Capítulo 9
Parei de andar apenas quando havia chegado em um corredor do qual nunca havia visto antes, era escuro com todos os móveis daquela ala cobertos por diversos panos em tons escuros. Fiquei de frente com um quadro coberto e uma imensa curiosidade me movendo a puxar o tecido que caiu no chão revelando um quadro lindo e estranho ao mesmo tempo.
Era minha minha mãe só que com um sorriso gentil com as mãos juntas ao corpo com um vestido delicado e esvoaçante e uma coroa branca com detalhes lembrando a galhos retorcidos das árvores parecendo brilhar mais que as estrelas sobre sua cabeça. Cada vez mais curiosa sobre o que a fazia tão feliz devagar aproximei minha mão do quadro em busca de nomes, um calafrio percorreu minha espinha ao sentir alguém atrás de mim, me virei rapidamente encontrando apenas um corredor vazio, iluminado apenas por raios de luz que entravam pelas frestas das janelas entreabertas.
Suspirei fundo para acalmar e voltar a concentrar minha atenção no quadro, passei alguns segundos sem achar nada relevante apenas as iniciais RS cravadas na borda do quadro, fiz um esforço para retirar o quadro da parede, acabei andando um pouco para trás por conta do peso mas me mantive em pé. Procurei algo relevante atrás do quadro, encontrando absolutamente nada. Deixei o quadro encostado na parede e o cobri como estava antes e sai do corredor.
Tirei a coroa de minha cabeça enquanto andava, cansada sem o dia ter começado direito já estando a caminho do meu quarto, encontrei Theodoro sentado em uma poltrona que havia no corredor, perto de uma mesinha com um vaso de margaridas, assim que me viu esboçou um sorriso preocupado. Aproximei e sentei ao lado dele na poltrona vazia, deixando a coroa pesada na mesa sem vontade de colocá-la novamente.
— Como está se sentindo? — Perguntou cruzando os braços.
— Nada que uma boa noite de sono não resolva! — Respondi com um tom exausto. — E os outros? Onde estão?
— Liat cuidou de calar as fofocas que começaram a surgir das pessoas, Aemy e Raely estão na sala daquele senhor estranho, Kylo está brincando com suas irmãs para distraí-las. — Theo respondeu sem demora.
Concordei com a cabeça e fiquei jogada na cadeira encarando o teto, virei meu olhar para a coroa na mesa e senti meu estômago embrulhar. Não quero me casar. Não quero. Fechei meus olhos sentindo uma única lágrima quente escorrer por minha bochecha, abri os olhos vendo Theo limpar a lágrima que escorreu com a manga do terno.
— Já sentiu como se tudo na sua vida tivesse uma dúvida constante do real e irreal? Às vezes me pergunto se realmente há um propósito para mim... — Desabafo tirando um pouco de peso dos ombros, uma borboleta entrou pela janela, pousando no meu nariz. — As vezes eu queria ser uma borboleta de belas asas e acima de tudo, livre.
— Dea... — Olhei para Theo antes que continuasse.
— Você é como um irmão para mim, Theodoro. — Falei apenas por sentir que precisava ser dito. Faz tempo que não digo isso a ele. — Fizemos uma promessa, certo?
— Certo. — Ele concordou sem continuar o que iria dizer.
Senti que ele iria continuar falando porém o Príncipe meia boca apareceu no corredor e como Theo era "inferior" a ele, teve que se retirar depois de fazer uma reverência porém sua feição direcionada ao Príncipe meia boca era fria. Ajeitei-me na cadeira e a borboleta voltou ao seu voo gracioso, estava sem paciência para lidar com ele, observei se sentar onde Theodoro estava.
— Me mostraria o jardim, Vossa Graça? — O Príncipe meia boca perguntou calmamente.
O olhei de cima a baixo pronta para negar mas antes vi a silhueta da rainha no corredor que me encarava fixamente com uma ordem estrita para dizer sim, cocei os olhos irritada com tudo e principalmente, magoada. Apenas me levantei e comecei a guiá-lo em completo silêncio para o jardim enquanto tentava andar o mais rápido que podia para terminar com essa palhaçada o mais rapidamente possível, meus planos foram interrompidos quando aquele meia boca simplesmente parou e ficou encarando uma cortina feita de rosas no fundo do jardim do qual eu nunca desbravei.
— Quer ir ali, Príncipe? — Pergunto dando um ênfase exagerado no príncipe.
Suspirei buscando o resto de paciência ao vê-lo concordar discretamente com a cabeça. Andamos em direção a cortina de rosas, passando por ela pude sentir meu coração dar um salto observando aquele lugar escondido depois da linda cortina. Coloquei a mão na boca assustada ao ver estranhas órbitas de luz voando no ar, desviei minha atenção das órbitas vendo que o Príncipe havia ficado ao meu lado, olhando na direção de uma das várias órbitas.
— Consegue vê-las, Vossa Graça?
Franzi o cenho confusa com a pergunta, me perguntava se ele também via essas coisas sem sentido. Estava prestes a falar quando uma órbita de luz ficou em frente ao rosto do Príncipe e em resposta, ele sorriu para a luz, um sorriso estranhamente gentil que não esperava de um estranho.
— Me permite? — Seus olhos cinzas brilharam ao estender a mão para mim.
Engoli em seco segurando em sua mão quente e gentil ao segurar a minha de volta, deixei que me puxasse devagar para o seu lado, fiquei na frente de Inej e de frente para a luz estranha que se abaixou para ficar na minha frente. Inej parecia uma muralha atrás de mim.
— O que Vossa Graça vê? — A voz de Inej soou baixa contra meu ouvido.
— Uma órbita de luz brilhante que voa... — Falar isso em voz alta me fez sentir patética.
— Parece que não acessou ainda. Mas porque? — Encarei Inej perdida no que ele falava. — Claro, você não sabe nada disso. — Murmurou coçando a nuca.
Apenas o ignorei e voltei a observar as órbitas mas todas já haviam desaparecido como se nunca tivessem estado lá, virei de frente para Inej pronta para exigir explicações mas acabei vendo algo surpreendente que me fez segurar uma risada ao ver que havia se enroscado em algumas trepadeiras e tentava se soltar sem feri-las. Não aguentei muito tempo caindo em gargalhadas, tentei abafar a risada tampando a boca mas não adiantou tanto, Inej me olhou com um certo desespero antes de começar a rir, uma risada baixa e sem jeito.
— O que você quer aqui? Por que se casar comigo?! — Pergunto voltando a mim parando de rir.
— Que tal me soltar e resolvemos isso direito. — Falou mostrando os braços emaranhados em trepadeiras.
Certo. Ajudei a se soltar sem machucar a planta, Inej imediatamente se sentou no chão cansado e diferente do que pensei que faria, ele ficou largado no chão com os braços na cabeça sem a mínima importância para o quanto sugaria a roupa de alta qualidade. Estranho. Sem dizer nada, sentei com uma certa distância dele.
— Fui obrigado, Estou tão feliz com isso quanto você. — A seriedade em sua voz me surpreendeu.
— Faremos do meu jeito com as regras de não me beijar, não chegar perto do meu quarto, não se envolver comigo, não se relacionar com a rainha e nunca, nunca desrespeitar Nora! — Devolvo a seriedade no mesmo tom.
— Mais alguma coisa? — Inej perguntou com um sorriso.
— Sobre o que estava falando quando disse que não acessei ainda? — Estava morrendo de curiosidade sobre isso!
— Não estou afim de falar hoje. — Respondeu sussurrando e se levantando. Indo embora.
Fiquei no jardim sozinha sem saber o que pensar, esperava que Raely e Aemy tivessem sorte na busca de algo sobre Reluz, também tenho que pensar em como cancelar essa loucura de casamento antes que seja tarde demais! Deitei no chão e acabei dormindo com diversas perguntas, problemas e medos em minha mente inquieta.
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Fui chamada para comparecer a sala de Isack, apenas prendi meu cabelo antes de seguir um guarda até a sala, o mesmo logo se retirou assim que entrei, não me surpreendi tanto ao encontrar Theodoro, Raely, Kylo, Aemy e Liat juntos ao redor de uma mesa que antes estava amontoada de livros, papéis, lápis, penas de tintas e outras coisas, agora estava vazia com alguns livros e papéis.
— Então?... — Perguntei aproximando da mesa esperançosa.
Abaixei os ombros vendo Raely balançar a cabeça em negação e Aemy suspirar com desânimo, então tudo isso foi por nada? Liat colocou sua mão em meu ombro sorrindo na tentativa de trazer-me algum conforto que seja, devolvi um sorriso labial.
— É como se ela nunca tivesse existido! — Raely disse mais para si mesmo, impaciente.
— O nome dela pode não ser Reluz. — Aemy pensou com os braços cruzados encarando os livros.
— Obrigada pela ajuda mesmo assim pessoal. — Agradeço. — Mas é uma pena mesmo assim...
Fui interrompida por um barulho de porta emperrada se abrindo, todos instintivamente olharam em direção do barulho para encontrar Kylo de frente a uma portinha escondida na prateleira de livros, agora aberta e empoeirada. Kylo tirou de dentro um livro que devia ser branco porém o tempo foi cruel e agora se encontrava cinza de poeira, teias de aranha e seja lá mais o que passou pelo livro.
— Nunca vi isso... — Aemy sussurrou impressionada.
Kylo se aproximou da mesa e abriu o livro fazendo com que a poeira voasse e fizesse Theo espirrar por alguns segundos, me inclinei como os outros para ver melhor o livro relativamente grande e pelo visto pesado. A primeira página estava escrita: Que a coroa brilhe eternamente sobre Hayesfir.
— Você é um gênio Kylo! — Theodoro elogiou, bagunçando o cabelo de Kylo.
Peguei o livro e passei pelas páginas com cuidado já que poderia facilmente se desfazer e tudo ser perdido, talvez por isso mal era tocado por décadas. Passei a mão pelo primeiro nome que foi escrito no livro. Shine Aridne Solis. A primeira rainha de Hayesfir. Era páginas e mais páginas de nomes de rainhas, reis e princesas que passaram pela coroa de Hayesfir, até chegar no nome do meu pai, passei o dedão com cuidado pelo nome ainda legível. Elinor Trina Maxim Solis. Ao lado do nome dele havia o nome da minha mãe. Sommar Aislin Lena Solis.
Liat que estava do meu lado percebeu algo que não notei, ela apontou com o dedo e todos estavam em completo silêncio, não se ouvia nada na sala. Antes do nome da minha mãe e abaixo do nome do meu pai havia um nome do qual nunca ouvi falar. Reluz Gwyneth Lena Solis. Ergui meu olhar para todos ao redor com medo de continuar lendo.
— Rápido! Isack chegará em meia hora. — Raely falou sério.
— Me dê isso. — Aemy pediu rapidamente, pegando o livro começando a ler em voz alta. — A uma nota ao lado do nome dela: Morta antes do casamento real.
Um silêncio assustador tomou conta da sala, todos digerindo a informação mas não tanto quanto eu estava em choque. Me apoiei na mesa encarando fixamente aquele nome antes de perceber uma semelhança.
— Lena... — Murmuro apontando para o nome de Reluz e continuo falando. — E Lena... — Aponto para o nome da rainha.
Theodoro trocou olhares com os meninos surpresos, não havia um que estava normal em frente a tudo isso, acabei me lembrando das iniciais que haviam no quadro daquela garota sorridente. RS. Reluz Solis.
— A rainha tem uma irmã morta. — Kylo disse sem saber como reagir.
— Você falou com sua tia morta.. — Theo relembrou com uma mistura de surpresa e medo.
Coloco a mão no rosto comprimindo os lábios sem saber o que pensar ou como deveria reagir, ninguém me preparou para uma situação dessas! A mulher do quadro era a minha tia que está morta. Fui forçada a parar de pensar quando escutamos passos se aproximando, pesados e firmes. Alguém estava tentando abrir a porta mas pelo visto estava trancada, olhei ao redor e encontrei a chave na mão de Aemy. Como ela havia pegado isso, não fazia a menor ideia, o maior problema era o que faríamos a seguir já que é impensável sermos pegos.
— Quem está aí?! Eu vou chamar os guardas! — Essa voz era de Isack.
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