separate ways


8 de abril de 1987,

aproximadamente uma da manhã,

apartamento do Park



"cause it always ends with us hating each other"


JUNGKOOK


— Se você for por aí, vai cair. Olha, olha, tô dizendo! Você vai perder, Jungk-

A musiquinha indicando que perdi interrompe sua fala.

— Tá vendo, eu falei que você ia perder.

— Eu já notei, não sou cego.

— Deixa eu mostrar como que se faz.

Puff, vai nessa, Romeo.

Jimin dá um sorrisinho convencido, de quem sabe que é melhor do que eu. Estamos jogando Super Mario Bros desde que desistimos do Mario Kart por conta do trauma que ele nos causou. O Park jurava que íamos conseguir completar o jogo em uma noite. Ele disse que isso deixaria seu colega de apartamento irritado, então não custa nada tentar. 

— Isso me lembra de que... 

— Ah não, lá vem.

Minha voz já soa irritada nos meus próprios ouvidos. Jimin é realmente bom nesse jogo, coletando todas as moedas que aparecem em seu caminho de forma despreocupada. Ele nem mesmo desvia o olhar da tela para me encarar. 

Quanto a mim, não consigo sequer olhar para Jimin sem lembrar do que aconteceu a pouquissímo tempo atrás. Agora, finalmente e infelizmente, tenho tempo até demais de assimilar tudo.

— Calma — ele ri — É só que não tem graça jogar sem apostar nada.

— Sabia! Você sempre tem dessas. Apostas, apostas. O que é isso? Um cassino?

— Poxa, eu só queria averiguar um negócio.

Sinto um calafrio só de ouvir essas palavras. Tudo estava quieto até demais. Nós conseguimos jogar em uma quase perfeita harmonia, o que era definitivamente estranho, e nenhum de nós ousou falar nada sobre o incidente do sofá, ou sobre a confissão. Foi tudo tão rápido e intenso e, repentinamente, estava calmo de novo.

Parece que a calma acabou de uma vez por todas.

Pego um punhado de pipoca e coloco na boca, enchendo meus dedos de sal e corante.

— Averiguar o quê? — pergunto com a boca cheia.

Hm...— ele acabou de passar mais uma fase, estendendo o controle em minha direção — Okay, talvez não precise de algo tão grande assim. Eu só queria saber se você falou sério quando disse que correspondia meus sentimentos.

Me engasgo com a pipoca. Eu sabia.

Desvio o olhar para o outro lado, porque sinto minha cara queimar.

Aparentemente, Jimin consegue ser ainda mais lerdo do que eu, ou ele realmente quer testar até onde eu aguento com suas provocações idiotas. Eu preciso deixar ainda mais óbvio do que já deixei?

A-ah. Aquilo.

— É, aquilo. Você não vai jogar?

Olho para sua mão, onde o controle ainda está e o agarro de uma vez. Encaro o brilho da tela, mas não ouso olhar para Jimin.

Ele está brincando comigo, eu sei disso. 

— E como você quer averiguar uma coisa desa?

— Não é óbvio? Se você perder mais fases que eu, vai ter que me fazer uma surpresa romântica.

Quanto drama.

Reviro os olhos, mas minha cara ainda está vermelha.

Okay.... E se eu ganhar?

— Se você ganhar... A gente assiste algum filme. Eu deixo você escolher.

Imediatamente o encaro com minha mais genuína careta de decepção.

— Você não acha, realmente, que isso vai me convencer, não é? — até abaixo o console para assimilar esse absurdo — A gente precisa de uma aposta para você assistir a um filme comigo?

— Calma, calma, era brincadeira. 

Até parece. 

— Tá, tá — bufo, irritado — Então fala logo. E se eu ganhar? O que acontece?

Jimin apoia seu console na mesinha de centro, ao lado de uma latinha de refrigerante e me encara. Pisco surpreso enquanto espero por sua resposta, mas a cada segundo que se passa fico mais e mais acanhado com a forma como ele está me olhando.

— Eu não faço ideia — ele finalmente responde, me deixando mais confuso do que nunca — Você pode fazer o que quiser, eu não me importo. 

— O quê?

Ele desliza no sofá, se aproximando ainda mais de mim.

— Eu quis dizer que, não importa o que você decida fazer caso ganhe a aposta, eu ainda vou topar. Não vai me incomodar de nenhuma forma.                   .

Ah... Assim fica difícil, Park Jimin. 

Diante disso, todos os planos mirabolantes que eu poderia bolar somem de minha mente e minha cabeça fica oca e sem ideias. 

Hm... — pigarreio e volto meu olhar para a TV — Qual o sentido de fazer uma aposta, então?

Jimin dá uma risadinha.

— Para te provocar. 

— Muito engraçado. 

— Estou falando sério.

— Certo, já entendi, isso é ridículo — largo o console na mesinha de uma vez por todas — Não precisa de aposta nenhuma. 

É a vez de Jimin me encarar com um olhar confuso e balançar a cabeça.

— Como assim? 

Bem, hora de mandar tudo pro espaço de uma vez por todas. Fala sério, depois de tudo o que já aconteceu nessa noite...

— Eu estava falando a verdade. Já te disse isso várias vezes. Te beijei porque quis te beijar, vim até aqui com você porque gosto de você. Que merda, viu... Jimin, você consegue ser tão irritante, mas nunca achei que isso fosse funcionar como um maldito imã... Porque não consigo me afastar de você! — faço uma pausa e respiro fundo — Está feliz agora?

Deus, isso está, definitivamente no meu top cinco de coisas mais vergonhosas que eu disse e fiz na vida. E olha que já falei e fiz muita coisa vergonhosa.

Espero por uma resposta, mas Jimin apenas dá um aceno timído de cabeça. 

Ótimo. Agora somos dois esquisitões envergonhados, que parecem nunca ter se declarado na vida. 

— Hm... Bem... — gaguejo enquanto tento procurar com o olhar algo que possa servir de distração para o que acabou de acontecer. Até que finalmente vejo uma caixa cheia de fitas cassetes no canto da sala e resolvo caminhar na direção dela — O que é isso?

Ele olha na minha direção e coloca a mão na nuca, como se eu não fosse capaz de notar como ele está nervoso.

— Ah, isso. É uma caixa de filmes e jogos. Não é minha, mas pode fuçar se quiser.

— É do seu amigo?

— Aham... Ele é obcecado com essas coisas. 

Como ele disse que não tem problema bisbilhiotar, me agacho perto da caixa e a pego nos braços, levando até perto do sofá. A área ao redor da TV já consegue parecer um cativeiro de tão bagunçada que está, mas não consigo me importar com isso no momento.

— Podemos ver um filme? — pergunto enquanto tiro várias fitas de dentro da caixa e as coloco no tapete — Tem muita coisa boa aqui, uau.

— Se eu não me engano, essa caixa é a de romances — Jimin fala enquanto se inclina no sofá para olhar o que estou fazendo — Você é um fã de romances?

Reviro os olhos.

— Óbvio que sim. É meu gênero favorito.

— Não parece.

Minhas mãos param de se mover diante do tom de voz debochado do Park.

— Vou fingir que não entendi isso. 

O mauricinho dá de ombros e salta para onde estou, sentando bem ao meu lado. Estamos espremidos em um canto do tapete, e não posso culpar ninguém além de nós mesmos por tudo estar uma zona e não ter nenhum espaço para que possamos nos sentar um pouco mais afastados um do outro. 

Jimin coloca o rosto por cima de meu ombro, tentando ler o nome escrito com letra de forma no cassete. Ele está perto demais. Perto demais. 

— Namorada de Aluguel? Parece algo cem por cento clichê.

Continuo segurando o cassete sem me mover um milímetro sequer. Mesmo depois de já ter lido o título, Jimin continua próximo, seu queixo tocando meu ombro.

Não sei se devo suspirar ou dar meia volta e ir morrer de nervoso. Não tem como continuar assim.

Com calma, o que não condiz com meu estado psicológico agora, coloco a cassete sobre a mesa de centro e viro meu rosto na direção de Jimin, mas me surpreendo quando percebo que ele está, na verdade, me encarando.

O olhar dele parece sorrir.

Dessa vez, é ele quem toma a iniciativa. Com ternura, ele junta sua boca à minha, conectando nossos corpos pela milésima vez nessa noite. Ele se separa um segundo depois, como se só agora percebesse o que tinha acabado de fazer.

— Fala sério...

— O que foi?

— Ainda não assimilei tudo isso, mas.... — Jimin responde com um sorriso e passa um dedo pela minha bochecha — Você tá muito bonito agora, sabia? 

— Então eu era feio antes?

Jimin dá uma risadinha fofa e, por conta da proximidade entre nossos rostos, consigo ouvir o som perfeitamente. Talvez um sorriso tenha ameaçado se formar em meu rosto também.

— Não é isso. Não mesmo.

— Espera aí, acho que já entendi o que está acontecendo aqui.

Ele levanta uma sobrancelha e seu sorriso já se transformou no habitual. Provocador e debochado.

— Entendeu, é?

— Você só está fazendo isso pra me irritar, não é?

— Hmm... — ele se aproxima, mas deixa apenas um beijo em minha bochecha, tão rápido que quase não o sinto — Será que estou?

Isso sim é golpe baixo.

Ah, cala a boca...  

Com o intuito de fazer o mauricinho irritante fechar o bico, o puxo para outro beijo, mas acabo puxando com força demais e nós dois caímos deitados no chão da sala. Ele está por cima de mim e agora me beija com mais vontade do que nunca. Correspondo à sua vontade com um puxão de leve em seus cabelos e ele acaba rindo no meio do beijo.

Não consigo me afastar de Jimin e, por mais que esteja nervoso, não quero que ele pare.

Eu devia o xingar mentalmente enquanto nos beijamos? Parece paradoxal demais. 

Quando minha mão alcança as costas de Jimin, o acariciando por cima da camisa, é que escuto o barulho da porta sendo aberta com tudo.

— Jimin, você não vai acreditar! O Hoseok me ligou do nada e eu corri até a casa dele todo preocupado, mas ele só precisava de... Ops.

Essa voz.

Empurro Jimin para longe de mim, como se nossos corpos se repelissem de repente, e encaro a figura parada na porta com surpresa.

Só consigo pensar na mesma coisa, de novo e de novo. O que diabos Kim Taehyung está fazendo aqui? No apartamento de Park Jimin? 

Ele está parado, usando tênis all star e um moletom preto quase nos joelhos, enquanto nos encara de um jeito esquisito. 

Nem consigo sentir vergonha por ter sido visto nesse tipo de situação. Descrever o que estou sentindo é, na verdade, quase impossível. Um misto de confusão, raiva e vontade de chorar repentina.

Olho para o Park, que está colocando uma mão no rosto em silêncio e espero por uma explicação. Apesar de não precisar de muito para que eu possa entender. 

Vou resumir tudo de forma bem prática: Eu sou um idiota. 

Levanto lentamente do chão e passo a mão em meus cabelos, como se o ato fosse resolver alguma coisa.

— Certo... — é a única coisa que consigo dizer, minha voz saindo mais alta do que eu pretendia — Alguém vai me explicar o que está acontecendo aqui ou eu vou ter que começar a deduzir coisas?

Taehyung coloca um molho de chaves no pequeno espaço ao lado da porta e caminha pelo corredor, até estar realmente na sala. Óbvio que ele tem uma cópia das chaves. Mas é óbvio.

Olho para Jimin enquanto ele se levanta do chão e quase não consigo acreditar que realmente falei todas aquelas breguices para ele. Tudo isso enquanto ele mentia na minha cara, sem nenhum pouco de remorso.

—Jungkook... Essa era a coisa que eu precisava te contar. Na verdade, eu moro com o Taehyung, mas você obviamente já percebeu isso... Nós, hm, somos amigos de infância...

Levanto as sobrancelhas, mas não respondo.

Amigos de infância? Isso torna tudo ainda pior.

— Eu realmente ia te explicar tudo hoje! — Jimin continua a falar e falar — Não era assim que eu queria que você descobrisse... Mas como o Taehyung não estava em casa, eu não soube como...

Por isso que ele ficou desconfortável quando pedi para vir dormir em sua casa, então.

Pouco a pouco tudo se conecta e as peças que faltavam para completar o quebra cabeça finalmente se tornam totalmente visíveis. 

Era tudo um joguinho idiota. 

Tanto Taehyung quanto Jimin. Eu não quero e nem consigo imaginar o que devem ter falado sobre mim pelas minhas costas.

— Quer saber? — finalmente digo — Não me interessa. 

— Jungkook, eu sei que parece...

— Não, sério, Jimin, só cala a boca. Já ficou tudo perfeitamente óbvio. Era uma brincadeira, eu já entendi. Você é só um mentiroso e esse tempo todo... — não consigo falar tudo sem me sentir ainda mais idiota, então deixo o resto da frase no ar e dou meia volta — A quanto tempo vocês se conhecem? Sério, como vocês conseguiram fingir tão bem? 

Não estou esperando por uma resposta, então apenas continuo andando até chegar na porta e girar a maçaneta.

— Jungkook, por favor. Eu juro que é a história mais idiota possível, mas você precisa me ouvir para poder entender.

É só um monte de desculpas inúteis. 

— Eu não preciso fazer nada. E isso não me interessa.

Não tenho certeza de que ele me ouviu, mas puxo a maçaneta e saio do lugar, batendo a porta com força logo depois. Fico parado por alguns instantes, talvez esperando que alguém venha atrás de mim, mas ninguém vem. 

Taehyung nem mesmo disse uma palavra sequer, como se estivesse com medo de piorar ainda mais a situação, o que é ridículo. Posso ouvir sua voz falando com Jimin ao longe e então tenho certeza de ninguém vai vir mesmo. Até que escuto alguns palavrões e isso me impede de continuar andando por um milésimo de segundo. 

— ... Por que você o trouxe até aqui?  — é a voz de Taehyung que ouço — Achei que você fosse explicar tudo direito. Óbvio que ele ia sair chateado assim, né Jimin?

Eu não sei, caralho. Eu não consegui dizer 'não' para ele. Que merda, eu estraguei tudo. Estava indo tão bem...

Falso.

Falso, falso, falso. Park Jimin é um mentiroso de primeira.

Se estava tudo indo tão bem, porque você não contou logo a verdade? — Taehyung pergunta e, mais uma vez, não consigo parar de escutar por trás da porta — Eu sei como você gosta dele e até falei que ia ajudar.

Eu não sei! Merda, merda, merda...

Okay, calma, respira e vai atrás dele.

Uma pausa longa o suficiente para que eu me sinta constrangido se estende.

É o quê?

Vai atrás dele, seu idiota!

Ele já deve estar longe agora, não vai adiantar de nada. Além disso, você não conhece o Jungkook, ele é teimoso feito uma pedra...

Realmente, é preciso muita força de vontade para não voltar, arrombar a porta e dar na cara de Park Jimin.

Primeiro — Taehyung diz — Você falou sobre o Jungkook absolutamente todos os dias desde que começou a sair com ele de verdade, então acho que o conheço um pouco sim. Segundo, você que está errado aqui, então você é que tem que correr atrás do prejuizo. Você nem mesmo perguntou se ele queria uma carona, vai deixar ele voltar sozinho pra casa? A pé? Para de ser idiota, cara!

Nesse momento, tenho certeza de que já ouvi mais do que suficiente. Jamais admitiria em voz alta, mas Taehyung recuperou pelo menos um pouco de meu respeito com essas palavras. Não quero saber se Jimin vai vir atrás de mim ou não, então me desencosto da porta e ando a passos apressados até a escada. Desço alguns degraus, o suficiente para que o apartamento não seja mais visível, e travo quando ouço a porta sendo aberta. Nesse instante, corro escadaria abaixo, como se minha vida dependesse disso. 

Quando finalmente alcanço o último degrau, paro por um segundo, apenas o suficiente para recuperar um pouco do ar e apoio as mãos nos joelhos. Estou quase recuperado quando uma mão encosta em meu ombro e arrumo minha postura na velocidade da luz, por pouco não dando um soco na cara de quem me tocou. E quem mais poderia ser além de Park Jimin?

Ele está tão ofegante quanto eu, parecendo assustado com a visão de meu punho, mas sem se afastar por um milímetro que seja. 

Então Jimin realmente veio. 

Abaixo minha mão e dou um suspiro derrotado. Sem dizer nada, começo a andar na direção pela qual viemos de moto. 

— Jungkook, espera. 

— Não.

— Certo.

Não posso dizer que fico surpreso quando Jimin começa a andar ao meu lado, mas definitivamente estou irritado com isso.

— Desculpa — ele diz, mas aperto o passo — Eu fui um idiota, você não tem a obrigação de aceitar isso, eu sei. 

Continuo em silêncio.

— Deixa pelo menos eu te levar em casa...

Não sei se quero rir ou chorar diante dessa frase, considerando que escutei praticamente tudo por trás da porta, então apenas continuo andando em silêncio.

— E desculpa por não ter feito nada no apartamento... Não queria parecer que estava invadindo o seu espaço ainda mais, porque sei que você deve estar...

— Que ótimo, eu já entendi que você sabe — o interrompo — Nós não temos nada sério mesmo, Jimin. Você não tem nenhuma obrigação comigo e eu não tenho a obrigação de aceitar as suas desculpas. E não, não quero uma carona.

Sou covarde demais para olhar na cara do Park enquanto digo isso, então apenas continuo andando. No entanto, dessa vez, Jimin fica para trás. Ele para de me acompanhar e não diz mais nada enquanto adentro a rua escura da madrugada. 




***

nota 1:

o filme Namorada de Aluguel foi lançado dia 14 de agosto de 1987, mas vamos fingir que ele foi lançado mais cedo nessa fanfic kkkk

nota 2:

eu publiquei uma "nova" fanfic jikook no meu perfil chamada 134340(pluto), caso queiram dar uma chance a ela eu fico feliz.

nota 3:

eu n tenho criatividade p nome de capítulo kk

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