Capítulo 1
— Shh! Não podemos fazer muito barulho. Avery está aqui.
Abri um olho. Eu conhecia aquela voz.
— Meu Deus, você é terrível — ela disse, rindo baixinho.
Ouvi um baque, como se alguém tivesse esbarrado em um móvel, e mais risadinhas. Uma porta se abriu e fechou.
Ainda sonolenta, me sentei na cama. Esfreguei os olhos, pensando em como minha companheira de apartamento estava miseravelmente falhando em ser silenciosa.
Seu quarto ficava bem ao lado do meu, e é claro que pude ouvir um pouco mais de suas aventuras noturnas.
— Mmmm, isso é muito bom.
Voltei a me deitar, tentando me desligar do que estava acontecendo.
— Não para... não para...
Usei o travesseiro para tampar meus ouvidos, mas nem mesmo isso me impediu de ouvir os gemidos e rosnados.
Eu gostava de Paige. Ela era uma ótima pessoa. Fazia algum tempo que ela não trazia alguém para casa, e eu realmente estava feliz por ela ter encontrado um cara que valesse a pena curtir uma noitada juntos.
Mas, porra, estava difícil dormir.
A coisa toda ficou bizarra quando ouvi tapas. Altos e fortes. Então, gritos femininos. Paige estava se divertindo.
E eu, xingando.
— Isso! Me bate, seu safado!
Comecei a me estressar. Virei na cama várias vezes, para um lado e depois para o outro, na tentativa de chamar o sono de volta. O que não aconteceu.
Eu estava mais desperta do que nunca.
— Isso é muito gostoso — ela gemeu. — Meu Deus, eu acho que eu vou... Aaaaaaah!
Tomei um susto com o grito. Em seguida, veio outro, igualmente escandaloso. O tipo de grito que parecia querer acordar o prédio inteiro.
Inacreditável. Aquilo era passar dos limites.
— Aaaaaaaaaaaah!
— Agora chega — grunhi, saindo cama.
Extremamente irritada, escancarei a porta do meu quarto e marchei até o dela. Bati algumas vezes, aplicando uma força moderada. Quando vi que a gritaria continuava a torto e a direito, bati mais forte com a palma da mão aberta, fazendo estrondos.
— Paige! — chamei.
O silêncio tomou conta da casa.
— Paige, eu não consigo dormir. Diminui o volume, por favor — pedi, ainda no corredor.
A porta de repente foi aberta e minha amiga apareceu com as roupas amarrotadas e o cabelo loiro bagunçado. Ela abriu um sorriso de desculpas.
— Eu não sei nem com que cara te olhar. Me perdoa?
— Claro... só não faz de novo.
Paige assentiu. Quando olhou para trás, abriu mais a porta e eu pude ver que tinha um homem de pé lá dentro, de costas para nós. Seu corpo era alto e de músculos bem delineados. Vestia apenas uma calça jeans que pendia de seus quadris, mostrando a borda da cueca.
— É o meu namorado — ela revelou segundos antes de me puxar para dentro do quarto. — Vocês precisam se conhecer! Amor, essa é a Avery.
Antes mesmo que eu pudesse dizer algo, o homem se virou e nos olhamos.
O ar me faltou. As palavras ficaram presas na minha boca.
Eu o conhecia. Sabia quem ele era.
Sua expressão era puro deboche, como sempre. Seus olhos caçoavam de mim. Todos aqueles anos me armando contra aquele ser... e ele tinha conseguido me pegar pelo meu ponto fraco. Ele tinha conseguido fisgar minha melhor amiga para me atingir.
— É um prazer finalmente conhecê-la, Avery — disse ele, fingindo não saber quem eu era.
— Sabe o que mais? — Paige pegou a mão dele. — Estamos muito apaixonados. Nós vamos nos casar.
Não.
— Vocês o quê?
— Eu sei, é loucura — admitiu ela. Seus olhos encontraram os dele e brilharam enquanto falava: — Mas a gente se ama.
Não. Não.
— Vamos nos casar amanhã...
Não! Deus, não!
— E queremos que você seja a nossa madrinha — terminou, iluminada de felicidade.
Cambaleei para trás, completamente desnorteada. Eu os olhava como se estivesse vendo o monstro mais terrível de todos. Fui até a porta aos tropeços, sentindo que minha vida estava acabada.
Eu nunca mais teria paz. Nunca mais.
Ele tinha conseguido seduzir e enganar minha melhor amiga para entrar na minha vida de uma maneira irreversível.
Esse era seu golpe final.
Coloquei as mãos na cabeça e comecei a gritar feito uma descontrolada. Gritei de desespero, raiva e frustração. Saí correndo pelo apartamento, ainda aos gritos.
Quando abri a porta da frente, ele se materializou diante de mim com o canto da boca repuxado em um sorriso diabólico. Ele me olhava por baixo das sobrancelhas pretas e espessas como só um psicopata saberia fazer.
— O inferno só está começando, Avery — ele disse, a voz transformada, adquirindo um timbre grosso e satânico.
Então, vendo o pavor em meus olhos, ele começou a rir. Uma das risadas mais macabras que já ouvi.
E eu tornei a gritar.
*****
— Avery, acorda!
Abri os olhos em pânico total. Eu estava trêmula e confusa com aquele pesadelo grotesco. Paige segurava a minha mão, tentando me acalmar.
— Calma, foi só um pesadelo. Já passou.
Me atirei em seus braços.
— Por favor, me diz que o cara que você tem escondido do mundo inteiro não se chama Dimitri.
— O nome dele é Fletcher. Mas o que isso tem a ver com seu pesadelo?
Ergui o olhar para ela.
— Se eu contar, promete não rir de mim?
— Prometo.
— Sonhei que seu namorado misterioso era Dimitri Savage. E que vocês iam se casar.
— Quer dizer que toda essa gritaria e desespero foi porque você sonhou comigo namorando seu inimigo número um?
— Isso.
Nos primeiros segundos, Paige se controlou para não rir. Mas depois, incapaz de se aguentar, caiu na gargalhada. Lágrimas escorriam dos cantos de seus olhos.
— Você prometeu não rir!
— Ah, sinto muito... mas é que você não existe! Isso é muito engraçado. — Ela levou as mãos à boca, dando mais risadas. — Vou marcar um jantar para você e Fletcher se conhecerem. Está mais do que na hora.
— Ah, Paige, não precisa. Esse pesadelo me deixou meio pirada, mas já estou voltando ao normal.
— Não, eu quero fazer isso. Quero que duas pessoas tão importantes na minha vida se conheçam.
Ela se levantou da minha cama e deu uma piscadela antes de ir embora. Caí no colchão, concluindo que eu não deveria me preocupar com nada. O nome do namorado dela era Fletcher, não Dimitri.
Não tinha o que dar errado.
Ou tinha?
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