Bohemian Rhapsody - o começo
19 de março de 1987
Beacon Hills High School
JUNGKOOK
— Jungkook?
— Oi.
— O que tem neste caderno?
Não ouso o olhar enquanto ele fala, então não sei qual caderno Jimin está bisbilhotando agora. Aparentemente a única coisa que ele sabe fazer é meter o nariz onde não foi chamado. Parece uma criança curiosa. Curiosa demais.
— A mesma coisa que tem nos outros cadernos. — Respondo, com os olhos fixos em minha tarefa — Baboseira da escola.
Uma pausa.
— Então a escola é baboseira?
Paro de escrever por um segundo.
— Não foi isso que eu disse.
— Hm, então você quer dizer que o trabalho dos professores é baboseira?
Paro de escrever de vez agora. Não imaginei que o Park fosse tão, mas tão irritante. Levanto o olhar para onde ele está, sentado na mesa do professor, e meus olhos se abrem em desespero.
Ele está com aquele caderno. O intocável, o proibido, o absolutamente e grotescamente fora de cogitação. A última coisa que eu queria que estivesse nas mãos de uma pessoa como Jimin agora.
— O que você está fazendo? — minha voz sai muito mais alta do que o normal — Larga isso!
Ele continua folheando e lendo, enquanto me ignora completamente. De um pulo, levanto de minha carteira.
— Jimin! Devolve isso!
Uma risadinha sai de sua boca e meu sangue ferve. Quero chegar perto dele e tomar o caderno à força, mas ainda tenho receio, devido aos últimos... acontecimentos.
Ainda acredito que ele seja de uma gangue, e nada nem ninguém vai ser capaz de tirar essa ideia da minha cabeça. A gangue daquele Seokjin, que queria me escalpelar só porque sujei a camisa branca idiota dele. Só de olhar pro tipo de gente com quem o loirinho metido anda, já dá pra saber que ele não deve ser flor que se cheire.
No entanto, é de meu caderno que estamos falando, inferno! Ninguém ensinou a esse garoto que o espaço pessoal das pessoas deve ser respeitado?
— Não sabia que você escreve músicas — ele comenta, levantando da mesa e andando em círculos, para evitar que eu me aproxime — Até que são boas, mas...
— Cala a boca, Jimin. O que você entende de música?
— Mais do que você, Elvis fã.
Enraivecido, começo a correr atrás dele pela sala. Estou bem ciente de que o intervalo entre as aulas está prestes a acabar, e que o professor pode chegar a qualquer momento, mas... Não posso deixá-lo chegar na última página do caderno.
— Achei que você só entendesse de gangues e de moda ultrapassada.
Ele continua andando enquanto mantém os olhos fixos no caderno. Estou torcendo para que caia de bunda no chão.
— Ainda não superou esse lance de gangue?
— Claro que não superei. Talvez por ter acontecido, tipo, três dias atrás? — faço uma expressão incrédula— Você não me explicou nada.
— Não te devo explicação de nada, você está sob minha guarda. Palavras do diretor.
— Você que é o encrenqueiro.
— E você é um idiota — ele rebate, ainda correndo de mim.
— Vai ficar mesmo nisso? Já o professor chega.
Finalmente, Jimin levanta o olhar das páginas e sorri. Sinto um arrepio percorrer cada centímetro do meu corpo, porque sei que estou completamente ferrado nas mãos desse garoto.
— Quem é Taehyung?
Exatamente como eu previa, ele chegou na última página...
Espera aí. Como assim "Quem é Taehyung?". Não era Jimin quem estava beijando o garoto desesperadamente naquela noite em que meus sonhos adolescentes clichês foram massacrados? Ele me fez desistir de chegar no cara que representa a idealização de todos os meus sonhos clichês, mas nem mesmo lembra o nome dele? Será que ele ao menos se deu ao trabalho de perguntar o nome dele?
Tento ao máximo manter minha expressão neutra, apesar disso. Já que o metidinho aparentemente não lembra de Taehyung, significa que não notou como eu estava os encarando naquela noite. Significa que pelo menos fui liberto dessa humilhação.
Sendo assim, o melhor a se fazer é continuar bancando o sonso.
— O quê?! Que Taehyung? — finalmente digo, minha voz soando mais falsa do que deveria — Me dá isso!
Jimin está rindo de uma forma que me dá nos nervos. Faço menção de me aproximar mais, mas ele ergue uma mão. Ainda bem que estamos sozinhos na sala, graças a meu dever atrasado e à vontade do Park de me encher o saco.
— Olha, Jungkook, vamos fazer um acordo.
Balanço a cabeça veemente em resposta. Seja lá o que ele tenha a dizer, eu não quero ouvir.
— Nem pensar.
— Você quer me ouvir ou não? — sua voz é firme, mas sua expressão é engraçada — É um bom acordo.
— De jeito nenhum.
— Se você não aceitar, conto pra todo mundo que você escreveu uma música pensando nesse tal de Taehyung.
Eu juro que algum dia vou arrancar todos os cabelos desse garoto. Infelizmente, não será hoje. Já que ele tem toda a minha dignidade em suas mãos e está a usando para me chantagear.
Não tem nada que eu odeie mais nesse mundo do que Park Jimin e agora tenho certeza absoluta disso.
— Tá bom — praticamente rosnei em resposta, pelo bem da minha imagem pública — Pode falar.
— Você escreve músicas, nos conhecemos num karaokê, quando vi seu gosto musical questionável e, além disso, vamos passar muito tempo juntos agora — ele pisca pra mim — Porque, obviamente, eu devo te manter fora de problemas.
Reviro os olhos. Falou, falou e não chegou em lugar nenhum.
— Okay, mas o que isso tem a ver com...
Não consigo terminar de falar, ou saber qual o tal acordo que Jimin queria me propor, porque, em tal momento, o professor chega à sala. Somos obrigados a nos sentar em nossos lugares e passo o resto da aula remoendo tudo aquilo. Sinto minha cara queimar de vergonha e tenho certeza de que ele pode ver, já que está sentado ao meu lado.
Este era para ser apenas o seu primeiro dia de aula e já ele já está me causando problemas. No começo da manhã, quando cheguei ao colégio, achei que o loirinho metido não ia aparecer. Percorri os corredores, ao lado de um Namjoon incrivelmente mais nervoso do que eu e, no momento que o sinal tocou, ele não tinha chegado ainda. No entanto, no mesmo momento que a aula começou, Jimin fez uma entrada triunfal na sala. Infelizmente, ele conseguia ser carismático o suficiente para fazer o professor deixar que assistisse a todas as aulas, mesmo que estivesse atrasado em seu primeiro dia.
É absolutamente perturbador.
Mais perturbador ainda é pensar em como tudo acontece rápido demais quando o tópico é esse garoto. Eu não o conhecia nem um pouco. Só sabia informações avulsas ao seu respeito. No começo, imaginei que isso não importaria muito. Ele seria apenas o aluno que eu iria ajudar, por ser novato, e depois continuaria como um estranho para mim. Apesar de muito provavelmente ser um criminoso e daquela cena esquisita na sala do diretor, eu gostava de manter essa ilusão viva e forte em minha cabeça.
Só que Park Jimin pareceu, por algum motivo estranho, grudar como chiclete em mim. Primeiro aquela confusão no karaokê, que ele causou, depois a briga no café. Onde quer que Jimin aparecia, surgia confusão. Essa era a única coisa que eu sabia a seu respeito, por pura dedução.
Ainda acredito que ele faz parte de uma gangue.
Jimin não devolveu meu caderno durante toda a aula. Eu teria que o pegar de volta quando tocasse o sinal.
***
No final da aula, procurei por Jimin em todo lugar, mas não o encontrei. Não sei como aconteceu, em um instante ele estava ali, no outro, tinha sumido. Bastou eu me virar por alguns segundos para arrumar minha mochila...
Não acredito que ele roubou meu caderno. Logo aquele caderno.
Havia apenas um bilhete em minha banca, escrito com uma caligrafia desleixada. Até a letra dele me deixa bravo.
"desculpa por isso, Jungkook
te encontro amanhã para falar sobre a operação Bohemian Rhapsody,
Jimin"
Dou uma risada debochada para o papel. Até parece que eu vou fazer um acordo, seja lá qual for, com um estranho garoto riquinho, cuja personalidade eu desconheço completamente.
Operação Bohemian Rhapsody....
Parece mesmo que Belzebu reservou um demônio para mim.
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