Capítulo 24
Havia perdido a vontade em contar os dias conforme o terceiro dia se passou comigo trancada no pequeno espaço gelado e estreito sem direito a sair ou tomar um banho de sol. No meio de um caos absoluto sobre o que fazer além de dormir para passar o tédio acabei achando minha diversão em uma pequena poça de água. Me sentia estranhamente bem conforme passava minha mão sob a superfície tentando preservar pelo máximo de tempo que me fosse permitido.
Estava fazendo isso quando escutei um espirro a cela ao lado da minha onde havia um homem de pele clara, um cabelo ondulado até os ombros preto , seus olhos azuis claros e havia uma cicatriz na horizontal em seu pescoço bem marcada.
Franzi a testa quando o vejo escrever com o dedo no chão usando da poeira "Palhaça" simplesmente por diversão. Na verdade, creio que em meio a tanta distração sua favorita foi me insultar através de sua escrita desleixada, na maioria das vezes ele costuma fazer isso mas quando está entediado costuma batucar nas grades para me incomodar. Nunca o ouvi falar ou sequer sei seu nome, então simplesmente o chamo de...
— Bárbaro! — Resmungo virando de costas.
Ergui os olhos quando escuto passos se aproximando e instintivamente grudo minhas costas na madeira fria e úmida vendo uma silhueta se formar para revelar um homem voluptuoso e desengonçado surgir mastigando abertamente um pedaço de maçã claramente estragada mas ele não parecia se importar.
O tilintar das chaves pesadas e o encaixe no cadeado me fazem ter uma esperança de esclarecer o mal entendido e voltar para casa, mas em vez disso o homem me agarra pelo braço antes de cuspir um xingamento para o Barbaro. Algo que não entendo mas devia ser parecido com várzea.
Nem sequer luto contra ao sentir o aperto rígido ao me empurrar para a parte superior do navio onde a um tempo atrás foi minha ida direto ao inferno ao mesmo tempo que me foi uma fuga maravilhosamente perfeita da multidão apavorada.
Estreito os olhos desacostumada com a claridade da luz do sol, demorei alguns segundos para me acostumar antes de perceber que haviam se deslocado para que eu ficasse no centro de um meio círculo que estava em frente ao tombadilho onde a mesma figura de olhos safira me encarava com os braços cruzados e ao seu lado o homem que me levou ao navio juntamente da mulher de pele bronzeada.
Resmungo quando o homem que havia me retirado da cela segura meus braços para trás para me impedir de fazer movimentos bruscos, pude sentir seu cheiro que fazia bile subir e voltar pela minha garganta em um gosto amargo.
— O que sabe fazer? — A dona de pele bronzeada me questiona rispidamente.
— Nada... — Respondo sincera engolindo em seco.
Sinto minhas mãos suarem frio quando a vejo sussurrar para a olhos de safira e em seguida mirar sua espingarda na direção do centro do meu rosto. Não estava conseguindo respirar direito com os olhares e murmúrios em minha direção.
— O que faria para sobreviver? — Escuto abafado alguém me questionar.
Fecho os olhos sentindo minha visão turva e meu corpo ficando aos poucos relaxado enquanto sentia minha cabeça pulsar e pesar insuportavelmente de modo que me vejo cair de joelhos no chão com lágrimas escorrendo por minhas bochechas antes de perder a consciência.
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Acordei com o balançar do navio, abro meus olhos devagar olhando ao redor vendo que estava em um quarto relativamente espaçoso com dois colchões no chão onde um eu me encontrava agora sentada com as costas apoiada na parede e uma rede pendurada no alto mas o suficiente para que alguém pudesse subir. Havia um prato com migalhas de comida ao lado da cama e mais a frente um cesto de palha transbordando de roupa claramente e visivelmente sujas enquanto mais ao fundo havia um baú transbordando de roupas limpas.
Percebo que estava com roupas maiores, limpas e novas. Fiquei quieta quando escuto a porta se abrir e o homem entrar sem notar a minha presença, olhei para o lado quando percebi sua menção de tirar a blusa mas a curiosidade falou mais alto quando ergui os olhos em sua direção.
Suas costas bem marcadas e percebo que na verdade possui um corpo bem curvilíneo, franzi a testa confusa ao velo retirar faixas de seu peito e enrolar novas apertando com força para fixar e espremer o que ele esteja tentando espremer com sucesso.
Ele coloca algo na cintura que devia expandir seu corpo antes de vestir a camiseta novamente antes de se virar e perceber minha presença encolhida no colchão. O vejo comprimir os lábios suspirando fundo ao caminhar com passos firmes na minha direção. Recolhi as minhas pernas para próximo de mim quando o sinto sentar na beirada do colchão.
— Ainda está com fome? — Pergunta se inclinando, pegando o prato que estava ao meu lado. Franzi a testa claramente confusa com sua pergunta. — Quando te trouxemos para cá você acordou brevemente esperneando de fome e devorou a refeição de três tripulantes antes de apagar novamente. — Explica com um tom de graça.
Abaixo o rosto queimando de vergonha mas realmente não estava mais sentindo a fome me consumir de dentro para fora agora.
— O que vai acontecer comigo? — Pergunto erguendo o rosto sem medo.
Já sabia que no final iriam me deixar afundar com pesos presos aos meus pés para ter uma morte lenta e agonizante com a água invadindo meus pulmões até o ponto em que não aguentarei mais segurar o fôlego enquanto sinto a cabeça prestes a explodir com a pressão.
— Irá trabalhar na cozinha para pagar pelas refeições que comeu de graça enquanto decidimos seu destino. — Informa como se fosse algo trivial.
— Qual o seu nome? — Pergunto mexendo minhas mãos ansiosamente.
— Alison. — Respondeu com um sorrisinho de canto ao se levantar.
Olho para o lençol na cama passando a mão e sentindo como mal aguentaria um frio denso como os que rodeavam Hayesfir. Minha casa...
— Dea. — Exclamo antes que ele saia pela porta. — Meu nome é Dea.
O vejo assentir com a cabeça antes de sair fechando a porta com o prato na outra mão.
Encosto novamente na parede encarando a vela presa na parede em uma plataforma pequena de madeira, a chama tremeluzindo com o balançar constante agora perceptível para mim do navio. Olho para a pequena janela arredondada do outro lado do quarto percebendo que estava amanhecendo mas o sol ainda não havia chegado em seu ápice. Encaro minhas mãos pensativa.
Naturalmente meus pensamentos se voltaram para as pessoas que deixei para trás, para a situação caótica que deixei minhas irmãs ou como Kylo deve estar se sentindo após acabarmos nos desencontrarmos. Sentia falta de todos e às vezes acabava me pegando a pensar sobre tudo que eu deixei de fazer, tudo que eu poderia ter feito.
Demorou muito para finalmente perceber que a vida monótona, chata e entediante, recheada de luxo e serventia era mais preciosa do que poderia imaginar. Perceber que ela era mantida através dos segredos mórbidos que minha corte escondia de mim. Perceber que o mundo sempre foi cruel.
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