I. Regras & Contracto
─ [...] Ruby Angel nos envolve com sua falsa despretensão, sua elegância no bom gosto pelo comer e pelo vestir, porém toda aquela aura de bem-estar, não passa de uma perigosa máscara para colocar as mãos dentro do seu mealheiro. Conhecida como mestre na arte do engano, sem superar é claro o nosso querido Jean Noir, devemos salientar que Ruby Angel peca por não conseguir se esconder por muito tempo. Outrora escritora do Best-Seller Perdi me Em Ti, gastou até ao último níquel em suas fúteis vaidades. Mais do que falida pelo banco, a inspiração assim como o dinheiro, fugiu a sete pés. Afinal nem a própria mente confia mais nela. – Janine Keating. ─ Malcom tinha o cabelo castanho um pouco mais claro levantado num topete para o alto, sua pele era branca como o leite e seus traços do rosto eram leves e belos. Os olhos eram de um verde musgo, e se vestia impecavelmente para um jovem tão novo quanto podia ser. Suas roupas beiravam um estilo mais antigo, ainda assim muito bem enquadrados no terno de três peças e gravata fina.
─ Obrigada por piorar meu dia. ─ Ruby estava em completo desalinho, algo que já era de se prever só pela noite mal dormida. Seu cabelo bagunçado não parecia o mesmo cheio de cachos brilhantes com os quais costumava a desfilar pelas ruas. Estava completamente arruinada, enquanto carregava dezenas de peças de roupas de marcas famosas e as estendia na cama ao lado do melhor amigo. ─ Não tenho nada para vestir.
─ Bate na boca e morde a língua, Ruby. Olha para toda esta quantidade de roupas, sapatos que estão aqui. Já vendemos quase todas as bolsas, mas pelo amor da galinha pintadinha, já gastaste o dinheiro todo. ─ Malcom estava impaciente quando fechou a revista Magazine. As palavras de Keating corriam como vento, àquela altura o que restava, se é que ainda havia algo, sobre a famosa escritora estava completamente arrasado.
─ Não vou vender mais nada! ─ Ela se atirou na cama cheia de todo tipo de vestuários, seu coração batia sem parar e apertou os olhos como uma mãe que não se pode desfazer dos seus filhos. Naquele quarto que o amigo tinha lhe deixado ficar, o que mais se via era malas e malas ainda fechadas, para além de alguns prémios literários que esta tinha ganho no passado.
─ Olívia. ─ Quando ele começava a falar assim e, principalmente quando mexia no topete que levava horas a ser realizado, é porque vinha bronca em seguida. Os olhos verdes musgo se concentraram nela. ─ Você me ajudou a ter a livraria, lembra? Mesmo tendo me dado um prejuízo na encomenda do seu último fracassado livro, ainda continuo com ela. Que tal trabalhar para mim?
─ Eu vou morrer de desgosto, Malcom. ─ Os olhos dela se encheram de lágrimas e sentia a angústia que a dominava por inteiro. Não soubera viver nem com os seus milhões, pior seria com o salário mínimo.
─ Eu estou preocupado com você. ─ Tinha a língua presa quando falava, mas que por toda contrariedade lhe dava um charme desigual. A acariciou os cabelos com vagar, mesmo sendo mais novo a conhecia o suficiente para saber que algo a incomodava. Ruby se levantou como uma gazela ao sentir a presença de algum predador, só não levantou as orelhas porque eram pequenas. Saltou da cama e andou descalça até a sua única bolsa Chanel e procurou o maldito envelope. ─ Não me diga que é sobre o que me contou?
Ela mordeu os lábios carnudos com certa força. Não era uma mulher magra de todo, pois seu corpo possuía formas mais curvilíneas, com pernas grossas e quadril largo. E pela altura baixa, fazia com que parecesse ainda mais composta.
─ O que tenho a perder? ─ Perguntou em voz alta. Realmente a forma como entoava as palavras era melódica, talvez por ter treinado para quando fazia leituras para os seus fãs.
Malcom bateu com a mão na testa. Não entendia a necessidade que a melhor amiga tinha para comprar sem parar, como se a vida não dependesse de mais nada senão disso. Voltou a sentar-se e cruzou a perna sobre a outra numa elegância aristocrática.
─ Que tal fazermos assim? Eu disse que não tinha mais dinheiro, mas posso liberar minhas poupanças e...
─ Regra número 1: " Esse Contracto deve ser sigiloso." ─ Angel leu com a boca seca e o coração que parecia pular uma corda.
─ Que maravilha! Já começa a quebrar as regras. ─ Ele ironizou e olhou para o relógio de pulso.
─ Regra número 2: "A localização da casa do cliente não deverá ser do seu conhecimento."
3: "Não revelar para ninguém sobre A Sala Escura e o que acontece dentro dela."
─ Isso pode ser perigoso, Olívia. Não posso concordar com tamanha façanha, pelas barbas de Noé! ─ Exclamou de olhos esbugalhados e um pouco mais pálido do que sempre costumava estar.
─ É para isso que estás cá. Se algo me acontecer podes ir lá me resgatar ou pelo menos contactar a polícia. ─ Ela afirmou enquanto andava de um lado para outro, com as folhas na mão e continuou a leitura.
«Regra número 4: "Nunca deve se aproximar do cliente em nenhuma instância."
5: "Não deve fazer questões pessoais sobre o cliente."
6: "A cada duas semanas terá que se vestir de vermelho. Podendo ser desde peças luxuosas, sensuais ou fantasias eróticas."
7: "Poderá ter que usar roupas mais íntimas."
8: "Poderão ser usados objectos íntimos em mútuo acordo."»
Malcom riu, mas não achou graça naquilo. Tinha em Ruby uma irmã mais velha e começava a ficar apreensivo quanto àquilo. Estava nervoso, mas deixou que ela prosseguisse na falsa expectativa de encontrar o absurdo naquela história toda.
«Regra número 9: "Não ter relações sexuais com terceiros a partir de quinta-feira á noite."
─ Como isso pode ser possível? ─ Desta vez o jovem rapaz não conseguiu ficar calado. Bufou exasperado. ─ Isso é loucura. É certo que o Marc te deu um pé na bunda quando afundaste na lama, mas o que eles têm a ver quando é que tens relações sexuais ou não?
─ Bem. ─ Apesar de ser dominada pelo seu vício em gastos desnecessários, ainda assim a sua mente era inteligente para pensar. ─ Se ele está a pagar com certeza não quer que eu vá ler contos eróticos com vestígios recentes de outro homem. Pelo menos no caso de pretender imaginar algo com o que irá ouvir.
«Regra número 10: Deverá se submeter a avaliações de saúde e ingerir a pílula anticoncepcional até ao final do Contracto."
─ Nesse caso seria para não correr o risco de engravidares durante o período de duração do contracto e para não ter nenhuma enferma a ler os contos eróticos. Claro, ninguém quer imaginar algo sensual com alguém que possa ter alguma mácula na saúde. ─ A voz dele, mesmo com a língua presa que lhe dava algum tom engraçado e infantil, soou bastante irónica.
Ruby ficou impaciente, deitou-lhe um olhar gelado e o amigo passou o dedo indicador junto do polegar contra os lábios, num claro sinal de silêncio.
«Regra número 11: "Todos os primeiros sábados de cada mês, a ideia para o conto é de criatividade livre. Os restantes serão indicados pelo cliente que lhe fará chegar o que pretende ouvir todas segundas-feiras de manhã num envelope fechado."
12: " No terceiro sábado de cada mês, deverá se vestir de acordo com a personagem descrita no conto."
13: "Será lhe dada uma verba limitada para que tenha a semana inteira para produzir o enredo."
14: "Deverá pautar pela criatividade tanto na escrita quanto na leitura."
15: "O cliente exige que frequente um psicólogo e um ginecologista de sua confiança a cada quinze dias, para uma avaliação completa."
─ A parte do psicólogo, eu gosto. ─ Malcom observou, colocando a mão no queixo se perguntando a razão do misterioso cliente se importar com aquilo.
─ Mas o que ele tem a ver com isso? ─ Se mostrou verdadeiramente irritada. Quando Tom a tinha abordado as coisas pareceram simples demais, e agora vinha com uma lista completa de regras absurdas.
«Regra número 16: O cliente irá monitorar os gastos feitos em relação aos pagamentos realizados por cada conto."
─ Mas que absurdo! ─ Ruby já não estava a gostar tanto daquilo, por sua vez o amigo parecia começar a mudar de ideias.
«17: "Nunca deverá ver o rosto do cliente ou manter relações sexuais íntimas. Apenas poderá ouvir a sua voz."
18: "Nunca abandonar A Sala Escura antes do fim de cada sessão."
P.S - Qualquer regra que seja quebrada, o cliente tem ao direito de rescindir o contracto a qualquer altura e aplicar uma multa avultada. As regras e o contracto podem ser alterados a qualquer momento para a satisfação e segurança do cliente.»
Os dois amigos se olharam por alguns segundos, como se pudessem ler a mente um do outro. Tinham sempre aquela ligação estranha desde que se conheceram pela primeira vez numa festa de bar.
─ Isso é uma loucura completa. Deita logo essas folhas para o lixo, vem trabalhar comigo e tenta escrever uma nova história. Nunca é tarde para recomeçar, mas não quero que tenhas nenhum problema. ─ Malcom quebrou o silêncio, estava nervoso e como hábito começou a morder o interior da bochecha.
Ruby no entanto abriu o contracto, apenas para ler a primeira página.
─ [...] Vem aqui que irá me pagar uma quantia de dez mil dólares por conto e que irá quitar todas as minhas dívidas e resgatar meus bens perdidos, assim como me oferecer outras coisas benéficas, mas se nos primeiros três meses não estiver satisfeito com a qualidade dos meus contos, então ele irá rescindir o contracto e eu lhe deverei metade de tudo o que foi pago por ele. ─ Explicou para o amigo. ─ No entanto eu nunca poderei romper o contracto em nenhuma instância após assinar.
─ Isso só beneficia a ele em todos os termos. ─ Malcom observou.
─ Nem tanto afinal está a desembolsar uma fortuna por conta de tudo isso.
─ E não achas estranho? Quem em sã consciência faria isso?
─ Se ele ficar satisfeito nos primeiros três meses, então poderemos renovar o contracto em comum acordo. ─ Ignorou o que lhe foi dito e passou os dedos pelo pescoço num gesto subtil de quem estava pensativa. ─ É só escrever contos eróticos e ler, Malcom. Nada mais.
─ Estás completamente sem a noção do perigo. Sempre soube que adoravas uma adrenalina no que diz respeito a comprar sem dinheiro, mas não imaginei o teu desespero até dado ponto. ─ Se levantou e arranjou o cabelo devagar, era dono de uma certa vaidade. ─ E se for o DQ? O fã maluco que te persegue sem parar?
─ Não sei quem é o DQ, mas em nada se compara ao requinte deste Mr. Dark. Disso tenho certeza. ─ Garantiu e ele teve que concordar. Todos sabiam que Ruby Angel tinha sido perseguida sem parar por um fã reles que enviava cartas assustadoras e presentes fajutos sem nunca se dar a conhecer.
─ Vais aceitar?
─ Vou precisar da tua ajuda para escrever, Malcom. Sabes que quanto ao quesito sexual não tenho o mínimo interesse. Diferente de ti que sais sempre para tantos encontros tórridos e que me deixam com inveja. ─ Se virou para enfrentar os olhos verdes-escuros que a criticavam. Ele abriu a boca e voltou a fechar.
─ Bate na boca e morde a língua, Cherry. Já te disse que a tua questão sexual é porque não largas o passado e vives presa em algo que tristemente acabou. Tens que te libertar. ─ Soltou um suspiro e voltou a olhar para o relógio. Parecia impaciente, sem contar que aquele gesto começava a irritá-la.
─ Tens pressa? ─ Questionou.
─ Eu trabalho. ─ Respondeu de maneira evasiva e aquilo só a intrigou ainda mais. Se aproximou para lhe dar um beijo na testa. ─ Preciso ir, mas pensa com atenção.
─ Obrigada. ─ Ela soltou um suspiro cansado e inventou um sorriso quando viu o amigo sair e deixá-la sozinha. Malcom sempre dizia que podia ficar na sua casa por quanto tempo precisasse, na verdade era o único que ainda a aturava e a toda sua compulsão.
Procurou o cartão que Tom lhe deu e discou o número rápido antes que mudasse de ideias.
─ Pois não, senhorita Strain? ─ Foi rápido em atender, mas Ruby detestava quando lhe chamavam pelo nome verdadeiro, pois a lembrava de alguém que não era mais.
─ Como sabe quem sou? ─ Indagou curiosa.
─ Da mesma forma que soube que estava em apuros no restaurante. ─ Era curto e directo como sempre, apesar de não esclarecer nada no final.
─ Certo... ─ Hesitou. ─ Eu li as regras e o contracto.
Tom não disse nada.
─ Vou assinar.
─ Compreendeu tudo o que lhe foi escrito?
─ Sim. Compreendi.
─ Estarei em sua morada em dez minutos.
─ Dez? ─ Se espantou.
─ É claro. Devemos começar a tratar de tudo o quanto antes, não falta muito para sábado. Até já! ─ Concluiu a chamada sem lhe dar tempo para refutar.
Ruby sentiu as mãos geladas, procurou uma caneta e começou a assinar tudo com rapidez. Estava a cometer o erro de não ler o contracto por inteiro, mas o desespero e a vontade de resolver seus problemas gritavam mais alto. Quando terminou procurou prender o cabelo num coque rápido, vasculhou as roupas em cima da cama, muitas ainda com etiquetas, porém nunca se dava por satisfeita. Apenas colocou um vestido longo e estampado, passou um rímel e um batom quase ao mesmo tempo em que ouviu a campainha tocar.
Se assustou. Não tinha visto o tempo passar e ainda ia a tempo de desistir, mas a curiosidade misturada com a ideia de ter sua vida financeira de volta, estavam em maior destaque, tal como a melhor loja da cidade com uma vitrina cheia de coisas novas. Arrumou os papéis dentro do envelope, calçou uma sandália Gucci e correu para abrir a porta.
Tom era muito alto, sisudo, com os olhos escuros da cor do cabelo. Parecia desconhecer a palavra sorriso e analisou o apartamento a sua volta mesmo sem se dignar a entrar.
─ Bem... Eu estou nervosa. ─ Confessou e sentiu quando a voz falhou. A mão tremia sem parar quando lhe estendeu o envelope pardo.
─ Não fique. Tenho a certeza que será a melhor experiência de sua vida. ─ Mesmo sendo taciturno deixava transparecer uma estranha segurança. Em seguida lhe estendeu um cartão de débito limitado, mas os olhos dela brilharam como duas estrelas em uma noite escura. ─ Para começar a preparar-se. O psicólogo e a ginecologista irão entrar em contacto consigo ainda hoje para marcar um dia nesta semana para os visitar.
─ Certo. ─ Os pensamentos dela tinham se perdido para o cartão que recebera.
─ Apenas lembre-se de caprichar. Mr. Dark é muito exigente e não espera menos vindo da senhorita. ─ Tom não deixou de salientar.
─ Eu ainda não sei bem por onde começar.
─ Apenas Revele Seus Desejos.
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Bem-vindos ao primeiro capítulo. O que acharam das regras? Será que Ruby vai conseguir cumprir cada uma delas?
Espero que estejam preparadas para embarcar nesta aventura, Dilaceradas também quero que me Revelem Seus Desejos!
Uhauhauhaua.
Beijos de amor.
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