Extra: stranger things
Esse capítulo é apenas um extra, um capítulo especial, não tem nenhuma correlação direta com a história.
6 de Novembro, 1983
Hawkins, Indiana.
Após dez horas de jogo na casa de Jimin, o grupo de estudantes do ensino médio finalmente se preparava para deixar o lugar. Kim Taehyung, Kim Namjoon e Jeon Jungkook recolhiam com pressa suas coisas e caminhavam até suas respectivas bicicletas enquanto discutiam a última partida. O dono da casa parecia entediado e irritado.
— O que foi? Não está satisfeito? — Jungkook provocou, como sempre fazia.
— Lá vão eles de novo — Namjoon revirou os olhos.
— Vamos lá, sem brigas. Eu preferi uma jogada segura, o Demogorgon...
— Não precisa contar, Tae!
— Mas ele me pegou! Game over!
— Você é sempre tão bonzinho! — Namjoon simulou um choro — Como pode ser tão bonzinho?
— Kim Taehyung, o sonho de toda mãe.
— Falando em mãe, vão logo embora, antes que a minha apareça aqui de novo — Jimin sacudiu as mãos, cansado depois de passar tanto tempo com aquele grupo — Mas se você quiser ficar, Jungkook, sempre tem lugar pra mais um.
— Prefiro a morte.
O rosto de Jimin se contorceu em uma careta diante da resposta ácida e Taehyung colocou a mão no ombro do amigo, o confortando.
— O único jeito de você parar de levar tantos foras é parar de flertar a cada oportunidade que surge na sua frente.
— Nunca desistirei!
Dito isso, Jungkook sorriu escondido e montou em sua bicicleta surrada, anunciando sua saída. Arriscou uma olhada para a casa atrás de si e lançou uma piscadela arrogante na direção do garoto ali parado.
— Então morra tentando, mauricinho.
— Jamais, seu nerd.
— Vocês não têm jeito mesmo, não é?
Matando a largada, Namjoon saiu em disparada, deixando um Jungkook muito irritado para trás. Taehyung olhou para Jimin e se despediu como sempre fazia.
— Vejo você amanhã.
— Relaxa sobre aquilo, mas vê se para de se sacrificar.
Tae sorriu quadrado, também dando seu melhor para acompanhar os dois que saíram à sua frente. Com uma sensação incômoda, Jimin voltou para dentro de casa.
A casa de Taehyung era a mais isolada do grupo, localizada bem fundo na floresta, depois de uma longa estrada. Enquanto Jungkook e Namjoon iam pelo mesmo caminho, ele tinha que seguir o resto sozinho.
— Muito lento, Jungkook!
— Cala a boca! Se eu ganhar, você vai me dar aquele seu gibi da Mulher Maravilha edição rara!
Namjoon grunhiu.
— Não vale matar a largada! — ele olhou na direção de Taehyung — Quer nos acompanhar, Tae?
— Não, sem problemas. Eu vou direto pra casa.
— Tchau, Tae Tae — Jungkook olhou para trás, balançando sua mão e quase deu de cara com uma árvore — Opa, por pouco.
— Fica aí beijando as árvores, otário.
— Namjoon, seu filho de uma puta!
— Para de xingar minha mãe, seu desgraçado.
Jungkook começou a pedalar com todo o ódio que possuía, provocando uma risada em Taehyung. Eles eram assim desde sempre, nunca mudavam. Era sempre aquele mesmo caminho para casa, depois de perder a noção do tempo jogando. Jimin era um verdadeiro mauricinho por fora, mas um estrategista nato, que sempre sediava as partidas. Sua rixa com Jungkook também era antiga. Para ser mais específico, desde que se conheceram, os dois estavam sempre competindo e às vezes se bolando em brigas e caindo em ribanceiras. Tudo porque os dois não aceitavam perder.
Bem, em algum momento as brigas tinham virado tensão sexual e agora as competições eram pra ver quem ia ceder primeiro.
Taehyung balançou a cabeça à medida que o caminho ficava mais escuro. Estava tão imerso em seus pensamentos que achou ter visto uma silhueta, mas com certeza foi apenas sua imaginação o pregando uma peça depois de jogar por tanto tempo. A lanterna de sua bicicleta piscou, apagando de vez por alguns segundos e o deixando arrepiado de medo por algum motivo.
Só preciso trocar esse negócio, foi o que ele pensou.
Quando misteriosamente a luz voltou, ele então viu. Não havia dúvidas daquela vez. Era definitivamente uma silhueta preta, de forma humanóide e sem rosto que o encarava da escuridão, o fazendo cair de sua bicicleta e sair correndo na direção de casa o mais rápido que suas pernas trêmulas o permitiam.
Seu corpo parecia não o obedecer completamente e todo o ambiente estava a favor da criatura que o seguia. De seu rosto, suor frio escorria. Sua casa parecia estar a quilômetros de distância, mesmo que ele já pudesse a ver perfeitamente. Tropeçando nos próprios pés, ele finalmente passou pela porta da frente, a trancando com força e espiando pela janela. Um lampejo de luz veio e ele viu com clareza novamente, a forma o encarava do lado de fora, grunhindo de forma repugnante, fazendo cada pelo de seu corpo se arrepiar. Quando a luz sumiu, a forma sumiu junto e Taehyung ouviu enquanto os ruídos ficavam cada vez mais próximos.
Ele correu, fugindo sem nem mesmo saber para onde e chegou nos fundos da casa, almejando pelo quartinho que ficava do outro lado do quintal. Tinha certeza de que sua mãe guardava uma espingarda ali. No entanto, antes que pudesse alcançar a porta, toda e qualquer luz que houvesse por perto se apagou, o deixando sozinho com a luz escassa da lua e o ruído agora mais próximo do que nunca.
A criatura estava bem na sua frente e a última coisa que ele viu foi sua face assustadora, finalmente se revelando das sombras que a escondiam.
***
A primeira coisa que Jimin notou quando prendeu sua bicicleta do lado de fora da escola foi que Taehyung não estava ali.
— Ele não veio hoje — comentou.
— Talvez ele tenha chegado mais cedo. Você sabe que ele odeia perder as aulas de história — Jungkook falou mas suas palavras saíram esquisitas por conta do pão que tinha na boca.
— Você não dormiu de novo, seu bocó?
— Em?
— Tá, deixa eu reformular a pergunta. Não teve tempo de tomar café da manhã? — Namjoon disse isso com sua melhor expressão de decepção.
— O que você acha?
Jimin coloca uma mão nas costas de Jungkook e a outra nas costas de Namjoon e os empurra em direção a entrada da escola. A dinâmica daquele grupo quando Taehyung não estava por perto era basicamente igual a dinâmica de uma matilha de lobos.
A única razão pela qual eles não haviam se tornado alvo dos valentões da escola ainda era a presença de Jimin. O Park era popular em qualquer lugar onde pisasse e isso refletia nas ações das pessoas, os livrando de ter sua cara enfiada na privada ou de serem roubados na saída da escola.
Naquele momento, no entanto, havia algo perturbando e martelando continuamente na mente de Jimin. A sensação apenas fez sentido quando o diretor da escola chegou, acompanhado de dois policiais e a detetive Joohyun, chamando a atenção dos adolescentes nos corredores.
Como Jimin previu, eles vieram em sua direção, chamando os três garotos para a sala do diretor para conversar. No mesmo instante, ele soube que seria sobre Taehyung.
— Acho que vocês não sabem ainda, mas o amigo de vocês desapareceu ontem a noite — O policial que disse, com a maior calma do mundo — Essa cidade é pequena e nada nunca acontece, então estamos acreditando que seja uma fuga-
— Não! — Jimin interrompeu — Taehyung era perfeitinho em todos os sentidos, nunca faltava às aulas e sempre fazia tudo do jeito certo.
Naquele momento, Jungkook notou a expressão angustiada de Jimin e soube que era melhor intervir. Ele colocou a mão no ombro do garoto ao seu lado e tomou a vez de falar.
— Jimin está certo. Nós saímos da casa dele ontem por volta das dez da noite e seguimos pela estrada principal até a bifurcação na floresta onde nos separamos. Taehyung nunca fez nada de errado, pode perguntar isso à senhora Kim! Ele nunca causou problemas!
— Isso mesmo! — Namjoon concordou, seu corpo indo para a frente no sofá apertado — Na verdade, ele é quem nos impede de nos meter em problemas.
— Certo — A detetive quem fala agora, os deixando em silêncio na mesma hora — Eu realmente já falei com a mãe dele, mas não podemos descartar qualquer tipo de possibilidade que seja. As equipes de buscas vão ser mandadas para esse lugar o mais rápido possivel.
— Vamos aj-
Jimin interrompeu Namjoon com uma tosse fingida e um sorriso ainda mais fingido, mas que apenas Jungkook notou. Qualquer pessoa seria facilmente enganada por aquela expressão e aquele tom de voz, já que o Park sabia exatamente o que tinha que dizer e fazer para evitar problemas.
— Isso é tudo que sabemos sobre isso. Por favor, encontrem o Tae para nós! — ele se curvou depois de dizer isso, ganhando a confiança dos policiais e da detetive.
***
— O que deu em você, Jimin?
Jungkook resmungava como nunca à medida que o grupo se afastava da sala do diretor.
— Você acha que não iam nos deixar ajudar?
— Claro que não iam, Namjoon. Se você realmente pedisse isso, eles só iriam ficar ainda mais de olho em nós — Jimin parou de andar logo antes de chegar no estacionamento — Vamos procurar pelo Tae hoje a noite. Eu já falei com o irmão dele.
— O Yeonjun? Quando você fez isso?
— Isso importa? O importante é que ele vai nos ajudar a procurar. Vamos nos encontrar na bifurcação que leva à floresta.
Namjoon e Jungkook possuíam um sentimento ruim sobre aquilo, mas ainda assim concordaram com a cabeça. Seja lá o que tivesse acontecido com Tae, eles iam descobrir e iam trazê-lo de volta.
***
Jungkook jamais admitiria em voz alta, mas estava tremendo da cabeça aos pés. Olhou de um lado para o outro e deu um grito mais fino do que tem orgulho de admitir quando ouviu um barulho. No final, era apenas um gato passando pelas folhas na beira do asfalto.
— Nem brincando que eu fui o primeiro a chegar...
— Boo!
Novamente, soltou um grito tão fino que Jimin teve que tapar os ouvidos enquanto soltava uma risada.
— Caramba! Você não pode levar a situação um pouco mais a sério?
— Como vai o coração?
— Para com isso! Tae está desaparecido e-
— Você tá com medo, né Jeon?
Jungkook cruzou os braços e fez biquinho.
— É, ele tá com medo — Namjoon apareceu do outro lado da estrada — Foi mal pelo atraso.
— Vocês são uns perdidos mesmo.
Apesar de não concordarem em voz alta, tanto Jimin quanto Namjoon admitiam internamente que Jungkook estava mais do que certo em sentir medo. A noite parecia ainda mais assustadora daquele ponto de vista. Moravam em um lugar no meio do nada, a única luz no poste piscava feito louca e o vento provocava barulhos esquisitos dignos de filme de terror.
— Ugh. Tem certeza de que devemos fazer isso?
— Para de ser frouxo, Jungkook.
— Isso mesmo — Jimin deu os primeiros passos para dentro da mata, com uma lanterna na mão — Yeonjun já está lá, procurando sozinho, então vamos logo.
Jungkook balançou a cabeça e finalmente criou coragem, se deixando guiar pelos dois na sua frente. Gritaram por Taehyung até acharem seu irmão, mas nada do garoto em si.
— Ouvi os policiais dizerem que encontraram a bicicleta dele jogada logo no começo da estrada.
— Sério? Os policiais estão aqui? — Namjoon olhou de um lado para o outro — Quando foi isso?
— Relaxa, foi quando ainda estava claro. Eles investigaram lá em casa também. Acho que encontraram algo, porque a detetive disse que ia mandar um grupo de novo com luzes especiais e tudo. Agora não tem ninguém aqui.
Jungkook se encolheu e foi para trás de Jimin.
— Não se preocupe, eu te protejo.
— Não é hora para isso. Não é como se eu estivesse com medo, também.
Jimin deu um sorrisinho, mas não conseguia nem mesmo responder à altura. Tinha as provocações na ponta da língua, mas simplesmente estava preocupado demais com Taehyung para dizê-las.
— Então estamos sozinhos aqui, em? — Namjoon balançou o galho de uma árvore sem motivo aparente — Realmente, assustador.
— Espera! — virando sua lanterna na direção de onde os três vieram, Yeonjun falou — Vocês ouviram isso?
— Isso o quê?
Jungkook agarrou a manga da blusa de Jimin com força.
— Tem alguma coisa ali.
Realmente, apertando os olhos, Jimin conseguiu ver. Uma figura alta, humanoide, vindo em sua direção no escuro.
— Calma — disse, mas não estava nada calmo — Deve ser só...
— É o Demogorgon, fudeu.
— Quero ir para casa.
— Vamos correr... Por que você tá indo na direção dele, Jimin?
Jungkook imediatamente largou a manga da camisa do Park e deu dois passos para trás, se sentindo mais do que pronto para correr uma maratona a qualquer momento.
— Ah, e aí gente? Querem um hambúrguer? — Taehyung saiu das sombras e estendeu o lanche para os quatro garotos, que estavam mais do que perplexos — O que foi? Por que essas caras?
— Corta! Corta! — Hoseok gritou de algum lugar escondido nas árvores e vários adolescentes com cara de decepção se dispersaram pelo set improvisado — O que você tá fazendo aqui, Taehyung? Você estragou a filmagem!
— Não foi minha culpa! Eu me perdi, já que vocês resolveram gravar no meio do mato e nessa casa abandonada.
Jungkook imediatamente pareceu prestes a vomitar.
— Não fala nisso que o Jeon tem medo de verdade.
— Ah! Desculpa.
— O problema é que você nem devia estar aqui, Tae — Jimin quem disse, agora.
Terminando seu hambúrguer, Taehyung fez um biquinho digno de criança.
— É que disseram que eu não tinha mais cenas para gravar por enquanto, então fiquei entediado e resolvi aparecer.
— E então você se perdeu.
— Isso mesmo.
Com uma mão na testa, prestes a criar rugas com todo aquele estresse, Hoseok então respirou fundo antes de puxar Taehyung para fora do set.
— Certo, você fica aqui comigo então, Tae. Vou começar a filmagem novamente. Do começo!
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