O desertor
A aventura de nosso herói começa antes do ano de 70 de Nosso Senhor Jesus Cristo, antecedendo o reinado do Cesar Titus Vespasiano Augustus, que foi data crucial na vida de Dirceu. Nesta época de inauguração do grande Coliseu de Roma, que para entreter a massa, que era a população rude daquela cidade imperial. O imperador deu prosseguimento a perseguição dos cristãos começada por Nero, continuada por seu predecessor, seu pai, o general Vespasiano, que depois se tornou Cesar. Incumbido de destruir a revolta da parte oriental do Império, exatamente localizada no território Judeu e centralizada na Cidade Santa, Jerusalém.
Desta vez, a fome daquela cidade pagã (Roma), a nova babilônia, como diz simbolicamente em uma das cartas do apóstolo Pedro, estava com um apetite mais voraz e insaciável como nunca antes. Para exibir o poder de sua mais nova obra, fez apresentações e a morte dos cristãos era a mais aplaudida pela massa, onde este grupo antes daquela data se escondia em meio à proteção da religião judaica cedida pelo Império Romano como uma das muitas seitas do povo do rei Davi. Mas agora, com o fim de tal apoio e, com a queda da cidade santa e destruição do templo. Os cristãos perderam o direito a cultuar a Deus abertamente e colocarem em prática a pregação do evangelho de Jesus Cristo.
Em todo o mundo, fileiras de féis eram trazidas aprisionadas para o circo de Roma, um pouco antes desta época histórica, da destruição do templo, que Dirceu chega naquela pequena cidade portuária na região da Cilícia, onde hoje fica Adana, próximo a conhecida Tarso.
Não sendo menor neste tempo a perseguição ao povo da seita do caminho, já que a caçada não começou com a destruição da cidade santa e sim, com o incêndio de Roma, que Nero pôs a culpa nos cristãos, matando o Apostolo Paulo e Pedro, o primeiro decapitado e o segundo crucificado de cabeça para baixo.
Em seguida, iniciou-se a chacina sobre o povo escolhido por Cristo para propagar sua mensagem de paz, luz e arrependimento dos pecados.
Chamaremos de Adana esta cidade, para que não se perca a relação de localização. Ali, nosso herói, quando ainda confuso pela vingança em detrimento de todo ódio que estava sentindo, começava sua militância rebelde e toda a prática criminosa contra Roma, isto, um pouco antes da nomeação do novo Cesar Titus.
Foi assim; ao chegar a cidade litorânea, vindo da sua fuga espetacular a sua prisão em Icônio. Dirceu ficou pelos cantos e logo foi achado por Mauro, o mesmo soldado que fugira dele no vilarejo das cercanias do norte daquela mesma cidade.
Este homem de pele escura, não tanto como os negros do interior da África, mas daqueles provenientes do norte do continente. Este, o encontrou na rua, ficou a espreitá-lo, contudo, sabia de sua trajetória, de tudo que fizera ao avisar o povo da invasão romana e foi justamente ele quem o salvou, falando para a resistência que o legionário que os ajudara, fora preso.
Sendo assim, naquele final de tarde que já se passara, quando boa parte dos romanos partira para o norte do acampamento e também de outras frentes que já cercavam toda região, em uma manobra para destruir a assembléia dos rebeldes a Roma que restavam. Isto, quando ainda Dirceu se encontrava preso e desacreditado da vida, apenas esperando a morte pelas mãos de seu inimigo mais odiado, a saber, Lucius.
Um grupo grande invadiu o acampamento romano pouco protegido com duas intenções; matar o responsável pelo massacre que era Lucius, que por pouco não foi pego, pois se retirara minutos antes e, resgatar o salvador da parte do povo que sobreviveu a chacina.
Com toda esta lembrança recente em sua mente, espreitando o antigo centurião, Mauro esperou até que Dirceu desfalecesse de fome, depois, chegou com calma e bem oportuno.
- É amigo, parece que minha sina é alimentá-lo em momentos difíceis!
O desertor e agora inimigo de Roma sorriu com fraqueza, entretanto com agradecimento sincero, olhou para seu novo amigo antes de comer. Não falou nada, estava uma semana sem se alimentar e seu corpo estava prestes a entrar em colapso.
- Coma devagar... está muito tempo sem se alimentar e pode passar mal.
Ele balançou a cabeça concordando, deu mais umas duas mordidas no pão, bebeu um pouco de água e guardou a carne e o resto da comida em um pano que veio junto com a oferta de Mauro. Ainda mastigava olhando para o Africano e depois começou a conversa.
- Obrigado. Estendeu a mão e um aperto se fez entre os dois.
- Não há de que. Respondeu Mauro ainda agachado.
- Sente-se. Pediu Dirceu.
Mauro se acomodou ao seu lado, olhou para o mar que estava a poucos metros deles, numa descida de rua íngreme, numa das bordas da cidade. Sentiu a brisa marinha em sua face, as aves marinhas cantando naquela tarde esplendorosa. Olhou novamente para Dirceu e perguntou.
- Como está? Achei que levaria mais tempo para se recuperar, vim atrás de você com atraso de três dias. Cheguei na caverna e Suzana me informou que tinha partido para o leste, imaginei que viria para cá. Sei que não tem lugar mais seguro para um soldado desertor do que aqui em Adana.
- Você que me salvou?
- Sim, e custou muitas vidas amigas, espero que não me arrependa, pois senti força e bondade em ti.
- Você é cristão?
- Não, mas gosto do Nazareno. Acho que ele veio para fazer o bem, todavia tenho muita pressa para resolver as coisas e não acho que os romanos vão concordar tão facilmente com os apóstolos que falam dele. Aí, a gente defende quem pode e luta do jeito que dá.
- Então, nós concordamos em relação ao Nazareno Jesus, eu gostei de suas palavras e idéias, mas também tenho sede de justiça e acho que ele não vai resolver meus problemas.
Os dois ficaram calados enquanto Dirceu acabava de comer a outra parte da sua refeição. A noite começava e Mauro o levou para um esconderijo seguro. Chegando lá encontraram com mais dois homens, que logo foram apresentados. Tarcísio e Valdemiro foram cumprimentar Dirceu, Mauro contou toda a aventura que se passou no norte, os novos amigos ficaram impressionados com a coragem do herói de Icônio e fizeram uma pergunta.
- Vai se juntar a gente? Perguntou Valdemiro.
Dirceu não soube responder no momento e logo Tarcísio também falou.
- Precisamos de soldados como você, poderíamos o proteger contra o imperador e vai ter amigos fieis que nunca vão te abandonar. Pense direito, não precisa responder agora, vejo que está ainda muito confuso com tudo que aconteceu. Então vá descansar.
Tarcísio era o líder rebelde daquela cidade, Dirceu percebeu a calma e a compreensão com seu problema e agradeceu o tempo que o dera para pensar, foi para o leito preparado para ele e se ajeitou para dormir.
Ficou olhando para a janela pequena e alta, mas que dava para visualizar as estrelas. Lembrou de Suzana, de sua força espiritual e também da paz que aquela jovem irmã passava. Sentiu uma vontade de largar tudo: a vingança contra Lucius e a revolta que entrara em seu coração contra o Império. Fechou os olhos e não sacudiu a cabeça fisicamente, mas como se fizesse espiritualmente em sinal de negação a si próprio, tentou dissuadir-se de todos aqueles pensamentos de natureza cristã; e concluiu numa mudança radical voraz. - Sei que não sou páreo para o poder do Cesar, mas vou causar o maior prejuízo que puder, pois não tenho outra saída, que não seja a vingança.
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