QUATRO

Passo o tempo pensando em como resgatarei Nick. As possibilidades parecem impossíveis agora, comigo amarrada e subjugada ao chão sujo.

Lágrimas deslizam pelo meu rosto se penduram na ponta do nariz. Não o protegi corretamente.

O som de rodas esmagando pedras me faz ficar alerta. Por instinto enrolo meu corpo em uma posição fetal ao ouvir o automóvel vindo na minha direção. Pelo barulho alto e estridente de sua locomoção, tenho certeza que é algo monstruoso.

O som se aproxima cada vez mais junto com suas rodas. A poeira que levanta me faz ter um ataque de espirros consecutivos. Abro os olhos e encaro o céu vermelho. Será esse meu fim?

Mas, antes que o carro passe por cima de mim, ele para a centímetros de distância do meu rosto. Suspiro aliada ao mesmo tempo que ouço alguém sair do automóvel e xingar em voz alta. Segundos depois, diante de mim aparece uma figura de cabelos brancos, estranhos olhos metálicos e pele pálida. Não posso ver seu rosto direito, pois a poeira ainda flutua com o vento ao redor de nós, impregnando em nossos rostos quando tem a oportunidade.

- O que faz aqui garota? - Ralha o velho e sua voz é forte, tanto que me assusta. Profunda também e arranhada como cascalho. Estremeço.

- Ah, nada. - Comento. A ironia deixando minha língua afiada. - Decidi tirar um descanso no meio da estrada e me prender a cordas. Sabe, só pra ver qual a sensação de me sentir um porco prestes a ir ao abatedouro.

Um suspiro sai do homem e juro que posso ver seus olhos revirarem. Observo-o meticulosamente enquanto enfia a mão no bolso da calça branca e retira um canivete. Me encolho para longe e ele ri divertido. Deveria ter segurado a maldita língua.

- Calma, garota. Vou só te soltar. - Fala e me liberta das cordas.

Me levanto cuidadosamente e toco meus pulsos, que agora estão vermelhos e ardendo. Coço minha garganta que está dolorida e olho em volta, não tenho certeza do que estou procurando. Porém, quando meus olhos se encontram com o urso do meu irmão jogado no chão, meu coração murcha e eu corro para pegá-lo. Quem fez isso vai pagar.

Minhas mãos viajam pelos meus cabelos e puxo os fios irritada, perdida. Não sei nem ao menos por onde começar. Como caçar Nick se nem tenho um rastro dele?

- Ei, garota. - Chama o velho de novo. O encaro. - O que estava fazendo aqui? Quem fez aquilo? - Exige saber e respiro fundo. Agora mais essa.

- Olha, senhor. Agradeço pela ajuda, mas tenho que ir. Boa viagem. - Tento passar por ele, mas mãos enluvadas me seguram. Imediatamente me afasto, chocada com sua ousadia.

- Ei! - Reclamo.

- Não me respondeu ainda. Quem fez isso?

- Não sei porque tanto interesse. - Comento contrariada, mas dou a ele as respostas que tanto quer. - Fui atacada por alguém, acho. Ou um grupo; não tenho certeza. Estava inconsciente. - Calor sobe por minhas bochechas e me sinto decepcionada comigo mesma. - Levaram meu irmão também e é por isso que preciso ir. Espero ter ajudado.

Me viro e o homem ri. Não tem graça em seu tom, apenas o mais simples e puro dos deboches.

- Boa sorte com isso, garota.

Me volto para olhá-lo, irritada.

- O que quer dizer agora? Por que está rindo?

Inclinando a cabeça para o lado, revela sem preâmbulos ou hesitação:

- Tem um grupo de pessoas desconhecidas sequestrando crianças faz um tempo. Um mês e meio, para ser exato. Nenhuma foi encontrada ainda e duvido muito que uma criança vá encontrar o antro desses ímpios.

- Não sou criança. - É tudo o que posso dizer. Minha mente ruminando as palavras desse homem. Palavras assustadoras que faz meu coração ficar trôpego dentro do meu peito. Falha uma, duas, três batidas. O que ele diz a seguir me faz desfalecer por dentro por completo.

- Pode ser. Mas mesmo assim, boa sorte para você. Espero que não seja tarde demais.

Agora ele é o único a se virar e partir para longe do caos em que me encontro.

(674 palavras)

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