6.Carona
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As nuvens cobriram o céu de cinza conforme os minutos passavam, deixo meu braço repousar para fora da janela, arrepiando minha pele, estou viva.
— Houve muitos ataques de animais nas redondezas. — Charlie comentou desligando as noticias no radio, encosto minha cabeça contra o banco observando os pinheiros altos serem deixados para trás, um borrão de verde.
— Deveriam emitir um alerta, toque de recolher. — Digo recordando das mortes, dos vampiros que atacaram as vitimas que o pai de Bella fala.
— Não posso fazer isso, causaria panico. — Segurou o volante apertado olhando firmemente para a estrada, gotas de chuva começam a embaçar o vidro. — Afinal são só animais. — Disse sarcástico, desviando o olhar para mim.
Parecia analisar cada detalhe em meu rosto, procurando algo, mas logo seus olhos cansados voltaram a encarrar a estrada, conforme a escuridão abraça a floresta, somos um mero vaga-lume perdido em meio a tempestade.
— A previsão do tempo está sempre errada. — Gargalhou Charlie pedindo educadamente para retirar o braço da janela — Nunca confie em um homem de gravata borboleta. — Riu distante.
— O clima aqui é sempre chuvoso, melancólico. — Sussurro pra mim mesma, mas Charlie concorda com a cabeça.
Deslizo os dedos pelo encosto do banco, perambulando pela bagunça, havia roupas jogadas lá trás junto com livros. Imagino que não tenha muito crime em uma cidade pequena, suspiro pegando o copo frio de café, felizmente demos uma parada, demorada, mas ganhei um bolinho e cafeina de recompensa. Não poderia reclamar, muito menos revelar que todas aquelas mortes por animais eram na verdade vampiros
— Não sei porque minha filha resolveu vir pra cá. — Resmungou, pisando o pé no freio desviando de um buraco — Um lugar tão frio, chuvosos e deprimente.
— Ela queria, acho que queria passar um tempo com você. — Sorrio, bebo um gole do café recebendo um sorriso animado de volta.
— Bella realmente tem passado bastante tempo comigo na lanchonete ou em frente a tv — Proferiu sem muito entusiamo — Parece que tem a cabeça na lua. — Resmungou.
— Adolescentes apaixonados são assim. — Brinco devolvendo o copo vazio ao porta copos.
— Sabia que tinha garoto nessa historia. — Gargalhou adentrando outra estrada mais fechada, cervos estão parados bloqueando a mesma, saltitando em busca de abrigo.
— Ela é popular, cuidado ou vai virar sogro cedo. — Provoco espiando os cervos correrem com a buzina.
Um deles continua parado, seus olhos capturam os meus. Novamente Charlie afunda a mão na buzina da viatura fazendo o pequeno animal sair correndo se juntando a matilha.
— Deus me livre, Bella não é tão inconsequente. — Disse adentrando outra estrada.
— Se você diz.
— Como está seu irmão, Edward? — Questionou tentando mudar de assunto, enquanto o para brisa luta contra a chuva que se torna mais densa a cada segundo.
— Como assim? — Gaguejo confusa.
— Bella me contou que ele andou sumido, sei que não é assunto meu. — Adiantou sorrindo nervoso — Só estou curioso, muitas fofocas circulam sobre os Cullens.
— Edward não é de fazer isso, deve estar doente. — Minto
— Pensei que não ficassem doentes. — Murmurou para si mesmo.
A forma como mexeu os lábios entregava a desconfiança, não era tão burro como parecia. Em todos esses anos seria estranho o chefe de policia não suspeitar que algo estava muito errado, tanto na família Cullen como as mortes, ataques de animais. Engulo em seco, giro o botão do radio deixando uma melodia suave espantar o silencio.
— Alice, porque evita o sol? — Questiona franzino as sobrancelhas, seus olhos estão na estrada, porém sua atenção esta sobre mim.
— Não evito. — Gaguejo sentindo meu estomago revirar.
Claro que evitava, inconscientemente fugia para as sombras como instinto. Levanto o olhar fitando ele, mas algo fez o carro derrapar me jogando pra frente, logo o cinto me puxa de volta me fazendo gritar de dor.
— Merda! merda. — Rosnou Charlie afundando o pé no freio arrastando o carro — Acho que atropelei alguém. — Contou nervoso.
Viro a cabeça pra trás desfivelando o cinto, consigo ver ao longe um corpo caído no chão, mordo o lábio tentando controlar as batidas agitadas do meu coração. Não acredito que isso está acontecendo.
— Pode ser um cervo. — Rezo para que seja.
— Fique no carro, vou ver o que é. — Charlie mandou, pegando o revolver largado na cintura o colocando em punho.
Em uma marcha lenta ele atravessou a neblina desaparecendo na noite, desligo o radio ouvindo mais atentamente, porém o barulho da chuva na lataria abafa qualquer coisa. Estico o pescoço observando a nevoa, sombras se misturam, um grito me fez pular do banco. Encaro a estrada atrás de mim, no mesmo instante se seguiu tiros tão altos como trovões.
Aquilo era surreal, não poderia estar acontecendo não deveria ser assim. Antes que consiga pensar no que fazer outro grito se seguiu me fazendo revirar o porta luva, jogo as embalagens de salgadinho pra fora, provavelmente o que quer que acertamos não quer conversar, muito menos é humano. Sem muita sorte agarro a arma de choque, destravo a porta saindo devagar, um pé de cada vez. Os pelos da minha nuca se arrepiam conforme dou um passo pra frente vendo dois vultos ao longe, sem pensar duas vezes corro na direção deles, afundando minhas botas nas poças, derrapando na lama, aperto a arma de choque contra a palma quente da minha mão, nenhuma garantia de segurança.
Uivos seguem pelas montanhas ao longe, distantes demais para ajudar. Apresso o passo me jogando contra o que quer que seja, estava condenada a morrer, muito provavelmente mudei a linha do tempo, isso é culpa minha.
Levanto a arma deixando meus batimentos controlarem minha respiração, rezo para que seja um urso, não um cara pálida.
— Fique longe dele! — Meu grito não passa de um sussurro em meio ao anoitecer; o vento a sobiou levando as folhas das arvores e consigo a minha voz.
— Alice, corra! — Ouço Charlie engasgado, parece estar lutando contra algo — Corra, corra. — Posso sentir o desespero em sua voz.
Não consigo me mexer, não era rápida o bastante de qualquer maneira, meus olhos são capturado pelo vampiro em minha frente, vermelhos como sangue, faminto. Ele não parece muito bem e ao julgar pelos seus movimentos lentos , está perdido, fugindo de algo, encaro a mordida em sua perna, lobos estão o caçando.
— Olha o que temos aqui?. — Laurent questionou com um leve sotaque francês se aproximando, era um dos colegas de James. Ele puxou o ar sentindo meu cheiro, saboreando a próxima refeição.
— De o fora! — Esbravejo apontando a arma de choque em seu peito, seguro o dedo no gatilho esperando uma mera distração, minhas mãos tremulam não o intimidam.
— Mesmo que quisesse não poderia deixar uma presa tão rara escapar. — Suas presas saltam branquinhas, afiadas — Você é de dar água na boca.
Dou um passo pra trás, tento não fraquejar. A chuva se torna mais violenta banhando me em arrepios, encharcando minhas roupas. Espero que ele avance contra, sei que esta faminto.
— Vai se arrepender por essas palavras... — Murmuro controlando a raiva fervendo em meu peito, não consigo entender porque, mas dês que despertei tudo parece atiçar a violência.
Levanto a arma de choque apontando em sua direção, antes que seus dentes perfurem meu pescoço, sem hesitar aperto gatilho, cravando em seu peito, faíscas voam com o contato com a densa chuva. Ele cai no chão se debatendo, aproveito a distração, corro o mais rápido que consigo até Charlie caindo do outro lado, estendo minha mão agarrando seu braço o levantando com muito esforço, seus olhos mergulham nos meus, somos humanos indefesos ou quase isso.
— Esta louca? — Gritou perto do meu ouvido apoiando seu braço em meu ombro — Aquela coisa é perigosa!
— Não poderia te deixar morrer. — Acuso sentindo as lagrimas escorrerem — Se não tivéssemos parado no posto. — Fungo.
Se eu não tivesse mudado a linha do tempo nada disso aconteceria, mas como uma tola que sou estraguei tudo. Dou passos largo acompanhando Charlie, seu cabelo preto cola contra testa se misturando ao sangue, sera que foi mordido? Olho para frente tentando distinguir algo, mas as luzes do carro embaça minha visão me impedindo de ver onde o capanga de James caiu.
— Cade aquela coisa? — Rosnou, seus olhos param na arma de choque brilhando em raios azuis abandonada na estrada, sigo seus passos.
— Estava fugindo de algo. — Sussurro afundando minha bota em um buraco, antes que eu beije o chão Charlie me puxa pra cima agarrando minha cintura.
— Ou caçando algo. — Gemeu apresando o passo, com a arma largada em sua mão, sem balas provavelmente.
Ajudo o chefe de policia a entra na viatura, sem hesitar ele pega outra arma em baixo do banco e engatilha atento. Dou a volta no carro com sua vigia, deslizo a mão pela lataria observando cada minimo detalhe, mas é impossível distinguir algo enquanto tudo está sendo chacoalhado pelos ventos. Tentando não fraquejar, fecho a porta, deixo as lagrimas escaparem todas de uma vez e espero que ele me julgue, porém tudo que recebo é o silencio.
O motor ganhou vida, cantando pneu nos afastamos, dessa vez não havia conversas ou o constrangimento de perguntas. Um vampiro tento nos matar, talvez os Cullen não estejam fazendo a parte de seu tratado, os olhos selvagens de Jacob vem em uma vaga lembrança de como começou meu dia, mordo o lábio contendo um soluço.
— Você sabe o que eram aquelas coisas? — Charlie questiona afobado girando o volante sem nenhuma delicadeza, passando por cima de um buraco.
Meu estomago embrulha, agarro a bolsa cheia de livro e não consigo segurar o vomito. Eu era uma daquelas coisas, tento engolir, porém novamente me inclino ignorando a dor, vomito deixando meu estomago vazio.
— Coisas. — Sussurro.
Deixo a bolsa repousar em meu colo, pelos cadernos acho que Bella acabou de perder a lição de casa, minha garganta coça me fazendo decorar novamente a bolsa.
— São vampiros. — Contou pensativo — Chupadores de sangue! odiares de alho. — Resmungou girando o volante adentrando a ponte que leva a cidade.
— Eles não temem a alho... — Digo tonta, recebendo um olhar preocupado de Charlie.
— Esta tudo bem? vou leva-la ao hospital. — Confirmou tendo a voz engolida por um trovão, deslizo meus olhos pelas casas.
Finalmente estamos em Foks, pisco afastando as lagrimas olhando as luzes do cinema, ofuscantes, jovens se escondem em baixo do beral conversando animados. Respiro fundo, a forma como o urso empanhado continua nada ameaçador tranquiliza um pouco meus pensamentos agitados. Ainda é o começo da noite, mas parece que nessa pequena cidade as pessoas se recolhem cedo.
— Não fui eu que fui atacada, sua perna está bem? — Resmungo colocando a bolsa no chão, evitando pensar muito sobre isso.
— Nada que um pouco de gelo não resolva. — Sorriu vacilante — Bella deve estar preocupada, combinei de jantar com ela...
— Ela vai intender, conte que quase foi devorado por um sugador de sangue. — Declaro o fazendo arregalar os olhos.
— Não pode contar isso para ninguém, pode gerar panico. — Alertou — De qualquer forma não acreditariam. — Disse em um suspiro.
Aquilo era a pura verdade, quem poderia crer que um vampiro tentou nos matar, não havia a quem pedir ajuda, ele era a policia. Afundo minha cabeça no banco, minha roupa molhada encharcar o mesmo, não me importo.
— Como quiser, mas tente avisar Bella de alguma forma. — Sussurro fechando os olhos, mergulhando no barulho do motor.
— Desculpe, te julguei mal. — Tropeçou nas palavras — Achei que os Cullens eram...
— Vampiros?
— Alice, vejo que é amiga de minha filha, não deveria ter duvidado das boas ações dos Cullen. — resmungou — Billy disse...
— Tudo bem. — O corto — Somos muito pálidos. — Um riso escapa entre meus lábios contagiando os dele também.
Avisto o pequeno hospital com uma enorme placa luminosa, piscando até se apagar. A chuva lava o lugar expulsando todos para casa fazendo a cidade ficar vazia lentamente. Ajeito a postura, entramos no estacionamento, arvores estão caídas sobre uma cerca, pelo visto essa tempestade não vai acabar tão cedo. Conseguir um lugar para estacionar é fácil, poucos carros ocupam as vagas, empurro a porta firmando meus pés por lado de fora, uma tenda esta sobre os carros levando a um corredor direto a recepção. Sou seguida por Charlie que tira a jaqueta suja quase voltando a sua aparência habitual se não fosse o cabelo lambido.
— Obrigada por tudo. — Agradeço dando um passo a frente em direção ao hospital.
— Eu que agradeço. — Sorriu sem jeito — Não se culpe pelo que aconteceu Alice. — Deu um passo a frente me abraçando, pegando me de surpresa — Nada do que aconteceu foi sua culpa. — Sussurrou dando tapinhas em minhas costas.
Não sabia que precisava de um abraço, mas devolvo o apertando segurando o choro, não sei como consigo ficar em pé. Aquilo foi tão aterrorizante, poderia ter virado comida de vampiro, deixada para os corvos. Fungo deixando minha cabeça repousar em seu peito. Deixo meus soluços escaparem, esse mundo não deveria ser tão sombrio, foge totalmente do romance que eu suspirava na adolescência.
— Obrigada. — Gaguejo me afastando batendo os dentes.
— Obrigado por ser amiga da minha filha. — Sorriu voltando para o carro, antes de entrar acenou — Até outro dia.
O observo sumir na estrada, encaro a entrada do hospital dou um passo a frente chacoalhando minha roupa, passo a mão pelo cabelo inutilmente, logo esfregando meu rosto no tecido. Tento não tremer de frio, mas meus dedos dos pés estão congelados, em passos de formiga ando até a recepcionista entediada, brincando com a mecha do próprio cabelo enquanto aplica esmalte nas unhas.
— Com licença. — Chamo tentando soar o mais alto possível, falho. — O doutor Carlisle está? — Questiono repousando meus braços no balcão de vidro.
— Sim gostaria de marcar... Alice? — Os olhos dela se arregala — O que aconteceu com você ? — Levanta rápida saindo de trás do balcão. — Meu Deus está tremendo, venha vamos pegar um agasalho.
Acompanho ela pelo corredor em passos ligeiros, antes de virar uma curva posso ouvir a voz familiar de Edward resmungando algo para Carlisle no meio do corredor, não parecem me notar. A recepcionista passa direto simplesmente apresada demais, concentrada, paro deixando ela seguir até a caixa de usados dentro da sala de espera.
— Filho você precisa controlar seus instintos, confiar em si mesmo. — Carlisle aconselhou sorrindo levemente.
— Mas Bella tem um cheiro tão... — Tentador deve ter pensando ele, sim ela tem o cheiro mais provocante que já senti.
Em minhas memorias tudo se mistura, mas quando Edward se vira para mim sei o que pensou, em como deseja me matar agora mesmo e saborear meu sangue. Em algum momento na vida de Alice ela era humana, internada em uma clinica psiquiatra. Um fato curioso e muito esquecido é seu sangue ser mais tentador do que de Bella, James a caçou por isso.
— Alice? — Carlisle questiona espantando, sentindo o cheiro no ar.
Com velocidade sobre humana ele se aproxima, fazendo me dar um passo pra trás quase batendo as costas contra a parede. Ele estava tentando entender, deixo seus olhos percorrer meu corpo, percebo que não faz muita força para se controlar ao contrario de Edward que me encara receoso demais para se aproximar.
— Doutor olhe o estado da sua filha! — Interrompeu a recepcionista jogando um casaco em meus ombros — Tadinha está encarangada.
— Ela não sente frio..
— Como não? — Resmungou sem entender jogando mais uma toca em minha cabeça. — O senhor deve estar muito cansado, deveria ir pra casa não precisa fazer turno extra todos os dias.
— A senhora tem razão, peço que feche meu consultório estou indo para casa. — Disse estendendo a mão para mim, a pego receosa, o choque termino é nítido.
Sigo o corredor devagar deixando a mulher de longos cabelos loiros pra trás, resmungando sobre o excesso de trabalho imposto a mesma. Sinto seus dedos entrelaçando aos meus tentando roubar o calor de meu corpo, trazer de volta a Alice que não estava quebrada como eu estava. Respiro fundo puxando a touca, tentando não bater o dentes. Edward em algum momento sumiu, fugindo. Em passos longos saímos, indo em direção ao carro estacionado ao longe.
— Espere aqui. — Pediu nervoso, analisando uma ultima vez meu rosto, as roupas largas demais e molhadas.
Fico parada deixando o vento frio percorrer minha pele, meu estomago ronca de fome. Isso é um pesadelo, nada faz sentido. Antes que consiga dar um passo a frente, minha visão se torna torta, girando até tudo se apagar, sinto o banque ao entrar em contato com o chão, sou levada ao mundo dos sonhos.
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Notas:
Deixem aquela estrelinha de voto! Pois isso me motiva muito a continuar S2
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