should I stay or should I go

10 de abril de 1987,

aproximadamente 16h,

quarto do Jungkook

JUNGKOOK

Yoongi coloca mais um pote de sorvete na minha mão, o meu segundo, enquanto Namjoon anda de um lado para o outro, me deixando ainda mais nervoso do que já estou.

Depois do que aconteceu na casa de Jimin, precisei de dois dias inteiros para conseguir ligar para o meu melhor amigo e decidir que iria contar tudo. Como sempre, ele veio acompanhado de Yoongi e, assim, a fofoca se estendeu por quase duas horas, já que o Kim me interrompeu umas quinze vezes, no mínimo, para poder xingar o Park de todos os nomes possíveis.

— Certo — Namjoon finalmente para no lugar e diz — Essa com certeza não é a sua primeira decepção amorosa, mas conseguiu ser pior do que todas as que você já teve antes.

— Reconfortante.

— Mas tem alguma coisa estranha dessa vez...

jura?

— Acho que terei que ativar o modo Detetive Namjoon.

— Em qual modo você estava durante todo esse tempo? — Yoongi pergunta.

— Modo Sexy Namjoon.

— Faz sentido.

— Com licença — interrompo o flerte descarado do casal — Vocês não estão me ajudando.

Namjoon joga seu corpo no meu puff com tudo e quase voo no seu pescoço. Maldito o dia em que deixei a intimidade passar dos limites.

— Jungkook, você pode continuar tomando o seu sorvete aí quieto. Deixa que eu faço o trabalho de gente grande.

— Lá vem merda — eu e Yoongi falamos na mesma hora e damos uma risadinha quando percebemos.

— Tá bom, então... — Namjoon resmunga, provavelmente se preparando para mais um monólogo dramático, mas logo o som do telefone o interrompe.

Em silêncio, nós três olhamos para o aparelho na mesinha. Ninguém ousa se mover por um minuto inteiro, como se estivéssemos em um filme de terror. Calmamente, apoio o pote de sorvete na cama.

Encaro meus amigos e eles me encaram de volta, até Yoongi decidir quebrar o silêncio:

— Você acha que pode ser...?

Rápido como um raio, Namjoon levanta do puff e tira o telefone do gancho, o colocando na orelha.

— Alô? — ele diz, enquanto eu e Yoongi estamos travados em estado de completa surpresa — Quem é?

Silêncio.

E mais silêncio.

Até Namjoon colocar o telefone no gancho novamente com força.

— Era o metido a besta.

Tanto eu quanto Yoongi suspiramos e relaxamos nossos corpos. Volto a pegar meu pote de sorvete e enfio uma colherada generosa na boca.

Não tem mais como esconder: estou em um beco sem saída.

— Já é sexta vez que ele liga desde o incidente — falo, mas minha voz sai engraçada por conta do sorvete — Ele não desiste.

— E você atendeu das outras vezes? — Yoongi pergunta.

— O que eu poderia fazer? — gesticulo com a colher — Mas não deixei o mauricinho falar nada.

— Talvez você devesse conversar com ele — é o Min quem sugere e quase engasgo com isso — Pelo que você contou, parece que ele realmente tem uma explicação plausível para tudo isso. Apesar da situação toda ser bem ridícula... De qualquer forma, você não precisa voltar a ficar com ele nem nada, mas só resolver tudo direito. Jungkook, você não pode fugir para sempre.

Fico calado por alguns instantes.

Yoongi tem um ponto, eu sei disso. Estou sendo dramático e muito provavelmente infantil, mas não tenho para onde correr. Por mais que eu pense, repense e fique triste enquanto viro um pote de sorvete, não consigo achar argumentos bons o suficiente para me fazer engolir meu orgulho. Nem mesmo a curiosidade avassaladora que estou sentindo é o suficiente para me fazer voltar atrás.

— Yoongi, você surtou? — Namjoon pergunta — O que o Jungkook precisa fazer é humilhar ele, dar o troco na mesma moeda!

— Por favor, não dê ouvidos a ele. Namjoon é muito infantil.

— Ei! Eu não sou nada! Eu sou a voz da razão!

— Eu sei disso — ignoro Namjoon e respondo apenas a Yoongi — O problema é que eu também sou. Poxa, quando eu finalmente resolvo ficar com ele, isso acontece. Eu não poderia ser mais azarado?

Enfio outra colherada de sorvete na boca enquanto Yoongi faz um carinho na minha cabeça, me consolando pela milésima vez no dia. No entanto, somos interrompidos mais uma vez pelo som do telefone tocando.

Cem por cento de certeza de que Park Jimin está ligando de novo.

Com uma carranca enorme, Namjoon estende a mão para atender a ligação, mas levanto de um pulo e ele para.

— O que você está fazendo?

— Eu vou atender dessa vez — respondo — Vamos acabar com isso agora.

— Jungkook...

— Anda, sai da frente.

Namjoon cruza os braços.

— Só se você me deixar ativar o modo Detetive Namjoon.

Reviro os olhos com tanta força que fico tonto, mas não tenho escolha. Tenho que passar por ele antes que a ligação caia.

— Certo, tanto faz.

Meu amigo sai da frente e eu tiro o telefone rapidamente do gancho, o colocando na orelha.

Alô? — a voz de Jimin ressoa do outro lado — Jungkook?

— O que foi?

Namjoon dá um tapa em meu ombro, sem nem esconder sua expressão de fofoqueiro supremo, e o afasto o máximo que consigo com uma mão só. Está mais do que óbvio que ele só me deixou atender para poder acompanhar mais de perto o roteiro da novela. Ou isso, ou ele talvez concorde com o que Yoongi disse.

Finalmente! Acho que foi seu amigo que atendeu da outra vez, levei um baita susto.

Maldito. Agindo como se nada tivesse acontecido.

— Fala logo o que você quer, ou eu vou desligar.

Não! Espera, por favor. A gente precisa mesmo conversar.

Eu e Namjoon nos entreolhamos, já que ele está claramente tentando escutar a conversa, e acabo suspirando derrotado.

— Estou ouvindo — é tudo o que respondo.

Ótimo! — Jimin faz uma pausa e respira fundo — Olha, eu vou ser sincero. Vamos sair, por favor.

— O quê?

Não posso acreditar no que estou ouvindo, apesar de ser previsível.

Isso mesmo que você ouviu. Sem joguinhos, só um passeio normal, para que eu possa explicar tudo... Não sou muito do tipo que conversa coisas sérias pelo telefone.

Olho de relance para Namjoon, que está com uma mão no queixo e gesticulo desesperado. Ele apenas dá de ombros e olha para Yoongi, que claramente não está entendendo nada. Como sei que não vou obter resposta nenhuma desses dois, respiro fundo e dou alguns chutes em meu melhor amigo, até que ele saia de perto de mim com uma carranca feia e vá se sentar na beirada da cama para começar a repassar a fofoca quente com Yoongi. Quando vejo que os dois estão entretidos falando sobre mim, como se eu não estivesse bem aqui, volto a prestar atenção no telefone.

— Nem morto — respondo em alto e bom som e escuto um baque surdo. Quando olho para trás, Namjoon está caído no chão, fazendo careta. Aparentemente, ele não estava entretido o suficiente, mas não importa — Não vou sair com você.

Isso meio que me traz lembranças — ele dá uma risadinha — Por favor, Jungkook. Pode ser naquela praça perto da sua casa! Eu fiquei sabendo que o parque chegou e vai ser inaugurado amanhã.

Enrolo o fio do telefone no dedo e me apoio em uma perna só.

Eu não sei por quais motivos ele continua insistindo em mim, sinceramente. Eu já sei o que aconteceu, eu já servi para alimentar o ego dele e do amigo dele. Eu até percebi que tenho um dedo muito podre para gostar das pessoas...

De qualquer forma, não faz sentido. E, justamente por não fazer sentido, eu vou continuar recusando.

— Não.

Pode ser às seis da tarde? É um pouco antes do parque começar a funcionar, mas as banquinhas de comida já vão estar abertas! Assim podemos comprar alguns ingressos e comida sem enfrentar muita fila. Podemos conversar também enquanto comemos...

Como ele conseguiu tanta informação??

— Você está me ouvindo? Eu acabei de dizer que não.

Tudo bem, tudo bem. Mesmo assim, guarda isso na sua memória, okay? Amanhã, seis da tarde, no parque perto da sua casa! Eu vou estar te esperando. Por favor, apareça.

— Jimin! Eu já disse que...

Eu sei! — ele me interrompe — Eu vou desligar agora, certo? Assim você não pode desligar na minha cara. Te vejo amanhã.

Jimin realmente desliga na minha cara logo depois disso. Por alguns segundos, escuto apenas o bip do telefone, seguido pelo silêncio, antes de colocá-lo com uma força descomunal de volta no gancho.

Olho para Namjoon, que ainda está no chão, e solto um gritinho vergonhoso de raiva contida.

— Como ele pode ser tão.... tão convencido? — grito e imediatamente Namjoon levanta — Eu juro, um dia eu vou esganar Park Jimin! Fala sério, ele acha mesmo que eu vou aparecer naquele parque maldito? Eu prefiro a morte! Ainda por cima! Ainda por cima, ele desligou na minha cara! Que tipo de ser humano desp-

— Jungkook! — minha mãe, surgindo totalmente do nada, praticamente arromba a porta de meu quarto como se não houvesse amanhã e eu me calo na mesma hora — Será que dá pra você parar de gritar, pelo amor de tudo que é mais sagrado?

— Desculpa, mãe — congelo no lugar com uma perna levantada, pronto para dar um chute no assoalho, o que, provavelmente, causaria minha morte.

— Sério, quem é esse tal de Park Jimin? Por que você continua gritando o nome dele em todo lugar? Esses dias, eu passei pelo corredor e você estava o xingando embaixo do chuveiro, eu ouvi perfeitamente você o chamar de mauricinho metido à besta, ou algo assim — à medida que minha mãe continua falando, enquanto está apoiada no batente da porta, sinto o sangue subindo com força para o meu rosto — Você por acaso está apaixonado por ele? Eu nunca vi você xingar tanto alguém e isso definitivamente é sinal de amor. Estou dizendo isso, porque, sabe, costumava ser assim comigo e com o seu pai...

— Mãe! Já chega!

Ele dá de ombros enquanto me encara, mas parece lembrar do motivo para ter vindo até aqui, então se desencosta do batente e coloca a mão na maçaneta da porta.

— Verdade. Já chega de gritaria, okay? Se você sente tanta raiva assim do tal Park Jimin, vai logo atrás dele e para de ser um bundão — ela começa a fechar a porta lentamente, como se estivesse se divertindo enquanto me faz passar vergonha — Sinceramente, não sou obrigada a lidar com seus dramas adolescentes...

— Mas... Mas você é minha mãe... — sussurro, mas ela já fechou a porta e foi embora.

Bem, aqui vai uma curiosidade sobre a mulher que me colocou ao mundo: Ela fala muito quando quer. Especialmente, quando está determinada a me fazer vergonha na frente de meus amigos.

Lentamente, volto meu olhar para Namjoon e fico em silêncio enquanto observo sua expressão mudar aos poucos, à medida que ele perde o controle sobre a risada que eu sei que está entalada em sua garganta. Basta eu fechar os olhos com força, e ele solta a gargalhada mais nojenta que já ouvi em minha vida.

Abro os olhos e vejo Yoongi em estado de completa perplexidade enquanto Namjoon se joga no chão e implora por ar entre suas risadas histéricas.

— Fala sério! — O Kim diz entre suas gargalhadas — Putz grila, você realmente xinga o Park no banho?

Diante disso, até Yoongi esboça um sorriso.

— Olha, por um momento eu até me arrependi de ter tentado juntar vocês, mas agora eu vi que o Cupido Namjoon não erra. Apesar dele realmente ser um babaca, talvez Yoongi tenha razão, sabe. Uma boa conversa faz milagres e, além disso... — ele continua, agora já recuperado da crise de riso — ...você está completamente e totalmente apaixonado por-

— Espera aí — interrompo o meu amigo e me aproximo de onde ele está, sentado no chão — O que você quer dizer com 'ter tentado juntar vocês'?

Namjoon trava no lugar e seu sorriso morre.

Eu não acredito que vou ter que lidar com mais uma merda. Mais uma.

Depois de tudo que aconteceu, eu não ficaria surpreso caso me dissessem que meus dois únicos amigos que realmente considero também estavam de conluio pelas minhas costas. Como não tenho mais nada a perder, começo a sorrir também. De nervoso.

Pouco a pouco, e escorregando em suas meias, Namjoon levanta e começa a se afastar, sem quebrar o contato visual comigo.

— Eu não quis dizer nada! — ele responde e dá uma olhada de desespero da direção de seu namorado — Yoongi, me ajuda aqui!

— Olha, Jungkook! — assim que o Min fala, desvio meu olhar na sua direção, mas minha mão agarra a gola de Namjoon. É hoje que eu mato o desgraçado — Não é nada demais, okay?

— Tentar me juntar com o merda do Park não é nada demais?

— Quando você estava beijando ele, ele não era tão merda assim, né? — Namjoon diz — Quer dizer, você até foi pra...

Agarro o outro lado da gola do Kim com minha outra mão e o balanço, então Yoongi me puxa para trás pela cintura e permanecemos nisso por Deus sabe quanto tempo, enquanto tento arrancar alguns tufos do cabelo de meu melhor amigo.

Quando finalmente Yoongi consegue fazer com que eu me afaste alguns passos, estou orgulhoso de dizer que consegui realmente arrancar uma boa quantidade do cabelo de Namjoon. Afinal, por qual outro motivo eu deixaria o magricela do Min conseguir me mover? Levanto meu troféu bem alto como se fosse a melhor conquista da minha vida e, finalmente, respiro fundo.

— Que porra foi essa, Jeon? — Namjoon quase grita, com a mão em seu cabelo.

— Não fala comigo, hein! Olha que você ainda tem muito cabelo pra eu arrancar.

Solto as mãos de Yoongi de minha cintura e caminho até a cama, onde pego meu sorvete como se nada tivesse acontecido.

Eles me encaram perplexos enquanto pego a colher.

— Merda... Já derreteu quase tudo — olho para eles e ergo as sobrancelhas — Então, vão me contar porque tentaram me juntar com a pessoa que mais odeio no mundo?

Yoongi, sempre a voz da razão, respira fundo e vem sentar perto de mim. Arriscado, mas admiro a coragem.

— Certo, vou ser direto — ele começa a falar — Tudo começou quando eu estava conhecendo Namjoon. Tipo, tinha uma semana que a gente começou a sair e...

— Espera, por que você vai começar daí? Não é muito longe no tempo? Não quero saber da sua história toda com o Namjoon.

— Cala a boca e escuta, Jungkook — Yoongi diz e me calo na hora — Enfim, nessa época, eu saía às vezes com o clube de nerds desajustados. Sabe, eles eram os únicos mais legais comigo e a gente ia estudar na biblioteca quando dava. Em um desses dias, eu fui pegar um livro e, quando voltei para a mesa, ouvi Taehyung conversando com a Yeri. Eles estavam sozinhos e ouvi o Taehyung contar para ela que gostava de você, Jungkook. Ele falou com todas as letras.

— É o quê? — interrompo sua história enquanto essas últimas palavras ressoam em minha cabeça — Você tá me zoando?

— Não, ele realmente disse isso. Que tinha uma paixão por você, mas sabia que você era inalcançável e tudo mais.

Dou uma risada histérica, porque é tudo que consigo fazer.

— Eu não acredito nisso. Realmente, tá me dizendo que eu sofri para conseguir falar um 'oi' com ele por todo esse tempo para nada? Meu Deus, se ele gostava de mim também, por quê...

— Jungkook, calma que tem mais. Mantenha em mente que isso foi quando eu comecei a sair com Namjoon. Óbvio que eu não contei logo, porque mal te conhecia. Então algum tempo se passou e aconteceu aquilo do karaokê, além de todos os incidentes com o Park.

De repente, minha cabeça faz um clique e tudo se encaixa.

— Você falou que alguém gostava de mim na lanchonete...

— Isso. Só que tem um porém. Um tempo depois, quando eu estava pensando sobre te contar ou não, eu soube que o Taehyung estava saindo com o Hoseok. Saindo muito, se é que você me entende.

Respiro fundo e me encosto na parede. Pela milésima vez nesta semana, não sei o que devo sentir. O garoto pelo qual eu era apaixonado também gostava de mim, e ainda tem tudo aquilo sobre ele conhecer o garoto que supostamente gosto agora, mas fingir que não conhece.

— É, realmente. O Taehyung e o Hoseok não sabem esconder muito bem... — é tudo que consigo dizer.

Apesar de estar surpreso, já superei o Taehyung e meus problemas são outros agora. Infelizmente, ele continua metido no meio de tudo.

— E bem... — Yoongi volta a falar e posso ver Namjoon se contorcendo calado, ou seja, não vem boa coisa por aí — Eu contei tudo ao Namjoon e decidimos que você precisava se distrair com outra pessoa que não fosse o Taehyung. Então tentamos... quer dizer, ele tentou mais do que eu... Enfim, tentamos te aproximar um pouco mais do Park, já que ele sempre te seguia pra lá e para cá.

Olho para o tufo de cabelo que tenho perto de mim e olho também para Namjoon que já está se preparando para correr. Ele abre a porta como se eu não pudesse vê-lo e começa a se esgueirar feito uma cobra.

— Também fizemos uma aposta envolvendo você ficar com ele ou não! — Yoongi fala rapidamente e então levanto de um pulo da cama.

Agarro a maçaneta da porta na hora em que Namjoon fecha a porta e saio correndo atrás do miserável escadas abaixo.

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