the great pretender

boa sorte pra vocês com esse capitulo e o proximokkkkkkkk beijos

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8 de abril de 1987, aproximadamente 00:30h,

rodovia principal

"Sincerity Is Scary"

JUNGKOOK

Os edifícios passam como pequenos vultos à medida que percorremos o caminho até a suposta casa de Jimin. Minhas mãos estão em sua cintura, segurando firme o tecido de sua camiseta, mas não ouso dizer que ele está dirigindo rápido demais. Não desta vez. desta vez.

Nenhuma palavra foi trocada entre nós durante o trajeto inteiro, mas não consegui ficar incomodado com isso, por mais incrível que pareça. E não estou com vontade de quebrar esse silêncio confortável, mas ao mesmo tempo assustador. 

No entanto, se tem uma coisa mais impressionante do que eu conseguir conter todas as falas engraçadinhas que aparecem em minha mente, essa coisa consiste em Jimin conseguir conter suas provocações corriqueiras. 

Ele está estranho desde que pedi para dormir em sua casa, ou talvez eu esteja apenas sendo paranoico. Não tem como conversar muito quando se está em uma moto, na rodovia principal, correndo a mais de 90km/h, certo?

Como se estivesse lendo minha mente, Jimin faz uma curva à esquerda e começa a desacelerar até parar em frente a um prédio de aparência decadente. 

Plantas praticamente mortas na janela, a madeira da porta começando a ser corroída por cupins, uma escadaria nada atraente e tijolos à mostra, sem acabamento nenhum. É estranho — e até incoerente —pensar que o Park mora nesse cafofo.

Quando ele disse que aquele endereço era falso, eu não imaginei que o lugar verdadeiro fosse um cenário tão deprimente. Cadê o mauricinho que eu conheço? 

Desço da moto ainda um tanto perplexo, sem conseguir disfarçar nem um pouco e acabo encarando Jimin de um jeito que não deve ser nada discreto. Obviamente, ele percebe e dá um sorrisinho enquanto tira o capacete e se posiciona ao meu lado. O mais estranho, no entanto, é que ele não diz absolutamente nada. Fico a espera de um comentário engraçadinho, mas recebo apenas o silêncio da noite.

— É aqui que você mora? — acabo fazendo a pergunta mais óbvia e indelicada possível — Quer dizer, você mora aqui sozinho?

É, acho que não melhorou muito.

Jimin levanta uma sobrancelha, mas ainda tem aquele meio sorriso irritante no rosto enquanto responde:

— Não exatamente sozinho. Eu divido o apartamento com um amigo.

Ah...

— Vem, vamos entrar — o Park toma a frente antes que a situação fique ainda pior e caminha em direção a entrada mal acabada — Eu juro que o interior é mais organizado que o exterior.

— Eu não falei nada sobre isso! 

Jimin solta uma gargalhada baixinha enquanto começa a subir os degraus.

— Relaxa, estava tudo estampado na sua cara — ele vira seu rosto em minha direção e quase travo — Você é péssimo em esconder o que está pensando.

Merda. Eu sei que sou.

— Okay, você venceu — admito — Mas você não pode me culpar por isso, pode? Quer dizer, você sempre é tão...

Engasgo com minhas próprias palavras e subitamente fico em silêncio.

— Metido? — Jimin complementa sem nem olhar na minha direção — Era isso o que você ia dizer?

— Talvez... Enfim, não importa. Esse amigo com quem você mora é o Seokjin?

Jimin finalmente para e agradeço silenciosamente por não precisarmos mais subir tantos degraus, mas ele não se move. Fico preocupado por ver suas costas tremerem, mas quando me aproximo percebo que ele está rindo baixinho.

Dou um tapa leve em seu ombro e ele finalmente volta a andar, se dirigindo até uma porta com o número 202, aparentemente este é o seu apartamento. Só que Jimin ainda está rindo.

— O que foi? — pergunto — Por que você começou a rir do nada? Eu só fiz uma pergunta normal... 

— Jungkook, você realmente não sabe esconder nada... — ele coloca a chave na fechadura, mas não a gira — Olha, não é com o Seokjin que eu moro. 

Mesmo que eu não queira, acabo cruzando os braços e levantando as sobrancelhas. Claramente não sou eu quem está escondendo algo aqui.

— Não estou entendendo aonde você quer chegar.

— É que tem uma coisa que eu preciso te contar. 

— Precisa ser aqui no corredor? — dou um passo na direção da porta e coloco minha mão por cima da mão de Jimin, que ainda segura a chave — A gente veio de moto, eu tô com essa camisa, o que é quase a mesma coisa que não usar nada....

— Resumindo, você está com frio...? É isso? 

— Não me interrompa, por favor — faço força na chave e escuto um clique quando ela gira — Enfim, se vamos conversar, vamos pelo menos fazer isso no conforto do seu apartamento...

Não consigo mais conter minha curiosidade. Jimin vai me perdoar algum dia. Eu sei que vai.

— O que você... — ele começa a dizer, mas já girei a maçaneta com a minha outra mão — Jungkook...!

O Park tenta me segurar e a cena deve ser realmente intrigante vista de fora, mas só preciso de um pouco mais de força para ganhar. Assim, de alguma forma, estou com os pés dentro da casa do mauricinho, que dá um suspiro derrotado enquanto apoia as costas na parede do pequeno corredor em que estamos. 

— Você disse que o interior era mais organizado que o exterior — é a primeira coisa que deixo escapar enquanto dou mais dois passos largos e chego até a sala — Isso não me parece muito organizado...

— O quê? — ouço Jimin pigarrear baixinho — Ah...

Agora que ele está atrás de mim, parece entender do que estou falando. O lugar onde o Park mora é nada mais nada menos do que uma verdadeira zona!

O videogame está ligado, sendo a única fonte de luz na sala bagunçada. A tela indica um novo recorde no Mario Kart e vários pacotes de salgadinhos estão jogados no chão, junto com uma calça de pijama que Jimin cata rapidamente e joga dentro do primeiro armário que encontra pela frente. Nem consigo ver qual era a estampa, mas está tudo bem, porque meus olhos ainda têm muito o que absorver. 

A cozinha é o estilo clássico de apartamentos, americana e com apenas um balcão. É perfeito para apenas duas pessoas, mas meu interesse no cômodo logo morre quando vejo o pequeno corredor a esquerda, onde provavelmente estão os quartos. Estou olhando para a primeira porta, tentando enxergar o que reside por trás da pequena brecha, mas Jimin se joga na minha frente e dá um sorriso amarelo. 

— Jungkook, você é mais curioso do que eu pensei — ele diz — Você simplesmente está escaneando minha casa. Está me assustando.

Hm. Desculpa, mas você já sujou minha janela de sangue e já até entrou no meu quarto, então você não tem moral pra reclamar — caminho até o pequeno sofá e afasto alguns pacotes de lanche enquanto me sento — Você saiu e deixou essa bagunça aqui? Videogame ligado? Isso gasta uma energia...

— Não fui eu — Jimin responde enquanto se encaminha para a cozinha e pega um pacote de café instantâneo do armário — Foi meu colega de apartamento. Inclusive, parece que você não vai poder conhecê-lo hoje. Que pena.

— Hm... Por quê?

Então não é alguém que eu já conheça?

— Ele deixou um bilhete dizendo que teve que sair às pressas, parece que não volta hoje.

— Entendo...

Um silêncio nada confortável logo toma conta do apartamento e quero meter minha cabeça na parede e fugir. Não faço a mínima ideia do que estou sentindo agora. Alívio? Decepção? Parte de mim certamente está feliz por o tal amigo de Jimin não estar aqui. Não sei com que cara eu iria o encarar e a situação poderia ficar ainda pior do que já está. Por outro lado... Parece que a oportunidade de conhecer um pouco mais a realidade do mauricinho escapou por meus dedos mais uma vez.  

De qualquer forma, acho que isso não importa mais. Agora somos só nós dois. Apenas eu e Jimin. Sozinhos. Em seu apartamento.

Oh, Deus.

— Como eu me recuso a te servir leite puro, acho que você vai ter que me dizer se gosta de café.

— Você não devia dizer que vai se recusar a servir algo para a sua visita. Cadê os modos, Park Jimin?

Ele me encara com uma xícara vazia em mãos e um olhar debochado que me faz ter vontade de voar no seu pescoço.

— Desculpa, mas minha casa, minhas regras. 

— Alguém já te disse que você é um péssimo anfitrião?

— Não, nunca — Jimin responde com um sorriso — Sempre me disseram que sou ótimo e muito atencioso. De qualquer forma... Você vai querer o café ou não?

Ótimo e atencioso...? Por que essa frase soa tão suspeita?

— Tá, eu aceito café puro. E sem açúcar, por favor.

Às vezes, é melhor não isistir em certos assuntos.

Jimin solta um assobio enquanto serve meu café e preciso mesmo de muita força para não revirar os olhos. Como alguém pode ser tão irritante fazendo até as coisas mais simples possíveis?

— Você consegue ser tão extremo até nisso? — ele pergunta enquanto se aproxima de mim, segurando habilmente as duas canecas cheias nas mãos — Quer dizer que café puro e sem açúcar? Uau.

Pego a caneca que ele me entrega e faço uma careta.

— Tanta coisa que você pode usar pra me julgar e é isso que você escolhe?

Enquanto dá mais uma de suas risadinhas irritantes, ele se senta ao meu lado e encara os números abandonados na tela da TV. 

— É brincadeira, okay?

— Hm... — resmungo, com a boca cheia de café — Aliás, o que você queria conversar comigo?

Pode ser coisa da minha cabeça, mas a expressão de Jimin muda drasticamente depois de minha pergunta.

Quando ele engasga com o café e sou obrigado a dar alguns tapinhas em suas costas, é que percebo que não foi só impressão minha.

— Calma aí! — Jimin reclama e sua voz sai esquisita — Já to melhor, pode parar, Jungkook!

Com um risinho, deixo as costas dele em paz.

— Tem que tomar cuidado quando estiver tomando bebidas quentes.

— Você nem disfarça. 

Dou um sorriso, mas não digo nada. Eu estava apenas ajudando e ele reclama. Ingrato.

— Bem, sobre o que eu queria conversar com você... — essa fala faz com que eu volte minha atenção para o rosto de Jimin e desista de pegar minha xícara que coloquei na mesinha de centro para poder ajudá-lo — Acho que você já sabe o que é.

— Eu sei?

Até alguns instantes atrás, eu achava que sabia exatamente o que Jimin queria me dizer, mas então lembrei que nada com ele é tão simples assim. Agora eu tenho certeza de que tem mais do que ele está deixando transparecer. 

O melhor a fazer, no entanto, é continuar indo na onda dele.

— Eu não sei... — consigo ver as pontinhas das orelhas de Jimin começando a ficar vermelhas — De qualquer forma, eu quero dizer, então eu vou dizer.

Faço apenas um sinal de concordância com a cabeça e ele continua a falar:

— Certo, hm — Park Jimin coloca sua xícara na mesa de centro, ao lado da minha e vira seu rosto em minha direção. Ele ergue a mão e tenho que me esforçar para não deixar transparecer o que estou sentindo quando ele afasta uma mecha de meu cabelo e a coloca atrás de minha orelha — Normalmente eu tentaria ser mais romântico, mas acho que minha criatividade se esgotou. Mesmo assim, eu só queria te dizer que, apesar de toda sua teimosia e toda sua personalidade forte, eu me apaixonei por você. Que percebi que meu dia é melhor quando tenho você para provocar e que no final só queria ver seu sorriso. Eu nunca me senti tão realizado por conseguir fazer alguém sorrir antes, também nunca havia me esforçado tanto para isso antes.

Depois disso, ele sorri também. É um sorriso diferente de todos os que ele já me mostrou até hoje. É genuíno e faz com que seus olhos se fechem. É caloroso, gentil e entrega como ele está nervoso. 

— Você é um idiota — murmuro, mas estou me aproximando dele pouco a pouco — Você é tão, tão idiota...

Jimin abre os olhos e parece pronto para retrucar, mas seguro seu rosto com as duas mãos e o beijo com muito mais urgência do que fiz na festa. Ele parece surpreso, mas não demora nada para retribuir e me empurrar no sofá. 

O gosto de café, o cheiro do apartamento do Park, o som da Tv, indicando que eu havia deitado em cima do console e despausado o jogo... De repente, todo esse conjunto de pequenas coisas parece formar o cenário mais romântico possível. 

As mãos dele estão em minha cintura, meus próprios dedos passeam por seus cabelos recém cortados e meio que me arrependo por não ter feito isso quando ainda estavam compridos...

Quando nossas bocas se separam por um breve momento, aproveito a deixa para me afastar um pouco e respirar, deixando escapar um suspiro muito mais vergonhoso do que eu pretendia.

— Esse é o seu jeito de se declarar? — pergunto, com minha voz falhando — Dizendo que tenho personalidade forte? Eu sou chato, mas você ainda gosta de...

As palavras morrem na minha garganta quando Jimin coloca um dedo na minha boca e faz um "shhh" baixinho, logo afundando seu rosto em meu pescoço e fazendo todo meu corpo se arrepiar de uma vez. Ele continua dando beijinhos barulhentos em todo o meu pescoço, sua mão agora por baixo da minha camiseta, passeando por minha cintura. É impossível raciocinar com clareza nessa situação e já consigo sentir minha mente se perdendo.

— Acho que isso significa que meus sentimentos são correspondidos, certo? — ele sussurra contra minha pele e puxo seus cabelos com um pouco mais de força — Certo?

— Sim, sim são — respondo e, infelizmente, é a mais pura verdade — Seus sentimentos são correspondidos, eu também gosto de você... Gosto mais do que devia, que saco.

De alguma forma, eu sei que Jimin está sorrindo quando volta a beijar meu pescoço, com ainda mais vontade agora, cada vez mais perto de beijar minha clavícula. No entanto, antes que ele possa sequer chegar lá, um barulho alto me assusta e faz com que eu empurre Jimin com força e me afaste até a beirada do sofá. O Park cai de bunda no chão com um baque surdo, mas estou mais ocupado procurando a fonte do problema. Meu coração está batendo tão rápido que acho que vai saltar de meu peito e não consigo impedir que um palavrão deixe minha boca quando vejo que o barulho veio do jogo. Aparentemente, eu apertei uma série de botões aleatórios no console, e o Mario fez um som maldito quando perdeu e se espatifou.  

Coloco uma mão em meu rosto e por pouco não saio correndo quando percebo que está super quente e, provavelmente, vermelho. Olho para Jimin, que está passando a mão na bunda com uma careta de dor e realmente acho que a melhor opção seria correr.

— Você... está bem? — pergunto, mas estou com medo de me aproximar — Desculpa...

Jimin trava por um minuto inteiro, mas tudo que faz em seguida é gargalhar. Muito alto.

— O que foi isso? — ele diz em meio as risadas — Ai, eu estou bem.

Faço um sinal positivo com a cabeça, porque não sei mais o que devo dizer nessa situação. Observo em silêncio enquanto Jimin senta ao meu lado no sofá e pega o console que estava embaixo do meu corpo. Ele reinicia a partida e aponta para mim.

— Quer jogar?

Simples assim, quase consigo fingir que nada aconteceu. Quase.

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