💀Capítulo 1- The crisis 💀

As paredes que um dia foram brancas, mostravam-se de uma cor gris melancólica adornada com todos os tipos de rachaduras, desde as mais pequeninas as maiores, as quais cruzavam de uma extremidade a outra. As goteiras, eram outro aspecto em evidência naquela instalação. Toda e qualquer gota de água existente das ultimas chuvas, ainda acumulavam-se no telhado fazendo com que em locais aleatórios elas escorressem lentamente. Sem dúvidas, o interior do hospital não aparentava em nada a linda arquitetura pan-óptica de seu exterior.

O hospício em si parecia existir sob nenhuma regra universal, já que o tempo aparentava ter sido parado completamente a muito tempo atrás. Charlotte  não possuía mais noção do período que já se passara na instituição, mas pelos seus cálculos poderia afirmar com quase toda certeza de que duas semanas completas haviam ao menos se esvaído de sua vida.

Quatorze dias de noites mal dormidas, de traumas revividos e de extrema negligência por parte dos profissionais da saúde, os quais já deixaram claro que não se importavam com os urros e gritos sôfregos dos pacientes. Como mais um dia normal, a noite fora extremamente difícil. Cada vez em que fechava os olhos, Lotty lembrava-se da sensação de sentir-se um nada naquela casa que fora o seu "lar" por tanto tempo.

As risadas debochadas, a dor dos machucados, a faca passando lentamente por sua carne enquanto que sem piedade sentia os golpes do mais velho no tempo em que o resto, assistia a tudo como uma platéia faminta, esperando por mais daquele incrível espetáculo para saciar suas almas e desejos sádicos. As lágrimas caiam com fervor ao lembrar-se de tais feixes de cenas. Desde que fora encontrada acorrentada naquela moradia, os eventos ainda eram nebulosos.

Ao inicio, lembrava-se de uma experiência boa, de um acolhimento daquela família e de sua relação com um homem mascarado o qual parecia como se a cuidasse, ela acreditava que ele a amava, mas isso mudou de uma forma brusca. Suas manhãs eram sempre as mesmas, acordar depois de algumas poucas horas de sono e encontra-se naquela sufocante e pequena cela. Seu quarto como poderia ser chamado, consistia em uma sala bastante pequena a qual mal a comportava decentemente.

A cama era basicamente um retângulo de um tamanho médio feito de concreto com um fino colchão manchado com uma mistura de elementos os quais não sabia identificar, apenas sabia que tratavam-se de manchas avermelhadas das quais conseguiram penetrar profundamente no pequeno artefato de espuma. Para completar o "conforto", os funcionários foram bondosos o suficiente para colocar um travesseiro tão manchado e fino quanto o leito. Cobertas, eram itens considerados de extremo luxo o que consequentemente significava que ter um manto para amenizar a briza fria da noite era quase impossível.

Pontualmente as sete e meia da manhã, era comum encontrar com os casacas brancas, os quais com seus cabelos bem arrumados, chalecos bem passados e sorrisos presunçosos no rosto, evidenciavam em suas expressões o quanto se divertiam em sentirem-se superiores à aquelas pessoas que se encontravam em condições piores do que animais. Segurando firmemente ambos os antebraços da jovem moça, o homem de pele parda e corpulento à conduziu para o salão central, onde seria servida a primeira refeição do dia.

O salão e o jardim sem questionamentos eram os locais favoritos dos pacientes, que conseguiam sentir-se mais livres em tais localidades visto que a vigilância e a opressão eram mínimas, pois os funcionários aproveitavam tais momentos para descansarem e também, começar a conversar sobre o seu dia com os demais colegas. Em todo o tempo que esteve no sanatório Willard, entendera que cumplicidade era algo inexistente em tal clínica. Todos eram de seu jeito mentalmente insanos e não conheciam outra realidade ou então os tratamentos destruíram suas últimas forças para lutar.

Se houvesse alguma demonstração de humanidade, um olhar ou até mesmo uma discreta ação de empatia pelo outro, era sinal de que essa pessoa estava ficando cada vez mais lúcida e isso para o hospital significava a perda de um paciente e consequentemente a perda de um dinheiro e a de uma alma para reprimir. O salão em si era muito bonito o que era controverso se fosse comparado com o restante do ambiente. As paredes diferentemente da dos dormitórios era de um branco brilhante o qual transmitia uma certa alegria visto em comparação ao acinzentado das paredes dos quartos.

No total, haviam seis mesas grandes as quais ocupavam mais de dez lugares feitas por um tipo de madeira forte e rústica acompanhada das cadeiras de mesmo material e para completar, em seus centros havia uma pequena variedade de frutas que mesmo não sendo consideradas próprias para consumo, era o que tinham e com certeza não iriam desperdiçar. Ao sentar-se à mesa em que o guarda a acomodou, começou a observar ao seu redor, principalmente para encontrar algum tipo de distração.

Passando seus olhos celestes pelas mesas, parou com a sua analise abruptamente para começar a encarar a mesa dos funcionários onde um homem a transmitia um ar horripilante e de certa forma familiar. Mesmo de costas, ela percebeu os cabelos encaracolados castanhos escuros, a altura elevada se comparado aos seus conhecidos e especialmente a cor da camisa que usava, um verde musgo extraordinariamente conhecido. Olhando daquele modo para ele, começou a sentir uma dor de cabeça enorme, na qual mais feixes de memórias cruzavam por dentro de sua cabeça. O corpulento homem, um avental branco manchado de pinceladas macabras de carmim, uma máscara grotesca com costuras salientes que a deixava tão enjoada de só imagina-lá, a maldita máscara a qual a perseguia durante alguns segundos em sua mente.

Aflita para acabar com essa visão, levantou-se de modo súbito da mesa despertando por inércia a atenção de boa parte do salão pelo barulho que o pesado assento provocou ao cair. Puxando seus lindos cabelos castanhos claros que agora encontravam-se oleosos e embaraçados com fúria, a bela dama começou a  gritar como se houvesse sido atingida por um firme golpe em seu corpo. Um grito que expressava todos os sentimentos que estavam guardados em si, um bramido de dor. Rapidamente, um pequeno grupo de enfermeiros a agarrou com determinação enquanto que a sentavam em uma cadeira de rodas, que a última mulher do grupo havia trazido quando percebeu o início da inquietação da paciente. Agoniada com o que vira, começou a se assustar ainda mais ao notar o corredor em que a estavam levando.

O temido corredor norte com a sala tão polemica que habitava a boca dos mentalmente instáveis. A sala que ouvira tanto ser pronunciada com medo pelos lábios de pessoas as quais agoniavam ao seu redor. A sua reação voltou somente quando percebeu a porta de carvalho com a pequena placa de mármore com os números quinhentos e dez explícitos em sua frente. Exasperada para sair dali, a pequena e magra mulher começou a debater-se freneticamente em busca da sua liberdade, a qual a muito tempo havia sido tomada de si de uma maneira tão abaladora.

Não houve jeito, a sua energia física era completamente insuficiente para lutar contra aquela equipe de indivíduos a sua frente e sem escapatória, fora puxada pela cadeira de locomoção de uma vez só para tal cômodo. A sala conseguia ser ainda mais assustadora do que fora capaz de imaginar. Seguindo o padrão dos quartos e dos corredores, o compartimento possuía uma parede que um dia fora branca com alguns mofos e rachaduras por toda sua extensão dando um ar mais maquiavélico e abandonado ao local. Em seu núcleo, havia uma maca com lençóis sujos mas ao mesmo tempo mais limpos do que os dos dormitórios.

Em seu lado, havia um pequeno criado mudo escuro sem detalhes ou adornos, apenas uma estrutura retangular escura a qual servia para evitar que o aparelho de eletrochoque ficasse em contato direto com o chão. Nos cantos contrários também haviam outros tipos de máquinas como uma caixa que assemelhava-se com um caixão de madeira, o famoso meio de cura em que o paciente era colocado em uma espécie de banheira onde rapidamente duas ou mais enfermeiras enchiam baldes com água fria até deixar a vítima submersa, sem a chance de ao menos respirar para que com a água, a loucura fosse pelo ralo, mas não era assim que acontecia.

Muitas vezes pela falta de cuidados, pessoas acabavam sendo asfixiadas até a morte ou então acabavam com sequelas permanentes como um pânico constante ou então um lapso ou perda da memória. Porém, ela fora arrastada até a maca onde o grupo de profissionais amarrou seus membros superiores e inferiores à esta com cintos os quais estavam presos as beiradas da cama. Com medo e uma tremenda tristeza, Char fazia de tudo para tentar soltar-se e fugir, no entanto essa ação não era possível devida a força desnecessária a qual fora sujeitada em seus finos e delicados membros.

O barulho do aparelho sendo configurado a trazia uma tremenda angústia, especialmente pelos pequenos sons que a carga elétrica pesada transmitia, mesmo estando relativamente longe de si. As lágrimas de sofrimento escorriam pelo seu rosto enquanto que fechava seus olhos com a esperança de fazer com que aquele momento acabasse logo. Os dois objetos de madeira eram molhadas com uma solução de água e sal para que atuassem como transmissores de eletricidade.

Sem demoras, sentiu o movimento brusco das mãos cobertas pelas luvas de látex abrirem sua mandíbula com vigor, colocando uma borracha em sua boca para que durante o tratamento não acabasse por morder a língua. Com isso, sentiu a sensação gelada que as duas bonequinhas lhe causavam ao serem postas em sua fronte, uma de cada lado, transmitiram uma das piores sensações de sua vida, tanto que a sua mente ficou literalmente por um tempo em branco, apenas acompanhada com os tremores de seu corpo ao sofrer a convulsão.

Para a sua sorte dadas suas condições, foram apenas dois únicos choques certeiros em suas têmporas e terminada as aplicações, a desamarraram que sem reação continuou com os olhos fechados enquanto sonhava com o seu corpo andando livre pelo compo sentindo a brisa, os sons e a sensação que tanto estranhava, a de ser uma pessoa liberta.

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