Prólogo

9 de Março de 1987,
corredores da Beacon Hills High School

JUNGKOOK

Take on me começa a tocar em meus fones no exato momento em que ele aparece no corredor. Óculos redondo, apoiado na ponta do nariz, cabelos negros bem penteados, caindo em ondas sobre seu rosto tímido. Seus olhos castanhos fitam o chão enquanto ele carrega alguns livros nos braços, os segurando com força contra seu peito coberto pelo moletom azul.

Kim Taehyung tenta ao máximo se esconder por trás de sua mente brilhante e blusas de gola alta. No entanto, ainda consegue ser um dos alunos mais comentados em nosso colégio.

Digo, ele anda junto dos nerds desajustados: Yeri e Hoseok. Uma garota que simplesmente faz sempre o que quer, que muda a cor dos cabelos toda semana, que não tá nem aí pra nada, e um bissexual assumido que já pegou mais brigas nesse colégio do que eu posso contar nos dedos das mãos.

Taehyung é o mais quieto do grupo. Como consequência disso, não sofre tanto na mão dos predadores da nossa escola. Pelo menos era assim que costumava ser.... Até o último final de semana. Agora, seu nome não é só falado pelos corredores sem pudor. Seu nome é o mais falado pelos corredores, sem pudor.

Quando ele passa por mim, que estou parado feito um idiota, automaticamente rostos se viram em sua direção. Fico feliz por estar de fones e não ouvir o que os idiotas em minha frente falam quando ele aparece, porque tenho certeza de que suas palavras estão longe de ser gentis.

Taehyung segue de cabeça baixa pelo corredor, rapidamente sumindo pela porta de saída. Exatamente como todos os dias. Exceto que agora ele tem mais atenção quando faz isso. Permaneço calado, na minha, esperando Namjoon sair de sua última aula, que, na verdade, já deveria ter acabado a um bom tempo.

Enquanto ele não aparece, me pergunto se algum dia vou ter coragem de falar com Taehyung. Não sei nem expressar em palavras como eu gostaria de ter a coragem necessária pra isso. Principalmente agora, depois dos boatos, os quais eu gostaria de extinguir desta realidade, mas infelizmente não posso. Os tais boatos são bons por um lado, mas obviamente ruins por outro, já que estão arruinando a paz que Taehyung costumava ter no colégio. Talvez seja até egocentrismo dizer que eles sequer possuem um lado bom.

A verdade nua e crua é que estamos em lados completamente opostos. Ele é do mesmo ano que eu, mas está em outra turma. Eu na B, ele na A. Além disso, como eu já disse, ele faz parte do grupo dos nerds desajustados, enquanto eu estou na turma que só tem idiotas. Não me orgulho de dizer que, infelizmente, cultivei uma fama e, bem, ela faz jus à minha rotina.

Resumindo tudo, não tenho chance. Mesmo com os boatos.

Tirei os fones e guardei o walkman assim que vi Namjoon caminhando calmamente pelo corredor. Ele vinha justamente da direção oposta da sala de aula. Os primeiros botões de sua camisa estão desabotoados e ele sorri, todo sacana, como se eu não estivesse em pé aqui o esperando a quase meia hora.

Bem, como se minha fama já não fosse o suficiente, também tem a de Namjoon para completar o pacote. A diferença é que ele não tem pudor nenhum, enquanto ainda me resta o resquício de algum.

Sobre Kim Namjoon.. um metro e oitenta e um de pura beleza, covinhas profundas, pele macia igual a de um bebê, olhos que parecem enxergar até o último grão de poeira que reside em minha alma e um cabelo que está sempre cheiroso. Além disso, é meu amigo desde que me entendo por gente, barulhento e enfático, um tanto fofoqueiro também. Costumo dizer que o que nos uniu, em primeiro lugar, foi a fofoca.

Isso não faz com que eu o odeie menos, de qualquer forma.

— Sério? — pergunto ao que ele para do meu lado para pegar sua mochila no armário — Por que me mandou esperar?

— Porque sempre voltamos juntos, óbvio.

— Você nem estava na aula!

Ele coloca a bolsa no ombro e me olha, ainda sorrindo. Sua covinha é bem visível em sua pele bronzeada e seu sorriso até funcionaria comigo caso eu já não estivesse acostumado a lidar com seu charme irritante.

— E quem se importa? — ele fecha o armário com força — Você nunca nem ligou pra isso.

— É, mas, se continuar assim, você vai reprovar.

— Não vou não. Minhas notas continuam intactas.

Isso é verdade. Odeio Namjoon com todas as minhas forças por ter mais faltas do que presenças e, ainda assim, conseguir tirar nota máxima em quase todas as matérias.

Como isso é sequer possível?

Eu passei por um milagre de Jesus. Arrastando a bunda no asfalto. Isso quando passava, porque estou reprovando em química.

Namjoon provavelmente notou a minha carranca e, por isso, está passando seu braço por meus ombros enquanto caminhamos na direção da saída. Tenho um mau pressentimento sobre isso.

— Você está muito tenso, Jungkook. — Ele começa a massagear meus ombros -—Tá agindo estranho tem alguns dias já, o que foi?

Como sempre, minha intuição nunca falha.

— Nada...

— Não mente pra mim, eu sei que tem algo. Te conheço desde pirralho, te vi comer terra.

— E o que diabos isso tem a ver?

— Absolutamente tudo! Ah, cara, me conta, vai...

Fico em silêncio. Sem chance nenhuma de eu falar sobre minha paixonite brega por Taehyung.

— É o seu irmão? Ele quebrou um dos seus discos de novo? - ele pergunta e faço que não com a cabeça - Deixa eu pensar. Você perdeu sua fita favorita.

Faço uma careta. Bem, eu amo música e não vivo sem, mas...

— Quê? Não.

— Pera, não vai me dizer que... — Namjoon para de andar e arregala os olhos em minha direção. Ah, não lá vem... — Você está apaixonado!

Supimpa!

Nem morto que eu vou admitir.

— Sua bunda que eu 'tô.

Namjoon ri e dá alguns pulinhos, absolutamente frenético. Já estamos saindo do quarteirão onde o colégio fica, e eu nunca quis tanto chegar em casa logo. Ser abduzido por uma nave espacial também não me parece uma má ideia.

— Você tá sim!

— Cala a boca.

— Vai, me conta quem é. É a Yeri? Eu vi vocês andando juntinhos aquele dia — Quê? — Espera... é o Yugyeom? Já sei! — ele grita como se não estivéssemos no meio da rua — É o Hoseok!

— Vai se ferrar vai, Namjoon.

— É o Hoseok? Eu acertei?

— Não, não é ele. Não tem ninguém, okay? Jeon Jungkook não se apaixona! —Minha voz treme e quase perco a pose, mas permaneço firme, apesar de ser óbvio que estou mentindo — Palhaçada. Apaixonado... Até parece.

— É platônico, né? Ironia do destino. Todos se apaixonam por você, mas quem você quer não se apaixona de volta.

Paro de andar quando estamos a meio caminho da entrada da minha casa e encaro Namjoon como se estivesse prestes a cometer um homicídio, o que não falha em ser verídico.

O que eu fiz pra merecer esse garoto? Como que eu o aguento desde o fundamental menor?

— Namjoon, cadê a sua coleirinha, cadê? Seu dono não tá te chamando, não?

Sua expressão fecha na hora e a minha se abre em um sorriso.

— Como é que é?

— Deixou sua coleira no banheiro onde você se pega com aquele cara lá... Como é mesmo o nome dele?

Namjoon franziu as sobrancelhas na minha direção.

— Ah, lembrei! — estalo os dedos, feliz da vida — Yoongi! Por que você não volta lá pra ele, hein?

Tento ao máximo segurar a risada, mas quando Namjoon saiu correndo atrás de mim foi impossível. Tive que pular a cerca de minha casa para escapar de sua ira. Tudo ainda rindo.

Ele ficou parado lá do outro lado, na calçada de pedrinhas, me encarando.

— Vai rindo vai, otário. Logo quem vai tá de — ele fez aspas com as mãos — coleirinha é você.

Continuo rindo enquanto dou um tchauzinho debochado.

Ignorando os insultos que meu amigo segue gritando de seu lugar na calçada, entro em casa. Dou um peteleco na testa do meu irmão que está jogado no sofá e subo até meu quarto.

***

nove da noite, residência dos Jeon,
ainda 9 de março.

Depois do jantar, Namjoon apareceu na minha casa. Não fiquei realmente surpreso, ele tinha dessas. Era quase como se fosse da família, infelizmente. Aparecia sempre que queria e era recebido com um sorriso caloroso pela minha mãe.

Acabamos fazendo uma pizza improvisada com um resto de ingredientes que encontrei nos armários da cozinha. No caso, eu cozinhei, enquanto Namjoon se negava a chegar perto, dizendo que não queria destruir minha cozinha e correr o risco de ser deserdado da minha família.

O Kim esperou até que estivéssemos sozinhos no cômodo — com exceção do meu irmão que dormia no sofá da sala com a boca aberta — para me contar o motivo de ter aparecido do nada na minha casa.

Consigo pensar em pelo menos duas razões em potencial para isso:

1- Namjoon está carente de novo e precisa de uma fita nova para curar sua dor de corno com meu gosto musical maravilhoso.

2- Namjoon levou um pé na bunda do carinha lá e quer uma fita para curar sua dor de cotovelo.

Se bem que é tudo a mesma coisa.

— Vai, anda, desembucha — falo, enquanto jogo o pano de prato sobre o ombro — O que aconteceu?

Namjoon se inclina sobre o balcão da cozinha e sorri. Tenho mais medo desse sorriso do que tenho da minha mãe quando fica brava.

É o tipo de sorriso que diz "vamos aprontar".

— Lembra daquele karaokê?

— O que inaugurou esses dias? Que precisa pagar uma fortuna para entrar?

— Esse daí mesmo — seu sorriso se alarga ainda mais — Já sei como vamos entrar lá.

— Espera aí. Você ouviu a parte do custa uma fortuna pra entrar, não ouviu?

Ele revira os olhos. Sempre convencido. De repente, eu sei exatamente como tudo vai se desenrolar.

É um cafajeste mesmo.

— Eu não acredito — as palavras deixam minha boca assim que percebo aonde ele quer chegar, como se uma lâmpada enorme se acendesse sobre minha cabeça — Por favor, não me diz que você está usando o seu ficante pra conseguir as entradas.

— Não é exatamente assim!

De repente, assustando-o, jogo o pano de prato com força sobre o balcão. Devo parecer com uma babá irritada. Na verdade, devo ser exatamente como uma babá para ser obrigado a lidar com esse tipo de coisa.

— Olha, não se altere. É só que... bem, Yoongi tem um modo... sabe, talvez meio errado de entrar lá, mas que nos faz entrar! O importante são os fins e não os meios, certo? Foi Maquiavel que disse.

— Você quer dizer, com outras palavras, que vamos entrar lá ilegalmente? Com a ajuda do tal Yoongi?

Namjoon assente com a cabeça devagar. Sinto vontade de rir, porque... sinceramente! Daqui a pouco ele iria pedir para que fôssemos falsificar identidades e roubar pequenas lojas de conveniência.

Quero apenas deixar ainda mais claro que detesto e sempre detestei qualquer coisa que possa acabar em confusão. Vemos aqui que sou completamente o oposto de Namjoon. Eu fujo dos problemas, ele vai lá e me arrasta pelos cabelos até os problemas de novo.

— Sem chance.

— Como assim?! — ele percebe que falou um pouco alto demais e diminui o tom — Ah, só uma noite, Jungkook... Um pouco de aventura.

— Tô fora.

— Mas...

— Desiste, não vou não.

Namjoon finalmente faz silêncio, enquanto pensa. Observo-o morder os lábios em frustração e dou uma risada, já que quase consigo ver as engrenagens de seu cérebro trabalhando para encontrar algo que fosse capaz de me convencer, mas não tem nada nesse mundo que faça eu me meter nessa enrascada.

Absolutamente nada.

— E se a sua paixão tiver lá? — faço uma careta. Quem que fala assim? Paixão? — Eu descobri quem é, inclusive.

Certo.

Isso me faz prestar um pouco de atenção.

— Ah, é? Quem é, então?

Provavelmente ele está jogando verde. Não tem como eu ser tão óbvio assim.

— É o nerd bonitinho — ele diz assim, na lata. Existem milhares de nerds bonitinhos, não pode ser o mesmo... — Como é mesmo o nome dele? Tae... Taehyung? É isso, Taehyung. O que foi pego beijando um garoto semana passada.

Não tenho mais para onde fugir. Só me resta aceitar. Fecho os olhos com força, entregando que, sim, ele está certo.

— Eu sabia! — Namjoon praticamente grita, de novo, só depois tomando o cuidado de falar mais baixo — Sabia! No caso, não sabia até o Yoongi me contar. Aí eu vi que, carambolas! É muito óbvio!

 Carambolas? Mas como o Yoongi sabe disso?

Não sei se já comentei, mas Yoongi é um garoto da mesma turma de Taehyung e é um nerd ajustado. É bastante quieto, fã incurável dos Beatles e só usa preto, além de suas roupas serem extremamente largas. Algumas pessoas não tiram seu nome da boca, mas nunca me preocupei em saber o motivo por trás disso e, surpreendentemente, Namjoon não parece tão disposto a fofocar quando o tópico é ele. Por isso, me coloco no meu lugar e respeito isso nele. Concluindo, isso é tudo que sei sobre o ficante de meu amigo. No caso, agora sei que ele não é tão ajustado quanto parece, já que está nos levando para esse caminho da ilegalidade.

— Digamos que ele é observador e que você não faz muita questão de esconder.

— Então como você não descobriu antes, anta? — faço minha maior cara de quem não está nem aí, mas estou em conflito. Internamente, claro — Já que é tão óbvio assim.

— Porque enquanto você baba pelo Taehyung, eu babo pelo Yoongi.

É, realmente faz sentido.

Respiro fundo, antes de engolir meu orgulho. Certo... se Taehyung vai estar lá, talvez não seja tão sem noção assim. Afinal, eu só precisava de um motivo e uma ocasião apropriada para falar com ele e aqui está.

— Certo! — finalmente cedo, provocando um sorriso de orelha a orelha em Namjoon — Eu topo. Mas se formos pegos, eu vou te entregar para a polícia e ficar com todos seus HQs da Mulher Maravilha.

— Para de drama. Nada de polícia.

— Veremos, né?

— Nada de polícia, só você tendo a chance de falar com sua paixão...

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