[88] Infeliz Descoberta

Assim que retornou à cabine, Jay encontrou seu alfa e ômega concordando em seguir a rota anteriormente sugerida por Jungwon. O mesmo estava ansioso para encontrar um galeão e tomar posse dele, para que sua nova tripulação não tivesse de passar suas noites no desconfortável porão.

Além disso, outro navio em seu comando significava mais poder, invasões e pilhagens. O mundo era imenso demais, para percorrer com apenas uma embarcação.

Jay guardou as anotações que recebeu em uma gaveta, na própria mesa do Capitão, depois se aproximou de ambos, com uma expressão mais tranquila. Ele beijou o ômega na testa e voltou-se para o outro:

- Preciso de sua ajuda para algo aqui na cabine...

- Tudo bem. - Lian prontamente respondeu.

- Também posso ajudar. - Jungwon sorriu para o mais novo.

- Na verdade, meu bem, é melhor que você esteja de fora dessa vez. - Jay disse com suavidade. - A tripulação precisa de você lá fora.

- Hm...

Lian olhou de um para o outro, confuso. Não imaginava o que haveria de ser, para que seu ômega ficasse de fora. Mas não contestou, pois sabia que Jay teria algum motivo por trás daquele comportamento.

Jungwon não reclamou quando Jay segurou em sua mão e o conduziu para fora do cômodo. Manteve um sorriso compreensivo e um semblante neutro. Mas quando a porta foi fechada atrás de si, ficou um pouco desapontado. Eles não precisavam expulsá-lo do quarto para namorar, já que não queriam fazê-lo com um ômega grávido.

No interior da cabine, Jay mostrou a Lian algumas partes que necessitavam de limpeza. O alfa deu seu consentimento. Agora tudo fazia sentido. Eles deram início a faxina detalhada em todos os cantos. Enquanto realizavam o serviço, o vigia do mastro principal informou a vista de um galeão navegando a alguns minutos de distância.

- Todas as velas ao vento! - Jungwon ordenou a medida que tomava o controle do leme no convés superior. - Tomaremos o galeão.

- Vamos atacar? - Um marujo perguntou.

- Sim, mas tenham cuidado. Esse navio será nosso.

Os piratas assentiram e cada um assumiu sua função, ajustando as velas a partir dos cordames no convés. Aos comandos do Capitão, dividiram-se entre o gurupés e o mastro real. Não era uma tarefa fácil roubar um galeão, mas enquanto guiava o leme, Jungwon o observava de longe com uma luneta, para não perdê-lo de vista.

A embarcação que estava sendo perseguida não reparou a aproximação do navio pirata, mas os canhões do Luna foram carregados com pólvora e balaços. Conforme se aproximavam, os marujos ocuparam cada aparelho e aguardaram com determinação a ordem de fogo.

Por volta de 20 minutos após iniciarem a perseguição, o galeão tomou conhecimento do perigo que o cercava tarde demais. O comandante estava em sua cabine quando foi alertado a respeito de um navio que se aproximava velozmente em sua direção.

- Tem a porra de outro navio pirata prestes a nos atacar, e só agora vocês me avisam?!

- Devemos resistir?

- É óbvio! Alimentem os canhões. Peguem os mosquetes, espadas e o escambau!

Seguindo as ordens do comandante, os marujos se preparavam para defender o galeão considerando a iminência do perigo. O Luna já se encontrava dentro da linha de batalha. Seus canhões foram apontados para as velas, a fim de reduzir a velocidade e dificultar as manobras de uma possível fuga. Contudo, nenhum disparo até então foi efetuado, pois Jungwon pretendia evitar ao máximo danos a estrutura física do galeão.

Tiros foram disparados contra o Luna. Os piratas se lançaram no chão para fugir dos projéteis. Jungwon desviou no momento que um balaço atravessou bem ao seu lado no convés superior, sempre mantendo o leme em seu controle.

- Pode mudar as correntes marítimas? - O ômega questionou o Kraken em sua mente.

"Sim, mas será difícil pra você manter o controle do Luna também."

- Não importa.

Assim sendo, o Kraken deslocou massas menores de água em direções distintas. O timoneiro do galeão ficou confuso quando o navio quis tomar outro rumo.

Diferente da maioria das embarcações piratas, o Luna era consideravelmente gigante, por mais que Jungwon tentasse manter o leme estável, a força dos ventos e a mudança naquela parte do oceano fazia o aparelho mover no sentido contrário ao qual o ômega tentava girá-lo.

Seu alívio foi instantâneo ao sentir o cheiro de sândalo se aproximando por trás. Duas mãos agarraram o leme e o ajudaram a mover o navio na direção antes pretendida.

- Quem estamos atacando? - Lian e Jay deixaram a cabine no momento em que perceberam a investida.

- Na verdade, estamos adquirindo um novo navio. - Jungwon afirmou simples. Ele estava entre o leme e o alfa.

Outros disparos foram efetuados, dessa vez, um dos balotes atingiu a cesta do mastro, destruindo-a consecutivamente. O marujo da vigia só não caiu estatelado no convés porque segurou-se em um dos cabos.

Jungwon segurou o máximo que podia. Se uma investida pacífica não era suficiente para aqueles malditos, estava na hora de responder aos ataques de maneira apropriada. Ele sinalizou, autorizando o ataque contra o galeão.

Jay juntou-se aos marujos que estavam responsáveis pelos canhões, onde Eunji e Sarah também ajudavam a abastecê-los. Um disparo atingiu um dos mastros do galeão, as balas acorrentadas destruíram um conjunto de velame, outras atravessaram o convés do navio mercante destruindo tudo por onde passavam.

Mais disparos de fogo foram trocados. O timoneiro do galeão não teve a mesma habilidade que Lian para guiar o navio pelo caminho desejado. As fortes correntes marítimas impediram a fuga à medida que os piratas chegavam mais perto. Por mais que estivessem próximos, os tiros do navio mercante foram desperdiçados, uma vez que a instabilidade da embarcação impediu uma pontaria mais precisa.

Continuar resistindo só resultaria em mais danos e a perda desnecessária de vidas. O comandante não teve outra alternativa a não ser render-se e pedir clemência, para os tripulantes, passageiros e também para si mesmo.

Assim que os navios foram postos paralelamente, vigas de madeira abriram caminho entre as embarcações. A tripulação do Luna rendeu os marujos do galeão, conforme tomavam o controle por completo.

O comandante, rendido por dois piratas, aguardou pelo capitão deles no convés. Enquanto seguia pelo pavimento, Jungwon tomou nota de alguns sinais que indicavam qual a carga mais recente que estavam transportando. Ele parou diante do comandante e expressou:

- Metais, arroz, madeira... o que mais temos por aqui?

- Há algumas jóias na cabine. São de família, então se puder deixar algumas...

- Pode levar todas quando desembarcarem no próximo porto.

- Mas a nossa rota está definida para os reinos do Sul. - O comandante franziu o cenho. - Nesse caso, estamos muito longe do próximo porto.

- Há um arquipélago a noroeste da nossa atual localização. A viagem de vocês será adiada por alguns dias, mas logo vão poder embarcar em um navio mercante e retornar para o Sul.

- Perdão, eu ainda não entendi. Por que vamos precisar de outro navio se já estamos instalados neste galeão?

- Porque esse galeão agora me pertence, e nosso curso foi estabelecido para outras regiões.

- Espera um pouco... está dizendo que não levará somente as cargas, mas também o galeão?

- Exatamente.

- Quem você pensa que é? Não pode fazer isso!

- Já estou fazendo. - O ômega ignorou sua expressão indignada e voltou-se para a tripulação mercante: - Meu nome é Jeon Jungwon, sou Capitão do Luna e agora este galeão também me pertence. Meu pai trabalhou em um navio como este, por isso eu sei que não recebem o justo pelas condições em que vivem. Em nossa tripulação, o lucro é dividido igualmente entre todos. Se quiserem, podem me seguir em uma jornada que os deixará ricos. Ou, podem continuar sendo explorados em troca de algumas moedas de bronze.

A tentadora proposta cintilou na mente dos marujos. Era de conhecimento geral que a forma de vida que os piratas levavam é de alto risco, mas em compensação, o tesouro que acumulam ao longo de alguns anos é capaz de sustentá-los por todo tempo que lhes resta. É possível viver como pirata por alguns anos e depois se aposentar, como muitos faziam, e manter uma vida confortável em terra firme.

- Meu nome é Bill Di Nau, sou cozinheiro. - O primeiro marujo ergueu uma das mãos, indicando que aceitou a proposta.

Um dos cargos mais importantes em uma navio, era o de cozinheiro. Até mesmo os piratas necessitam de uma alimentação apropriada, por este motivo, o marujo foi aceito com grande entusiasmo. Corty já era a cozinheira do Luna, tendo a pequena Zoe como auxiliar. Agora, a nova tripulação já tinha Bill Di Nau para garantir comida boa.

A partir disso, outros marujos aceitaram o convite de Jungwon e se juntaram aos piratas. A maioria deles pretendia juntar dinheiro suficiente para futuramente largar aquela vida e nunca mais ter de trabalhar. O Capitão não se importava com tais pensamentos, portanto que cumprissem com suas responsabilidades enquanto faziam parte da tripulação.

Os marujos que recusaram a oferta, os passageiros e o comandante foram levados para o porão de carga, onde irão permanecer até o galeão ancorar na próxima ilha que os piratas pretendem ancorar.


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Naquela noite, horas após a investida, para o contentamento de todos, uma refeição apropriada foi servida nos dois navios. A bordo do Luna, Hyun ainda não havia deixado seu camarote desde a ocasião em que sentiu-se constrangido na enfermaria.

Apesar de sentir muita fome, ele não teve coragem de colocar os pés para fora do quarto, visto que todos estariam na cozinha fazendo suas refeições, certamente o médico também haveria de estar lá. Não sabia exatamente como Taesung reagiu às palavras de Alice, mas pensamentos invasivos insistiam que o alfa estava desapontado com ele.

Estava planejando buscar algo para comer durante a madrugada, quando a maioria estivesse dormindo, contudo, sua companheira de quarto surgiu juntamente com suas amigas alfas, trazendo consigo refeição suficiente para ele.

- Obrigado. - Assim que colocou na boca, ele sentiu que aquela comida era a mais deliciosa do mundo.

As garotas aguardaram pacientemente o ômega concluir sua refeição, para então questionar o motivo de estar ausente durante toda a tarde e entrando pela noite. Apesar de relutante no início, Hyun acabou contando o lamentável episódio que ocorreu mais cedo na enfermaria.

- Sinto muito. - Zoe expressou, segurando na mão dele carinhosamente.

- Ela parecia ser tão doce, mas foi extremamente desnecessária. - Eunji negou com a cabeça. Quando olhou para o lado viu sua prima encarando um canto fixo de modo suspeito. Conhecendo-a bem, a alfa intimou: - Não tá pensando em matar ela, né?

- Eu? - Sarah encarou-a, depois disfarçou desviando o olhar. - Claro que não...

- Eu estou bem - Hyun esclareceu. - Só preciso ficar um tempo sozinho.

- Tem certeza? Se quiser eu posso ficar aqui com você. - Zoe prontificou-se.

- Tenho. Vou ler um pouquinho um livro que o Jungwon me deu.

- Tudo bem, então. Qualquer coisa estamos lá fora. - A ômega deixou o cômodo e esperou no corredor com Eunji.

- Quando terminar de ler, vem ficar com a gente no convés. - Sarah sorriu ao segurar a mão dele com firmeza. - Não vou deixar ela te incomodar.

- Obrigado. - O irmão sorriu de volta.

Hyun não estava sozinho, de fato, mas sentir o apoio das garotas o deixou menos tenso diante do que estava sentindo. As palavras de Alice já não o afetaram mais, agora restava apenas a dúvida do que Taesung pensava dele após o ocorrido. Estava com medo do médico considerá-lo patético. A última coisa que ele queria era que o alfa sentisse pena dele.

O ômega acabou adormecendo após passar horas lendo o livro que ganhou. Na manhã seguinte, os navios se aproximaram da ilha onde o comandante do galeão e demais passageiros vão desembarcar.

Os navios ficaram ancorados próximos ao pequeno porto. O conjunto de ilhas era um refúgio para os que praticavam pirataria naquela região. A informação descartou qualquer possibilidade do comandante enviar uma denúncia às autoridades da Marinha. Sua única escolha seria pegar carona com os navios que abasteciam as ilhas, tal como os demais passageiros.

Jungwon decidiu que as embarcações ficariam ancoradas por algumas horas, enquanto providenciava provisões para passar mais tempo navegando. Como haveriam de passar mais tempo no mar, os piratas aproveitaram a ocasião para se entreter com alguma distração.

Havia um banco de areia próximo a um dique de pedra a alguns metros da praia. A pequena ilha era cercada por corais e sua pouca vegetação se resumia a um curto gramado com algumas flores de cores diferentes, que cresceram ao redor de alguns coqueiros. O lugar chamou a atenção de Taesung, que ficou algum tempo parado admirando o lugar.

- Ele disse que vem depois - o médico ouviu a voz de Zoe logo ao lado, passando com as alfas Sarah e Eunji.

Era meio óbvio que estavam se referindo a Hyun. Já fazia algum tempo desde que o viu pela última vez. Ainda que o ômega estivesse o evitando, ficou satisfeito em perceber que ele não se isolou completamente. Estava mantendo contato com as meninas, embora não tenha deixado o quarto.

Os piratas descobriram que não tinha muito a se fazer naquela ilha. Apesar de grande, ela servia apenas para um curto descanso para navios mercantes e para abastecer os suprimentos da viagem. Se fosse mais bem investida, poderia ser tão grande e lucrativa quanto Nabuco.

Assim sendo, a partida foi antecipada e logo os que gastaram seu tempo buscando algo a se fazer naquela ilha voltaram para os navios, enquanto o comandante e seus passageiros desembarcaram para tentar a sorte em outra embarcação.

Sempre que o Luna está ancorado em alguma cidade, Taesung busca encontrar artigos e materiais que possam ajudar na prevenção, tratamento e cura. Encontrou algumas plantas exóticas teoricamente ainda não catalogadas, visto que nunca leu sobre elas em nenhum livro.

Porém, uma delas chamou mais a atenção. Ela se tratava de uma flor que, segundo os locais, tinha uma condição muito interessante. O alfa levou consigo um exemplar da espécie e também outras desconhecidas por ele, onde pretendia estudá-las mais tarde.

Alguns minutos após o Luna partir junto ao galeão, Taesung dirigiu-se à enfermaria mas parou um pouco antes. Estava diante de uma porta na qual Hyun se encontrava do outro lado. Ele pensou em bater, mas outra ideia lhe pareceu melhor. O ômega estava deitado em sua cama, refletindo sobre a história que leu fazia poucos minutos. Ouviu um barulho de pergaminho deslizando pelo chão, quando olhou para a porta encontrou um pedaço de papel dobrado depois da soleira.

Com as sobrancelhas franzidas, ele se abaixou para ver do que se tratava. O sorriso foi imediato quando reconheceu a letra. Ocorre que Hyun presenciou o médico elaborando relatórios sobre a saúde dos piratas uma centena de vezes. Poderia reconhecer a letra dele de olhos fechados.

Sem delongas, Hyun abriu o pergaminho e viu o desenho do arquipélago onde estavam ancorados a algum tempo, e uma mensagem que dizia o seguinte:

Ancoramos em uma ilha que tinha um banco de areia depois da praia, com um formato de uma pêra mais ou menos assim.

O sorriso do ômega abriu-se ainda mais, então foi em busca de um lápis grafite para escrever. Ele ficou sentado no chão com as costas apoiadas na porta, tal como Taesung estava do outro lado. O alfa sorriu ao ver o papel deslizando de volta. Quando abriu, encontrou a resposta:

O desenho ficou muito bonito. Posso imaginar perfeitamente todas as ilhas.

Taesung usou a parte inferior da folha para fazer outro desenho, depois escreveu mais alguma coisa e devolveu o papel por debaixo da porta novamente, onde o ômega pôde ler:

Os corais ao redor da ilha eram bonitos assim, de tamanho diferentes e cheio de cores. Você teria gostado de ver.

Hyun sentiu-se um pouco triste por não ter ido logo atrás, como prometeu a irmã mais cedo. Ele revelou esse detalhe quando enviou de volta o recado:

Também gostaria de ter visto.

Ainda que apenas um dia tenha se passado desde o aborrecimento envolvendo Alice, os dois sentiram falta da conversa diária que sempre mantinham e da companhia um do outro. Na certa, teriam desembarcado e explorado a ilha juntos.

Não tinha certeza se Hyun atenderia, mas decidiu que deveria ao menos tentar. Tinha pouco espaço no cantinho da folha, e ele usou para escrever uma última mensagem:

Trouxe um presente pra você. Pode abrir a porta?

O coração do ômega acelerou. Era curioso por natureza e gostaria muito de ver o presente, mas ainda estava com vergonha de olhar para o rosto do médico. Além do mais, não poderia negar, quando o alfa tão gentilmente trouxe um presente para si.

Apesar de ter decorrido poucos segundos, Taesung imaginou que o ômega não atenderia. Mas a curiosidade do outro falou mais alto e logo ele ouviu a porta sendo destrancada. Hyun apareceu em sua frente, com um olhar tímido e ao mesmo tempo curioso.

O alfa estava segurando um pequeno vaso com um tufo de flores minúsculas entre uma folhagem menor ainda ao redor. Hyun recebeu o presente e sentiu o cheiro das flores. Apesar de pequenas, exalavam um perfume agradável.

- Os locais disseram que elas nascem todas as manhãs com cores diferentes.

- Uau... - Hyun admirou as flores azuis, imaginando como elas seriam na manhã seguinte. - Isso é muito lindo. Obrigado, Tae.

O ômega voltou para dentro do quarto e encontrou um cantinho para guardar o presente, depois se aproximou da porta e o convidou:

- Você quer entrar?

- Eu acho que não é uma boa ideia. Se o Jay me vê aí dentro vai ter um surto.

- Tem razão... - o ômega riu sem jeito. Já não era tão novo a ponto de não entender os motivos do contramestre. - O que você vai fazer agora?

- Vou separar por espécie e estudar as propriedades - ele mostrou algumas ervas. - Quer vir comigo?

- Sim! - Era tudo que ele queria, estar na companhia do médico outra vez, conversando e aprendendo coisas novas através de suas pesquisas.

Juntos, eles seguiram para a enfermaria e organizaram uma bancada onde pretendiam reparar a reação dos materiais coletados, em contato com outras substâncias.

Enquanto procurava um recipiente de vidro e uma caixa, Taesung encontrou uma única pétala caída no chão. Ela pertencia a um grupo que ele guardava nas últimas prateleiras, por oferecer um grande perigo tóxico apenas pelo toque.

Com o uso de uma pinça ele coletou a peça floral e a observou de perto, com o cenho franzido. Não havia como ela ter caído sozinha, e certamente não foi ele quem a derrubou. Ele tinha bastante cuidado em deixar esse tipo de coisa pelo chão, pois tinha em mente que Puffy rói tudo que encontra pela frente.

- Alguém esteve aqui e mexeu nas minhas coisas. - Taesung mostrou a pétala ao mais novo.

- Não foi com uma dessas que fizemos o veneno no Brasil?

- Sim... - O alfa examinou outros recipientes, para certificar-se do que mais estava faltando. - Levaram um pouco de cada.

- Mas essas daí são venenosas também?

- Não, mas aí é que tá. A diferença entre o antídoto e o veneno é a dose. - Ele exibiu as raízes de uma planta medicinal. - Isso aqui em muita quantidade pode ser letal.

- Não me diga que o vidro estava cheio...

O alfa confirmou balançando a cabeça positivamente, e em seguida afirmou:

- Eu tenho uma certa ideia de quem foi.

- Quem?

- Alice. A única pessoa que eu mostrei meu estoque. Ela é brasileira e conhece as ervas locais.

- Ela disse que a avó dela ensinou algumas coisas, não foi?

- Exatamente. Agora ela vai me explicar o que estava fazendo aqui.

- Acho melhor você contar suas suspeitas pro Jungwon, sem acusar ninguém. Você sabe que acusações assim são muito graves.

- Tem razão. Você vem comigo.

- Como testemunha?

- Também... mas seja lá quem foi que roubou, não teve boas intenções. Não vou te deixar sozinho aqui.

Hyun sorriu assentindo, deixando-se ser guiado pelo médico. Ele gostava quando Taesung cuidava de si tão atenciosamente. Apesar dele não ser um dos alfas mais fortes do navio, o mais novo se sentia seguro perto dele.

Quando chegaram na cabine do Capitão, eles encontraram o próprio sendo mimado por seus alfas. Jungwon estava sentado na cadeira com Jay atrás massageando seus ombros, enquanto Lian estava na frente, sentado de joelhos, massageando os pés do ômega.

- Pois não? - Jungwon indagou. Os alfas não se incomodaram com a presença dos outros, e continuaram com o serviço.

Taesung explicou o motivo de estarem ali, suas suspeitas e como chegaram àquela conclusão. Hyun ajudou no depoimento deixando-o mais verídico.

No dia em que fugiram da Fossa, quando chegaram na enseada, os alfas disseram que já sabiam dos planos de Jungwon. O ômega considerou aquilo uma simples suposição da parte deles, mas apesar disso, uma ponta de desconfiança ainda permaneceu em sua mente.

- Alice foi pro galeão? - Jungwon virou-se para seu contramestre. Todos os novatos foram alojados na nova embarcação.

- Ela quis ficar no Luna. Disse que quer ficar onde você estiver. Foi uma das únicas que permaneceu aqui.

Todos trocaram olhares ainda mais apreensivos. A mínima suspeita que Jungwon sentia agora cresceu e tomou um espaço muito maior, na incerteza de que havia sido traído.

Sem mais tempo a perder, o Capitão ergueu-se da cadeira girando para seu contramestre, pois o mesmo que distribuía os serviços entre os marujos e saberia dizer onde Alice deveria estar, caso ainda estivesse trabalhando.

- Ela deveria tá ajudando a limpar a cozinha.

- Você fica na cabine com eles - Jungwon ditou para o primo, depois virou-se para Taesung: - Você vem comigo.

Em pouco tempo O Capitão e o médico estavam descendo a caminho da cozinha. Eles encontraram Corty pelo caminho, que os livrou de perder tempo procurando por Alice. A mesma informou que o serviço já tinha sido concluído e que a ômega recolheu-se em seu próprio dormitório.

Jungwon bateu na porta da ômega, que respondeu indiferente, sem imaginar que se tratava do Capitão. Mesmo quando este revelou-se, ela demorou um pouco para atendê-lo, com a desculpa de que estava trocando as vestes.

- Por que roubou do estoque da enfermaria? - Jungwon não fez rodeios.

- Não fiz isso. - Alice recuou até a porta com expressão de choque.

- Farei uma revista no seu quarto. Saia da frente.

A ômega abriu a boca para questionar mas o lúpus foi mais ligeiro quando invadiu o cômodo. O alfa notou que a respiração de Alice passou a ficar mais excessiva. O suor frio se formava em sua testa à medida que o ômega se aprofundava na busca.

Quando Jungwon virou de frente para ambos, Alice engoliu em seco ao ver um receptáculo de vidro em suas mãos. Os olhos do ômega fixaram-se nos dela, quando Alice tentou se explicar antes mesmo de ser questionada:

- É um elixir para insônia.

- Jura? - Jungwon destampou o frasco vagarosamente.

- Uhum... - Alice engoliu em seco ao vê-lo aproximar o item à sua frente.

- Beba.

- Não quero dormir agor... - a voz da ômega falhou.

- Se tomar isso, vai dormir pra sempre, não é? - Jungwon esperou pela resposta, mas Alice mudou sua expressão de medo para raiva. Ele fechou o recipiente e ponderou em voz alta: - Você aceitou rápido demais a proposta que fiz lá na Fossa...

- Todos aceitaram.

- Depois de você, apenas. Todos pareciam indecisos, até você se manifestar sem nenhum questionamento. - A cada palavra dita pelo Capitão, Alice cerrava os dentes. - E o que dizer sobre os alfas que sabiam exatamente o que eu pretendia durante a fuga. Você contou a eles...

- Se aqueles fracotes idiotas tivessem feito o que mandei desde o início, nada disso estaria acontecendo agora. - Ela fez uma pausa dramática com um sorriso medonho, depois continuou: - É! Era eu quem mandava naquele lugar. Eu que pretendia roubar todo o tesouro. Eu que controlava os alfas e dei a ideia de usar aqueles ômegas imbecis como depósito de...

Alice foi interrompida por um soco que quebrou seu nariz. Antes que pudesse se recuperar, recebeu outro e mais outro, até sentir uma ligeira tontura que quase a levou ao chão, se não fosse por Jungwon ter agarrado seu cabelo com força.

- Por que ainda não tentou me matar? - Jungwon perguntou.

- Quem disse que não tentei? Você é intocável! Seus alfas não tiravam os olhos de você.

- Eu estou grávido, você sabia disso e mesmo assim pretendia me matar!

- Um pequeno sacrifício. - Alice deu de ombros.

Jungwon sentiu vontade de arrancar a cabeça dela do corpo com as próprias mãos, mas se conteve. Ela não merecia morrer tão rapidamente. Em vez disso, ele a puxou pelos cabelos em direção ao pavimento superior. Alice tropeçou nos próprios pés sendo arrastada escada acima, xingando horrores enquanto tentava ficar de pé.

Seus gritos histéricos chamaram a atenção da tripulação, que se juntou em peso para ver o que estava acontecendo. Hyun estava acompanhado de Lian e Jay no convés, quando viram a cena se desenrolar diante dos seus olhos.

- Essa vagabunda nos traiu - o Capitão acusou ao jogá-la de vez no chão. - Ela pretendia me matar envenenado.

Um coral de vozes exaltadas se espalhou pelo convés. Alice engatinhou desesperada até parar próxima do médico.

- Eu pretendia te levar comigo. Poderíamos fugir com o tesouro. - Ela tentou tocá-lo, mas ele se afastou enojado.

- Eu nunca deixaria o Hyun pra ficar com você. - A afirmação do alfa foi ouvida por todos, inclusive Hyun.

O ômega era bastante novo mas sabia que gostava muito de estar na companhia do médico. Sente-se bem por estar com ele desde que se entende por gente. Ouvir o que foi dito com tamanha convicção pela própria boca do alfa, deixou seu coração aquecido. Seu lobo de certa forma já sentia essa conexão com o do alfa. Ambos possuíam um vínculo emocional forte.

- Mande-a para a prancha, Capitão! - Sutcrif bradou, sendo apoiado pelos demais piratas.

- Não. - Todos se calaram após a negativa de Jungwon, e assim permaneceram até que o mesmo anunciou, exibindo o frasco de veneno: - Vamos presenteá-la com sua própria criação.

- Não! - A ômega tentou, mas seu grito foi abafado pelas vozes das dezenas de piratas:

- Sim! Sim!

Quando Jungwon se aproximou da ômega, ela tentou fugir trancando os dentes o mais forte que conseguiu, mas ele segurou em seu pescoço e apertou com força, fazendo-a abrir a boca em busca por oxigênio. Ele aproveitou a brecha e jogou todo o líquido dentro da boca dela. Alice tossiu desesperada mas acabou engolindo boa parte do veneno.

Em poucos segundos já podia sentir a ação do veneno em suas entranhas. Estava queimando como se tivesse engolido brasas. A partir disso, Alice sabia exatamente o que viria a seguir, dado que inúmeras foram as vezes que ajudou sua avó a envenenar seus inimigos.

Na tentativa de evitar uma morte extremamente agoniante, ela se levantou rapidamente, tentando correr para se jogar no mar e morrer afogada, mas foi impedida quando Jungwon atirou em uma de suas pernas. A ômega caiu no chão do convés gritando de raiva e dor, enquanto seu sangue escorria pelo membro atingido.

Os minutos que se seguiram foram de pura agonia e desespero para Alice. A dor foi tamanha que em certo momento ela parou de amaldiçoar e apenas se estrebuchou pelo chão. A cena foi tão angustiante que os piratas viraram o rosto, apenas Jungwon continuou assistindo. Para o ômega, traição vinda de quem depositou confiança era particularmente terrível.

Após o suplício de Alice, seu corpo foi jogado para fora do navio como se fosse um saco de lixo. O médico fez com que cada um que entrou em contato com seu corpo, inclusive o Capitão, tomasse uma dose do antídoto que ele mantinha por precaução. Jungwon contou aos demais ômegas o motivo da execução de Alice, eles ficaram em choque, repudiando as escolhas da infeliz.

Contina...

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