Terapista
Amy
A boate estava cheia, o aglomerado de pessoas deixava o ambiente claustrofóbico, o odor das fumaças vindas dos cigarros acesos dificultavam a respiração, e os canhões de luzes incomodavam seus olho, seus pés doiam e sua mente estava cansada. Ela não havia dormido nada desde a última vez que pisara na casa noturna na noite passada.
— Você está acabada garota. — Pamela disse em um tom claro de crítica.
— Não dormi muito bem essa noite. — Respondeu Amy deixando a bandeja sobre o balcão.
Pamela soltou um riso fraco, enquanto enchia um copo com uma bebida em um tom marrom, ela jogou o pequeno copo redondo pelo balcão e o mesmo deslizou pela superfície parando em Amy que a olhou confusa.
— Bebe! Vai te deixar mais disperta. — Disse apontando a bebida.
— Eu não bebo. — Amy disse com a voz trêmula.
Pamela revirou os olhos, serviu mais um cliente antes de voltar sua atenção para Amy.
— Bebe agora. Não dá pra você ficar se arrastando por ai. — Ela disse e seu tom não era amigável.
Com as mãos trêmulas, Amy levantou seu copo e aspirou o odor da bebida, a única coisa qhe sentirá fora o forte e desagradável cheiro de álcool.
— Para de enrolação que você tem mais coisas para servir. Bebe logo.
Amy virou o longo gole, primeiro sentiu o forte sabor invadir seu paladar, depois a forte queimação em sua garganta e no fim um leve adocicar, um aquecer de alma, mesmo sendo errado não era tão ruim.
Pegou a bandeja que estava cheia de taças com o líquido dourada borbulhante, e a levantou com mais confiança, suas mãos já não tremiam mais e ela andava pelo salão com menos receio.
Lucifer não estava naquela noite, segundo Pamela ele tinha saído para resolver problemas com o irmão.
As horas correram rápidas, e eram exatas duas da madrugada quando Amy escorou-se no balcão usufruíndo dos seus trinta minutos de pausa.
Molhou o rosto na pia do banheiro, prendeu seus cabelos e olhou seu reflexo no espelho. Ela era puro cansaço.
Se serviu de um suco natural que eles faziam para misturar com bebida, mas o dela não tinha nada de álcool.
Suspirou sentada na cadeira grande, com os cotovelos apoiados no mármore frio do balcão e o rosto escondido entre a palma de suas mãos que cheiravam a um sabonete cítrico. Sua cabeça doia por conta da música alta, e suas pernas latejavam pelo cansaço.
— Boa noite. — Uma voz feminina a chamou acompanhada de um cutucão.
Amy levantou seu rosto e analisou a figura feminina. Tinha cabelos loiros, usava um óculos e tinha um leve sorriso nos lábios.
— Lúcifer está por ai? — Questionou enquanto caçava o homem com os olhos.
— Não. Ele saiu para resolver problemas. — Amy respondeu com a voz rouca.
A mulher deu de ombros, sentou-se na cadeira ao lado de Amy e lhe sorriu brevemente antes de correr os olhos pelo pequeno cardápio com um ar de desgosto.
— Nada de bom sem álcool. — Ela murmurou sem desviar os olhos do papel. — É nova aqui não é? — Questionou.
— Sim. Comecei ontem. — Amy disse com os olhos nos ponteiros do relógio.
Lhe restavam mais quinze minutos.
— Sou Linda. — A loira disse estendendo a mão.
— Amy Soult. — Disse aceitando a mão da mulher a apertando levemente.
— Nova na cidade também? — Linda questionou em um tom casual.
— Sim. Morava em uma pequena cidade, nem mil habitantes. — Amy sorriu sentindo-se confortável na presença daquela mulher.
— Mudança drástica. — Linda murmurou. — Posso saber o motivo? — Questionou com sutileza na voz.
— Família. — Amy murmurou em resposta.
— Pais chatos?
— Mais que isso. Rigorosos. — Amy sorriu de canto.
— Entendo bem como é isso. — Linda sorriu amigável. — Te proibiram de fazer algo e você fugiu?
— Eu não queria fugir, mas meu irmão achou que era melhor..
De toda forma, acabou. Estou longe deles. — Amy sorriu, não estava preparada para contar seus problemas, ainda mais para uma completa desconhecida.
Mas Linda por sua vez, analisa Amy minuciosamente, atenta a cada sinal que sua face ou seu corpo desse.
Derrepente, a mulher sorriu um tanto triste, remexeu em sua bolsa e de lá tirou um cartão.
— Olha, eu sou terapista, escuto o problema das pessoas e as ajudo a tentar soluciona-los. — Ela disse estendendo o cartão para Amy. — Eu adoraria conversar com você. Vá nesse endereço, nossa primeira consulta será gratuita. — Abriu um sorriso.
Amy pegou confusa o cartão da mão da mulher, abriu um sorriso timido, e então Linda se levantou.
— Vou procurar Lucifer em outro lugar. Vou estar te esperando amanhã as quatro da tarde. — Linda sorriu. — Tchau.
Amy estava confusa demais para formular resposta alguma, então apenas balançou a mão em
uma despedida silenciosa.
Olhou o relógio e suspirou ao notar que seu tempo de descanso havia chegado ao fim.
Voltou para trás do balcão onde servia bebidas para homem que lhe lançavam sorrisos amarelos e lascivos ou palavras que eram tão baixas, que algumas ela desconhecia.
Quando restava uma hora para o fechamento do lugar, o movimento era ameno, apenas meia dúzia de bêbados perambulavam vagarosamente pelo ambiente, foi quando Lucifer entrou na boate, ele pisava duro e tinha um ar carrancudo.
— Lucifer? — Amy o chamou e ele cessou seus passos virando-se para ela, mas ainda em silêncio. — Uma mulher esteve te procurando hoje. — Ela notificou colando um copo limpo sobre o balcão.
— Muitas mulheres me procuram querida. — Ele disse em uma falsa alegria.
Amy saiu de trás do balcão, e deu vagarosos passos até estar próxima de Lucifer.
— O nome dela era Linda. — Amy disse em um murmúrio.
— Ah claro. — Lucifer sorriu minimamente. — Ela deve estar preocupada porque cancelai nossas consultas. — Disse em um murmúrio mais para si mesmo.
— Você também conta seus pensamentos para ela? — Amy questionou confusa.
Lúcifer desceu seus olhos para encarar a figura feminina já que ele era consideravelmente mais alto que ela.
— Sim... ou contava a semanas atrás. — Ele disse e suspirou.
Logo em seguida caminhou para o bar com Amy em seu encalço. Ambos sentaram-se frente a frente.
— Ela me entregou isso, disse que queria conversar comigo. — Disse mostrando para o homem o cartão que fora dado a ela.
Lucifer permaneceu em silêncio, concentrado em beber sua bebida que acabará de ser servida. Mas sua mente procesava as palavras dita por Amy.
— Ele deve ter enxergado algo em você. — Ele murmurou. — Acredite, ela é boa nisso de ver coisas que você nem sabe que existe. — Agora ele a olhava nos olhos.
— Então eu vou... Obrigada Lucifer. — Amy sorriu minimamente e levantou-se voltando-se para o seu trabalho.
Mas Lucifer permaneceu ali, parado, em silêncio apenas bebendo sua bebida com os olhos perdidos no salão.
As portas finalmente haviam sido fechadas após os seguranças expulsarem dois bêbados, então quando tudo estava limpo, Amy saiu de trás do balcão após pegar sua bolsa.
O lado de fora ainda não estava cem por cento claro, havia uma tênue escuridão pairando pelo céu, as ruas estavam vazias a não ser pelos bêbados que perambulavam perdidos pelas calçadas, pelos mendigos e pelos poucos carros que corriam pela avenida.
Amy ajeitou sua jaqueta quando uma lufada de ar frio lhe açoitou a pele, puxou a barra do seu vestido para baixo tentando cobrir a pele de seus joelhos. Quando deu o primeiro passo, foi surpreendida por uma mão que agarrou seu pulso. Seu coração saltou e sua respiração saiu do ritmo enquanto ela reprimia um grito. Quando virou-se para trás surpreendeu-se com Lucifer.
— Estou de bobeira. — Ele disse sem soltar o pulso dela. — Deixe que eu te leve para a sua casa. — Seu tom era sereno, e mesmo que carregado com um belo sotaque, era completamente entendivel.
— Não é necessário. — Amy disse gentil com os olhos fixos nas mãos dele em torno do seu pulso.
— Não é, mas eu quero. — Ele disse de forma simples.
Amy não protestou, então ele apenas soltou o seu pulso e remexeu nos bolsos da sua calça social e pelo tilintar que ecoou, Amy sabia que ele estava em busca das chaves.
— Podemos ir? — Ele questionou.
Mas só o que obtivera como resposta fora um maneio de cabeça, então Amy sentiu novamente a palma quente dele em volta de seu pulso. Com passos apressados e atrapalhados, Amy foi conduzida até estarem na frente de um carro. Lucifer a soltou para abrir as portas do automóvel.
O carro era bonito, tinha uma cor preta que brilhava em contraste com os fracos raios solares que surgiam por entre os prédios enquanto o céu clareava cada vez mais.
Amy adentrou no automóvel, e sorriu quando seu corpo relaxou sobre o confortável assento de couro, sua perna formigou por longos segundos, enquanto seus músculos relaxavam agradecidos pelo descanso.
— Tudo bem. Onde você vive querida? — Lucifer questionou após envolver o volante em suas mãos.
Amy o olhou, eles estavam mais distantes do que era preciso, mas Amy quis assim, achou melhor manter a distância do homem, pois sabia bem o que homens com nescessidades faziam.
Em poucas palavras, Amy explicou onde morava, e então o carro começou a se mover pelas estradas em alta velocidade, o vento frio da manhã ia de encontro a ela, seus cabelos voavam e sua pele arrepiava-se.
Enquanto Amy parecia assustada com a velocidade que o carro locomovia-se, Lucifer parecia estar divertindo-se, já que ele e vez ou outra oscilava os olhos da estrada para encarar Amy.
Foram pouco mais de vinte minutos, e então eles chegaram no bairro onde Amy vivia. Era clara a mudança de ares, os prédios de luxos foram deixados para trás, restando apenas moradias pequenas, descuidadas e pensões.
Lucifer estacionou o automóvel em frente a uma pensão, olhou o lugar com um ar de desgosto.
— Você mora aqui? — Questionou.
— Sim. É barato tirando o cheiro e os barulhos, é bom. — Ela disse apertando o banco do carro com suas mãos.
— Que barulhos? — Ele questionou interessado com um tendencioso sorriso nos lábios.
— Homens e mulheres... — Amy murmurou sentindo o sangue esquentar em suas bochechas.
Mas Lucifer não parecia constrangido como ela, já que uma gargalhada explodiu de seus lábios.
— Entendi, e você faz parte disso? — Ele questionou, mas agora seu tom era maliciso e ele se aproximou mais de Amy.
— É claro que não. — Amy disse rápido.
Lucifer soltou um riso bem humorado, mas em um tom baixo, ele arrastou-se pelo banco e aproximou-se de Amy com um olhar predatório.
— Não sabe o que está perdendo. — Ele murmurou.
Amy apenas suspirou sentindo todo o seu corpo tensionar com o medo, ela já havia vívido aquilo e sabia exatamente como tudo acabaria.
Mas o que se sucedeu fora o total oposto do que ela esperava. Lucifer sorriu minimamente afastando-se de Amy.
— Vejo você mais tarde na boate Amy. — Ele disse a encarando fixamente.
Após balbuciar um obrigada sem jeito, Amy desceu do carro, ajeitou seu vestido e equilibrou-se sobre o salto.
Ela assistiu enquanto o carro desaparecida do seu campo de visão, sumindo nas ruas movimentadas.
Já no seu quarto, após um banho, Amy vestiu-se confortavelmente, jogou se na cama e embolou-se nos cobertores sentindo o cansaço a fazer dormir, e então ela adormeceu.
(...)
Ela estava vestida com roupas que a fazia se sentir bem e confortável, era muito diferente dos vestidos que usava na Lux. O vestido era branco, e ia até os seus joelhos, tinha uma manga longa e nas extremidades das mesmas dois pequenos botões dourados. O vestido fora feito por sua mãe com sobras dos tecidos de um vestido de noiva que ela havia costurado.
Ela nunca havia estado naquela parte de Los Angeles que sem dúvida era a parte mais rica da cidade. Ela estava na calçada quando olhou o prédio de três andares.
A porta do elevador se abriu e ela assustou-se. Ainda não estava acostumada com as coisas mais modernas de Los angeles. Selecionou o último andar. Enquanto sentia aquela cabine claustrofóbica subir, ela escorou-se na parede metálica sentindo a pressão em sua cabeça tornar-se em uma leve dor.
Quando a porta se abriu, ela suspirou aliviada quase pulando para fora da cabine. O corredor não era grande e tinha apenas três portas. Em uma das portas tinha uma plaquinha com o nome "Doutora Linda." Gravado em dourado.
Amy suspirou antes de bater, e no segundo seguinte a porta se abriu, e lá estava a mulher conhecida com um sorriso simpático e uma roupa formal. Linda trajava uma saia preta que ia bem abaixo dos seus joelhos, uma blusa social rose e saltos pretos.
— Pensei que não viria. — Disse ela referindo-se ao atraso de dez minutos de Amy.
— Eu me perdi. — Amy murmurou constrangida.
— Ah tudo bem querida, você é a última consulta do dia. Entre. — A mulher cedeu espaço.
Amy analisou a cena. Não tinha muito, apenas uma outra porta, um sofá longo com almofadas espalhadas por ele, uma poltrona, uma mesa de centro que separava os dois assentos e mais atrás uma mesa de madeira.
— Sente-se. — Linda apontou o grande sofá. — Quer beber alguma coisa? — Questionou servindo-se de chá.
— Não obrigada.
Linda suspirou, repousou a xícara fumegante sobre a mesinha de centro e sentou-se na poltrona, ela cruzou as pernas, a postura totalmente ereta enquanto ajeitava os óculos sobre o nariz.
— Tudo bem Amy. Estou aqui para te escutar sobre qualquer problema e até banalidades do dia a dia. — Linda disse casualmente tomando um gole.
— Não sei por onde começar. — Amy murmurou tímida.
Linda por sua vez riu baixo, pegou da mesa um pequeno bloco de notas e sua caneta.
— Porque decidiu trabalhar na Lux? — Questionou com os olhos fixos na folha em branco.
Amy não soube descrever, mas ter os olhos da mulher longe dos dela a deixou mais confortável para falar.
— Porque era o que tinha. — Ela disse em um suspiro. — Tentei em tantos lugares, mas o dinheiro estava no fim, então Lucifer me ez esse favor.
— Ele tem hábito de fazer isso. — Linda murmurou como uma crítica. — O que você acha da Lux.
— Linda questionou e era evidente que ela estava tentando quebrar o gelo.
— Por onde começamos...
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top