Capítulo 25
Sou guiada a cozinha pela suposta cozinheira oficial que agora teria um bom tempo de descanso enquanto eu ocupava seu espaço como forma de pagamento. Nem tive tempo de raciocinar já que logo cedo me mandaram a seguir, a chamaram de Margo, quando a vi notei os olhos estreitos e capazes de emanar um orgulho assustador além de sua pele avermelhada e um corpo corpulento esbelto.
— Vai cozinhar para trinta e sete pessoas com porções rasas além de cinco pratos para crianças. Sempre mantenha o lugar limpo, se acabar machucada não peça ajuda, vire-se só. Quando terminar ainda deve lavar, secar e guardar os utensílios usados nos armários e só então terá direito de se alimentar com as sobras. Entendido?
Confirmo com a cabeça engolindo em seco quando Margo passa por mim fechando a porta. Encaro a pequena cozinha, respiro fundo ao amarrar meu cabelo e erguer as mangas da blusa, quando estava só no quarto percebi que se quisesse algo eu teria que fazer por mim mesma, precisaria aprender a cozinhar e urgentemente costurar para ter roupas do meu tamanho.
Me aproximo do balcão umedecendo os lábios enquanto meus olhos percorriam os diversos talheres de tamanhos e estruturas diferentes da qual não sabia seus usos. Não foi tão difícil localizar os ingredientes que arrumei com cautela na bancada seguindo os comandos de Margo, pego a faca mais atrativa e inconvenientemente maior do que as demais para cortar os legumes para a sopa. Mudo de ideia do passo a seguir buscando até encontrar uma grande panela e encher de água, consigo acender o fogo a lenha deixando a água esquentar.
Escolhi o alface para começar a cortar e no primeiro movimento que fiz acabei por cortar meu dedo, isso me assustou fazendo com que derrubasse a faca no chão enquanto observava o sangue escorrer pela minha mão, estava prestes a cair a ficha de que a dor latejante percorria meu corpo quando senti um vento de movimentação atrás de mim, rapidamente peguei a faca do chão me virando com ela apontada para quem quer que fosse.
— Ei! Vá com calma, loirinha. — Me xingo ao ver que era a mulher que sempre estava ao lado de olhos de safira.
A faca estava encostada em seu pescoço fazendo com que a mesma erguesse um pouco para que não fosse cortada, observei-a afastar a faca com a mão devagar sem fazer movimentos bruscos que aparentavam ser para não me assustar.
— Guarde esta faca, não é a certa para cortar legumes. — Instrua pegando a faca certa.
Revisava meu olhar entre a expressão intensa em seus olhos com a faca em sua mão, seu suspiro impaciente me fez guardar desajeitadamente a faca e pegar a que estava em sua mão com cuidado dessa vez.
— Vocês sempre são tão desajeitadas... — Resmungou balançando a cabeça devagar.
Franzi a testa sem entender seu comentário quando a vejo começar agilmente cortar os legumes deixando uma cenoura para mim acenando com a cabeça e entregando a faca para mim em seguida se afastando o máximo que a cozinha permitia.
Aproximei novamente da bancada com as mãos trêmulas, esperei alguns minutos até a tremedeira parar e me permitisse começar a cortar, fiz esse processo devagar até que o cheiro da sopa tomasse conta do pequeno espaço. Duas panelas grandes, uma para as crianças e outra para o restante da tripulação. A essa altura a mulher já havia silenciosamente me deixado sozinha.
Esperei por pelo menos trinta minutos mas em vez de alguém vir me ajudar tive de fazer sozinha, peguei a panela maior com panos para não queimar minha mão e sai devagar da cozinha para me deparar com diversas pessoas segurando suas respectivas sopeiras, quando perceberam minha presença inicialmente houve murmúrios e olhares tortos para mim que me causam nervosismo. Fechei os olhos com meu coração disparado até escutar passos se aproximando e suspiros de surpresa que me fazem abrir os olhos para encarar a olhos de safira na minha frente. Olho para baixo sem coragem para encarar e assim era mais fácil de suportar o que quer que estivesse por vir.
— Serei a primeira. — Foram suas únicas palavras.
Meus braços já estavam trêmulos com o esforço e sou obrigada a deixar a panela no chão, entrei na cozinha rapidamente com a mão no peito tentando controlar a respiração sem muito sucesso, fechei os olhos imaginando que estava nos braços...
"Papai me recolheu em seus braços após me rodopiar pelo jardim enquanto mamãe estava conversando com Nora sorrindo tão doce que me fazia querer ter seu mesmo sorriso quando fosse mais velha. Ri baixinho quando papai sussurra no meu ouvido: Você é mais forte do que você pensa, minha princesa."
Abaixo o olhar encarando minhas mãos, as apertei com força saindo da cozinha com a colher de sopa em mãos parando de frente para olhos de safira apesar de ainda encarar o chão em vez de encará-la de verdade. Sirvo uma concha de sopa para ela enquanto escuto os murmúrios se misturando ao som da mesma provando da sopa.
— Comestível.
Ergui o olhar para encará-la mais surpresa ainda ao vê-la acenando com a cabeça antes de sair e uma fila se formar. Sorri boba comigo enquanto passei o restante da tarde enchendo sopeiras dos tripulantes e em seguida das crianças que sempre vinham acompanhadas de sorrisos e famintas junto de mais dois homens que ficavam de olho em cada criança, como se cuidando delas.
Um deles tinha um cabelo curto preto de olhos azuis enquanto o com traços mais marcantes que revelava uma diferença pequena de idade entre ambos tinha o cabelo ruivo preso em um coque de olhos castanhos claros. Nenhum dos dois aparentavam as cicatrizes que praticamente todos carregavam nesse navio, então presumi que sua função devia ser cuidar das crianças e somente isso para não possuírem marcas.
Sinto minha barriga começar a implorar por uma boa refeição de tanto ver eles se deliciarem com a sopa apesar de ser algo tão sem graça e facilmente substituível por carnes mal passadas acompanhadas de um vinho doce mesmo com toda essa diferença eles conseguem se satisfazer e agradecer por isso.
Levei uma panela de cada vez para a cozinha onde comecei a lavar toda a bagunça que havia feito antes de secar com o pano mais limpo que encontrei e guardar onde as havia encontrado. Comprimi os lábios ao perceber o estado da maior parte dos panos, peguei todos e os juntei em meus braços levando para fora até encontrar pelo navio uma cesta então após tanto tempo vendo o brilho da lua. Era uma visão que eu não tinha a muito tempo.
Sorri levemente voltando a cozinha de mãos vazias e finalmente me sentando em um barril com uma sopeira com o que sobrou de toda a abundante sopa que todos comeram com restrições tais como: Não repetir, não encher até a boca, não comer do outro e mais regras ainda. Encaro a sopa balançando com o balançar do barco sutil. A primeira colherada me arrancou um suspiro já que era a primeira vez que comia em tanto tempo consciente de que estava digerindo o alimento após a primeira comi rapidamente o restante até mesmo me flagrei lambendo a tigela para apreciar mais da sopa. Ri boba saindo da cozinha ao limpar a boca, acabei dormindo sob as estrelas dessa vez.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top