Capítulo 15 - Como escrever Sinopses?

TEXTO RETIRADO DO BLOG:

CHIMERIANE

Sinopses são difíceis, muito difíceis, principalmente para autores que postam suas histórias na internet. Se elas não forem boas, as chances de leitores escolherem te dar uma chance é bem pequena; afinal, existem centenas de milhares de histórias de graça na web, e por mais que a sua provavelmente tenha seu toque especial, talvez você não tenha conseguido deixar isso claro na sinopse.

E é justamente esse o ponto principal da sinopse: mostrar o que sua história tem a oferecer que nenhuma outra tem. Mas vamos por partes.

De modo simples, suas sinopse tem que fazer três coisas:

1° apresentar os personagens principais;
2°  o lugar onde ela se passa e;
3° dar indícios do conflito.

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Saca só a sinopse de Trono de Vidro da Sarah J. Maas:

Nas sombrias e sujas minas de sal de Endovier, uma jovem de 18 anos está cumprindo sua sentença. Celaena é uma assassina, e a melhor de Adarlan (1). Aprisionada e fraca, ela está quase perdendo as esperanças quando recebe uma proposta. Terá de volta sua liberdade se representar o príncipe de Adarlan em uma competição, lutando contra os mais habilidosos assassinos e larápios do reino (3). Endovier é uma sentença de morte, e cada duelo em Adarlan (2) será para viver ou morrer. Mas se o preço é ser livre, ela está disposta a tudo.

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Ou a de A Rainha Vermelha, de Victoria Aveyard:

O mundo de Mare Barrow (1) é dividido pelo sangue: vermelho ou prateado. Mare e sua família são vermelhos: plebeus, humildes, destinados a servir uma elite prateada cujos poderes sobrenaturais os tornam quase deuses.

Mare rouba o que pode para ajudar sua família a sobreviver e não tem esperanças de escapar do vilarejo miserável onde mora (2). Entretanto, numa reviravolta do destino, ela consegue um emprego no palácio real (2), onde, em frente ao rei e a toda a nobreza, descobre que tem um poder misterioso... Mas como isso seria possível, se seu sangue é vermelho? (3)

Em meio às intrigas dos nobres prateados, as ações da garota vão desencadear uma dança violenta e fatal, que colocará príncipe contra príncipe - e Mare contra seu próprio coração (3).

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Apesar de gostar bem mais de Trono de Vidro do que de A Rainha Vermelha, comparando as sinopses não tem como negar que a de A Rainha Vermelha é bem melhor. O conflito da história não é bem melhor explicado e entrelaçado na história, assim como a apresentação da personagem e de seu background. Mas de qualquer forma, ambas as sinopses informam o que o leitor necessita saber: personagem principal, lugar onde a história se passa e conflito.

Porém, se você for traduzir a sinopse americana de Trono de Vidro, as coisas ficam bem melhores:

Após servir um ano de trabalho duro nas minas de sal de Endovier por seus crimes, Celaena Sardothien (1) é arrastada diante do Príncipe Herdeiro. Príncipe Dorian (1) a oferece sua liberdade como uma condição: ela deve ser sua campeã em uma competição para escolher o mais novo assassino real (3).

Seus oponentes são homens - ladrões, assassinos e guerreiros de todo o império, cada um apoiado por um membro de conselho do rei. Se ela vencer seus oponentes em uma série de testes, ela servirá seu reino por quatro anos e então ganhará sua liberdade. As sessões de treinamento com o capitão da guarda, Westfall (1), se mostram desafiadoras e estimulantes. Mas ela está entediada pela vida da corte (2). As coisas ficam um pouco mais interessantes quando o príncipe começa a mostrar interesse nela... mas é o rude Capitão Westfall que parece entendê-la melhor (3).

Então um de seus concorrentes aparece morto... e é rapidamente seguido por outro. Pode Celaena descobrir quem é o assassino antes que ela se torne uma das vítimas? Enquanto a jovem assassina investiga, sua busca a leva a descobrir um destino maior do que ela poderia jamais imaginar. (3)

Nessa sinopse temos três personagens principais (embora Celaena seja indiscutivelmente a protagonista, claro), o lugar onde a história se passa e indícios de três conflitos/plots (a competição, o possível triângulo amoroso e a série de assassinatos). É uma sinopse muito mais completa que a anterior, e que (provavelmente) deixar o leitor mais interessado.

Mas lembra de como eu disse que uma boa sinopse mostra ao leitor o que sua história tem de diferente das demais? Veja só:

existem centenas de histórias sobre uma classe que domina a outra e apesar da ideia de isso ser feito baseado na cor do sangue e no que isso significa (poderes ou falta de poderes) ser sim interessante, não é isso que diferencia a história das demais (em tese). O que faz a curiosidade do leitor aumentar é justamente o fato de Mare ter poderes sendo que ela não deveria. É essa quebra da regra estabelecida que chama a atenção, que "diferencia" A Rainha Vermelha das dezenas de histórias que seguem mais ou menos o mesmo estilo (em teoria).

Com a sinopse (boa) de Trono de Vidro, as coisas ficam mais complicadas, e pra mim ela é uma bom exemplo de que mesmo uma sinopse tecnicamente boa não é a melhor para a sua história. O diferencial da série Trono de Vidro está justamente no conflito apresentado no último parágrafo e no fato de a Celaena ser uma assassina que não só é (supostamente) a melhor do reino, mas que está presa há um ano como escrava em uma mina de sal. E muito pouco disso é explorado na sinopse, o que pra mim foi uma oportunidade perdida.

No fim das contas, a chave é saber balancear informações. Você deve dar o suficiente para deixar os leitores curiosos sobre seus personagens, sobre o lugar onde a história se passa/o mundo e sobre os conflitos, mas sem sobrecarregá-los com informações demais. Porque eles não vão se importar. Comece a usar nomes demais, seja de personagens ou de lugares ou de organizações ou sei lá, de qualquer coisa, e o leitor vai ficar confuso, vai perder o interesse e vai se mandar. Lembre-se: o leitor não tem motivo para se importar com sua história. Ainda. O seu papel na sua sinopse é convencê-lo de que existe algo ali com que vale a pena se importar, e apenas isso.

Resumindo:

Apresente os personagens principais e ninguém mais. Leitor tá pouco se lixando pro tio do primo do personagem principal ou o colega engraçado dele. Os principais MESMO. Nada dos quase principais ou os muito importantes. PRINCIPAIS.

Apresente o lugar onde a história se passa. Se ela se passa em vários lugares, é melhor escolher onde a história começa e/ou onde a história se passa na maior parte do livro.

Apresente o conflito/plot. É bom apresentar o conflito principal e apenas se der os secundários. E por "se der" eu quero dizer se não fizer a sinopse perder o ritmo ou se você não tiver que criar mil parágrafos pra sair explicando esses subplots.

Não seja cliché aka por um mundo onde eu não tenha que ler fulana era uma garota normal até seu aniversário de x anos/um garoto chegou na sua cidade/ela sonhou com tal coisa nunca mais na minha vida. Amém.

Não saia despejando tudo em cima do leitor na ânsia de mostrar o quão original sua história é. Sim, eu disse pra mostrar o diferencial da sua história, mas isso não significa que você deve mostrar tudo de novo e diferente e original e incrível que você pensou pra ela na sinopse. Afinal de contas, você deve guardar algo pro livro, né? E como eu disse lá em cima, o leitor não se importa. Ainda.

Seja específico. Ana é uma garota de 17 anos que vive em uma casa próxima a uma floresta escura onde ninguém jamais vai. Ela há muito já se acostumou com os cochichos do povo da cidade, que teme o lugar e que acredita piamente que ela e sua tia, Márcia, são amaldiçoadas por morarem tão perto, mas ela não se importa; a casa pertenceu a seus pais, mortos desde que ela era pequena, e lá é o único lugar onde se sente perto deles. Até que um dia, antes de dormir, algo estranho acontece na floresta e, curiosa, ela decide investigar. Mal sabia Ana que sua vida mudaria para sempre depois daquela noite.

<- sabe o que essa sinopse me diz? Nadica de nada. Ela não é especifica. Quero dizer, o conflito. Ana vai investigar a floresta. Tá, e daí? Neca de pitibiriba sobre isso pra dar ao leitor algo que o deixe curioso? Só ela decidiu investigar e isso mudou sua vida para sempre? Não funciona.

Quando você não deixa o conflito claro, você tira a tensão da sinopse. O leitor fica meio sem ter ideia do que esperar da história (essa da Ana: é terror? Aventura? Fantasia? Ela descobre algo horrível, fantástico? Claro que não é preciso dar todas as respostas na sinopse - na verdade é melhor não dar nenhuma - mas é bom dar uma ideia do que esperar).

Reescrevendo a última parte da sinopse da Ana, ficaria assim: Até que uma dia, antes de dormir, Ana vê de relance uma sombra cambaleando em direção à floresta, e após hesitar por um instante, decide investigar o que está acontecendo. Ela sai de casa e caminha até a borda da floresta. A sombra a está esperando. Quando Ana se aproxima ela a reconhece imediatamente - é seu pai, jovem como ele era quando morreu junto a sua mãe 15 anos atrás, como se preso no tempo - e ele tem uma mensagem para ela.

<- agora temos algo concreto! O leitor tem uma ideia do que esperar! (Viagem no tempo? Ou talvez o pai fingiu sua morte e arranjou outro modo de não envelhecer? E como isso se relaciona com as lendas sobre a floresta?)

Quando você dá algo mais específico ao leitor, ele se interessa mais pela história. Detalhes (quando não em excesso) são sempre melhores do que qualquer coisa vaga.

(Quem quiser usar a ideia da Ana/casa da Ana/pai da Ana/floresta, sinta-se à vontade).

Enfim, é isso. Espero que tenha ajudado e qualquer coisa é só mandar uma ask!

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