Capítulo 33
-ooOoo-
Se vocês etão se perguntando se eu deixei a Kendra no relento, não. A resposta é não. Infelizmente ela é minha melhor amiga e melhores amigos tem essa maldita ligação que e levada para a vida inteira.
Primeiro vem a folga. Eles se tornam folgados.
Depois eles acham que podem falar qualquer merda pra você.
E depois acaba aquela coisa chamada vergonha e nasce uma intimidade surreal.
Não recomendo, não é muito boa não.
Vou contar para vocês como foi ter esse animal de teta gravido na minha casa.
Semana 1.
Kendra chorou todos os dias.
Ela conversou com o Samuel e o mesmo não acreditou que esse filho pudesse ser dele, pois o mesmo disse que ela ficava com muitos homens. Ela se revoltou e disse com todas as letras que ele não teria nenhum contato com a criança.
Então se apossou do meu sofá e ficou lá largada escutando músicas de fossa enquanto comia todo o meu estoque de comida.
Semana 2.
Kendra dormiu todos os dias.
Ela literalmente só dormiu como um urso hibernando no inverno. Ela só levantava d sofá para ir ao banheiro e para ir até a geladeira. Depois voltada se arrastando e se jogava no mesmo fechando seus olhos e só abrindo horas depois.
Semana 3.
Kendra se revoltou com o mundo.
Ela começou a brigar comigo, com o Rafael, com o Noah, com seu filho, com os vizinhos, com os filhos dos vizinhos, com os cachorros do vizinho e arremessou um vaso caro na parede quando eu toquei no nome do Samuel.
Naquele dia eu passei a noite em um hotel, não consegui olhar para a cara dela.
Semana 7.
Kendra desistiu de viver. Engordou uns 30 kg. Seu cabelo alinhou como um ninho de rato. Ela parou de ir a faculdade, disse que estava gravida e isso a proibia de andar. Não sei como não perdeu a bolsa. Saiu do trabalho para viver sofrendo no sofá enquanto comia frango com geleia de framboesa.
Nesse dia eu vomitei.
Semana 10.
Ela me irritou em uma maneira surreal e eu cansei.
— Kendra eu não aguento mais olhar para essa sua cara inchada.
— Você fala de uma maneira como se não me quisesse aqui — ela diz comendo uma sardinha direto da lata com a mão.
O que aconteceu com a minha amiga?
— Essa foi com certeza a primeira coisa que você disse certo nesses dois meses morando aqui na minha casa e vivendo no meu sofá!
— Tudo bem... Eu vou morar com o Marcelo e com o Maurício.
— Nem pensar — Maurício disse de cara feia para ela. — Você passou duas semanas em casa e deixou tudo de pernas pro ar.
Foi quando eu precisei dedetizar a casa. Foram as melhores duas semanas da minha vida.
— E o que vocês querem que eu faça? — ela perguntou com a voz embargada.
— EU QUERO QUE VOCÊ VOLTE PARA A SUA CASA! Tá amarrado — eu disse jogando a bacia de roupas no chão. — Você pode até ser minha amiga, mas eu não aguento mais olhar para essa sua cara de demônio.
— Você é muito ruim Diego! — foi até chocante vê-lá levantando do sofá tão rápido. — Colocando uma mulher gravida para fora de casa.
Sem querer eu dei uma gargalhada, na verdade foi querendo mesmo.
— Primeiramente, você não é uma mulher e sim uma entidade. Segundo, não use sua filha como desculpas para suas palhaçadas. E quando for sair por favor tome um banho, não quero que os vizinhos pensem que eu estou hospedando uma sem teto.
Eu fui até a lavanderia e comecei a colocar as roupas nas maquinas.
— Ela está impossível esses dias.
Eu olhei para ele e revirei os olhos.
— O que você quer?
— Eu quero que você dê mais uma chance a ela.
— Se está com tanta dó, por que não a leva para a sua casa?
— Não posso, meus filhos estão crescendo. Deixar eles perto da Kendra enquanto se desenvolvem pode fazer muito mal.
— E você acha que ela não vai fazer mal para o Noah?
— Você tem razão...
— Eu sei que eu tenho. Olha, eu conheço a Kendra muito bem e eu sei que ela está assim por causa do Samuel, ela diz que não precisa dele, que não gosta mais dele, que pode cuidar da filha sozinha, mas ela se sente rejeitada. O Samuel não a quis e isso acabou com ela.
— Coitada...
Mais uma vez eu dei uma gargalhada, sei que a situação era seria, mas eu não conseguia controlar minhas reações. Maurício ficou me olhando querendo saber qual o motivo de tanta graça.
— Coitado de mim. Maurício eu fui escravizado por aquela mulher. Ela transformou minha casa em um hospício. Está sujo, defendo, sujo, defendo e sujo. Tem baratas! Sabe o que é isso? Eu não sabia até ver uma semana passada. Não sou muito fã. E daqui a pouco vai aparecer os ra... Os ra... Desculpa, não consigo falar essa palavra.
— Diego se acalma!
— Eu estou calmo! — eu disse jogando todos os produtos dentro da maquina de lavar. — Você ainda não me viu transtornado.
Deixei Maurício sozinho e fui para a cozinha.
Lá comecei a fazer meu bolo sem dar nenhuma chance para aquele animal continuar falando coisas para me manipular. Kendra ficou duas semanas na casa dele e não dois meses. Se fosse isso ele saberia como eu estava.
— Estou indo...
Eu a olhei e dei um abraço apertado no majin boo negro.
— Kendra, eu só quero que você volte a ser o que sempre foi. Não deixa homem nenhum te abater, não fica por baixo, não fica depressiva. Se o Samuel não te dá o devido valor, com certeza tem alguém ai fora que vai te dar, é só você esperar que quando perceber vai estar sendo muito feliz.
— Eu só preciso me estabilizar e vou voltar a ser o que era.
— Então se estabilize na sua casa. Agora vão embora por que eu tenho que ir buscar o Noah!
Os dois me olharam chocados, mas saíram da minha casa sem fazer muito showzinho. Não estava disposto a ter que lidar com os dois. Não essa hora da manhã, não agora que estava livre dela.
***
Eu cheguei na escola em cima da hora e vi o Noah me esperando no sofá. Ele me acenou com suas mãozinhas gordas e eu atravessei a rua, ele então como sempre abraçou minha perna.
— Oi meu pequeno — eu disse pegando ele no colo.
— Oi papai— ele disse tristinho.
— O que foi menino, aconteceu alguma coisa?
— Uns meninos ficam me zoando por eu ter dois pais.
— E quantos anos tem esses meninos?
— São da minha idade.
— O que a escola ensina para essas crianças de hoje em dia? A serem marginais?
— Eu não sei — ele me olhou confuso.
— Eu não quero que você fique pensando nessas coisas tudo bem?
— Sim.
— Tá certo, então vamos embora pra casa.
Quando estava prestes a atravessar a rua eu escuto a voz da minha mãe me chamando. Primeiramente eu pensei que fosse alucinação minha, mas quando eu me virei ela estava ali. Segurando a mão do filho do meu irmão.
Marginal mirim.
— Diego? — ela perguntou sem acreditar e se aproximou lentamente.
Sem pensar eu me afastei e ela parou.
— Mãe... — minha voz falhou.
— Meu Deus, você esta vivo — acho que ela não acreditou naquelas palavras. Minha mãe estava me olhando com seus olhos azuis arregalados. Seu rosto estava mais velho do que o normal. O que era estranho já que fiquei fora por quase três anos.
— O que isso te importa? — foi difícil manter minha voz firme.
— Diego meu filho, eu me arrependo muito — ela apertava os punhos. — Eu passei noites em claro por medo de te acontecer algo, eu comecei a tomar calmantes, tudo por que eu não estava com o meu filho por perto.
Eu nunca imaginei aquelas palavras saindo da boca da minha mãe. Acho que eu criei um mundo na minha cabeça, um monstro tão horrível que aquelas palavras pronunciadas pareciam pura falsidade.
Noah estava inquieto no meu colo e eu achei aquilo estranho.
— O que foi Noah? — ele falou no meu ouvido bem baixinho.
— Ele é um dos meninos que ficam me atormentando na escola.
Claro. O Marginal tinha que estar no meio.
— Me faça um favor. Eu quero que você fale para o Hunter dar um jeito nesse garoto — eu disse apontando para o menino.— Ele estava fazendo mal para o meu filho.
— Ele é seu filho? — ela perguntou com os olhos brilhando e eu concordei com a cabeça sem conseguir olhar em seus olhos. — Só um momento, como sabe que o Gabe é filho do Hunter?
Tive vontade de gargalhar, mas consegui me controlar.
— O meu irmãozinho não te disse que eu o encontrei no shopping? Pois é, batemos um papo bem cabeça, mas isso não importa. Eu quero que a senhora fale para deixar ele longe do meu filho. E por favor... Esqueça que me viu aqui hoje.
Eu disse atravessando a rua e entrando no meu carro.
Eu coloquei na cadeira no banco de trás e me sentei no banco do motorista. Ainda pude ver minha mãe me olhando e sai cantando pneu em uma zona escolar, com certeza tomei uma muta. Quando eu já estava longe da escola eu parei o carro e encostei a minha cabeça no volante e comecei a chorar. Todos os meus fantasmas estão renascendo e não sei se tenho força para passar por isso novamente.
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