"

Kevin riu.

"Mas seu objetivo misterioso agora está em andamento", ele não deixou de dizer, fitando Becca com atenção. "Logo, logo você vai ser bastante conhecida no colégio inteiro."

"Talvez...", ela murmurou, indo até a geladeira. Sua expressão não era das mais animadas.

Kevin, embora tivesse esquecido aquilo por um tempo, ainda estava curioso sobre aquela parte no acordo dos dois. Era claro que Rebecca não gostava de ser o centro das atenções, então por que estava tentando ser popular?

Embora tivessem combinado não fazer perguntas sobre os motivos um do outro naquele acordo, Kev se perguntava se aquilo poderia ser quebrado graças a recém-adquirida intimidade entre os dois.

Pelo jeito, só saberia se perguntasse.

Mas, antes que fizesse aquilo, Becca tirou da geladeira uma enorme travessa. A torta dentro dela estava coberta por uma calda de chocolate e parecia deliciosa.

"Uau", ela exclamou, olhando ansiosa para a torta. "Minha mãe arrasou."

Kevin riu e se aproximou.

"Talvez eu deva entender isso como um sinal de que ela não se importou com você indo almoçar na minha casa."

"Ah, ela ficou com um pé atrás sim", Rebecca disse, dando de ombros. "Mas depois de se acostumar com a ideia, disse que de jeito nenhum me deixaria ir almoçar no meio de tanta gente rica sem levar um prato digno dos melhores restaurantes. Nem me deixou ficar na cozinha para ajudar."

"Gente rica?", Kevin disse, agora tão próximo de Rebecca que podia sentir o perfume que ela estava usando. Uma mistura de alecrim com algo mais suave que ele não conseguia identificar... "Somos humildes."

Pelo menos, ele pensou, minha mãe, minha irmã e eu somos...

Droga, realmente esperava que seu pai fosse gentil com Rebecca.

"Eu sei disso", ela murmurou. "E... bom, fico feliz que sua mãe tenha me convidado. De verdade."

Kevin sorriu e encarou aqueles olhos verdes que pareciam brilhar mais do que o sol.

"Eu também", admitiu baixinho.

Rebecca piscou e ficou parada por um segundo, o olhando como se de repente tivesse entrado em transe. Então desviou os olhos e pigarreou, lhe indicou a porta da cozinha.

"Vamos lá, queridinho. É melhor irmos logo se você não quiser que meu irmão apareça com uma espingarda."

"Ele não parece ser tão assustador quanto a sua mãe."

"Ah, ele não é. Só tem a cara de bravo."

Eles voltaram para o hall e Kevin se despediu de Gabrielle e Fred com um abraço, dizendo que logo voltaria para que eles pudessem brincar. Gabrielle o fez até prometer de dedinho.

Megan e Rebecca já estavam se dirigindo para o carro quando Simon o parou. Ele cruzou os braços e olhou diretamente para Kevin.

"Eu não acredito que você e Rebecca sejam só amigos. Pelo menos, não da sua parte."

Kevin não se intimidou. Olhou para Simon e respondeu tranquilamente:

"Se tivéssemos qualquer outra coisa, eu diria. Sei que você pode estar com medo por Rebecca e eu estarmos passando algum tempo juntos, você é irmão dela e isso é normal. Mas, cara, se seu medo é que eu a magoe de alguma forma..." Kevin suspirou, sentindo algo estranho, mas poderoso, invadir cada espaço do seu corpo. "Eu nunca faria isso", concluiu, sem desviar o olhar. "Nem vou deixar que alguém faça enquanto estiver perto dela. Prometo."

Simon permaneceu calado, medindo Kevin e parecendo julgar cada uma de suas palavras.

Por fim, disse:

"Eu confio em você." Kev tentou não demonstrar o alívio que sentiu naquele momento. "Posso estar errado, mas confio em você. Rebecca é ingênua, por isso tenho medo que ela acabe se machucando."

"Ela não é ingênua", Kevin rebateu no mesmo instante, sem conseguir se conter. "Ela é esperta e gentil. Só porque é boa com todo mundo ao seu redor, isso não quer dizer que seja ingênua."

Simon abriu a boca, mas nada saiu dela.

Talvez Kevin estivesse arriscando a recém-adquirida confiança que Simon depositara nele ao falar aquilo, mas não se importava. Agora que sabia como ser vista como boba e ingênua doía em Rebecca, de jeito nenhum deixaria que alguém mantivesse aqueles pensamentos sobre ela. Não se pudesse evitar.

Porém, Simon não rebateu Kevin duramente como ele esperava. Ao invés disso, um brilho de compreensão passou pelos seus olhos.

"Você está certo", ele murmurou. "E eu... eu estou feliz que você seja amigo dela."

Kevin abriu um pequeno sorriso e assentiu, sentindo uma onda de empatia por Simon naquele momento. Era claro que ele só queria o bem da irmã e não suportava pensar em algum cara qualquer a magoando. Ele sentia a mesma coisa por Megan a todo momento. De jeito nenhum julgaria o cara por aquilo.

"Bom, é melhor eu ir", Kev falou por fim. "Vou trazer Rebecca de volta depois, não se preocupe."

"Não estou preocupado."

Kevin balançou a cabeça em compreensão e passou por Simon, indo na direção do carro.

Naquele momento, por algum motivo, se sentiu leve como uma pluma.

_____________________♥️_________________

Oii gente! Capítulo novinho para vocês <3 Espero que tenham gostado!

Primeiramente queria agradecer pelos 15K de visualizações! Vocês são demais <3 Muito obrigada por darem uma chance para essa história!

Agora, me digam, o que acharam do capítulo? Gostaram? Me contem tudo! O que será que vai acontecer nesse almoço?? 

Vejo vocês no próximo capítulo. Beijos!

Ceci.

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