17 de setembro de 1892

        Querido Diário...

   Seria possível a Contadora de Horas só ser alguém que me ajuda? Porque, estes dias estava a pensar pelos bosques onde eu caço os mais variados animais, e percebi que muitas das coisas que acho de extrema idiotice, ainda me ajuda de certa forma. As palavras dela um dia me fizeram refletir, e a cada tic-tac que dava, tive a impressão de ser rude e cruel com ela.
     Ela só me quer bem e com bons costumes, como uma mãe. Talvez eu esteja sendo um pouco ruim com os teus ensinamentos e seja cabeça dura de nunca a perdoar... Talvez eu só estivesse confuso sobre ela, e que eu nunca quis falar com esta.

      Refletindo nessa base, resolvi ir até o seu quarto, estranhamente ela me permitiu se sentar ao seu lado, e falamos sobre coisas aleatórias e até mesmo sobre o futuro. Perguntou-me se eu queria continuar a caçar e eu disse que sim, e que pretendo virar um caçador profissional e escritor... E ela sorriu dizendo-me que "Eu sabia que você persistiria. Voce sempre foi alguém que não liga pra nada. Mesmo que isso não dá dinheiro e..."
    A partir daí, eu não escutava mais nada do que ela dizia. Não sabia distinguir se eram comentários elogiosos ou depreciativos. Eu não sabia o que fazer, além de fingir um sorriso e ter que continuar a escutar baboseiras em formas românticas de dizer. Percebi que com ela, era um tipo de relação tóxica: Diz-me que ama, mas que logo me despreza. Em qualquer uma das circunstâncias, eu seria uma pessoa exemplar, para logo ser dado como errado.
     Queria muito a entender, e até ama-lá por ser quem é, mas isso é impossível. As falhas dela aparecem, logo penso ter que conserta-lá novamente, porque o tic-tac não faz o mesmo barulho e está muito mais frenético... Eram exatamente a quantidade de "deselogios" que ela se referia a mim.

       Eu podia sair daqui, afinal, tenho apenas 16 anos, e poderia ir para a casa do Anjo Escritor, mas ela é o tempo, ela estaria em qualquer lugar que eu estivesse. Ela me olharia de cima a baixo com nojo, como se eu fosse o pedaço de escória cruelmente lapidada como humano. Além do mais, eu não queria trazer problemas ao anjo, ele já tem seus próprios problemas com o seu Contador de Horas, e até ele mesmo quer fugir dali.
     Pensei em escrever-lhe uma história, logo desisti quando lembrei-me das mais duras palavras que ela disse... Não existo sem a escrita, mas também não vivo sem ela.

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