Primeiro dia

Amy

As ruas bastardas, longe da badalação e luxo de Los Angeles, tinham um movimento ameno, as pessoas iam e vinham perdidas no seus mundos particulares, entravam e saiam de lojas. O centro comercial não era muito grande e ficava próximo a saída da cidade e perto das moradias menos luxuosas. Era o lugar mais barato para se fazer compras.

Amy apertava com certa força as notas de dinheiro, sentindo a textura áspera delas nas palmas de suas mãos.

Sua mente acusava que aquilo era a coisa errada e de que ela estava cavando um buraco fundo demais, do qual ela não conseguiria sair.

Seus olhos perdidos encaravam o céu azulado limpo de nuvens, enquanto sua mente trabalhava em respostas para os seus dilemas. Seus passos sobre o asfalto eram vagarosos, enquanto ela escolhia uma loja para entrar.

A loja escolhida por ela, tinha uma placa branca com letras garrafais com o nome Sempre na moda, preso as vitrines da loja havia um cartaz com as seguintes escritas:

"Peças em promoção. 50% de desconto"

Amy suspirou, jogou as notas em sua bolsa e adentrando no recinto. A loja era diferente do restante, os móveis não exalavam luxo, e as vendedoras não estavam maquiadas, elas não passavam a impressão de serem manequins que faziam parte da decoração da lojas, aquilo fez com que o corpo tenso de Amy relaxasse.

- Posso ajudar? - A vendedora questionou em um tom polido.

- Preciso de roupas... - Ela não sabia do precisava. Engoliu em seco. - Vou apenas olhar, mas obrigada mesmo assim. - Sorriu amarelo.

A vendedora sorriu se afastando indo ao encontro das outras duas colegas, com quem cochichou arrancando delas risadas, e Amy sabia que era sobre ela, afinal, os olhos das três mulheres estavam sobre ela, mais especificamente em suas roupas.

Mas no pouco tempo que estava em Los Angeles, Amy havia se acostumada com os olhares e as risadas. Em sua antiga cidade as pessoas não se importavam com o estilo de vida da sua família, já que a maioria dos moradores eram religiosos conservadores, e viam Amy e sua família como santos. Deveria ser por isso que eles não faziam nada perante aos abusos que os irmãos sofriam.

Com os olhos perdidos nos tecidos de variadas cores, Amy remexia as araras em busca de algo.

Era difícil de acreditar que aquele homem tinha lhe oferecido um emprego. Ela queria desesperadamente por um, mas aquele lugar onde trabalharia a assustava.

Sua mente voltou sem permissão para aquela boate. Era escura e um tanto claustrofóbica, a fumaça das máquinas tinham a deixado tonta, mas não tanto quanto a presença do dono daquele lugar.

Aquele homem tivera o poder de deixa-lá fora de ar, a presença dele era diferente. E até mesmo com medo daquele lugar, ela sentia-se segura. Era simplesmente, inexplicável.

Separou algumas roupas do seu tamanho, o valor delas não eram tão alto pelo fato de estarem em promoção.

- Posso fazer uma pergunta? - Amy questionou fitando a vendedora.

A mulher de cabelos loiros e lábios inchados sorriu ao responder:

- Claro querida.

- Você conhece a casa noturna Lux? - Ela questionou.

- Todos de Los Angeles conhecem aquele lugar querida.

- O que você compraria se fosse trabalhar lá servindo bebidas? - Ela questionou e a mulher não escondeu o espanto em suas feições.

- Roupas chamativas, com um quê de luxo, mas que mostre alguma parte do seu corpo que chame a atenção. - Ela disse caminhando pela loja e os seus saltos no piso ecoavam.

- Eu não quero mostrar demais. - Disse quase indignada.

A vendedora a olhou com um ar confuso, mas continuou seu caminhar. Suas mãos corriam os cabides das araras e ela pegou algumas peças.

- Essas combinam com você. - Disse estendendo os tecidos sobre uma mesa de centro de madeira. - Não é como essa roupa de convento que você usa, mas resguarda seu corpo, mas ainda sim combina com a Lux. Prove. - A mulher disse apontando os provadores.

Amy pegou as roupas, e se direcionou para os provadores. Assim que fechou as cortinas, virou-se e fitou seu reflexo no espelho. Analisou seu corpo, seus cabelos, suas feições e suas vestes.

Ela definitivamente não combinava com a Lux.

(...)

As sacolas estavam espalhadas pela cama bagunçada do claustrofóbico quarto, as roupas novas estavam jogadas pelo chão e pela cama, enquanto Amy se olhava no espelho, analisando seu corpo.

O vestido era diferente de tudo o que ela já tinha usado em toda a sua vida, o tecido vermelho era bonito e tinha um certo brilho em contato com a fraca luz do quarto. A peça não tinha mangas, prendendo-se no pescoço dela, e mais abaixo o tecido descia livre e se esvoaça com o vento que adentrava pela janela, e o comprimento chegava ao seu joelho. De fato, o vestido não mostrava muito de seu corpo, mas pela primeira vez as pessoas veriam suas pernas e ombros, e aquilo a deixava desconfortável.

Olhou-se no espelho. Sua face sem maquiagem alguma nunca a incômodou, e quando ela encarou as maquiagens ainda nas embalagens sobre a cama, a voz rouca e potente de seu pai resoou em sua mente dizendo o que ele sempre dizia:

"Essas coisas são de mulheres profanas, aquelas que adoram o diabo, elas se vendem pela beleza."

Depois daquilo, em um dia na escola, Amy havia deixado uma amiga alongar seus cílios com rímel e dar cor aos seus lábios com batom, quando retornou para casa o olhar de ódio de seu pai a fez tremer de medo, mas o venho em seguida foi pior. A marca com tons roxos, amarelos e vermelhos ficou em sua face por quase duas semanas, e ela nunca mais pisou em uma escola. Fora naquele dia que ela aprendeu a nunca desobedecer ou contrariar seu pai.

Ela cerrou os olhos com força jogando as memórias para um canto sombrio de sua mente. Quando retornou a abri-lós suspirou tomando coragem.

A cova está funda demais Amy. Como você pretende sair dela depois?

Sua consciência alarmada gritou para que ela a ouvisse e retrocedesse na idéia maluca de trabalhar naquele lugar.

Mas sua consciência era manipulada por uma vida de julgamentos e doutrinamentos, e parecia que ela esquecia-se de certos sacrifícios eram necessários para sobrevivência.

O que era melhor, morrer de fome ou trabalhar em um lugar honestamente, memo que esse lugar fosse um antro de pecados? A resposta era óbvia.

Ela saiu de casa, sentiu a lufada de vento gelada e agasalhou-se com a jaqueta de couro falso. Mesmo os saltos sendo os menores possíveis, ela ainda tinha certa dificuldade em se equilibrar, por conta disso andava de forma vagarosa com seus passos ecoando pela piso de ferro.

Ao passar em frente a uma porta seu corpo se arrepiou quando gemidos se fizeram audíveis. Ela sabia o que estava acontecendo ali, e aquilo era muito comum naquele lugar. Enas noites os barulhos eram tão altos que lhe tiravam o sono. Enquanto girava na cama ouvindo o bater nas paredes e os gemidos, ela pensava no que tinha acontecido a ela.

Ela queria achar errado, queria poder brigar, gritar e xingar por aquilo, mas todos diziam que era normal.

"Homens sentem necessidades, mas não se assuste. A dor é comum."

Fora o que sua mãe disse quando ela chegou assustada, machucada e violada.

"Eu entendo o garoto. Minha menina é uma joia rara de bonita, agora só precisamos remediar."

Fora o que seu pai disse para o lider dos cultos, e o homem aceitou com um sorriso largo nos lábios. Então era verdade e ela tinha apenas que aceitar.

O único que fora contra a tudo isso fora o seu irmão. Em uma madrugada ela entrou no quarto dela, mandou que Amy fizesse uma mochila, lhe deu uma passagem e quatrocentos dólares, a levou para o ponto de ônibus e implorou que a irmã partisse que procurasse ser feliz. E foi o que ela fez, ou o que estava tentando fazer.

(...)

Os arredores da casa noturna estavam vazios visto que faltavam três horas para a abertura da mesma, apenas um segurança guardava a entrada do lugar.

Amy entrou sem muita dificuldade dessa vez. Escorada nas grades no pequeno andar, ela viu o salão vazio e bem ilumidado ser limpo e preparado pelos restantes dos funcionários, as dançarinas ensaiavam juntas em roupas reveladores, e os baristas limpavam copos e ajeitavam as bebidas nas prateleiras.

Desceu as escadas chamando a atenção de algumas pessoas, um rapaz que varria o chão sorriu para ela, mas ela oscilou os olhos para longe dele, como um animal acuado.

Uma música baixa ressoava pelo ambiente, e os canhões de luz eram ajeitados em focos específicos.

Amy chegou ao bar, apoiou suas mãos na superfície fria e chamou atenção de uma funcionária.

- Eu fui contratada...

- Você deve falar com aquele homem. - Disse interrompendo Amy, e apontando para um homem sentado bebendo. - Ele tem um contrato para você assinar.

Amy agradeceu com um sussurro, e voltou-se na direção do homem, caminhando até ele com passos vagarosos. Ela estava assustada.

Sentou-se a frente do homem que levantou os olhos dos papéis que lia e a olhou com uma expressão confusa.

- Sou Amy... fui contratada ontem.

- Ah sim. Estava aguardando você. Lucifer mandou que eu lhe entregasse isso a você. - Disse arrastando o papel sobre a mesa o entregando a Amy. - é um contrato provisório de teste. Dura seis meses, caso você não seja o que ele esperou desepenhando sua função, ele irá demiti-lá, mas após os seis meses, se você continuar aqui, o salário aumentará e com ele virá mais alguns benefícios. - Disse estendendo a ela uma caneta. - Se quiser ler, e tiver alguma objeção, estarei aqui para ajuda-lá.

Amy o olhou meio confusa, mas voltou seus olhos para o papel. Fitou a linha onde pedia a assinatura dela e suspirou. Tocou a caneta no papel e a deslizou por ali escrevendo seu nome, e assim aprofundando mais ainda sua cova.

- Preciso que assine essa e mais essa e então o meu trabalho encerra-se por aqui.

Amy assinou sem contestar, apenas respirava com certa dificuldade, ela não sabia se aquilo era boa idéia, mas ainda sim estava fazendo.

Quando terminou de assinar os papéis, o homem se levantou, estendeu a mão a ela em um cumprimento e então se retirou. Ela permaneceu parada ali, em meio ao salão, com uma mão espalmada no ferro frio da mesma, ela não tinha idéia do que fazer.

- Aqui novata. Venha me ajudar. - A atendente gritou a tirando de seu estado de inanição.

Ela retirou sua jaqueta e guardou em um armário. A mulher de cabelos ruivos, batom vermelho e tatuagens espalhadas pelo corpo, explicava a ela o que fazer.

Quando o relógio marcou as nove as filas do lado de fora começaram a se encher, e as dez horas as pessoas começaram a entrar, logo Amy estava perdida, servindo bebidas com o auxílio de Pamela, a ruiva que tinha sorriso fácil e ganhava diversas gorjetas.

- Amy sirva isso ali naquela área. É a área vip. - Pamela apontou para um área. - Cuidado para não derrubar. - Disse agitada e voltou a atender os clientes que a aguardavam no balcão.

Amy levantou a bandeja e segurou as extremidades da mesma com as duas, tão forte que os nós dos seus dedos estavam brancos. Ela encarou todas aquelas mulheres formosas com roupas curtas que mostravam suas carnes e o modo seguro como elas andavam, segurando a bandeja para o alto com apenas uma mão. Ela suspirou, apoiou a bandeja em uma mão e a equilibrou lá, logo ela estava espremendo-se entre as pessoas para chegar a área vip.

Quando chegou lá, as bebidas desapareceram rapidamente, restando apenas um copo que ela levou até o centro onde viu Lúcifer sentado em um sofá com estofado de couro preto, abraçado a duas mulheres. Ele parecia estar distante daquele mundi, era quase como se ele não se importasse com os toques lascivos delas em seu corpo ou o que elas sussurravam em seus ouvidos, seus olhos estavam fixos no celular sobre a mesa, mas sua mente não estava ali.

Amy aproximou se vagarosamente, segurou o copo em suas mãos trêmulas e o pôs na mesa, ao lado do celular, chamando para si a atenção de Lucifer e das duas mulheres.

O homem correu os olhos pelo corpo dela, tinha um sorriso cínico nos lábios dele e quando ele a fitou os olhos dela, seu sorriso se ampliou.

- Amy! - Disse colocando-se em pé. - Vejo que fez bom uso do dinheiro que lhe dei. Está muito bonita. - Seu tom era alto, e ele parecia estar brincado. - Podia ter um pouco mais amostra, mas é muito melhor que aquela roupa de freira. - Ele disse arrancando risadas das mulheres.

Amy abaixou a cabeça com a bochecha corada.

- Diga-me Amy. - Ele disse aproximando-se perigosamente dela, tocou o queixo dela com a ponta dos dedos e a trouxe para mais perto fazendo assim com que ela o fitasse. - Não é bom sentir se bonita. - Questionou em um sussurro.

Amy perdeu a fala, apenas tinha os olhos nas orbes dele, enquanto sentia o hálito dele contra o seu rosto, o odor de álcool acentuando se juntamente com o de hortelã. Enquanto os olhos dele estavam presos nos dela, ela sentia uma extrema necessidade de contar a verdade a ele.

- Sim... eu acho. - Piscou quando ele se afastou rapidamente.

- Eu sabia que sim. - Ele disse tornando a sorrir. - Você está linda querida Amy. - Ele disse voltando a se sentar e ser agarrado pelas mulheres.

Não restou para Amy nada além de dar as costas a ele e voltar ao seu trabalho, mas enquanto afastava-se, ela sentia suas costas queimando, e ela sabia que ele a estava olhando.

A noite passou rápida e logo faltava uma hora para o dia amanhecer e as pessoas começavam a irem embora, e foi quando o lugar estava quase vazio que Amy conseguiu respirae aliviada, seus pés se retorciam em dor e seus músculos estavam tensos pelo cansaço.

Seus olhos estavam perdidos na pista de dança com meia dúzia de pessoas bêbadas que ainda dançavam ou se agarravam, e por isso, ela desviou os olhos encontrando assim Lucifer. Agora ele estava com três mulheres e caminhava junto a elas para o elevador.

- Onde eles vão? - Ela questionou a Pamela.

- Para a casa dele. Lucifer mora no último andar desse prédio. - Pamela explicou limpando alguns copos. - Hoje a noite vai ser longa e prazerosa. - Ela disse com um tom de malícia.

- Você se refere a sexo? - Amy questionou em um murmúrio envergonhada por estar falando daquilo.

- Com Lucifer tudo ae refere a sexo. - Pamela soltou um risinho malicioso.

- Mas são três mulheres. - Amy soltou com descrença.

- Acredite, ele dá conta. - Ela sorriu.

Amy fitou Lucifer beijando umas das mulheres já dentro do elevador, enquanto a porta se fechou. E quando as portas metálicas se fecharam ela só poude se lembrar de uma coisa:

"Todos os homens tem nescessidades, cabe a mulher satisfaze-lás"

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