caça ao tesouro: parte um
you give love a bad name
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24 de março de 1987
lado de fora do karaoke San Junipero
JUNGKOOK
O céu ainda nem escureceu, mas o lado de fora do karaokê já está começando a ficar cheio. Vários tipos de adolescentes formam pequenos grupos e consigo ouvir risadas altas vindo de todos os lados. Tem até mesmo um grupo de punks parados do outro lado da rua, conversando e fumando sem se preocupar com as consequências. Não consigo ver nada além de seus cabelos coloridos e silhuetas, já que eles estão de costas para mim, mas os acho remotamente familiares.
Preciso fazer um esforço enorme para não revirar os olhos, mas me mantenho firme, forçando sorrisos sempre que alguém chega perto para puxar assunto.
Encaro a fila em minha frente e quase não consigo acreditar que estou sozinho aqui por causa de um idiota como Park Jimin! Ou pior, que estou fazendo isso por vontade própria, se é que posso chamar assim.
Deixe-me recapitular o que aconteceu: Tudo começou com aquele bilhete. Na verdade, era um pacote um pouco autêntico demais para ser apenas um bilhete. Como é de Park Jimin que estamos falando, eu já imaginava que coisa boa não poderia ser. A embalagem era rosa e haviam vários desenhos de coelhos, ou capas de discos que não eram realmente identificáveis.
O conteúdo do bilhete também não era realmente compreensível.
A primeira parte dizia:
20 de março, de 1987
Para Jungkook
Se você está lendo isso, significa que deu tudo certo.
Espero que possamos ir naquele lago outra vez.
Heraclito disse que não podemos nadar duas vezes no mesmo rio, então no nosso caso seria um lago. Vamos levar como uma experiência filosófica. Quando voltarmos àquele lugar, seremos duas pessoas completamente diferentes, assim como a água e as plantas ao redor.
No entanto, este não é meu objetivo nesse bilhete. Estou escrevendo isso para te propor uma caça ao tesouro. Faz tudo parte da nossa operação especial, então não aceito um "não" como resposta.
Afinal, você me deve isso depois daquele bilhete ridículo que Taehyung te entregou. Qual bilhete você prefere agora? O meu ou o dele?
Brincadeiras a parte, eu também irei te fazer um jogo de perguntas e respostas!
Você deve responder cada uma das perguntas que irei te fazer de forma honesta. Cada resposta irá te levar a um lugar e lá haverá um próximo bilhete esperando por você. No final, se você topar, irei te mostrar algo especial,
Pronto?
Pergunta número um!
Topa ver um filme comigo na minha casa?
a. Não.
b. Nem morto.
c. Sim.
Depois disso, tive que passar alguns minutos procurando onde estava a continuação do bilhete. Somente depois de muito revirar foi que descobri as respostas anotadas com uma letra quase invisível de tão pequena em um pedaço separado de papel que ainda estava dentro do envelope.
Neste outro pedaço de papel estava escrito:
Se você escolheu a letra a, procure pelos ladrões.
Se você escolheu a letra b, vá até onde nos conhecemos.
Se sua resposta foi a letra c, por favor passe isso para o Jungkook verdadeiro, pois falsidade ideológica é crime.
Se você é o Jungkook verdadeiro e ainda assim escolheu a letra c, todo o suspense acaba agora, estou te esperando em minha casa.
Além disso, não havia mais nada. Devo admirar a coragem de Jimin em realmente cogitar a ínfima probabilidade de eu escolher a letra c. Como fica meio óbvio, a letra b foi minha prometida desde o início. É por isso que estou aqui, desejando a morte enquanto a fila para entrar no karaokê não parece se mover um centímetro sequer.
A minha intenção não era nem de longe seguir suas instruções ridículas. Afinal, o que "procure pelos ladrões" quer dizer? De qualquer forma, Jimin não foi à escola ontem, então não pude o perguntar nada sobre o que ele estava pretendendo. O ticket que veio junto do bilhete me dava uma entrada livre no karaokê hoje, então acabei cedendo.
Espero que Namjoon nunca descubra que vim até aqui sem pagar nada e sozinho ou serei um homem morto. No entanto, o que eu poderia fazer? Jamais arrastaria aquele traidor para uma das brincadeiras imprevisíveis de Jimin. Além do mais, só havia um ticket.
De qualquer forma, tenho minhas suspeitas de que tudo isso já fazia parte dos planos daquele mauricinho insistente. Primeiro a data no bilhete, que dizia que ele havia escrito aquilo depois de me encontrar em meu quarto. No dia seguinte, ele havia faltado à escola. Tudo indica que estava planejando isso. Depois de me entregar o bilhete, ele havia faltado novamente.
Sinceramente, entender Jimin e o que se passa em sua cabeça é uma realidade cada vez mais utópica para mim.
No meu ponto de vista, é como se ele fosse uma raposa espertinha, cheia de segundas intenções e uma lábia boa demais. Enquanto a mim... eu sou aquele coelho ridículo com as orelhas meio tortas que ele desenhou no envelope.
Mas sempre acabo caindo em seus planos, então acho que não adianta mais reclamar.
Quando mostro minha entrada para o segurança, ele parece desconfiado. Não posso culpá-lo, eu também não tenho boas lembranças desse lugar. Consigo até imaginar o que se passa em sua cabeça, mas mantenho a mesma expressão de sempre enquanto adentro o estabelecimento.
Agora o interior do karaokê está mais colorido, mas não tão cheio quanto da última vez que o visitei. Sinto vontade de estrangular Jimin como se fosse uma galinha por me fazer voltar aqui depois de toda a vergonha que passei da primeira vez. A vergonha que passei por causa dele. Como se isso não bastasse, ele me faz voltar. De qualquer maneira, estou aqui apenas porque quero saber o que diabos ele escondeu. Só que antes preciso descobrir onde precisamente ele escondeu.
Tenho certeza de que pareço uma criança que se perdeu dos pais no supermercado, olhando pros lados e sozinho.
Enquanto um grupo de adolescentes canta Should I Stay or Should I go, tento lembrar em qual cabine encontrei Jimin pela primeira vez. O que, devo dizer, é quase impossível, já que minha memória não é algo de que me orgulho. Então, por via das dúvidas, passo em frente a todas, como se elas não fossem exatamente iguais e deixo meu cerébro fazer o resto do trabalho.
Meu cérebro não anda trabalhando muito bem ultimamente.
Não consigo identificar nada de anormal em nenhuma delas, então resolvo seguir o plano B. Eu sei que encontrei Jimin em uma das cabines que ficam mais próximas ao palco, então resolvo ser mais ousado e entro nas que estão vazias para começo a procurar.
Será que pareço um ladrão dessa vez? Maldito Jimin...
Enquanto procuro na terceira cabine, finalmente acho algo que está fora de lugar. Outro envelope, laranja dessa vez, escondido atrás do aparelho de som. Estou meio relutante em abrir, devo admitir, mas já fiz todo o meu caminho até aqui....
Depois de encarar o papel por alguns segundos, finalmente o abro. É praticamente igual ao anterior, mas com desenhos diferentes. Quando estou pronto para começar a ler o conteúdo das folhas, entretanto, alguém entra na salinha.
Na verdade, são as últimas pessoas que eu esperava ver.
— Jungkook! — um Taehyung um tanto diferente do que estou acostumado me cumprimenta — O que você está fazendo aqui sozinho?
Demoro um pouco para responder porque, merda, esse não é o Taehyung que conheço. Ele usa uma jaqueta azul, cheia de detalhes em dourado, uma camiseta branca e calças pretas. Também usa botas pretas e um óculos em formato de coração, apoiado no topo da cabeça. Além disso, está acompanhado de Hoseok, Yeri e uma garota de cabelos vermelhos que me parece familiar por algum motivo.
Só que isso não é tudo. Seu cabelo está azul. Azul. Preciso olhar duas vezes, porque tenho certeza de que, quando o vi ontem na escola, não estava assim. Eu já disse que é azul? Um azul que combina com sua jaqueta.
Eu tenho cada vez mais certeza de que vou morrer por uma causa impossível de definir.
Eles estão entrando cada vez mais, estou encurralado e cercado pelo grupo de nerds desajustados. De alguma forma, dou um jeito de esconder o envelope em meu bolso.
Abortar missão. Tem um Taehyung desconhecido se aproximando.
— A-ah, Namjoon não pôde vir comigo hoje, então resolvi vir sozinho mesmo.
Taehyung dá um sorriso de lado que nunca imaginei que veria na minha curta e pacata vida. Tenho quase certeza de que ele está engolindo algum tipo de resposta engraçadinha.
Hoseok, por sua vez, vem todo sorridente em minha direção e passa o braço sobre meus ombros.
— Sozinho não tem graça, Jungkook! Vem com a gente, então.
É o quê?
Yeri levanta o copo que tem em mãos e sorri. Não sei quem a garota de cabelos vermelhos é, mas elas estão praticamente coladas uma na outra.
— É, Jungkook! Vem com a gente. O Tae disse que devíamos cantar Bon Jovi. — Yeri quem fala dessa vez — Essa eu quero ver!
— Ele vai parar esse lugar inteiro, isso sim!
— Não é nem mesmo justo.
Não faço ideia do que eles estão falando. Quando percebo, já fui arrastado para fora, para perto do palco principal!
— Você canta, Jungkook? — é Taehyung quem me pergunta — Eu lembro que uma vez o Namjoon comentou que você cantava e até escrevia músicas!
Eu vou morrer. Porque ele parece tão feliz dizendo isso?
Se aquele energúmeno do Namjoon sequer cogitou comentar algo sobre as minhas músicas eu juro que...
— Namjoon sempre fala demais —dou uma risada para disfarçar a dor — Não canto não...
— Mas se você veio para um karaokê foi para cantar! — Yeri fala, acabando comigo num golpe só — Vai lá.
— Lá aonde?
Eles nem mesmo se dão ao trabalho de responder e apenas me empurram para cima do palco circular. Estou em cima de um palco, com Taehyung, no meio do karaokê de onde já fui expulso e tem um monte de gente me encarando. Eu definitivamente vou morrer.
No entanto, este ainda não é o Taehyung que eu conheço. Ele deveria ser tímido, mas não parece se abalar nada com as garotas e garotos que gritam lá embaixo. Com toda essa gente nos encarando, ele parece ainda mais confiante.
É quando o encaro que finalmente percebo. Havia uma pessoa de cabelo azul e jaqueta no meio daqueles punks...
Quando estou começando a ligar os pontos, a música começa a tocar. You Give Love a Bad Name estoura em volume máximo pelo lugar e levo um susto. No entanto, o que me deixa congelado no lugar em surpresa é a voz de Taehyung. Desde quando ele tem essa voz? Ele está cantando Bon Jovi ao meu lado, com esse tom rouco e alto e não sei como reagir.
Na verdade, me sinto desafiado. Sua voz combina tão bem com essa música que me sinto tentado a cantar também. Quando o segundo refrão chega, fecho os olhos e ignoro tudo que não seja a música. É libertador, mas ainda estou tremendo.
Parando para pensar, a letra até que combina com Taehyung, mas também me lembra de Jimin. Ambos, de formas muito diferentes, têm um sorriso angelical, mas não são o que realmente parecem.
Digo, Taehyung está de cabelo azul e aparentemente estava com um grupo de punks.
Deve ser apenas delírio meu.
Ainda é difícil de acreditar que isso está acontecendo. Que aceitei cantar no meio de todo mundo com ele, quero dizer. Quando a música acaba, Taehyung se curva como se fosse uma celebridade e não posso deixar de imaginar como seria caso ele realmente fosse uma. Ele apoia um braço em meu ombro enquanto ainda estamos sob o palco e grita "obrigado", um sorriso quadrado iluminando seu rosto.
Uma vez que deixamos os holofotes, seus amigos nos recebem daquele jeito animado de sempre. Yeri está me empurrando um copo suspeito e Hoseok parece mais surpreso do que deveria.
— Por que você não disse antes que cantava tão bem? — Taehyung pergunta.
— Eu fiquei arrepiado, cara.
— Você realmente o desafiou, parecia um show de verdade!
— Nunca vi ninguém ter a coragem de desafiar o Taehyung.
Não é como se tivessem me dado muita escolha...
— Eu não sabia que você era tão tímido — Yeri agarra minhas bochechas — Olha só, ele parece um pimentão!
Taehyung dá um tapa de leve nas mãos dela e finalmente estou livre.
— Como não vão ficar vermelhas com você as apertando?
— Você deveria vir mais vezes com a gente, Jungkook — Hoseok parece muito feliz enquanto diz isso — É bom ter alguém que desafia o Taehyung.
— Olha só pra ele, se acha o maior galã.
— Até porque você sempre tá segurando vela pro Namjoon e o namorado dele... qual o nome dele mesmo? — é a garota de cabelos vermelhos que fala agora — Ah, Yoongi!
Então eles sabem? Bem, não é surpresa. Aqueles dois nunca fizeram questão de esconder mesmo.
— Verdade, verdade — Taehyung concorda, ao meu lado, enquanto me passa uma coca-cola ainda lacrada — Mas agora você também tá sempre com aquele novato, não é? O Jimin.
Hoseok e Yeri se entreolham e depois caem na gargalhada.
— Você ainda não superou essa, Tae? — Hoseok mal consegue falar em meio as risadas — Nem parece que vocês dois se pegaram ali, na frente de todo mundo, uns dias atrás.
— Todo mundo comete erros! Não fale sobre o que você não sabe!
Devo ressaltar que, enquanto eles estão sendo caóticos, a garota de cabelos vermelhos, que ainda me parece muito familiar, sustenta sempre a mesma expressão. Ela raramente fala algo e parece mais ocupada olhando Yeri de cima a baixo.
Todo mundo nesse grupo é gay de alguma maneira, impressionante.
— O que houve entre você e o Jimin? — não sei como, mas tive coragem de perguntar.
Taehyung, por um segundo quase imperceptível, parece assustado. Como se não esperasse que eu fosse perguntar tão diretamente.
— Sabe o que é, Jungkook...
— Ciúmes — Hoseok o interrompeu.
— Ou ele queria de novo.
— Inveja?
— Será que dá pra deixar eu falar, cacete?
Acabo sem conseguir me controlar e deixo uma risadinha escapar. Tento disfarçar dando um gole na coca-cola que Taehyung me deu, mas acho que já perceberam.
— Enfim, ele só não é uma boa pra sair por aí, pra lá e pra cá. Park Jimin é... problema —ele limpa a garganta e sorri de forma sugestiva na minha direção — Pra onde ele te levou?
Por pouco não engasgo com a coca-cola.
— Err... para andar de patins...?
Taehyung coloca a mão no peito, como se estivesse super magoado e tenho déjà vus. Conheço outra pessoa que é dramática na mesma proporção.
— Então vocês estão saindo oficialmente? — Taehyung pergunta e não sei identificar se ele está chateado ou animado com isso — Tipo, como casal ou sei lá?
— Não! Claro que não!
Ele se aproxima e, dessa vez, eu realmente me engasgo com a coca-cola. Por pouco não acabo tossindo alto e assustando o karaokê inteiro. No entanto, tenho certeza de que minha cara está quase ficando roxa.
— Tem certeza?
Apenas balanço a cabeça em sinal positivo e tomo mais um gole do refrigerante, o que não ajuda muito.
— Hmmm... mas você gosta dele?
Okay, as coisas estão ficando intensas por aqui. Quando estou prestes a ter um colapso nervoso, Yeri puxa Taehyung para trás.
— Para de fazer tanta pergunta, seu esquisito. Não vê que tá deixando o garoto desconfortável?
— Um homem não pode mais ter dúvidas?
— Você está parecendo um perseguidor.
— Ou a mãe dele. - Hoseok comenta casualmente.
— Então vamos falar de outra coisa, Jungkook! — Taehyung dá um jeito de controlar seus amigos e a si mesmo — Qual sua banda favorita?
****
Duas horas depois. Nem acredito que se passaram realmente duas horas e nem tive a chance de tocar no segundo bilhete que Jimin me deixou.
Acontece que lidar com a turma de nerds desajustados não é nada fácil, apesar deles serem divertidos. Já passava das oito quando eu, finalmente, consegui me esgueirar para a cabine onde havia encontrado o bilhete e pude ficar sozinho. Durante todo esse tempo, eu cantei algumas músicas com Taehyung e seus amigos e até participei de alguns jogos. Sentar no chão da salinha e abrir o pacote que Jimin deixara ali para mim, por algum motivo, me deixa mais nervoso do que pensar que eu estava tão próximo de Taehyung durante todo esse tempo.
Pode haver qualquer coisa escrita aqui e a grande aba de possibilidades me deixa ansioso.
Talvez seja apenas a adrenalina.
Respirando fundo, começo a ler o novo bilhete.
Para Jungkook
Se você está aqui, significa que escolheu justamente a opção que eu pensei que escolheria.
Então, se divertiu nessas duas horas?
Considere isso meu pedido de desculpas pela última vez. Sinto muito por não ter incluído seus outros amigos, mas meu pai só me deu uma entrada. Acho que isso já foi uma grande conquista.
De qualquer maneira, sua noite está apenas começando!
Desta vez, não haverá perguntas, apenas duas instruções.
A primeira é que ninguém além de você foi autorizado a entrar na sala onde você provavelmente está agora. O que significa que há apenas uma música no aparelho de som, separada para você. Espero que você aproveite, Jungkook.
Segundo, assim que acabar, vá até a praça onde andamos de patins juntos. Existe algo lá para você.
Pisco confuso, mas não realmente surpreso. Não estou muito inclinado a olhar qual música ele selecionou para mim, porque não precisa ser nenhum gênio para saber que muito provavelmente é Queen. Eu me recuso a cantar Queen só porque Jimin me induziu a isto.
Ele com sua personalidade duvidosa manipuladora...
Quando ligo o aparelho, no entanto, minha boca se abre um pouco em surpresa, logo depois se curvando em um sorriso. Tenho que me segurar muito para não rir alto. Ele escolheu Can't Help Falling In Love. Isso parece ainda pior do que Queen agora.
Acabo cantando a música de qualquer forma.
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