Capítulo 4
Tomei cuidado com o livro na hora de abraçá-las, estava com saudades. Há mais ou menos três semanas, a rainha descobriu que brincávamos de coisas "proibidas" para mim, então como castigo, mandou as duas para Zagraven Grad. A cidade de Ouro. Foi difícil para mim, nunca saí do castelo e ainda tive que vê-las indo embora.
— Senti tanto a falta de vocês! — Digo ainda as abraçando.
— Não seja tão dramática. Foram apenas três semanas. — Aemy diz com indiferença, se afastando do abraço.
Aemy Ragary, mora no castelo por conta de problemas familiares, foi a primeira amiga que tive quando ainda era criança, já me acostumei com seu jeito indiferente em relação a tudo, apesar disso, ela consegue ser bem sincera com seus sentimentos quando quer. Ela tem a pele clara, sardas nas bochechas que para mim mais parecem estrelas pintadas em sua pele, seu cabelo ruivo vai até os ombros e possui lindos olhos verdes que mais parecem esmeraldas.
— Espero que tenha ficado bem enquanto estivemos fora. — Liat murmurou com uma feição de preocupação.
Liat Sarang, filha mais velha do chefe da guarda real, Saturne Sarang, eles vem do clã Sarang, um dos poucos que se mantém firmes e devotos a coroa real, isso faz com que muitos pretendentes tenham interesse em Liat mesmo que ela esteja comprometida com Theodoro. Diferente de Aemy, Liat sabe ser doce, gentil e muito atenciosa, as vezes me pergunto como alguém consegue ser tão bem humorada o tempo todo. Ela tem a pele bronzeada, seu cabelo é escuro e ondulado com lindos olhos pretos arredondados, sendo mais alta que eu, o que não é difícil.
— Fiquei bem. Com a ajuda de Theo também é fácil. — Insinuo apenas para lhe provocar.
— Theodoro é realmente carinhoso com qualquer pessoa. Tive sorte, não é? — Pergunta piscando um olho e rindo baixo.
— Meninos, meninos, meninos. Arranjem o que fazer! — Aemy nos interrompe com seu bom humor cotidiano. — Melhor irmos, precisamos descansar, Liat.
— Ah sim! Realmente estou exausta da viagem. — Liat concordou e se afastou de mim. — Durma bem, Vossa Graça! — Disseram as duas junto antes de saírem.
Voltei meu caminho para o meu quarto, folheando o livro enquanto andava sozinha pelo caminho. Não posso negar, ver elas me animou muito, são importantes demais para mim, me fazem me sentir livre o bastante para ser sincera sobre tudo e todos. Sabem tudo que eu penso e faço, também, futuramente serão minhas damas reais, apesar da ideia de governar não ser nem um pouco liberal e atrativa para mim.
Chegando no quarto, não havia sinal de tumulto então pude crer que minhas irmãs permaneceram em seu sono sem problemas, assim que entrei e fechei a porta, fui direto para a escrivaninha para que folheasse mais atentamente o livro fino que havia ganhado. Me assustei assim que terminei de folhear em alguns breves minutos, a maioria era adultas, altas demais para entrar na passagem mesmo que engatinhassem, como um dia eu fiz. A outra parte era crianças recém nascidas que mal aprenderam a andar. Nenhuma chance de serem a Reluz que eu procuro.
Por conta dessa inesperada surpresa, mal consegui pregar os olhos naquela noite, vi o dia amanhecer e as servas acordarem, levando minhas irmãs para o quarto delas. Apenas esperei que as coisas ocorressem normalmente. No final, estava vestindo um vestido rodado rosa claro com mangas caídas, salto alto bege e meu cabelo foi arrumado em uma trança lateral jogada de lado. Não tive a presença de Elinor hoje, acho que era mais segura para ela que não me visse por um bom tempo para que não haja suspeitas. Caminhei para a sala de jantar com dois guardas esperando que tomasse meu café da manhã sozinha, mas tive uma grande surpresa ao encontrar Liat e Aemy me esperando na sala com Theodoro.
— Bom dia, Vossa Graça. — Repetiram os três formalmente.
Dispenso os guardas que não demoram a se retirar. Liat e Aemy estavam com o mesmo vestido rodado que eu, porém eram lilás com detalhes em brancos no busto enquanto Theodoro estava com um terno, como sempre. Acabamos dando um abraço coletivo desajeitado antes de nos sentarmos para comer.
— Não imaginava que estariam aqui! — Admito pegando uma pequena garfada de frutas.
— Mas por que não estaríamos? — Aemy perguntou com as sobrancelhas erguidas. — Somos designadas para cuidar de você, seja em qualquer aspecto. E acima de tudo... — Ela coloca a mão dela sobre a minha na mesa. — Somos amigas, é bom apreciar uma refeição junta.
— Me esqueci que existe um coração mole sobre tanta indiferença. — Theodoro brinca, segurando a risada.
Trocamos os olhares antes de cairmos na gargalhada enquanto Aemy apressadamente tirou sua mão da minha e continuou a comer agora emburrada, tinha me esquecido de quanto isso fazia falta na minha vida. Essa diversão genuína.
Ficamos ali por horas, na verdade mal comemos ou bebemos mas conversamos sobre tudo, literalmente. Como foi a viagem de Liat e Aemy, o que aconteceu no castelo enquanto estavam fora e como sentimos saudades, fiz questão de deixar o caso de Reluz de fora, ainda preciso saber mais antes de contar a alguém por mais que confie neles, não confio na minha cabeça.
Aemy me pediu para acompanhar ela até o senhor Isack, ela precisava de livros novos para seu estudo e sabia que eu tinha um livro para devolver, o que estava certo. Nada escapa da visão dela, às vezes isso me assusta. Passamos no meu quarto para buscar o livro que no final não me ajudou em basicamente nada, depois fomos à sala dele. Aemy bateu três vezes na porta antes dela ser aberta e Isack aparecer.
— Que dupla peculiar. Bom dia, Vossa Graça. — Cumprimentou fazendo reverência. — Espero que tenha sido-lhe útil, agora, se me der licença. — Fala deixando apenas Aemy entrar.
— Nos vemos mais tarde no jardim! — Se despede antes da porta fechar.
Aceno como despedida mesmo que a porta tenha se fechado na minha cara e saio andando sem um rumo em mente. A relação de Isack com Aemy é uma troca, Aemy leva pão de alho em troca de ficar sem tempo restrito na sala dele para seus estudos, inteligente da parte dela.
Paro em frente a uma das janelas do corredor ao ver a rainha conversando no jardim com Nora de forma despreocupada, os ombros relaxados e abanando a mão descontraidamente. Cruzei meus braços intrigada para saber do que se tratava o assunto. É estranho que ela pode ser a minha mãe, mas eu não sei absolutamente nada dela, como se fosse uma estranha que mora debaixo do mesmo teto que eu, nada mais que isso.
Afastei da janela quando vejo que a rainha me encarava discretamente pelo canto sem parar de conversar com Nora, seus olhos estavam sérios e sem um pingo de bondade neles, coloco a mão no peito sentindo-me nervosa e sai andando rapidamente para o mais longe possível, sentia meu coração doer, tanto pelo seu olhar quanto pelo medo que percorre meus ossos.
As vezes sinto falta de quando era nós três, pai, mãe e eu em piqueniques, passeios e chocolates quentes em frente a lareira da sala de estar mas nunca vai voltar, são apenas lembranças que mais parecem ser de outra vida. No final das contas, acabei sem perceber, estando em uma parte distante do jardim.
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