Aproximação
ALERTA DE GATILHO - Esse episódio pode conter trechos sobre abuso sexual. Respeite sua saúde mental!
Amy
Lucifer estava sumido a uma semana, trancafiado na sua luxuosa e segura cobertura, e segundo Maze eu não devia me preocupar com ele.
"Logo logo ele reaparece."
Ela disse na terceira noite em que Lucifer não dava sinal de vida, mas a própria Maze não parecia bem. Passava a maior parte do tempo arrumando suas facas ou presa no quarto, as vezes sozinha ou as vezes com companhias femininas e masculinas, as vezes com ambas.
Suspirei olhando a hora no relógio. A noite chegou e nada do sono vir junto a ela. Eu me sentia cansada, mas o pior era que eu sentia muita raiva da policial de cabelos loiros que trouxe consigo uma avalanche de mals sentimentos para os meus amigos.
Bufei irritada, calcei meus sapatos e vesti minha blusa. Deixei sobre o balcão um bilhete avisando a Maze que eu estaria fora.
Nosso apartamento ficava no terceiro andar, e sem paciência para esperar o elevador desci os lances de escada correndo sentindo o esforço físico aplacar um pouco da minha raiva.
Los Angeles era uma cidade agitada na noite, por isso foi fácil achar um taxi. Dei ao motorista o endereço da Lux e fizemos o percurso em silêncio, porque só depois de entrar no carro é que notei que estava sozinha com um homem, e aquela situação me deixava nervosa e desconfortável, trazia um milhão de lembranças que eu queria esquecer.
Quando toquei meus pés na calçada em frente a Lux, e vi o motorista acelerar na rua respirei aliviada. A Lux estava cheia, pulsava vida assim como todas as noites de sábado.
Entrei pelos fundos e não fui barrada, porque naquela altura os seguranças já me conheciam. As pessoas dançavam na pista de dança e bebiam no bar. O interior da Lux tinha um cheiro de álcool, tabaco e milhares de perfumes distintos misturados formando um único e confuso odor.
Entrei no elevador e no mesmo momento que a porta metálica se fechou o som cessou. Ouvi meus tímpanos gritarem aleluia.
Quando a porta se abriu novamente, eu estava na cobertura de Lucifer onde uma música clássica ecoava pelo interior que cheirava a tabaco.
— Lucifer? — O chamei, mas não tive resposta.
Dei um passo para fora do elevador analisando o ambiente, muito bem decorado, mas pouco iluminado.
Andei pelo cômodo que parecia ser uma sala, tinha um pequeno bar em uma parede e depois dos sofás uma escada que levava ao que parecia ser o quarto.
Encontrei Lucifer sentado no grande piano, com um cigarro entre seus dedos ele tocava uma melodia suave e parecia alheio a minha presença. Por um segundo me senti uma intrometida.
— Lucifer? — Chamei seu nome.
Ele me olhou, primeiro assustado, mas sua expressão suavizou quando ele me reconheceu.
— O que faz aqui? — Ele questionou.
— Bom, eu estava preocupada com você, então decidi vir ver como você está. — Sorri me sentando ao seu lado no piano.
Lucifer sorriu de canto colocando o cigarro no cinzeiro. Continuou a teclar e eu apenas fechei os olhos aproveitando em silêncio a melodia clássica.
— Amy... eu poderia te fazer uma pergunta? — Lucifer questionou quando diminuiu a altura da melodia.
— É claro.
— Porquê venho para Los Angeles. — Ele questionou e seus olhos pareciam tão compenetrados nos meus, eu não podia mentir.
— Porquê eu fui machucada.
Ele tombou a cabeça para o lado, tragou o seu cigarro e soltou a fumaça e eu pude sentir seu hálito de hortelã se misturar ao tabaco, respirei aquilo como se fosse uma droga feita sob medida para mim.
— Quem te machucou?
Fechei os olhos com força, porque aquela pergunta me trazia mais lembranças. Será que ele me acharia uma fraca?
Mas eu não queria mentir, queria ser honesta com ele.
— Um amigo da minha família, ele me tocou do jeito que um marido toca sua esposa, mas eu gritei porque doeu... — Encarei seus olhos e mergulhei na imensidão de suas íris, eu estava sendo lentamente tragada pelo seu olhar.
Eu precisava fazer algo para acalmar a angústia que crescia dentro de mim e me devorava lentamente, então tomei o cigarro dos seus dedos e levei a minha boca meio incerta se era daquilo que eu precisava. Traguei lentamente me engasgando um pouco com a fumaça, mas depois deixei que ela saísse lentamente da minha boca.
— Quando contei ao meu pai... ele me pediu para que eu me casasse com ele, para reparar o erro.
— Isso é repugnante. — Ele murmurou cheio de ódio.
— Meu irmão disse o mesmo, por isso no dia seguinte pegou todo dinheiro que ele tinha e me mandou para bem longe. — Contei sentindo tudo em mim se revirar.
Eu nunca havia parado para pensar nas consequências que meu irmão deve ter sofrido por me mandar para longe, mas certamente em algum momento meu pai descobriu que não fugi sozinha.
— Queria ve-lo novamente. Certamente meu pai deve ter agredido meu irmão, e mais provável ainda que esteja a minha procura. — Lentamente traguei o cigarro. — Quando ele me encontrar sei que irá acabar comigo.
— Então não deixaremos isso acontecer. — Ele murmurou tão convicto que até eu acreditei.
Sorri para ele antes de voltar a fechar os olhos e me concentrar na melodia que volta a ecoar.
— Você é muito bom no piano. — Murmurei. — Eu adorava tocar na escola, mas parei quando meu pai me tirou da escola.
Lucifer cessou a melodia e quando abri meus olhos encontrei os seus fixos em mim e uma expressão de raiva que não era direcionada a mim.
— Não estudou? — Questionou.
— Um pouco, mas então meu pai ficou com medo que meus colegas não convertidos me levassem para as trevas e me proibiu de ir a escola. Estudei em casa.
Sorri de canto porquê aquilo não tinha sido tão ruim. Tinha me confinado dentro de casa e me privado de uma vida social? Sim. Mas eu guardava boas lembranças da professora que me ensinou em casa, a única que acreditou no meu potencial e me ensinou mais do que deveria para que eu quebrasse as correntes que me prendiam a minha família que segundo ela era abusiva.
— Lucifer posso te fazer uma pergunta? — Questionei como ele havia feito a minutos atrás.
Ele me olhou, seus olhos fixos nos meus me mostraram que tinha algo em mim e na minha pergunta que o deixou completando aturdido.
— Claro. — Ele sorriu tentando disfarçar.
— Porquê a Chloe foi embora e abandonou você e a Maze?
Sustentei seu olhar, mas Lucifer oscilou seus olhos em direção nenhuma, parecia temer alguma coisa. Toquei sua mão que estava em cima do piano e sorri para ele quando seus olhos me encontraram. Movi meu polegar sobre sua pele em uma carícia que tinha a única intenção de deixa-lo confortável, mas que acabou nos aproximando mais do que deveria.
Ele sorriu de canto antes de respirar profundamente. Parecia procurar uma resposta.
— Digamos que ela descobriu quem eu sou de verdade, e o quão perigoso pode ser estar próximo de mim.
Ele parecia tão vulnerável, tão quebrado que por instinto toquei seu rosto e o fiz olhar para mim. Um amor ou uma paixão era o que Lucifer sentia por Chloe, mas um sentimento tão bonito quanto aquele não deveria te deixar vulnerável, o amor deveria deixar qualquer um forte.
— Você também deveria se afastar Amy. — Ele murmurou. — Eu sou destrutivo.
— Você? A pessoa que me ajudou, que me deu um trabalho e um rumo no momento que eu mais estava perdida? Meu primeiro amigo nessa cidade? Você diz uma coisa, mas eu prefiro acreditar no que vejo. — Movi me polegar em sua pele e ele fechou os olhos, parecia aproveitar meu toque.
Quando ele abriu os olhos lentamente prendi a respiração por um longo segundo, seus olhos tinham uma coloração vermelha, intensa. Meu coração acelerou e eu o acalmei. Derrepente eu entendia o motivo de Chloe ir embora, eu entendia, mas não faria o mesmo.
Eu não entendia o que Lucifer era e muito menos o porque seus olhos estavam vermelhos, mas eu sabia que ele escondia algo, e se culpava por esse algo.
Lentamente a chama vermelha em seus olhos apagou-se e a tonalidade comum voltou aos seus olhos, então apenas suspirei.
— O que acha de um jantar? — Questionei me afastando dele lentamente. — Eu pago. — Lancei uma piscadela e ele. soltou um riso baixo.
— Deixa eu apenas me vestir. — Ele declarou.
Olhei sua camisa social e o jeans que usava e o segurei impedindo o levantar, seus olhos me encontraram.
— Não precisa vestir um terno, está bom assim. — Ele sorriu. — Vou te levar para um lugar bem simples.
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