Lux

Amy

No pequeno cômodo tudo o que se podia ouvir era o xiado constante vindo da televisão ligada e das gotas de água do chuveiro.

O odor de incenso, mofo e lavanda se misturavam em uma mistura nada agradável que após semanas passaram de enjoativas para comum as narinas de Amy.

Ela estava espalhada sobre os lençóis azuis sobre a cama bagunçada, ao seu redor tinha um pacote vazio de salgadinhos, garrafas de água e suco vazias, suas vestes estavam desgrenhadas e seus cabelos estavam rebeldes.

Sentia se moída, seus músculos protestavam em dor proveniente de horas andando embaixo do sol forte a procura de um emprego, o qual ela não encontrou.

Fora uma semana, rodando dos bairros nobres aos pobres em busca de algo, qualquer coisa que fosse, mas sempre retornava para casa com menos dólares no bolso e menos disposição no corpo.

Restavam-lhe apenas vinte dólares, o suficiente para comer por mais dois dias, mas e após isso, o que faria?

Era por isso que estava jogada na cama encarando fixamente por horas a fio o teto branco com manchas preta de infiltração, como se ali fosse encontrar a resposta para todos os seus problemas.

Estar fora de casa era um alívio, mas acima de tudo era difícil. Amy fora moldada desde a infância por pais rígidos em uma religião que não tolerava nada que vinha do novo mundo. Aos olhos da ceita, tudo o que não estava na bíblia era impuro aos olhos do pai.

Nas últimas semanas envolta no desespero de estar sozinha ela pensou em retornar para casa e acatar as ordens do pai dúzias de vezes, mas seria errado, não só consigo mesma, mas com seu irmão que gastou todas as suas econômias para afastar a irmã daquela vida.

Ser homem na ceita era mil vezes mais fácil do que ser mulher, e Alan sabia bem disso, por isso afastará a irmã de tudo aquilo.

Amy suspirou pesadamente. Seus olhos estavam sobre a lâmpada acesa que vez ou outra apaga e ligava por conta do mal contato nos fios elétricos da pensão velha.

Tinha algo de mágico na luz elétrica, talvez pelo fato da mesma não precisar de fogo, ou por ela iluminar um cômodo por completo. Amy se quer entendia como funciona o mecanismo da luz elétrica, ela apenas sabia que gostava muito de ligar e desligar o interruptor. Uma pena que o dono da pensão chamou a sua atenção após ela queimar duas lâmpadas.

E fora olhando para a luz, que um lampejo de esperança cresceu dentro dela.

Provavelmente aquela era a ideia mais maluca que tivera em toda a sua vida, até mesmo a idéia de fugir de casa não tinha sido tão maluca quanto essa.

Mas o fato era que, não tinha dinheiro para mais que dois dias, ou no máximo três e logo teria que desocupar o quarto por falta de pagamento.

O letreiro iluminado do prédio voltava a sua mente de minuto em minuto, enquanto em sua mente, ela listava todos os possíveis motivos pelos quais ela não deveria fazer aquela loucura.

Mas todos os motivos da extensa lista não foram capazes de convence-lá a não fazer.

Já na frente do espelho, ela analisava suas roupas. Trajava um vestido que ia até depois de seus joelhos em um tom cinza, as mangas eram longas e o tecido subia até a metade do seu pescoço, nos pés uma sapatilha.

Suspirou arrumando seus cabelos, mas o desalinho era evidente nos fios rebeldes e ela por fim desistiu da tarefa soltando um suspiro de cansaço.

Ao sair do quarto, caminhou pelo corredor do segundo andar, e desceu o lance de escadas que dava para o estacionamento.

A rua estava movimentada e o dia estava quente. Quente demais para aquela roupa.

Caminhou por longos minutos até o ponto de ônibus, onde finalmente sentou-se. Encheu os pulmões com ar e o soltou logo em seguida, enquanto sentia o tecido da roupa colar em seu corpo suado.

A noite já estava chegando, trazendo consigo a agitação para as ruas de Los Angeles.

Mas Amy temia a noite. Nunca fora de seu feitil sair após o céu escurecer. Haviam regras sobre horários e caso Amy precisasse ir a uma biblioteca fora do horário, seu irmão a acompanhava, então encarar os perigos da noite em uma cidade grande, era novo para ela.

Enquanto o ônibus deslizava lento pelas estradas, Amy poude ver as filas gigantes das casas noturnas, os carros de luxo acelerando pela rua e as mulheres com poucas roupas sem medo de mostrar a beleza de suas curvas.

Ela suspirou encostando a testa no vidro da janela, assistia a vida acontecer do lado de fora. As pessoas eram felizes, riam, bebiam e esfregavam-se umas nas outras sem nenhum pudor. Os beijos eram tão sem pudor, que certas vezes Amy fechava os olhos para não causar incômodo as pessoas.

O ônibus parou na esquina do seu destino. Ela desceu as escadas segurando a barra do vestido nas pontas dos dedos.

O letreiro com as letras brilhava anunciando o nome da casa noturna. A palavra Lux brilhava dourada e chamativa.

A fila estava gigante, cheia de pessoas falantes e risonhas, as mulheres eram lindas, trajavam roupas de marca que mostravam suas curvas, usavam joias que as enfeitavam e as deixavam mais lindas.

Caminhou pelo lado de fora do cordão de veludo enquanto as pessoas a encaravam, elas tinham um olhar analítico para o corpo de Amy, umas riam e outras sussurravam para seus acompanhantes.

Parou de frente para o homem que trajava um terno preto, ele era tão alto que dava o dobro do tamanho de Amy, era gordo e tinha um ar carrancudo por de trás dos óculos pretos.

- Preciso entrar. - Disse de modo simples.

Em resposta recebeu uma risada desprovida de humor, que a deixou confusa.

- Tem que pegar a fila criança. - O homem disse arrogante.

- Mas o senhor não entende... - Sentiu um nó em sua garganta. - Eu preciso falar com o dono.

Novamente o homem riu, aproximou-se dois passos dela, e ela recuou sentindo-se acuada.

- Todos aqui precisam falar com ele. -  Ele disse rude. - Agora, vá para a fila ou eu te jogo na rua. - Disse entre dentes.

- Ah qual é Fernando. - Uma voz feminina soou e o homem ajeitou sua posição. - Olha as roupas da humana, ela só quer se divertir. - Disse a mulher que se aproximava vinda de dentro do prédio. - Deixe ela entrar.

O homem de imediato acatou a ordem da mulher, abrindo o cordão vermelho cedendo passagem a Amy que receosa deu um passo a frente, mas fora parada pela mulher que tocou seu ombro.

- Ele vai adorar você. - Ela disse com um sorriso travesso nos lábios.

Então a mulher a deixou ir. Elas seguiram caminhos diferentes. A mulher de roupas provocantes e pele negra ganhou as ruas, enquanto Amy adentrou o interior do prédio.

A música soava alta em batidas que faziam os tímpanos da garota estremecerem. Ela parou seu caminhar e apoiou suas mãos nas grades que ali tinha tendo ampla visão do salão, procurando com os olhos o homem que viu no jornal.

Tinha muitas pessoas na pista de dança onde holofotes de luzes iam e vinham em flashes que a deixavam desnorteada, tinha fumaça saindo de máquinas que dificultavam sua respiração e tinha tanta gente se espremendo na pista de dança, que vez ou outra ela empurrava algumas pessoas.

A passos lentos ela se aproximou da mesa redonda, rodeada por um sofá elegante de couro preto, sobre a mesa diversas bebidas, e sobre o sofá estava o dono da casa noturna, cercado por três mulheres que disputavam a atenção e os toques dele.

Mas o homem por sua vez tinha os olhos fixos em Amy, as íris castanhas do homem estavam cheias de curiosidade.

Enquanto isso, Amy tinha a respiração alterada enquanta analisava o homem, a barba por fazer, o peitoral exposto por três botões abertos da camisa e os cabelos desalinhados dele.

- Veio se juntar a festa querida. - Questionou com a voz que venho carregada em um sotaque.

Amy respirou fundo inalando o odor de bebidas e tabaco, para logo em seguida falar:

- Eu preciso de um favor senhor Morningstar.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top