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Sofrimento. Essa é a palavra exata que descreve minha atual existência em um lugar tão barulhento, era como se eu escutasse todos os gritos que eu já dei na vida ressoando por caixas de som de tamanho absurdo apenas com o propósito de provar pra mim que existe carma.
— Bakugou por que tá tão irritado assim, cara? - Kirishima pergunta se aproximando de mim enquanto dança um pouco.
— Me erra porra! Som alto do cacete, eu não bebo e não 'tô fazendo nada de bom.
Meu jeito de responder ele foi grosso como sempre e apenas recebi um riso nervoso em troca, ainda não consigo entender como algumas pessoas tem tanta baixa autoestima que nunca me mandaram calar a boca.
— Então vamos jogar algo, que tal verdade ou consequência?
Juro por Deus que nunca vi olhos brilharem tanto na minha vida por causa de pura animação, talvez alguém tivesse batizado meu copo.
— Bosta nenhuma, já vim aqui a força e não vou brincar só porque tu quer, cabelo de merda! - não queria nem estar aqui pra começo de conversa, mas sem esperar fui arrastado até minha guilhotina, ou pelo menos uma roda de pessoas um pouco bêbadas querendo brincar de algo tão infantil.
É, realmente não tinha muita diferença de uma guilhotina.
— Vamos, vamos! - Mina está animada como sempre enquanto ajudava Denki a sentar, aquele dali 'tá só o corpo porque a alma foi junto com o sobriedade dele.
Me sentia como se estivessem retirando meu livre arbítrio de mim e com uma tremenda vontade de meter um processo nesse povo, uma pena que não conheço nenhum advogado bom.
Bem, não demorou muito para começaram a girar a garrafa e até que não estava tão ruim assim. A maioria que escolheu desafio tinha ou bebido mais um pouco ou pegado alguém.
Ninguém mais respeita o espaço pessoal do próximo, incrível. Coisa nojenta, todo mundo trocando saliva com vodka bleh!
O jogo continuou com Koda tendo que imitar a cena da Branca de Neve com o Tokoyami, Sero quase deslocou a clavícula tentando se pendurar no teto como o homem aranha e descobrimos que Shoto sabe fazer esculturinhas de gelo.
São... Decentes, eu acho.
Até que caiu no Pikachu perguntando pra mim, aquele dali não conseguia nem se quer falar direito.
— Kazinho, verdade ou desafio..? - eu acho que o raciocínio dele no momento erão tão baixo que eu quase escutava uma frequência de rádio chiando de dentro da cabeça dele.
— Verdade, foda-se.
— Q-Quando foi que você perdeu sua virgindade..? - a entonação de sua voz era arrastada graças ao álcool e debochada graças a sua falta de senso. Uma plateia ansiava pela minha resposta o mais rápido o possível, primeiro eu fiz uma cara de confuso pelo contexto da pergunta mas logo respondi sem muito rodeio.
— Eu sou virgem, seu merda. - que tipo de pergunta era aquela? Não entra na minha cabeça até agora como um pau no cu desses é meu amigo, na moral.
Silêncio.
Um silêncio desconfortável e não esperado por mim, por que eles estavam em silêncio? Normalmente reviravam os olhos ou apenas riam sem graça pela minha fala então porque nesse exato momento não faziam som nenhum?
Até que fizeram, e eu queria que não tivessem feito.
Risadas.
Não era a primeira vez que escutava risadas ao meu respeito porém não entendia o porquê dessas risadas, o que era engraçado no que eu falei? Até que eu me toquei que de todos que estão aqui apenas eu, nunca transei com ninguém.
— Espera, sério? Puta merda Bakugou, você não era o melhor aluno da U.A? - a frase foi solta depois de uma gargalhada vinda de Sero.
— E eu sou, o que isso tem a ver caralho?! - aquele riso frouxo já começou a irritar minhas orelhas.
— Ué, se você é o bonzão quer dizer que também é o mais bonito mas como é mesmo se ainda não fez sexo?
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Já eram uma e meia da manhã e aquele pergunta idiota ainda rondava meus pensamentos, não é como se importasse o fato de eu nunca ter feito sexo com alguém e eles sim.
Mas por que isso me faz sentir mal?
Eu não ligo pra essas coisas e na verdade acho que nunca liguei, não é como se nunca tivesse pensado sobre sexo ou aprendido reprodução no ensino fundamental mas parecia um assunto tão banal.
Okay pessoas tem que foder para procriarem e isso acontece no reino animal também, e daí? Problema é das pessoas e das suas pensões.
...
Então por que sinto como se fosse meu problema?
Por que de repente senti uma vontade de tentar praticar sexo apenas para poder contar aos meus amigos sobre isso?
É tão estranho se sentir... Inferior, só porque eu não fiz uma coisa que aparentemente todo mundo já fez. Então eu acho que só tem uma solução pra isso, preciso ligar pra minha mãe.
Não demorou muito tempo até aquela bruxa atender e parecia mais brava do que nunca, nem está tão tarde assim rainha do drama.
— Katsuki, isso são horas pra ligar pra mim?! O que aconteceu dessa vez?
— Não fiz nada de errado se é o que quer saber, porra!
— Não ouse falar palavrão comigo, atrevido!
— Só escuta! Eu precisava conversar com alguém, tá bom? E você é minha mãe então preciso de conselhos. - admito já frustrado com aquela briga ridícula e escutei um silêncio novamente pelo outro lado da linha.
— Oh, bom sobre o que quer conversar? - nunca me senti tão aliviado de não escutar risadas na minha vida, pelo menos até agora.
— Hoje a gente fez uma festa aqui nos dormitórios e foi até que legalzinho. Mas aconteceu algo e eu preciso de conselho...
— Tudo bem, pode falar.
— Sobre sexo. - juro que pude ouvir a voz dela parar por um momento até que ouvi poucas tosses, ela engasgou - Mãe? A senhora tá bem?!
— 'T-Tô! Estou.. Ótima, hm! - ela não parece ótima pra mim, só falando mesmo.
Eu esperei alguns minutos até ela supostamente se recompor e aguardei, mesmo que impaciente.
— Só me diga uma coisa antes, você usou camisinha não é?
— Mãe! Eu.. Eu ainda sou virgem.
— Ah graças a Deus, eu não preciso de um neto agora Katsuki! - ela parecia realmente muito aliviada, até entendo porquê - Bom, se ainda não transou no que precisa de ajuda?
— Seria estranho sei lá, se eu não quisesse transar?
— Claro que não, todo mundo tem seu próprio tempo e-
— Não tipo, eu realmente não quero transar. Tipo nunca.
— Oh, bom sim. - foi simples assim? Como assim essa mulher só me responde um sim?
— Sério?
— Seríssimo. Você não sabe o que é uma pessoa assexual não é, burrão? - eu não sabia se ficava curioso com a nova palavra adicionada ao meu vocabulário ou ofendido pelo xingamento.
— Ei eu não sou burro! E.. Não sei o que é isso aí. - dessa vez ouvi risadas mas admito, queria rir junto.
— Basicamente você não sente atração sexual ou sente pouco, você nunca vai pensar ou pensa pouco coisas tipo: Nossa que cara gostoso, puxa aquele mina tem um rabão e caralho da pra ver a calcinha dela-
— Eu já entendi mãe! - o arrependimento de não ter criado uma máquina do tempo antes de ligar pra ela veio agora, quero me enfiar num buraco e não sair de lá nunca mais.
— O que? Eu tenho que ser honesta e clara com você, não sei qual dos dois você gosta. - apenas escutei mais risadas meio abafadas dela, escutar sua voz era bom de vez em quando.
— Mas se eu sou realmente assexual como posso gostar de alguém?
— Mas eu criei um inútil mesmo né? Sexo não é tudo não Katsuki, você acha que eu casei com seu pai só pra ter você, praga?
— Não né?!
— Então? - ela grita e me xinga, mas é bem mais fácil quando ela explica.
— ... Meus amigos riram de mim hoje quando eu disse que ainda era virgem.
O silêncio veio de novo mas dessa vez não um inquietante ou tranquilo, foi como se um lençol encobrisse a pura raiva que eu podia sentir só de brevemente escutar o ranger de dentes dela.
— Se sexo não é tudo, por que eles riram de mim?
O silêncio finalmente acabou quando escutei um inspirar e respirar profundos, finalmente escutei sua voz de novo.
— Porque são adolescentes e são idiotas. Na sua idade tudo é sobre quem é o mais bonito, quem é o melhor na classe ou quem pega mais gente. Eu já fui assim e fiz escolhas terríveis. - sinto que não deveria mas me atrevo a perguntar.
— O que você fez?
— Quando eu tinha a sua idade eu era uma das meninas mais bonitas do colégio, querida por todos e sempre tirava notas altíssimas. Eu parecia um querubim vindo dos céus pra me misturar com a plebe daquele lugar.
— Não exagera, bruxa. - só escutei um bater de mesa do outro lado.
— Me respeita! Continuando... Eu também ia a muitas festas e conhecia muita gente iludida, que queriam ser os melhores também e eu tinha uma amiga na época que se vangloriava por ser a marmita da escola.
— Marmita?
— É tão básica que todo mundo come. - talvez não devesse ter perguntado.
— Okay..?
— Enfim, essa minha amiga me disse que eu precisava perder minha virgindade logo se não ficaria conhecida como virjona para sempre enquanto meus amigos transavam muito, eu... Aceitei o "conselho" de merda dela. - consegui quase ver os dedos de sua mão fazendo aspas com certeza.
— Então você transou com alguém?
— Transei sim, um cara lindo da minha sala e também com a fama de tirar virgindade.
— Que nojo. - a careta foi instantânea ao ouvir aquilo e apenas escutei outra gargalhada.
— Eu sei, bom ele foi cuidadoso e usamos camisinha. Por muito tempo achei que tivesse feito a coisa certa mas aí conheci seu pai, o homem mais gentil e fofo do mundo e quando começamos a namorar, transamos também.
— Agora tenho um imagem mental, que cu. - resmunguei massageando minha têmpora.
— Cala a boca! Nós transamos e sabe o que eu percebi Katsuki?
— O que, mãe?
— Que eu fiz aquilo por pressão. Eu transei com a sua idade por pressão e eu percebi que deveria ter esperado porque teria meu momento especial com Masaru. - aquilo era reconfortante de se ouvir, mas ainda me deixava dúvidas.
— Então você quer que eu espere até estar pronto?
— Não Katsuki! Se você não quer transar nunca então não transe nunca, eu te contei isso porque não quero que vá na onda dos seus amigos e faça como eu fiz. Virgindade é um conceito antiquado mas ainda sim é um conceito, algumas pessoas esperam a pessoa certa, outras gostam de tirar logo e dar para qualquer um, algumas pessoas tem ela arrancada de si e eu não quero que roubem a sua sem você nem se dar conta.
De repente ficou difícil falar por alguns segundos, minha voz ficou presa na garganta e meus olhos arder em levemente com o encher de água salgada.
— 'Tá bom, mãe.. - enxuguei as lágrimas que queriam descer e funguei para parar as outras de seu destino.
— Tudo bem, meu amor. Sei que precisava de conselhos mas fico muito feliz que conversou comigo antes de qualquer coisa e isso me enche de orgulho, filho. - merda, para de chorar porra.
— E-Então eu sou assexual?
— Eu não sei, só quem pode dizer é você mas não se estresse com se colocar em algum lugar certo. Só viva, com responsabilidade, e seja você. - talvez sua voz nunca tenha soado tão doce antes, parecia que eu era uma criança de novo.
— 'Tá certo mãe, obrigado de verdade.
Tinha que a agradecer por ter falado comigo desse jeito, a final de contas eu acordei ela tarde e vai trabalhar amanhã além de que realmente ajudou muito. Talvez tivesse feito alguma besteira se não tivesse conversado com ela antes.
— Okay amor, eu adoraria conversar mais mas eu realmente preciso dormir. Tenho que terminar um vestido de noiva amanhã.
— Certo mãe, valeu de novo.
— Boa noite, Katsuki. Aliás quando acordar amanhã mande seus amigos irem se fuder por mim. - não pude deixar de soltar uma leve risada dessa vez.
— Pode deixa mãe, boa noite.
Assim que desliguei senti uma paz interior, pelo menos uma momentânea de que talvez eu não fosse tão estranho assim por não gostar de sexo. E que se foda também se eu sou estranho, minha mãe diz que não então é não.
Não consegui conter um sorriso de lado pensando no que ela disse e sei que ainda tenho muita merda pra desenterrar sobre mim, mas pelo menos sei que nunca vou perder minha virgindade.
Porque eu nunca perco.
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Palavras: 2104
Cara isso foi tão incrível de se escrever, eu espero de verdade que tenham gostado.
Amo o headcanon do Bakugou assexual e ninguém me convence do contrario. 🤭
— Kiki ♡
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