18 de setembro de 1892

Querido Diário...

Eu acho que me apaixonei... Me apaixonei de uma forma surpreendente, talvez nunca tivesse me apaixonado antes. A quem me refiro? Bom, uma nova garota que mora ao lado da minha casa. Ela andava com seu jeito calmo e um pouquinho desengonçado, como se estivesse bêbada. Seus cabelos eram até a medida do seus ombros onde eu estranhará, visto que os pais abominam a ideia de que uma mulher pudesse ter o cabelo curto, e se tiver, deveria usar um tipo de manta para deixar apenas a franja, mas nem a franja tem.
Sua pele era um tom quase caramelo, tomará muito sol parecido com o de verão, pelo o que eu escutei na rua pelas arengueiras do bairro. Pelo ao menos, ainda não permitiram enche-lá de perguntas. Ela me parece tímida, da vez que nos vimos, ela apenas olhou para mim, aqueles olhos castanhos e expressivos me diziam um angelical "Olá" sem voz, além do olhar, junto ao formato de coração pequeno dos seus lábios, seu nariz parecia uma pontinha pequena no meio do seu rosto.

Eu diria que ela fala com os olhos, não precisa de palavras pra descrever que já havia me encantado, mas parecia um Suplício de Tântalo. Eu não sou tão tímido, mas também não sou tão assanhado a ponto de conversar com ela, que parecia ser uma pessoa tão distante daqui, mas morando ao meu lado.

Decidi apenas esquecer que o tempo ainda passava, a Contadora de Horas estava em seu canto, e eu estava em paz, já agradecendo pelo pequenos minutos que eu tinha, dependendo do dia. Resolvi agraciar-me com uma carta para a Garota do Outro Lado, sabendo que nunca poderia entregá-la por mim mesmo.
Mas até que era bom se apaixonar só por vê-la, talvez ela não precisasse saber e nem conviver com o inferno que muitas das vezes passo nesta casa de "paz" interminável e abominável.

~~~~~~