lets go outside
Então, antes de começarmos com o capítulo, eu queria dizer algo.
POR FAVOR, não pulem, porque é importante.
Primeiro, eu provavelmente farei um cap especificando a idade dos personagens e como o universo que eu criei nessa fic funciona, mas, por enquanto, vou dizer que eles estão no segundo ano do ensino médio.
É um colégio com o sistema praticamente igual ao estadunidense, dos filmes clichês, que foram minha inspiração.
Jungkook tem 17 anos, Jimin tem 18.
Segundo, se eu ver alguém desmerecendo mulheres nessa fic, o pau vai comer. Respeito é bom, principalmente pelas personagens femininas e pela sexualidade do Jungkook, que é bissexual.
Dito isso, boa leitura! s2
Ah, o nome do capítulo é uma música também, fica aí a recomendação,
o nome da banda é far caspian ;)
ps: gente esse cap foi de 4k pra 5k de palavras dps da revisão, n sei mais oq façokkkk
*****
22 de março, 1987
Corredores da Beacon Hills High School
JUNGKOOK
— De quem você tá fugindo? — Namjoon pergunta enquanto se esforça para me acompanhar. — Do Jimin?
— Não.
Dessa vez, por incrível que pareça, não é do mauricinho que estou fugindo. Inclusive, não vejo Jimin desde que ele entrou no meu quarto pela janela, já que ele vem faltando às aulas como se o período de provas não estivesse bem aí. Não que eu me importe com o que ele faz, mas ele meio que é minha responsabilidade no quesito aulas, então é impossível não notar.
— De que você tá fugindo então, cacete?
— Você não precisa vir atrás... eu vou almoçar nas arquibancadas.
— Por que tão longe?
— Porque sei que ela odeia futebol.
Uma pausa silênciosa se estende.
Estamos quase chegando lá. De fato, não é a melhor ideia almoçar justamente nas bancadas. Nem mesmo nos damos bem com o time, então provavelmente vamos ficar escondidos, mas é a minha única saída no momento.
— Espera — posso ouvir no tom de Namjoon a sua confusão — De quem exatamente você está falando?
— Dahyun.
Mais uma pausa, dessa vez seguida do tão barulhento Namjoon ao qual estou mais do que acostumado.
— É o quê? — ele puxa a última letra soando como minha tia quando ouve alguma fofoca. — Aquela Dahyun? A deusa da escola? Patricinha coroada, que ganhou a competição de Miss mês passado?
— Quem mais seria?
Finalmente chegamos às tão almejadas arquibancadas. Almejadas por mim, digo. Caminho até o canto mais afastado possível dos brutamontes que jogam aqui enquanto procuro uma sombra e nem mesmo olho pro campo. Quando sento no banco, sinto um pouco de arrependimento. A "sombra" que encontrei não cobre nem metade da minha cabeça, quem dirá a de Namjoon, o sol está de lascar e sinto de longe o cheiro do suor.
No entanto, ainda é a minha melhor oportunidade.
— Você quer me explicar qual o lance com a Dahyun Deusa da Escola?
É engraçado como Namjoon parece realmente chocado e aterrorizado ao mesmo tempo, como se eu estivesse saindo com a Rainha da Inglaterra ou algo assim.
— Nada muito surpreendente. E, por favor, pode parar de evidenciar esse título que você criou para ela? — dou uma mordida generosa em meu lanche antes de finalmente explicar — Não tem muito o que contar, sério. Resumindo tudo, ela foi lá em casa alguns dias atrás e ficamos. Hoje, ela resolveu falar comigo de novo.
— Para de falar de boca cheia — ele está fazendo uma careta realmente muito engraçada — Isso significa que ela quer de novo e você não? É por causa da sua paixonite no Taehyung?
— Shhhhhh. Não fala disso aqui.
Na verdade, não é por isso. Nunca houve compromisso, nem com ela e muito menos com Taehyung, então não tem motivos para essa ser a minha maior preocupação.
Dahyun, de fato, é uma garota incrível, apesar de andar com... Bem, apesar de suas companhias suspeitas, Dahyun é incrível, mas não quero que isso vá ainda mais longe.
— Então é por isso?
— Não, não é pelo Taehyung. Eu só não quero, ok?
— Então fala pra ela.
Aí é que está o problema.
— Se eu dissesse na frente do refeitório inteiro que não quero que Dahyun vá para a minha casa de novo, o que você acha que aconteceria? Não seria eu o humilhado, mas ela. Quando as aulas acabarem, eu falo com ela em particular. Qualquer horário, menos o almoço.
Namjoon faz uma cara pensativa enquanto dá um gole em sua coca-cola.
— Não sabia que você era tão gentil assim. É surpreendente.
Chuto sua canela com força e observo com prazer enquanto ele cospe o refrigerante.
— Que foi? Você é sempre chato, apenas.
— Cala a boca.
Por um milagre, ele realmente cala a boca. Depois de discutir o assunto, resolvo finalmente olhar para o campo.
Foi uma péssima decisão. A pior de todas.
Eu tenho quase certeza de que isso não está certo. Não tem como Park Jimin estar em todo lugar que eu vou por pura coincidência. Não é assim que a lógica funciona.
Ele está no campo, rindo e confraternizando com os jogadores. Detesto admitir, mas o uniforme até que lhe cai bem e combina com seus cabelos loiros idiotas. Na realidade, estou tão hipnotizado com sua figura metros a frente que minha visão fica turva e esqueço completamente do que está acontecendo ao meu redor. Estou espremendo a garrafinha de suco em minha mão com tanta força que acho que ela pode estourar a qualquer momento.
Então é a isso que minha vida se resume? Fugir de um e esbarrar em outro?
— Cuidado! — tenho quase certeza de que ouvi alguém gritar.
Como sempre, minhas reações são lentas demais e a próxima coisa que vejo é a bola vindo na minha direção. Não tenho tempo de desviar e ela me atinge com tudo, direto na cara. Sinto uma dor horrenda em meu nariz e uma vontade ainda maior de morrer. Tem sangue escorrendo pelo meu rosto e Namjoon está a beira de ter um colapso nervoso, mesmo que tenha sido eu o atingido.
Tenho quase certeza de que vou desmaiar, mas não pela dor e sim pela humilhação. Não é todo dia que se leva uma bolada na frente de todo mundo quando você nem mesmo está jogando e, ainda por cima, quando tudo o que você quer é justamente se esconder. Agora não me restam mais saídas e uma enxurrada de adolescentes enxeridos caminham em minha direção.
— Aí meu deus, você está bem? — é Namjoon quem pergunta, desesperado.
— Eu pareço bem pra você?
— Vamos pra enfermaria, agora!
Imediatamente, mudo de ideia. Se tem uma coisa que odeio mais do que ser humilhado, essa coisa é a enfermaria.
— Na verdade, estou bem sim.
Namjoon faz uma pausa.
— Seu nariz tá formando um ângulo esquisito, sabia?
Ainda não estou inclinado a ir, apesar da dor aumentar cada vez mais. Também consigo ver algumas faces sorridentes me encarando, mas estou em um dilema.
— Jungkook? — ouço a voz que menos quero ouvir me chamar de dentro do multirão de curiosos — Cacete, me desculpa.
Ah, perfeito! Óbvio que foi Jimin que jogou a bola na minha cara, mas é óbvio! Minha vontade de o esganar foi renovada em cem por cento, não aguento nem olhar para a cara dele.
O mauricinho está correndo na minha direção, empurrando alguns dos seus colegas de time que estão parados no meio do caminho me encarando. Rápido como um raio, agarro a camisa de Namjoon o puxando.
— Okay, Namjoon. Enfermaria, agora.
Apenas mais alguns passos para Jimin chegar onde estou...
— Namjoon...?
— Achei que você não quisesse ir.
Pisco, incrédulo. Posso estar enganado, mas tem um resquício de sorriso na cara de Kim Namjoon. Tenho vontade de o socar até que essa expressão seja arrancada de seu rosto à força, assim ele seria obrigado a me acompanhar até a enfermaria, mas isso significaria mais tempo com ele então mudo de ideia.
— Seu nariz tá sangrando! — é a primeira coisa que Jimin diz quando chega na minha frente — Eu te levo até a enfermaria, vamos logo.
De alguma forma, ele está muito próximo a mim, me encarando com essa expressão que não consigo decifrar. Não sei como ele chegou tão perto em um intervalo de tempo tão curto, mas não gosto de como as coisas estão acontecendo. Isso vai virar uma fofoca e tanto, já consigo até prever.
— Não precisa, Namjoon vai comigo.
Namjoon faz uma careta antes de falar. Ou seja, coisa boa não vem por aí.
— Ihhhh... então, acho que Jimin apareceu pra salvar o dia!
— Mas foi ele quem jogou a bola na minha cara!
Namjoon solta uma risada tão fingida que minhas entranhas se contraem.
— Sabe qual o problema? Eu lembrei que Yoongi tá me esperando. Obrigado, Jimin. — ele levanta e não demora nadinha pra sair, se rastejando para fora da confusão igual a uma cobra venenosa — Talvez ele dê um pouco de trabalho, mas obrigado! Sei que você consegue lidar!
De novo. Namjoon está fazendo isso de novo. Como se estivesse evitando o Park. Ou melhor, dando um jeito de fazer com que fiquemos sozinhos. Eu deveria dizer ao Kim que não precisa de tanto esforço pra isso, já que Jimin está sempre me perseguindo mesmo.
Enquanto penso em formas não tão sutis de como posso sumir com o corpo de Namjoon futuramente, Jimin repousa uma mão em meu ombro.
— Vamos?
Dou um tapa em sua mão e a empurro para longe.
— Eu posso andar sozinho.
Realmente, isso não estava nos meus planos. Caminhar lado a lado com um Jimin suado, chamando a atenção pelos corredores, com minha cara suja de sangue. Além disso, ainda tenho que ouvir sua risadinha irritante e falsa enquanto caminhamos.
— Você é realmente bem dramático.
— Você quebrou meu nariz.
Jimin imediatamente faz uma cara de choro fingida e coloca ambas as mãos sobre o peito.
— E você quebrou meu coração.
Ew, nojento.
— Quem é dramático mesmo? — Resolvo aproveitar a situação já constrangedora para fazer uma pergunta mais constrangedora ainda — Olha, me diz logo. Sem rodeios. Quanto você pagou para o Namjoon?
O Park vira o rosto para me encarar, suas sobrancelhas franzidas, e penso que talvez ele não tenha nada a ver com isso. O que é ainda pior.
— Namjoon? Pro seu amigo? — Jimin continua me olhando desse jeito esquisito e viro o rosto para frente, encarando o corredor — Eu nunca nem conversei com ele de verdade antes. Só quando você está e ele aparece, mas isso não conta como conversa. Por que essa pergunta do nada?
Não que eu esteja inclinado a ficar do lado do Park, mas dessa vez ele não aparenta estar mentindo.
— Nada não.
Jimin então dá de ombros, mas não pergunta mais nada e fico agradecido por isso.
*****
ainda 22 de março,
estacionamento da Beacon Hills High School
Antes de tudo, devo dizer que meu nariz ainda dói pra cacete.
Depois disso, também devo evidenciar que o senso de responsabilidade de Park Jimin é tão raso que está quase desaparecendo.
Estou tendo deja vus enquanto ele me puxa pelo estacionamento. É como da última vez, mas passa uma sensação diferente.
Enquanto estávamos na enfermaria, ele começou a agir estranho. Ficava fazendo umas caras esquisitas, inclusive aquela expressão que diz que ele quer aprontar alguma. Logo depois, exatamente como eu previa, ele começou a citar a tal operação. Seus argumentos se resumiam a como eu estava machucado e não tinha mais condições de frequentar nenhuma outra aula hoje. Do jeito que ele falava, todo empolgado, era quase como se ele tivesse jogado aquela bola na minha cara de propósito. Desse ponto em diante não foi difícil de prever o que ele pretendia.
Jimin sugeriu que devíamos matar aula. Como uma parte de nossa operação.
Sinceramente, quando ele falou nessa tal aposta, eu não tinha ideia de que reprovar estava incluído no pacote. Também não tinha ideia de que, aparentemente, Jimin podia ser muito mais teimoso do que eu.
Na verdade, sendo cem por cento sincero, uma parte de mim ainda nutria esperanças de que ele fosse esquecer essa obsessão e me deixar em paz.
Bem, eu estava errado. Completamente errado.
Então, de uma forma ou de outra, aqui estamos nós, novamente. Dentro de seu carro. No entanto, dessa vez, o interior de seu automóvel realmente cheira a café e cigarros, o que é estranho.
— Isso é uma má ideia. — falo quando já estamos deixando o estacionamento — Você vai perder outra aula e eu vou-
— Você se preocupa demais! Ninguém aprende nada sentindo dor.
— Mas a enfermeira disse que eu poderia assistir as últimas aulas...
Jimin faz um gesto de desdém com uma mão. Ele está sorrindo muito e não posso evitar lembrar da vergonha que foi da última vez que nos vimos. Toda aquela confusão com o bilhete. Sinto minha expressão se transformar em uma estranha careta de nervosismo e me viro para continuar encarando a janela, evitando que Jimin perceba que estou claramente surtando.
— E o que a enfermeira sabe? Você se machucou e eles querem te obrigar a assistir aulas? Eu estou apenas fazendo o que a escola deveria fazer.
Não respondo nada. Realmente, ele tem um ponto, mas não quero levar falta. Além disso, meu plano era falar com Dahyun quando o dia acabasse. Caso isso não aconteça, as coisas podem ficar bem chatinhas.
De qualquer forma, não pretendo ir contra Jimin dessa vez. Mesmo que ele tenha jogado uma bola na minha cara. O clima está diferente e estou repetindo para mim mesmo que não estou fazendo isso apenas porque sinto que devo compensar por o julgar mal. Ou por ele ter lido o bilhete.
Okay, ele pediu desculpas por descontar em mim, mas isso não torna a situação menos embaraçosa para nós dois. Talvez eu não precise ser tão cabeça-dura e teimoso sempre.
— Então... pra onde vamos desta vez?
Posso sentir o Park me olhando de lado.
— Hm... eu falei que você podia fazer algo para me compensar por aquele último mal entendido, não falei?
De repente, toda a minha boa vontade evapora e sou capaz de sentir minhas mãos tremerem com uma vontade louca de o estrangular. Pro inferno com esse papo de compensar! É incrível como eu não posso nem mesmo cogitar ser bom uma vez e ele já me faz voltar atrás completamente.
— Espera! — por algum motivo meu rosto está vermelho de uma forma que nunca aconteceu antes — Eu nunca concordei com isso! E não foi você que pediu desculpas e assumiu que o problema era entre você e Taehyung? Por que eu que tenho que compensar por qualquer coisa?
Jimin solta uma gargalhada. Não posso deixar de notar que, dessa vez, o caminho está ficando mais estranho.
— Bem, caso eu me lembre bem, você jogou um balde de água fria em mim da última vez que nos vimos — ele faz uma pausa antes de pronunciar suas próximas palavras calmamente — No meio da noite. Eu até mesmo peguei um resfriado!
É por isso que ele vinha faltando as aulas, então...
— Ninguém mandou você ir jogar pedras na minha janela no meio da noite! Nunca ouviu falar numa coisa chamada porta, não? Custa entrar igual uma pessoa normal?
— Eu estava tentando recriar algum tipo de cena romântica!
Ah, mas isso eu já não posso aturar e solto uma risada sarcástica.
— Recriar um cenário romântico pra logo depois brigar comigo por causa do bilhete?
Espero por mais uma resposta elaborada, mas só escuto uma risadinha baixa, antes de notar que Jimin ficou sério novamente.
— Você não confia em mim? — Ele está, obviamente, mudando o rumo da conversa.
— Hmm...não?
— A imagem que você tem de mim é muito errada, Jungkook. Sua mãe nunca disse que é errado julgar pelas aparências?
— Como você espera que eu não te julgue errado quando você é assim?
— Assim como?
— Não se faz de sonso. Assim é assim.
— Eu só estou brincando, relaxe um pouco — Ele diz, como se fosse fácil — No fim, eu sei que sou eu que tenho que te compensar por tudo....
A resposta que eu tinha tão perfeitamente na ponta da língua desaparece diante de seu tom de voz um tanto magoado e dessas palavras difíceis de entender, então resolvo ficar calado. Ainda estou com raiva, óbvio, mas... Bem, eu já estou aqui, então não tem mais o que fazer além de aceitar.
Diante do clima pesado que repentinamente se instaura no ambiente, permanecemos em silêncio até que o caminho fica mais e mais sinuoso. Entramos em uma bifurcação na estrada e tudo que consigo ver se resume a... bem, mato. Estamos em uma estrada que leva absolutamente a lugar nenhum e não consigo mais me conter.
— Que ótimo — deixo escapar, com muito mais sarcasmo do que eu pretendia — Estamos no meio do nada, uau.
— Vai logo, desce do carro.
— Fala direito comigo, tá maluco? — respondo com rispidez, mas abro a porta do carro e me impulsiono para fora assim mesmo.
Talvez eu não devesse ter pensamentos tão ingênuos. Correr me parece uma ótima opção...No entanto, eu não corro e, ao invés disso, ando atrás de Jimin neste lugar estranho. Estamos caminhando entre as árvores e não demora muito para uma cortina densa de plantas aparecer, a qual Jimin afasta pro lado com facilidade. Detrás da mesma está... um lago? Um lago pequeno, quase como uma piscina natural, cercado de pedras e plantas.
Eu esperava qualquer coisa menos isso.
— Ah! — Jimin faz uma expressão engraçada enquanto dá meia volta — Eu esqueci algo, espera um pouco.
Ele sai correndo de volta para o carro e nem tenho tempo de dizer nada. É realmente muito agradável, silencioso e calmo... Nunca imaginei que Jimin pensaria em me trazer para um lugar assim. Sendo sincero, eu não fazia a menor ideia do que poderia ser.
— Voltei. Não podemos esquecer o ponto principal da nossa atração, senhoras e senhores! — ele levanta o rádio que tem em mãos até ele estar acima de sua cabeça — Música!
— Com música você quer dizer...
— Queen, óbvio!
Jimin coloca o rádio sobre uma das pedras que rodeiam o lago e não demora nada para começar a tirar suas roupas. Desvio o olhar imediatamente, sentindo minhas orelhas queimarem. De alguma forma, isso consegue ser ainda pior do que ser morto aqui e ter meu corpo jogado numa vala. É pior porque não consigo entender o motivo para meu rosto se recusar a obedecer, fazendo com que todas minhas emoções sejam entregues e isso ainda vai me deixar maluco.
É isso! Só estou vermelho assim de ódio. Afinal, como ele pode sair tirando as roupas assim... Que homem mais sem vergonha, ele não tem escrúpulos?
— Você vai ficar aí parado igual um idiota?
Realmente, estou parecendo um idiota, encarando as plantas com ódio, como se elas tivessem culpa de algo, enquanto finjo que estou as avaliando como se eu soubesse algo sobre plantas. O que mais tem nesse lugar é mato.... e um Jimin quase completamente pelado dentro do lago, bem atrás de mim.
Não quero olhar.
Em algum momento, ele colocou uma música, o que torna a situação ainda mais estranha.
— Por que... está tocando Body Language? — continuo sem olhar para Jimin, mas tenho certeza de que ele está rindo — Já chega, eu vou pegar seu carro e sair daqui, espero que você não se importe.
Não sei se realmente estou levando isso a sério, mas ouvir a voz de Freddie cantar "sexy" enquanto estamos em tal situação não me dá escolha. Não era exatamente isso que eu esperava da tal operação.
Quando estou cogitando ir embora de verdade, dou meia volta e me deparo com Jimin parado bem atrás de mim, água respingando de seus ombros tatuados e bem... seu peito a mostra.... Mas eu não vou olhar! Me recuso a olhar para qualquer coisa que não seja a sua cara, mas ele sustenta um sorriso irônico, então sinto mais uma onda de raiva subir por minha garganta.
Ele permanece a uma distância segura de mim, mas sua expressão me mantém alerta.
— Olha aqui! — Aponto um dedo na direção dele — Eu não sei qual o seu jogo, mas eu não vou cair nele!
Espero por uma resposta, mas o que recebo é uma risada. Jimin ri tanto que se agacha, a mão na frente da boca, seu rosto vermelho.
— Do que você tá rindo? — pergunto, incredúlo — Eu estou falando sério aqui! Ei!
— Eu... sei... — ele está rindo tanto que quase não consegue falar — É justamente por você falar tão sério que.... não... dá...
— Dá pra você parar de rir?!
— Por que... — ele respira fundo, mas continua agachado no chão — Por que tudo é tão extremo para você? Se você quiser ir embora, vamos embora então.
— Quem disse que eu quero ir embora?
O que eu estou dizendo?
— O único problema é sua péssima escolha musical, fora isso está tudo ótimo — continuo falando, como se um demônio estivesse me possuindo — Não sei do que você está falando.
Assim que acabo de dizer isso, Body Language é substituída por Pain is So Close To Pleasure, o que é ainda pior! No entanto, Jimin apenas me encara com uma sobrancelha erguida, aquele resquício de sorriso em seu rosto, e minhas mãos travam na barra da minha camiseta.
Não sei mais o que estou fazendo ou dizendo, mas é realmente difícil prosseguir nessa situação.
Fico parado novamente, igual um idiota, enquanto Jimin continua me olhando como se estivesse me avaliando. Ele levanta e de repente pula na água, sem dizer uma palavra, me deixando no mesmo lugar de antes, sem entender nada do que acabou de acontecer.
O que exatamente acabou de acontecer aqui??
— Se você não quer ir embora, então vem logo pra cá — ele diz, jogando um monte de água em minha direção, felizmente me despertando.
— Para com isso!
Como não tenho mais escolha, respiro fundo antes de tirar minhas roupas num flash e pulo no lago de uma vez, estremecendo com a água gelada. Antes que eu possa sequer o encarar, Jimin joga mais um punhado de água na minha cara, então revido e jogo nele também.
Uma risada involuntária acaba saindo de meus lábios e logo somos iguais a duas crianças, batendo com força na superfície da água e nadando um atrás do outro. Obviamente, eu sou o mais rápido e agarro Jimin no meio da água, o prendendo com um braço só enquanto jogo uma boa quantidade de água em sua cara.
— Assim não vale! — ele fala, mas está rindo — Você está jogando sujo, Jungkook!
Não respondo nada, mas estou rindo também enquanto continuo com meu trabalho. No entanto, quando Jimin se vira para me encarar, o sorriso some de seu rosto e ele parece preocupado. Eu, por outro lado, estou repentinamente ficando desesperado e me perguntando como acabamos tão perto assim um do outro.
Solto Jimin o mais rápido que consigo e me afasto, mas ele me segura pelo pulso.
— O seu nariz...
Assim que ele fala, minha mão voa para meu rosto e.... ele tem razão. Está sangrando. Eu esqueci completamente disso.
— Ah, merda.
— Está tudo bem. Ainda bem que sempre trago a caixinha de primeiros socorros quando saímos juntos — ele solta uma risadinha — Você está sentindo algo? Me desculpa, isso foi minha culpa.
Abro a boca para responder, mas meu cérebro está oco feito um coco e nenhum som sai, então apenas faço um sinal negativo com a cabeça e rezo para que ele entenda que quero dizer que não estou sentindo nada além de uma vergonha imensurável. Jimin então faz um sinal positivo com a cabeça e solta meu pulso antes de nadar até a margem, logo saindo do lago.
— Eu já volto, acho melhor você sair também. Quer ajuda?
— Não precisa...
— Certo.
Fico parado por um bom tempo e apenas quando Jimin volta é que tomo a iniciativa de sair do lago. Não sei dizer se ele realmente não percebeu que eu travei, ou se me está fazendo o favor de fingir não notar, mas eu é que não vou me entregar então fico calado. Assim que fico em pé na margem, ele me entrega uma toalha, que só Deus sabe de onde ele tirou, e acabo aceitando assim mesmo.
Enquanto Jimin revira sua caixinha de primeiros socorros, lhe dou uma encarada que espero que seja discreta. Ele está com uma toalha branca nos ombros e até mesmo colocou uma bermuda. Seus cabelos estão molhados então existem algumas mechas levemente onduladas caindo sobre seus olhos e...
— Hm... Tá tudo bem? — ele pergunta.
Viro minha cabeça tão rápido que fico tonto.
— Tudo ótimo. Já até parei de sangrar.
Na verdade, acho que posso até estar sangrando mais. Involuntáriamente coloco a mão sobre meu nariz.
— Vem aqui, deixa eu cuidar disso.
Dou um passo para trás e ele fica com a mão estendida, esperando por uma resposta.
Bem, a resposta é que nem eu tenho resposta ou justificativa pro que estou fazendo, então arranco a caixinha de sua mão e lhe dou as costas enquanto sento no chão.
— Eu posso cuidar disso sozinho, não se preocupe.
— Pode?
— Posso. Por quê?
— Porque não parece.
Reviro os olhos, mas não tenho para onde fugir. Jimin acabou de se sentar ao meu lado, mas não está fazendo nada suspeito. Cuido de meus próprios assuntos enquanto ele parece procurar algo para dizer.
Depois de passarmos dois minutos inteiros em silêncio, a situação finalmente fica insuportável. Acho que só dessa vez vou ajudá-lo a quebrar o clima esquisito.
— Não sabia que você jogava no time de futebol — falo a primeira coisa que vem na cabeça — Isso é tão clichê.
Jimin solta uma risada.
— Você parece muito surpreso com isso.
— Na verdade, não. Nunca gostei do time de futebol, então...
O Park coloca a mão no peito.
— Assim você me deixa magoado.
— Até parece...— de repente, tenho uma ideia. — Vamos fazer um jogo.
Agora ele parece interessado. Acho que finalmente vou fazer algum progresso. Em quebrar o clima, óbvio.
— Qual jogo?
— Cada um de nós tem o direito de fazer uma pergunta sobre o outro, mas apenas uma. Por exemplo, eu te pergunto algo sobre a sua vida e você tem que responder. E vise versa. A gente faz isso até cansar. Só que não pode mentir nem responder com outra pergunta.
Jimin balança a cabeça em concordância enquanto parece satisfeito. Não é bem um jogo, se você parar para pensar sobre isso, mas não precisa ser nada complicado. Só precisa nos distrair. Além disso, tenho uma certa curiosidade sobre o mauricinho metido e talvez assim eu consiga descobrir um pouco mais sobre ele.
— Okay, eu começo. — Jimin diz — Preparado?
Balanço a cabeça. Bem, é óbvio que pode dar tudo errado. Na verdade, a chance das perguntas de Jimin serem catastróficas é enorme. É uma faca de dois gumes...
— Certo. Café com leite ou puro?
Ou talvez não dê tão errado assim.
— Leite puro.
Não sei dizer se a expressão de Jimin implica que ele vai fazer um comentário de mal gosto ou se ele está decepcionado. Resolvo não esperar para descobrir.
— Okay, minha vez.
— Quem que gosta de leite puro?
— Eu gosto.
— Não quero mais sair com você.
É a minha vez de sorrir de lado.
— É uma honra.
Pela primeira vez, por algum motivo, eu quem vejo a pontinha das orelhas de Jimin ficarem vermelhas.
— Vai, faz logo a merda da pergunta.
— O que você estava fazendo na minha rua naquele dia? Tenho quase certeza de que não foi até lá só pra me mostrar o bilhete. Você podia ter feito isso na escola.
Bingo. Ele parece desconfortável com essa pergunta.
— Vai mesmo desperdiçar com isso?
— Responde logo.
Ele passa a mão nos cabelos e, por algum motivo, começa a se aproximar pouco a pouco de mim. Seu rosto está a centímetros do meu e não gosto nada de como Jimin parece se divertir com isso. Eu sabia. Sabia que seria catastrófico.
Fico tão tenso que até mesmo sinto minha respiração falhar. Quando acho que vou desmaiar, Jimin solta uma risadinha e se afasta. É como se todo o ar voltasse para mim de uma vez e fecho os olhos, virando o rosto completamente. Eu me recuso a olhar para ele.
— Eu estava em uma festa — Jimin finalmente responde — Só que lembrei das suas folhas, então resolvi levar pra você. Ainda não perdoei aquele banho de água fria.
— Por isso você...?
Ele coloca um dedo na frente do meu rosto enquanto me interrompe.
— Sua pergunta já foi, é minha vez agora.
Juro que ainda vou o matar, mas espero ele falar.
— Você realmente gosta do Taehyung?
Meus olhos se abrem tanto que acho que vão sair rolando até caírem na água. Ele perguntou na lata mesmo.
O pior de tudo é que não sei como responder.
— Gostar de que jeito?
— Não, não. Não pode responder com outra pergunta.
— Mas fui eu que sugeri o jogo! — o olhar de Jimin é inflexível, o que não me dá escolha. — Tudo bem... eu acho que sim.
Agora é a vez de Jimin levantar suas sobrancelhas.
— Você acha? E todas aquelas músicas? Ah, explica...
— Minha vez de perguntar!
******
Quando Jimin deixou-me na porta de casa, era exatamente o horário em que costumo chegar do colégio. Fiquei surpreso com sua capacidade de ser pontual, mas aliviado. Eu teria problemas sérios se tivéssemos chegado à noite depois de matar aula.
De qualquer forma, meu nariz continuava machucado, então ainda foi difícil lidar com meu irmão rindo de mim enquanto eu explicava que alguém tinha jogado uma bola na minha cara.
No fim de tudo, não consegui mesmo falar com Dahyun. Então mesmo estando relutante resolvi ligar para sua casa assim que troquei de roupa.
Enquanto falava com ela, entretanto, eu não conseguia parar de pensar no que havia acontecido durante a tarde. Meu jogo de perguntas e respostas terminou de um jeito estranho. Park Jimin havia evitado quase todas minhas perguntas. O máximo que descobri foi que sua mãe havia morrido, o que me fez parecer um idiota, e que ele não gostava realmente de seu pai.
Ah, descobri também que ele gosta de gatos.
Descobri que ele não fuma, o que deixa tudo mais estranho, já que seu carro cheirava a cigarros.
No entanto, além disso, ele não me contou mais nada. Ainda não entendo o motivo para tudo isso, toda essa operação, ou o porquê dele perder tempo comigo nesses passeios esquisitos.
É tudo uma desculpa pra sair comigo?
E o pior: Não consigo entender toda aquela situação no lago. Vou precisar de bons dias para compreender o que tem de errado com o meu cérebro para me fazer agir feito um idiota tantas vezes em um dia.
Depois de finalmente conseguir falar tudo que eu queria dizer para Dahyun, tomando cuidado para que não ficasse estranho, fui para meu quarto. Estava determinado a recuperar os assuntos que perdi na escola, mas, assim que abri minha mochila, um bilhete caiu no chão.
Era um bilhete um tanto... autêntico. Havia um envelope rosa tomado por alguns desenhos indescritíveis. Na verdade, eu não conseguia realmente identificar o que cada um deles devia representar.
Acho que é bem óbvio que isso é obra de Park Jimin.
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