horror movie night - parte 1


30 de março, 1987

cafeteria da escola



JUNGKOOK


Não vejo Jimin desde o dia em que invadimos aquela loja abandonada. É como se ele tivesse sumido do mapa, assim de repente. O próprio diretor chegou a falar comigo, já que sou o responsável por o ajudar a se encaixar na escola, mas não faço ideia de onde ele possa estar. Confesso que cheguei até a pedir seu endereço para a moça que trabalha na direção, mas foi apenas um ato impulsivo.

Estou encarando fixamente o papel que diz suas informações. O nome da rua, o bairro, o número de sua casa. Devo ressaltar que é um bairro podre de rico, para a surpresa de absolutamente ninguém.

É óbvio que não vou visitá-lo e isso fica mais claro a cada segundo que se passa. O diretor Berinjela disse que eu devia levar suas tarefas acumuladas, já que ele havia ligado várias vezes, mas ninguém atendeu ao telefone. Por mais que eu sinta uma preocupação estranha com relação a isso, existe algo na ideia de visitar a casa de Jimin que não me parece certo.

Além disso, posso sentir minhas bochechas corando apenas de lembrar do que aconteceu naquela noite. É embaraçoso demais. Como posso sequer o encarar agora? Devido a toda a adrenalina, não tive tempo de pensar nisso na hora que aconteceu, mas quando a ficha caiu foi extremamente vergonhoso. Quase nos beijamos, afinal! 

Como se tudo isso não fosse o suficiente, ainda tem aquele último bilhete que pareço não ser capaz de decifrar completamente. Não importa quantas vezes eu o leia, seu conteúdo só me parece mais e mais fora da realidade.

— O que é isso que você olhando?

Levanto o rosto tão rápido que fico tonto e dou um jeito de enfiar o pedaço de papel em meu bolso. Namjoon está me encarando com cara de tacho enquanto coloca sua bandeja na mesa e abre seu suco de laranja industrializado. Ele coloca o canudinho na boca e olha fixamente para o meu bolso, suas sobrancelhas levantadas. 

Extremamente irritante.

— Não é nada — respondo, sem o encarar nos olhos — O sanduíche de hoje está bom, não é?

— Uhum...

Namjoon diz isso, mas ele nem mesmo tocou no seu sanduíche... E por mais que eu tente ignorar seu comportamento esquisito, ele continua me encarando. Mesmo quando Yoongi chega, senta ao seu lado e rouba metade de seu lanche intocado. Não consigo o olhar nos olhos, então apenas me concentro em minha comida.

Nem está tão boa assim, para ser sincero.

— Ainda não superou aquela parada do Jimin com o Jungkook, não é, Namjoon? — é Yoongi quem pergunta, na lata.

— Como eu poderia?!

Finalmente ele para de me encarar. Obrigado, Yoongi.

— Eu já pedi desculpas...

— Você ganhou ingresso para aquele karaokê e ainda invadi-

Sua fala é interrompida graças a Yoongi, que tapa sua boca calmamente com uma mão.

Namjoon está possesso de raiva desde que Hoseok chegou absolutamente do nada e soltou que havia me visto no karaokê. Ele ainda teve que complementar dizendo como tínhamos "passado um ótimo tempo juntos", o que nem foi tão verdade assim. Óbvio que fui obrigado a contar tudo depois disso, fazendo o meu melhor para ocultar os detalhes que absolutamente ninguém deve saber, incluindo o que eu fui fazer no karaokê sozinho e como consegui a entrada, mas isso não anula o fato de eu ter escondido basicamente tudo de meu melhor amigo.

O problema é que isso aconteceu já faz vários dias, e Namjoon ainda não superou o ocorrido. Às vezes, acho que ele vai ficar com raiva de mim para sempre.

— Eu só não sei... — Namjoon continua a falar, agora sem ser interrompido, e sinto minha consciência pesar — como alguém consegue esconder as coisas tão descaradamente assim. Eu deveria ser seu melhor amigo, mas não sei mais nem de metade das coisas que você anda aprontando. Ou você acha que eu não estou ciente de que você está escondendo algo de mim? Além disso, já está mais do que óbvio que você superou sua paixão pelo nerd bonitinho e a substituiu por outra coisa... e tudo começou naquele dia que você passou a tarde inteira com Jimin e desligou o telefone na minha cara.

Fico tão surpreso com sua fala que, por um momento, acho que vou desmaiar. Simplesmente é muita informação para processar de uma vez só. Durante os últimos dias, fiquei tão imerso em tudo que aconteceu, em todas as confusões para as quais fui arrastado, que simplesmente esqueci de que sempre contei todos os meus podres para Namjoon, o que realmente é preocupante! Mesmo quando ele chegou lá em casa, logo depois de Jimin ter saído, não tive coragem o suficiente para explicar nada e acabei enrolando até o assunto ser deixado de lado. 

Arrisco erguer meus olhos para encarar Namjoon, mas, para minha desgraça, sinto minhas bochechas esquentarem, então viro o rosto para o outro lado com ódio.  Não consigo. Não consigo contar sobre o lago, o bilhete, a loja de discos. Como vou explicar tudo isso? 

— Eu... não... Hm — gaguejo — Quero dizer, não estou escondendo nada. Só não tive tempo de falar sobre essas coisas. O negócio com Taehyung não ia chegar a lugar algum, então é óbvio que eu superei.

Um som que realmente não consigo decifrar deixa a boca de Namjoon, que logo sorri todo sarcástico. Observo como se o mundo estivesse em câmera lenta enquanto ele me encara e abre a boca para provavelmente me esculachar, mas sou surpreendido quando Yoongi pega um pedaço enorme do sanduíche e o enfia na boca dele.

— Jungkook, sabia que vai ter uma festona no próximo final de semana? — Yoongi muda de assunto, enquanto seu namorado está incapacitado de falar — Estamos pensando em ir. Você pode levar o Jimin e assim esclarecemos tudo! Apesar de eu achar que ele vai de qualquer forma.

Yoongi dá um sorrisinho, e finjo não ver.

O alívio que senti por alguns segundos parece que realmente não foi feito parar durar mais do que isso: meros segundos. Meu sangue gela novamente, mas faço meu melhor para me recompor.

— Olha só, eu vou explicar algumas coisas.

— Diga — o tom de voz de Yoongi consegue ser pior do que o de Namjoon — Estamos ouvindo.

— Eu não sei o que vocês estão tentando insinuar hoje, mas Jimin e eu não somos nada, okay? Não tem motivo, razão ou circunstância pra fazer uma cena tão grande — direciono meu olhar para Namjoon e mudo levemente o tom de voz — E, mesmo que houvesse algo, talvez fosse bom me dar um pouco de espaço para assimilar o que está acontecendo. Mas, é óbvio, não está acontecendo nada.

— Então você e Jimin são apenas amigos?

— Nem isso. Ele me irrita. Não somos nada, absolutamente nada.

— Sei, entendi. Então por que você sempre some com ele?

Boa pergunta.

— Ele é um ótimo chantagista.

Namjoon parece se engasgar com o sanduíche.

— Sei.

— Além disso, é apenas um jogo bobo que ele propôs um tempo atrás. Não tem nada demais nisso e eu nem o conheço direito. Não sei nada sobre ele.

Realmente. Eu não o conheço e talvez isso me atormente mais do que devia.

— Não vou insistir no assunto, já que você parece tão convencido. Mas você vai pra festa ou não?

— Vai ser onde?

— Você nem sabe! — Namjoon quem responde, engolindo o resto de sanduíche de uma vez só — Lembra daquele cara que mexeu com o Taehyung no refeitório?

— Ah, então quer dizer que agora você não mais com raiva de mim, né? Fofoqueiros não vão para o céu, Namjoon.

— Vai a merda.

— Vai você.

— Vai me deixar contar ou não?

— Você vai dizer de qualquer jeito.... O ruivinho metido a besta ou o tal do Jeff?

— O Jeff.

Talvez seja apenas impressão minha, mas Yoongi parece fechar a cara diante disso, seu sorrisinho de escárnio desaparecendo, e isso me traz uma sensação ruim, ainda que nostálgica. É só então que percebo onde está o possível problema.

— Namjoon...— não sei se realmente quero saber os detalhes, mas sigo firme — Você não foi convidado pra essa festa, foi?

— E isso importa? Ninguém é realmente convidado para essas festas, Jungkook. Em que século você vive?

— Bem, é verdade, mas você sabe que da última vez deu briga, não é? Você que me empurrou para a confusão, inclusive. Só acho que ele não vai ficar muito feliz caso nos veja lá...

Namjoon revira os olhos, e a expressão de Yoongi se fecha ainda mais.

— Com certeza ele te odeia, mas acho que odeia Taehyung ainda mais.... — é tudo que ele diz e um silêncio anormal logo se instaura na mesa. 

Neste momento, eu realmente percebo que tem algo muito errado acontecendo. Namjoon está agindo de forma esquisita, Yoongi parece querer falar algo, mas está se contendo, e até mesmo o assunto sobre Jimin foi esquecido. 

Aparentemente não sou o único que está escondendo algo aqui. Apesar de confiar que a vontade de Namjoon de se enfiar em qualquer confusão que apareça seja realmente impressionante o suficiente para ele querer fazer isso sem segundas intenções, eu confio ainda mais na minha intuição, que diz que algo está muito errado.

— Bem, eu vou para essa festa — digo, com um sorriso forçado —Para vigiar vocês.

Namjoon revira os olhos.

— Olha só quem fala.... Você que precisa de alguém pra te vigiar. 

— Principalmente se Jimin estiver por perto — Yoongi complementa.

Parece que o tópico da conversa voltou a ser o loirinho metido, infelizmente.


*****

31 de março, 1987

casa do Jungkook


Um grito agudo sai do aparelho de TV em minha frente e automaticamente dou um pulo de susto. A personagem principal desse filme é absurdamente burra, sinto dizer. Deve ser algum padrão do gênero, fazer todas as personagens femininas desses filmes soarem como verdadeiras idiotas, principalmente quando seu roteiro se resume a pedir socorro e morrer de forma patética logo depois. Não que eu tenha muita moral para falar sobre elas, sabendo bem que eu seria muito pior, mas continua sendo irritante. 

Solto uma risada um tanto nervosa. Resolvi que hoje seria uma noite de filmes de terror, já que estou sozinho e não faço ideia de quando meus pais voltam com meu irmão. Eles foram levar o pirralho para dormir na casa de um amigo e aproveitaram para passar a noite fora também, então sou o excluído abandonado. Aproveitei que estava passando uma maratona no canal dez e resolvi assistir, mas estou levemente arrependido. O filme de agora me deixa mais irritado do que assustado e não tem nada mais que eu queira fazer. Filmes de terror nunca me assustaram, de qualquer forma, o que chega a ser irônico.

Enquanto jogo um punhado de pipoca na boca, considero a possibilidade de ter chamado Namjoon para assistir comigo. Desisto da ideia assim que penso um pouco melhor sobre ela. Pego a almofada que está ao meu lado e enfio a cara nela, sentindo minhas bochechas corarem automaticamente. Seria o verdadeiro inferno! Namjoon com certeza continuaria a me encher o saco sobre Jimin e realmente não estou pronto para falar sobre este tópico. Na verdade, jamais estarei pronto. Não quero falar sobre Jimin nunca mais. 

Consigo até ouvir a voz de Namjoon na minha cabeça dizendo: "Por que ao invés de me chamar para assistir, você não chama o Jimin?"

Enfio a cara na almofada com ainda mais força e escuto mais um grito vindo da TV.

Após alguns minutos sofridos de surto, consigo voltar a assistir, fingindo que minha mente está completamente tranquila, até que escuto um barulho esquisito. Um pequeno arrepio percorre minha espinha, mas digo para mim mesmo que provavelmente é só algum gato andando nas redondezas. Isso até eu ouvir o barulho novamente e ter certeza de que, não, não tem como ser um gato. Tenho a sensação de que meu corpo congelou, mas ainda assim arrisco olhar para a janela de vidro logo ao meu lado. Foi a pior decisão de minha vida.

Não tenho certeza, mas acho que estou gritando de um jeito um tanto parecido com o da personagem do filme. Uma mão sangrenta está esparramada no vidro, mas a rua está vazia, sua única iluminação proveniente do poste de luz do outro lado da calçada.

Balanço a cabeça uma vez, pensando ser alucinação, mas a mão continua lá e, como se isso não fosse suficiente, ela está se movendo agora. Devagar, a mão bate no vidro uma, duas, três vezes, fazendo o mesmo barulho de antes. Procuro por uma silhueta, mas tudo que vejo é um braço pálido se estendendo do lado mais escuro da calçada. Seja lá quem for que esteja fazendo isso, provavelmente está escondido e não tenho coragem o suficiente para estender o pescoço e olhar.

Parece algum tipo de pegadinha de mal gosto e sem sentido. Levanto devagar, mas minhas pernas tremem como se eu estivesse prestes a morrer. Só me resta correr e me trancar em algum lugar. No entanto, depois que dou dois passos, a campainha toca. Ela toca uma, duas, três vezes, até eu escutar uma batida forte na porta.

Se não for um fantasma, é um assassino, e se não for nenhum desses então é um ladrão e assassino. Ou seja, eu vou morrer de todo jeito. 

Continuo a ouvir a batida. No impulso, pego o taco de beisebol que fica embaixo da escada e ando devagar até estar de frente para a porta. Respiro fundo, suando frio e giro a maçaneta com tudo. Eu devia ter corrido.

Isso me qualifica como uma daquelas personagens inutéis dos filmes de terror, que morrem nos primeiros minutos por serem burras demais?

Levanto o taco de beisebol e estou pronto para golpear quando dou de cara com ninguém mais ninguém menos que Jimin. Solto mais um grito e ele começa a rir. Parece não perceber que quase levou uma tacada no rosto.

— O-o que você... — gaguejo e quase deixo o taco cair de tanto tremer, mas não o solto — Eu quase te coloquei pra dormir!

— Eu não acredito... Colocar para dormir? — ele mal consegue falar em meio às risadas — Você... tá pálido...

— Não tem graça! E se eu tivesse chamado a polícia, hein? Isso não é coisa que se faça...

Jimin apoia suas mãos podres nos joelhos enquanto se inclina e tenta parar de rir. 

Isso sim é verdadeiramente um cenário de filme de terror. Eu mal havia acabado de pensar no mauricinho, e ele aparece na minha porta fazendo minha alma sair do meu corpo e voltar. 

Com o taco de beisebol ainda erguido sobre a minha cabeça, eu finalmente tento me acalmar, apesar de manter minha guarda alta. Após alguns instantes, Jimin finalmente se recompõe e me encara com um sorrisinho de lado.

— Você pode abaixar isso agora, Jungkook.

— Por que você tá aqui a essa hora da noite? — pergunto — E por que tá sangrando tanto? 

— Resolvi fazer uma visita romântica — ele responde e ainda tem a audácia de piscar um olho para mim — Desculpa por te assustar.

Aí está ele, desviando de minhas perguntas novamente.

Bem, esse é, sem sombra de dúvidas, o Jimin que eu conheço, mas não vou o perdoar nem tão cedo por esse susto. Hoje ele vai ter que falar. Ele vai ter que me explicar porque está aparecendo aqui nessa situação depois de sumir por tantos dias e o que exatamente o último bilhete significa.

Com isso em mente, abaixo o taco de beisebol e o coloco no chão ao meu lado. Um suspiro deixa meu corpo e seguro o pulso de Jimin, o puxando para dentro e fechando a porta em seguida. Finalmente ligo o interruptor e a casa parece menos assombrada com as luzes acesas. 

— Não foi um jeito muito educado de me convidar para entrar — Jimin comenta, rindo baixinho — Mas acho que serve.

— Só fiz isso porque a vizinha da frente estava encarando e ela é muito fofoqueira. 

Jimin levanta uma sobrancelha e percebo que ainda estou o segurando pelo pulso, o que traz a tona tudo que preenchia minha mente hoje e faz com que eu o solte num impulso nervoso. Simulo uma tosse e apenas torço para que ele não perceba minhas bochechas ameaçando ficarem vermelhas. 

— O que aconteceu com você? — pergunto — E já chega de mentiras! Se você veio até aqui nesse estado, deve ter algum motivo.

A expressão de Jimin fecha um pouco e ele olha pro outro lado. Suspeito.

— Nada importante.

— Isso daí é ketchup? — Passo a mão em sua cara sangrenta e ele solta uma exclamação de dor — Okay, aparentemente não.

Eu sei muito bem que não é ketchup, porque nunca vi um ser tão realista assim, mas queria fazê-lo pagar pelo susto de antes. 

Além do mais.... Jimin claramente entrou em uma briga e ainda teve a cara de pau de vir me visitar estando assim, quando ele deveria estar no hospital. Seu olho está começando a ficar roxo, sua boca tem um ferimento aberto que atravessa o lábio inferior, sua bochecha esquerda é uma bagunça de sangue e.... Sinceramente, eu acho que mereço alguma explicação.

— Eu só estava passando por aqui, vi a luz da TV e resolvi espiar.

— Você não espera que eu acredite mesmo nisso, espera? Park Jimin, você já teve alguma oportunidade de olhar para a sua cara? Você está absolutamente nojento.

Ele faz uma careta.

— Não precisa falar assim...

Jimin está fazendo biquinho. Um biquinho aterrorizante, mas ainda se enquadra como manha. Como não aguento o encarar por mais de alguns segundos sem me sentir estranho, dou meia volta com tudo e caminho a passos largos em direção a cozinha.

— O que você vai fazer? — ele pergunta.

— Vou buscar o kit de primeiros socorros e você vai me contar tudo — No meio do caminho, lembro da situação das mãos de Jimin e paro abruptamente — Na verdade, vem até aqui primeiro.

— Por quê?

Juro que quero acabar com o resto de sua cara sonsa.

— Acho que você está mais do que ciente da situação das suas mãos.

Quase que inocentemente, Jimin levanta os braços e encara suas palmas sangrentas.

— Ah, verdade. Esqueci disso — ele finalmente caminha em minha direção —Mas não vai sujar a sua cozinha?

— Relaxa, eu dou um jeito nisso depois. Estou mais preocupado com você manchando o sofá ou o assoalho. 

— Justo.

Em silêncio, chegamos a cozinha americana e Jimin lava suas mãos na pia enquanto me estico para pegar a caixinha branca que está no topo do armário. Observo ele fazer uma careta de dor enquanto lava seus punhos machucados e percebo que isso significa que ele também deve ter batido bastante em seja lá quem foi que procurou briga com ele.

Desvio o olhar assim que Jimin termina e procuro rapidamente por bandagens e tudo o que for preciso para cobrir as mãos dele.

Sem aviso prévio, seguro seus pulsos e começo a passar os curativos. 

— Primeiro, conte como você se machucou — falo rapidamente.

— Eu tenho outra escolha?

— É isso ou eu vou quebrar o resto da sua cara e mandar você direto pro hospital.

— Oh, então é receber seus cuidados ou o hospital? Tudo bem, era só ter explicado isso antes.

Engulo mais uma resposta irritada e solto suas mãos, agora enfaixadas. Não sou exatamente o melhor nesse tipo de trabalho, então está bem mediocre, mas se ele quisesse algo profissional teria ido até o hospital e não vindo me assustar na minha casa.

— Tudo bem... Já que você quer tanto saber, eu vou explicar — Jimin diz enquanto senta em um dos banquinhos do balcão da cozinha.

— Vá em frente.

— Eu peguei uma briga com alguns caras que costumam implicar com o meu amigo. Foi basicamente isso, se eu for contar de forma resumida.

Jimin está usando aquele tom anormalmente sério de novo.

— E então? E o seu amigo?

— Ah, ele não estava comigo na hora. Eu fiz tudo sozinho. 

— Isso explica muita coisa. Você basicamente pediu para apanhar.

Ele me encara, parecendo surpreso e indignado.

— Eu sou bem forte, okay? Só que...

Levanto uma sobrancelha e me seguro para não rir.

— Só que o quê?

— Eles eram mais fortes do que eu. E eram muitos!

Solto a risada que vinha segurando e balanço a cabeça em um sinal de concordância. Jimin reclama por alguns segundos, mas o igoro enquanto pego uns curativos e a água oxigenada na caixinha.

Jimin está claramente mentindo. 

Quer dizer, eu posso concluir que existe alguma verdade em suas palavras, mas ele não está sendo completamente sincero. E é por isso que jogo água oxigenada em sua mão ferida o mais violentamente que consigo. Jimin solta um grito um tanto vergonhoso e tenta puxar sua mão para longe de mim, mas a seguro com mais força.

— Isso arde! — ele reclama.

— Eu sei.

— Por que isso do nada?

Cínico.

— Nada. Só fica quieto.

Jimin começa a resmungar, mas engasga quando passo a água oxigenada na sua bochecha. 

— Bem, já que você insiste em dizer que foi isso o que aconteceu, eu acredito —  mentira, não acredito — Mas me responde uma coisa... Tudo isso tem alguma coisa a ver com a gangue?

Tenho certeza de que vi Jimin revirar os olhos diante dessa pergunta. Eu sei que vi! Não acredito que ele está debochando da minha cara.

— Ainda com isso?

— Apenas perguntando.

Ele suspira.

— Seus pais estão em casa? — Jimin pergunta, na lata, mudando totalmente o rumo da conversa novamente.

Okay, alerta vermelho. Pergunta suspeita!

— Não... Por quê?

— Posso ficar aqui? Eu durmo no sofá e saio antes deles chegarem.

Franzo as sobrancelhas, mas no fundo estou considerando. É bem provável que eles só vão chegar depois que o sol nascer, então não deve ter problema.... além do fato de Jimin estar querendo dormir na minha casa, o que é um problema.

Jimin dormindo na minha casa....

Só eu e Jimin...

— Absolutamente não! — quase grito em resposta e ele se assusta — Quer dizer... Acho melhor não, desculpa.

— Por que não? Eu não vou fazer nada... Só...

Ele está fazendo uma expressão manhosa de novo. Isso deveria ser considerado crime.

— Só o quê?

— Não queria voltar para casa hoje e não tenho outro lugar para passar a noite.

Tecnicamente, eu não tenho obrigação nenhuma de o ajudar com isso, mas...

— Se você prometer que não vai faltar mais à escola....Você vai me colocar em problemas também.

— Tudo bem, eu prometo.

Estranho. 

Tenho aproximadamente uns dez tipos de monólogos internos diante do que acabei de fazer, mas permaneço com a mesma expressão de antes e fico calado.

Depois de cuidar de seus machucados, guardo a caixa na cozinha e voltamos para a sala, onde sentamos no sofá em silêncio para ver o final do filme idiota.

Pena que o silêncio não dura muito tempo.

— Jungkook?

— Sim?

— Por que não fazemos um jogo? 


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