Capítulo 10

Troquei olhares desesperada antes que pudéssemos entrar em pânico, Aemy se apressou a ir para o fundo da sala, a seguimos ela até uma estante velha da qual ela começou a retirar os livros e colocar na mesa, Kylo ajudou a terminar com os livros que faltavam, os dois começaram a empurrar a estante para o lado, revelando uma passagem secreta que era desconhecida para mim. Theodoro e Liat foram na frente em seguida foram Aemy e Raely mas eu não conseguia me mexer.

Kylo estava entrando quando me viu parada ali, o vi arregalar os olhos quando escutamos passos pesados dos guardas se aproximando mas só conseguia ficar encarando a passagem com os lábios e mãos tremendo. Nem havia percebido quando Kylo se levantou e ficou a minha frente antes de me puxar para um abraço, senti meu corpo arrepiar quando sussurrou no meu ouvido.

— Está tudo bem... Eu tenho medo de trovões, sempre me escondo debaixo das cobertas e tampo os ouvidos, as vezes entro em desespero e desmaio de pavor... — A voz de Kylo era calma e gentil.

Afastei o suficiente para que pudesse encarar o rosto dele, segurei entre minhas mãos com um sorriso trêmulo antes de confirmar com a cabeça devagar. Alguma hora teria que enfrentar isso ou levaria todos eles para o chicote da rainha.

— Estarei atrás de você o tempo todo. — Disse com um sorriu.

Devia muito a Kylo. Por sorte estava com um vestido leve e sem o arame de ferro que é usado para dar volume, agachei em frente a passagem e apenas ao fazer isso, senti o ar esvair dos meus pulmões, forcei a respirar engolindo em seco antes de entrar na passagem ao escutar chutaram a porta.

Espiei pelo canto e pude ver Kylo atrás de mim depois de fechar a passagem, continuei andando com o corpo tremendo e as mãos suando, poeira e teias de aranha grudaram em minhas mãos suadas enquanto minha respiração estava se tornando mais ofegante. Quero sair daqui. Sentei no chão encurvada por conta do espaço ser pequeno, deixando as lágrimas e soluços escaparem, coloquei minhas mãos sujas no rosto apavorada sentindo o pânico cada vez me consumindo devagar.

Uma mão pesada segurou no meu ombro, me virei com certa dificuldade vendo Kylo a minha frente tão curvado quanto eu pelo seu tamanho, segurou em minhas mãos que não paravam de tremer incansavelmente assim como as lágrimas que escorriam.

— Não está sozinha, Dea. — Sua voz soou como música, tranquilizante e doce. — Quem te ferir, deve arder em chamas. Eu te prometo, Todos que lhe machucaram, vão morrer um dia! — Arregalei meus olhos ao ver apenas sinceridade nos olhos pretos de Kylo.

— Isso é assustador... Não quero ninguém morto, nunca mais diga isso! — Repreendo-o nervosa.

— Não está tremendo mais. — Exclamou com uma risadinha.

Era verdade, não estava tremendo, não estava chorando mas ainda sentia minha respiração pesada e as mãos suando mas era o mais longe que já cheguei. Ergui meus olhos para encontrar os de Kylo que pareciam brilhantes mesmo sem luz neste lugar, beijei a testa dele em agradecimento antes de voltar a engatinhar pela passagem secreta.

Quando vi a feição preocupada de Aemy no final da passagem, senti meus ombros relaxarem, consegui ver a mão de Raely estendida, a segurei como se fosse a única coisa a me manter viva, saindo da passagem o ar inundou meus pulmões novamente, cai no chão de joelhos com uma mão no peito confirmando que estava viva. Olhei Kylo sair da passagem com a ajuda de Raely e receber um abraço do mesmo, todos estavam bem. Theodoro me ajudou a levantar e limpar a sujeira do meu rosto com a manga da blusa.

— Estamos na sala de chá da rainha. — Informou Aemy.

Agora que me dei conta, a passagem saia da lareira que pelos deuses estava apagada, tinha uma parede falsa que escondia a passagem, olhei ao redor vendo o esperado de uma sala de chá com almofadas, cadeiras, mesas, bules de chá e xícaras com detalhes em ouro, as janelas abertas deixando a luz entrar na sala.

— E agora? — Perguntei sem saber o que fazer.

— Eu e Liat vamos arrumar as coisas para o baile de amanhã. — informou Aemy se arrumando.

— Tenho que voltar ao jardim. — Kylo disse ao lado de Raely.

— Theo e eu vamos ver o treino dos calouros da guarda real. — Raely avisou e Theo concordou.

— Vai ficar bem sozinha? — Liat perguntou com um semblante de preocupação.

— Sei como me acalmar agora. — Digo piscando para Kylo que sorri de volta.

Saímos da sala em silêncio com cada um seguindo seu caminho para cumprir seus deveres. Vou em direção ao quarto tomar um banho já que estava em um estado lamentável demais e não quero dores de cabeça por reclamações da rainha. Passei por aquele corredor mas não me atrevi a entrar nele dessa vez. Abaixei minha cabeça olhando para minhas mãos, lembrando que agora tenho uma tia e preciso urgentemente falar com ela novamente.

Estava distraída com tanta coisa para pensar que acabei passando demais do meu quarto e escutei um barulho estranho vindo de uma sala particular, se bem me lembrava era a sala destinada às damas reais mas já que a rainha não possuía, não era visitada por ninguém. Então quem estaria ali deveria ter a permissão da rainha.

Com cautela, me aproximei da sala que estava trancada, mantive em silêncio quando as vozes começaram a ficar um pouco mais altas, não demorou para eu reconhecer as vozes, era de Liat e Aemy que aparentemente estavam em uma discussão calorosa. Aproximei mais da porta para conseguir escutar com clareza a conversa, afinal, elas nunca discutiram em anos de amizade, deveria ser sério para estarem discutindo algo assim.

— Não pode ficar dos dois lados!

Não fui capaz de reconhecer de quem era a voz mas fiquei mais confusa com essa conversa sem sentido, sai dali decidida a falar com as duas assim que tivesse tempo, fui direto para meu quarto sem mais desvios e permiti relaxar no banho, tentando esquecer tudo que aconteceu. Fiquei brincando com a espuma da banheira enquanto pensava o que devia fazer agora já que devo lidar com um Príncipe meia boca estranho, uma tia morta e a conversa estranha que ouvi de Aemy e Liat.

Deixei meu corpo se afundar um pouco na banheira, acabei lembrando da carta estranha que Theodoro havia recebido a um tempo atrás que eu mesmo não dei importância alguma. Cuidado. Se conseguisse contato com Reluz, ela poderia me dizer quem ou o que escreveu essa carta e talvez até mesmo me explicar essa história de ser irmã da minha mãe. Minha mente estava conseguindo organizar tantas informações aos poucos, depois de um tempo decidi sair da banheira, me sequei e troquei, vestindo qualquer vestido leve e sem muito detalhe do meu guarda roupa, acabei ficando com uma sapatilha confortável em vez de um salto alto de novo.

Fazia um certo tempo que não via Nora e estava com saudades, deixei meu cabelo úmido solto enquanto pensava a respeito disso. Três batidas soaram na porta, apressei a atender, esboçando um enorme sorriso ao vê-la bem e intacta.

— Estava pensando em você agora mesmo! — Confesso animada.

— Vossa Graça é um doce mesmo. — Nora diz, ouvi-la era um alívio dos céus. — Estou ocupada com suas irmãs que, aliás, sumiram da minha vista!

— Me deixe ajudá-la a procurar essas pestinhas. — Peço com a voz baixinha.

Nora suspirou e me chamou com a mão para ir, fechei a porta e nos dividimos, eu ficava com a parte de cima e Nora com o subsolo já que havia procurado em todo o primeiro andar. Subi as escadas tranquilamente. Nora era um calmante natural, ela sim daria uma rainha justa, bondosa e amada por todos! Enquanto pensava, vi dois vultos no final do corredor.

Já estava entardecendo e não estava tão claro assim. Me obrigo a ir correndo, segurando na saia para não tropeçar, indo atrás dos vultos, O corredor não continuava mas havia uma ala que nunca havia visto antes, talvez fizesse parte dos novos cômodos que a rainha construiu, fiquei de frente para a porta simples e com um cadeado aberto na porta. Olhei ao redor e não havia mais nada a não ser aquela porta.

— Alguém está aí dentro? — Pergunto com um certo medo.

Nenhuma resposta. Abri a porta encontrando Lys e Adisura deitadas em uma cama. Era um quarto modesto demais para alguém de elite abrigar-se aqui, andei até minhas irmãs e vi que seus olhos estavam avermelhados, havia chorado todo o tempo que sumira. Lys foi a primeira a me ver e sentou-se na cama me abraçando escondendo o rosto.

— Papai sumiu de novo! — Choramingou em meus braços.

— Do que estão falando? Adisura, explique para sua irmã. Por favor, meninas.

— Encontramos o papai há alguns dias nesse quarto. — Adisura disse entre soluços. — Mas alguém tirou ele daqui e não sabemos mais onde ele está!

Deixei que Adisura e Lys ficassem deitadas no meu colo, aquilo era um choque. Meu pai está doente e ninguém nunca mais o viu quando adoeceu, tanto que as pessoas começaram a suspeitar que a rainha se relacionou com outro homem e teve as gêmeas, porém é pura mentira. A prova disso é que ambas têm o cabelo do meu pai. Está se tornando um dia cheio de informações para digerir e não sei se sou capaz de compreender tudo isso, cada vez estou me sentindo mais cansada e com dor de cabeça, preciso levar as duas para Nora o mais rápido possível.

Levantei com Adisura e Lys no colo quando um estrondo ecoou no quarto, apertei com cuidado as duas contra meu corpo com medo, cogitei chamar os guardas quando as janelas do quarto foram abertas com uma forte ventania, andei alguns passos para trás sem soltar minhas irmãs. Nada estava acontecendo a não ser a ventania incessante, olhei para cima vendo o desenho de uma borboleta laranja, era como se fosse atraída por ela de uma forma completamente natural. Inspirei fundo sentindo a sensação de preenchimento e sono me invadirem ao mesmo tempo, estava prestes a apagar naquele lugar quando tudo simplesmente desapareceu, a borboleta e o sono que estava sentindo ao avistar um papel voando para dentro do quarto.

Apressei em colocar as gêmeas na cama e pegar a carta antes que voasse para longe, estava aberta e parecia ter sido escrita recentemente, minhas mãos começaram a tremer assim que li o conteúdo que havia no papel. Três meses e seu reino será inundado de caos.

Guardas entraram no quarto afobados, atrás deles estava Liat com o semblante de pavor estampado, havia uma folha na mão dela idêntica a minha, me aproximei dela e trocamos as cartas com um medo no ar. A queda de uma falsa rainha. Uma ameaça à rainha, ao reino, a nós.

— Levem as Princesas para a serva Nora. — Liat ordenou rapidamente.

Um dos guardas pegaram Lys e Adisura sem acordar e foram embora, elas estariam em segurança com Nora, era melhor assim. Liat me guiou a sair do quarto, ficando com os papéis que provavelmente seriam entregues à rainha ainda hoje. Enquanto andávamos no corredor em silêncio, olhei para uma grande janela vendo o céu alaranjado do pôr do sol com a certeza que esse dia estava cada vez mais confuso e conturbado.

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