[77] Numb

Eu modifiquei um pouco a primeira vez do Jungwon pq né… eu estava um pouco emocionada querendo que os dois participassem de todo jeito. Só que o Lian não precisava penetrá-lo para participar tbm, né? Ele estava lá e guiou os dois até certo ponto, isso é mais que suficiente, é sublime. 

Eu acredito que estraguei um pouco o momento por causa disso, então fiz essa mudança. 
Obrigada pelos comentários de vcs. Às vezes a gente precisa enxergar a situação com outros olhos pra se tocar que uma coisa está um pouquinho estranha 

Eu sei, ninguém lembra do capítulo anterior 🙈 nem eu lembrava, mas dá um pulinho lá e lê o finalzinho, caso não entenda o início desse 🫣🥰❤️

Boa leitura:


Os olhos do ômega apreciaram cada detalhe exibido no corpo do mais velho, após o mesmo abrir todos os botões e remover a camisa. Dos ombros largos, o peitoral e abdômen definidos, Jungwon subiu o olhar até o rosto de Lian, e este sorriu para ele, ainda parado e em silêncio.  

Jay deslizou a mão por baixo da camisa dele, acariciando o meio de suas costas até descer e parar na curva da bunda. O toque afetuoso se tornou mais intenso quando o alfa apertou. Jungwon suspirou em resposta. Ele fechou os olhos quando Jay voltou a beijá-lo pela região entre o ombro e o pescoço. O efeito causado pelo contato aquecia cada centímetro da pele do ômega. 

As mãos do alfa mais novo cercaram Jungwon e ele o abraçou completamente, por trás, levando-o consigo para a cama. O ômega mordeu o lábio e sorriu quando sentou entre as pernas do alfa e sentiu a mão dele deslizando para a sua região íntima. Jungwon apreciava quando ele esperava seus comandos, mas também derretia-se quando o alfa tomava a iniciativa.

— Não é justo que apenas eu esteja sem roupas. — O ômega reclamou.

Jay estava encostado na cabeceira e Jungwon logo a frente, sentado entre suas pernas com as costas apoiadas em seu peito. Seus joelhos estavam dobrados e afastados um do outro. Lian apoiou as mãos em cada joelho dele quando subiu na cama, e apreciou o quanto ele estava exposto.  

Quando suas mãos percorreram o interior das coxas do ômega, este suspirou profundamente com o efeito do contato suave e apoiou a cabeça nos ombros de Jay. O mais novo prontamente virou seu rosto para o lado e o beijou. Jungwon estava com os olhos fechados, mas sentiu a firmeza das mãos de Lian quando ele afastou gentilmente suas pernas, um pouco mais. 

Lian olhou para ambos e, à medida que se aproximava da intimidade do ômega, as pontas de seus dedos moveram-se por entre as coxas dele. Estava tão perto, que Jungwon podia sentir a respiração do alfa batendo contra sua entrada. Seus mamilos endureceram quando o contato úmido da língua do alfa pressionou o local entre suas pernas. Jay podia sentir a mudança na respiração dele quando tornou-se mais irregular. Jungwon suspirou profundamente, interrompendo o beijo. Jay capturou o lábio inferior dele com seus dentes e mordeu levemente.

As mãos do ômega desceram até o cabelo de Lian e o segurou ali, indicando que ele deveria permanecer com a língua naquele lugar. Jungwon podia sentir que seu corpo estava derretendo por dentro, a cada vez que o alfa colocava mais pressão. Uma das mãos de Jongseong percorreram o torso do ômega, sentindo com o tato a cicatriz no meio do peito, a outra deslizou para o lado e encontrou um dos mamilos. Um gemido involuntário escapou da garganta de Jungwon e um desejo inquietante concentrou-se mais intensamente em sua pelve. 

O ômega abriu os olhos e olhou para baixo com o cenho franzido quando Lian se afastou, fazendo sua mão que segurava o cabelo dele recuar. O alfa sorriu para ele e passou a língua sobre os lábios, observando sua expressão não muito satisfeita por ter parado. Jungwon voltou a fechar os olhos e apoiou a nuca no ombro do mais novo outra vez ao sentir o dedo de Lian pressionando com suavidade a região entre as suas pernas, para então inserir um dedo lentamente. Inclinou a cabeça para o lado para que o mais novo tivesse acesso ao outro lado do seu pescoço. Jungwon mordeu o lábio tentando conter outro gemido conforme sentia o dedo movendo-se em seu interior. 

— Você quer que eu continue? — Lian sussurrou, provocante.

— É só isso que você consegue fazer? — Jungwon devolveu.

Jay parou o que estava fazendo e ergueu as sobrancelhas, observando a reação do alfa mais velho. Lian retirou o dedo com cuidado e sentou de joelhos, estudando a expressão de Jungwon. O ômega suspirou ansioso, assistindo o mesmo fazer exatamente o que ele queria. O alfa removeu o cinto com os olhos ainda presos nos de Jungwon, desfazendo-se da peça de roupa logo em seguida. Jungwon sorriu ávido no momento que ele agarrou suas coxas e o puxou com força um pouco mais para si. Lian usou as mãos como apoio no colchão e inclinou o corpo para frente, penetrando-o vagarosamente e sem interrupção até parar com a testa próxima a do outro alfa. 

Sua respiração chocou-se com a de Jongseong enquanto permanecia parado para que o corpo dele se habitasse. Jay podia sentir o sândalo e indícios de chocolate, proveniente da autolubrificação do ômega. Ele deslizou as mãos pelas costas de Lian, descendo até parar na bunda, apertando com os dedos, trazendo-o mais para si. Jungwon gemeu em resposta e arranhou os braços do mais velho, querendo mais. 

No mesmo momento em que beijava o outro alfa, Lian retirou-se dele para logo em seguida penetrá-lo outra vez, ainda mais fundo. O corpo do ômega reagiu instantaneamente. O alfa seguia deslizando entre suas pernas, não muito gentil, do jeito que Jungwon almejava. Ele podia sentir a ereção do mais novo debaixo de si, oculta pelo tecido da calça, e o orgasmo se aproximando vigorosamente. Seu corpo inteiro inflamava a cada movimento duro, firme e sem hesitação do alfa. Lian exercia pressão na medida certa. Seu ritmo era perfeito. Mesmo quando retirava-se do interior dele, o ômega tinha Jay logo atrás, impulsionando-o contra o mais velho.

Jungwon dissolveu-se inteiramente e um calor percorreu entre os três quando o orgasmo espalhou-se com força. Suas mãos caíram ao lado da cama e ele não deslizou junto porque estava preso entre os dois alfas. O toque ligeiramente rude do mais velho deu lugar a um afago suave quando acariciou o rosto dele, movendo o cabelo úmido de suor para o lado e deixando um beijo carinhoso em sua testa. Em seguida, retirou-se de dentro do ômega para largar o corpo bem ao lado no colchão.

— Deixa eu ficar um pouquinho aqui… — Jungwon virou de frente para o mais novo e aninhou-se no peito dele. — Preciso de um pouco de carinho agora, beh…

Jay acolheu o ômega carinhosamente entre seus braços e o beijou no topo da cabeça. Estava satisfeito apenas em oferecer toda a sua atenção e cuidado para que ele se recuperasse, embora tenha embarcado no mesmo orgasmo que os dois. A verdade era que Jay não sabia se queria estar no lugar de Lian ou no de Jungwon, ou se ele mesmo queria estar no lugar do ômega. 

— Quero mergulhar no oceano, assim mesmo, sem roupas. — Lian comentou.

— Não podemos ancorar — Jay acariciava os cabelos do ômega quando respondeu. — O objetivo é alcançar o Black Swan.

Pensativo, o alfa mais velho permaneceu na cama um pouco mais. Seu corpo ainda estava aceso e aquecido do que acabara de fazer, precisava tomar um belo banho para relaxar um pouco e continuar guiando o navio. Moveu os olhos pela extensão do cômodo e encontrou a tina de madeira utilizada para banhar-se ou demais métodos de higiene. Não seria como a imensidão do mar onde ele poderia fechar os olhos e ser levado pelas ondas, mas era o suficiente.

— Vou encher a tina. — Lian se levantou para vestir as calças e posteriormente deixou a cabine.

Durante o tempo em que esteve afastado do cômodo, Jay e Jungwon permaneceram no mesmo lugar. O ômega, principalmente, não moveu um músculo. Continuaram assim até o mais velho encher a tina completamente. 

Lian parou próximo a cama e ofereceu a mão ao ômega. Jungwon pensou na melhor alternativa, se era acompanhá-lo ou continuar deitado com o mais novo. No fim, ele decidiu que ficar com Jay um pouco mais, não seria uma má ideia. Ele só não contava que o alfa tinha outros planos.

— Eu vou ficar aqui com o Jay. — Jungwon decidiu, aninhando-se a ele um pouco mais.

— Eu preciso ver como a tripulação está se comportando. — Jay explicou. — Não confio neles sozinhos nem por um minuto.

Jungwon suspirou quando o alfa saiu de trás dele e depois seguiu para fora do quarto. Ele ficou sentado na cama encarando o mais velho, Lian sorriu para ele e o ômega estudou, antes de declarar:

— Me leva. — Indicou a tina com os olhos e continuou sentado na cama, esperando pelo alfa.

— O Jay tá te deixando muito mimado — Lian foi até ele e o pegou nos braços. 

O ômega não disse nada até ser colocado, com cuidado, dentro da tina. Ele sorriu ao sentir que a temperatura da água estava morna e agradável. Permaneceu em silêncio quando o alfa entrou na banheira e ficou de frente para ele. Lian tomou um de seus pés e deu início a uma massagem relaxante e Jungwon fechou os olhos, relaxando. Jay não era o único que mimava seu ômega. Um apenas era mais explícito que o outro.

                           

🏴‍☠️


Uma tempestade se aproximava pouco depois que o Black Swan deixou para trás os arredores do Triângulo da Morte. Algumas horas depois, o Luna estava perto de encontrá-la. Era preciso que  Jungwon decidisse seguir a rota ou fazer um breve desvio no curso. Conhecendo seu Capitão, a tripulação já estava se preparando mentalmente para cruzar o temporal.

— Consegue manter o leme a minha disposição? — Jungwon quis saber se o timoneiro manteria controle sobre o aparelho. 

— Sim. — Lian confirmou.

— Então vamos atravessar a tempestade. — O Capitão comunicou, confirmando o que todos já imaginavam. 

O contramestre viu o ômega seguir orientando alguns piratas que o acompanharam. Estava certo que haveria menos gastos de recursos para enfrentar o temporal do que dar uma volta maior para evitá-lo, contudo, havia outros detalhes que passaram despercebidos pelo implacável Capitão.

— Podemos conversar um segundo? — Jay o chamou.

— Pode falar. — Jungwon continuou junto aos marujos, instruindo-os: — Quero as velas da gávea muito bem presas e envergadas, assim o timoneiro manterá o vento em proa.

— Realmente vamos enfrentar essa tempestade? — Jay perguntou.

— Nós podemos fazer isso — o ômega olhou para ele com um sorriso tranquilo.

— Nem todos estão prontos pra uma tempestade tão violenta. 

Jungwon observou a clamorosa tempestade vinda do leste, bramindo furiosa enquanto o Luna navegava em sua direção. Todos que estavam a bordo já haviam enfrentado um grande temporal como aquele, exceto os quatros grumetes recém aceitos.

O Luna conseguiria, mais uma vez, confrontar a tempestuosa força da natureza, mas se existia uma melhor alternativa para evitar que os mais inexperientes fossem de alguma forma afetados pela tormenta, o Capitão o faria. Não apenas por se tratar de parentes e amigos próximos, mas aquela era a sua tripulação, e Jungwon cuidaria de cada marujo, seja ele o mais jovem ou o mais debilitado. 

— Icem as velas para longe da tempestade — o ômega ordenou, virando-se para informar o timoneiro sobre a mudança de curso.

— Aff, vamos contornar?! — A voz de Simas estava carregada de preguiça. Mesmo sendo um alfa grande e forte, o pirata engoliu em seco quando o Capitão dirigiu a ele seus olhos negros e uma expressão que o fez mudar a narrativa imediatamente: — Sim, senhor.

Jungwon observou o marujo, em conjunto com os demais, fazer exatamente o que foi estabelecido. Depois, mostrou sua atenção ao contramestre, mantendo no semblante um sorriso afetuoso.

— Obrigado por me lembrar que existe uma linha tênue entre diversão e colocar a minha tripulação em perigo.

— Diversão?! — O alfa ergueu as sobrancelhas e riu em seguida, cruzando os braços quando refletiu: — Sempre buscando coisas perigosas pra fazer…

O ômega mordeu o lábio e mudou a expressão para um olhar inocente, virando o rosto para esconder o pequeno sorriso que se manifestou logo em seguida. Enfrentar o temporal não era somente para encurtar a viagem e poupar recursos, ele queria estar no meio da tempestade sentindo a fúria do vento e a força das águas. 

Jungwon disfarçou o sorriso dando às costas para o alfa, e seguindo na direção do convés superior para informar ao timoneiro sobre a alteração na rota, mas a mudança das velas não passou despercebida pelo timoneiro. 

— Você quem manda. — Lian mudou a posição do leme sem questionar, e o Luna virou na direção indicada pelo Capitão do navio.

A tempestade foi deixada para trás pela vertiginosa velocidade que o Luna era capaz de atingir. Após alguns dias, eles finalmente alcançaram o Black Swan, que continuou seguindo velozmente mesmo sabendo que haviam se separado momentaneamente do outro navio, tendo em vista que o Capitão Jimin, tal como seu alfa, acreditavam seguramente que Jungwon seria capaz de encontrá-los.

Alguma movimentação era notada entre os piratas sempre que passavam ligeiramente perto de algum navio mercante. 

— A gente bem que podia atacar eles — Ivana Tapa-Olho comentou. 

A pirata estava sentada conversando com alguns marujos na popa da embarcação. Ela, assim como os demais, olhavam inquietamente toda extensão à sua volta, esperando ansiosos pela ordem de ataque. Enquanto os navios mercantes que cruzavam com ambas embarcações, faziam mais promessas do que poderiam cumprir, para que não fossem assaltados.

— O Brasil é muito longe — Eunji explicou. A alfa estava ciente da distância porque já presenciou algumas vezes seu irmão mencionando nos mapas da cabine. — Se ficarmos parando pra saquear navios, não vamos chegar lá nunca.

— Claro que vamos — Tapa-Olho argumentou. — Tudo é questão de ter paciência. O capitão deveria rever isso, o estoque tá cheio.

A pirata não estava levando em consideração que em uma viagem tão longa assim, o tempo é essencial. Os gastos não serão apenas com recursos, mas também consertando avarias causadas pelas tempestades e outros imprevistos no Mar Tenebroso. Ataques que apenas iriam atrasar ainda mais a viagem eram desnecessários quando o único objetivo era chegar no Brasil.

— Os Capitães do Black Swan são muito experientes quando se trata de cruzar o Mar Tenebroso. O Capitão Jun é respeitoso o bastante pra reconhecer isso. — Lis observou. — E a tripulação concordou.

— Tá, mas eu penso diferente da tripulação.

— Realmente, o Jungwon devia seguir suas orientações — Sarah comentou com sarcasmo. — Afinal, quem são os pais dele perto de Ivana Tapa-Olho?

— É melhor eu sair daqui, pois o ambiente não tá nada agradável. — A pirata retirou-se inconformada. Orgulhosa de sua mente genial e incompreendida. 

Ninguém ligou para a saída da mesma. Era como se ela nunca estivesse alí. O grupo voltou a conversar sobre a distância que já haviam percorrido e quantos navios desviaram sua rota para não navegar muito próximo dos piratas. Lis manteve-se calada, observando o entusiasmo dos grumetes. Sarah também estava mais quieta e isso chamou a atenção da beta, visto que a garota sempre fazia alguma análise em cima do que foi discutido.

Com a cabeça apoiada no parapeito, Sarah assistiu a retranca passar acima de onde eles estavam quando a vela foi movida para se ajustar à direção do vento. Após algum tempo observando a peça de madeira que manteve a vela fixa, ela fechou os olhos por alguns instantes, e só abriu novamente quando Lis a chamou:

— Você está bem?

— Hm? — A alfa olhou para ela com o cenho franzido. — Por que não estaria?

— Tive a impressão de que seus olhos estavam avermelhados — Lis revelou, estudando o rosto de Sarah. 

A alfa olhou para a sua prima, Eunji teve a mesma reação. Desde o início da viagem passaram-se algumas semanas, agora restavam poucos meses para que os gêmeos completassem 15 anos de existência. O rut haveria de chegar, cedo ou tarde. As crianças estavam crescendo, passando pela transição entre a infância e a adolescência.  

— Ah, não… — Sarah piscou demoradamente quando respirou fundo. — Vou ter que beber aquele chá com cheiro de esgoto!

— Meu pai disse que o gosto é muito pior… — Eunji comentou.

— Obrigada, agora me sinto bem melhor. — De repente, a alfa sobressaltou como se tivesse lembrado ou sentido alguma coisa, e desceu correndo as escadas para o piso inferior.

Os instintos levaram-na primeiramente a seguir em direção ao quarto do irmão. O laço que une os gêmeos era diferente da conexão entre Jungwon e o Kraken, eles não podiam ler a mente um do outro mas possuíam uma ligação emocional forte. 

Assim que chegou no corredor, Sarah segurou o cabo das duas pistolas encaixadas no coldre quando encontrou alguns alfas vagueando próximos ao quarto de Hyun. Ela parou momentaneamente analisando quem morreria primeiro, caso algum deles solte qualquer lorota em relação ao heat do ômega. Quando voltou a se aproximar, seus olhos, novamente avermelhados, estavam fixos e acompanhavam cada movimento dos marujos.

— Eu acho que ele tá… — Um deles iniciou, mas foi interrompido pela alfa:

— Melhor sair daqui se não quiser morrer. 

O aviso de Sarah os fez lembrar do comunicado que Jungwon fizera a todos. Se não morressem alí pelas mãos da jovem, certamente o Capitão faria muito pior a quem importunar seu tão querido primo, e isso inclui o cheiro daqueles alfas que Hyun certamente estava sentindo dentro do cômodo. Com prudência e calma, os alfas se afastaram do corredor sendo acompanhados pelo olhar de Sarah até sumirem quando chegaram ao convés.

A menina deixou o cabo das armas para segurar a maçaneta da porta e esperou. Fechou os olhos e respirou profundamente, concentrando-se em se controlar para não assustar o irmão com seu alvoroço. Somente quando sentiu que seus olhos voltaram a coloração natural ela usou a outra mão para bater na porta, indicando sua presença:

— Sou eu, Hyun — anunciou, para que o ômega ouvisse sua voz. — Posso entrar?

Sarah ouviu a movimentação do irmão dentro do cômodo e logo depois a chave sendo inserida na fechadura. Poucos segundos a seguir, a porta foi aberta e ela encontrou o ômega encarando-a com tranquilidade, segurando uma caneca vazia. 

— Você também, né? — Ele supôs, deixando o objeto em cima da cômoda. — Senti sua presença lá fora.

— Desculpa, não quis te assustar.

— Não senti medo. Foi mais como um sentimento de proteção.

— Que bom. — Ouvir aquilo fez a alfa abrir um grande sorriso. — Você está bem?

— Uhum — Confirmou, movendo a cabeça e mostrando a caneca em cima da cômoda. — Já tomou o seu?

— Isso é realmente necessário? 

— Vamos lá — Hyun segurou na mão dela e a levou para fora do quarto —, é pro seu próprio bem.

— Mas tem um gosto ruim!

— É só um pouquinho amargo…

Mesmo em desacordo com aquela ideia, Sarah se permitiu ser guiada pelo irmão. Ele levou-a diretamente para aquele que possuía mais conhecimento do que qualquer outro a bordo do Luna, no que diz respeito à saúde da tripulação. 

O aroma de hortelã e, sobretudo, o de morango, anunciaram a chegada dos gêmeos na enfermaria. Taesung estava separando alguns objetos que foram contaminados ao fazer curativos em alguns marujos, no momento em que ambos entraram no recinto. Seus olhos encontraram os de Hyun quando virou para encontrá-los.

— Ela precisa daquele chá… — o ômega comunicou: — Já tomei o meu.

Se Hyun não tivesse revelado aquela informação, dificilmente o médico saberia. Não fazia muito tempo desde que tomou a solução, e seu cheiro obviamente estava mais intenso para os sentidos do alfa. Taesung cobriu a boca e o nariz com a mão quando virou em direção aos armários, buscando as reservas que criou para o rut da tripulação. 

— Meu cheiro tá incomodando, não é? — Hyun ergueu as sobrancelhas, dando-se conta de que Taesung não era somente um amigo, mas um alfa. — Desculpa!

Sem esperar pela resposta do médico, virou-se ligeiro para deixar a enfermaria. Ao passar pela porta, esbarrou em Jungwon quando este vinha em seu caminho. Os piratas que Sarah encontrou no corredor informaram ao contramestre sobre o acontecido. Jay sabia identificar os dias que precedem o período de seu ômega, e Zoe ainda era muito nova para experimentar tal fase, sendo assim, ele buscou Jungwon em sua cabine imediatamente quando identificou quem precisava do apoio dele. 

— Você está bem? — O Capitão perguntou ao mais novo.

Ainda na porta, estudou o interior da enfermaria, encontrando Sarah bebendo chá e o médico olhando de volta, com as duas mãos cobrindo a região do nariz e da boca. Jungwon a olhar para o primo quando ele respondeu:

— Estou. Bebi o chá faz pouco tempo... — Quando Hyun evidenciou que havia ingerido a bebida recentemente, Jungwon entendeu que o mais novo estava inseguro em relação ao efeito.

Na realidade, não era algo difícil de compreender que Hyun estava tentando se manter tranquilo quando o momento era relativamente assustador. Na época que teve seu primeiro heat, os diversos aromas que estavam na praia causaram um certo incômodo para Jungwon, e com o primo não seria diferente quando a maioria que estava a bordo do Luna também eram alfas. O momento só não foi mais desconfortável porque Jimin estava consigo. 

Apesar de estar a somente alguns metros de distância, Jisung encontrava-se a bordo de outro navio. Jungwon entendia que o primo gostaria de correr e abraçar o pai, mas como no momento não era possível, seria ele a fornecer o apoio que Hyun, como ômega, necessitava.

— Quer que eu fique com você até que o chá faça efeito completamente? 

— Sim! — Hyun não hesitou e, em resposta, o mais velho segurou em sua mão.

— Você vem, Sarah? — Jungwon sorriu para a prima, oferecendo a mão livre.

Diferente do irmão, a alfa ponderou um pouco antes de responder imediatamente. Apesar de sentir-se insegura também, ela gostaria de passar aquela experiência o mais parecida possível com a que seu pai vivenciou. Definitivamente, Jackson não teve ninguém ao seu lado quando teve seu primeiro rut. Sarah gostaria de compreender aquela mesma sensação, pois, como alfa, inspirava-se no pai acima de qualquer outra pessoa. 

— Obrigada, mas preciso e quero passar por isso sozinha. 

— Tudo bem… — “coisas de alfas”, Jungwon sorriu, pensando consigo mesmo. Ele observou as duas pistolas encaixadas no coldre da prima e indicou: — Bom, se alguém se aproximar de você interessado no seu rut, atire na cabeça.

— Eu não conheço muitos alfas que são interessados em outros — a menina observou.

— Nunca se sabe. — Jungwon ponderou e em seguida concluiu: — Já dizia um Capitão muito sábio: quando em dúvida, você mata.

— Certo. — Sarah deixou o cômodo, muito tranquilamente, seguindo o caminho contrário ao que seu irmão e primo fizeram. 

Quando se viu sozinho na enfermaria, Taesung abaixou as mãos e respirou mais livremente. Para a sua surpresa, o aroma de morango continuava presente, espalhado por todo o recinto. 

— Tá de brincadeira… 

O aroma doce e um tanto cítrico de morango não era necessariamente incômodo para o alfa, que já estava acostumado a sentir quando conversava e jogava cartas com o mais novo. O fato era que seu amiguinho de todas as tardes era um ômega, e estava crescendo, o que era mais perceptível através da intensidade do aroma. O tempo passa rápido, muitas vezes sem que percebamos, o que gera certa confusão e estranheza diante de tais fatos.

Em vista disso, o alfa optou por deixar a enfermaria até que o aroma de morango sumisse do ambiente. Passou pelo corredor até subir as escadas para o convés. Quando chegou no piso superior, encontrou alguns piratas arrumando o paiol. Um deles, distraído com a presença do médico, afastou-se dos demais.

— Tá fazendo o que aqui?! — Baltazar cruzou os braços ao se aproximar. 

Taesung o encarou dos pés à cabeça, perplexo com a revolta do pirata. Na certa, assim como a maioria da tripulação, Baltazar acreditava que o médico deveria estar na enfermaria 24 horas por dia, sete dias por semana. O olhar indignado que ele manteve sobre o mais novo fez Taesung suspirar impaciente: 

— Preciso de sua permissão pra andar pelo convés?

— Não. Acontece que seu lugar não é aqui, e nem adianta fazer queixa ao seu irmão porque eu não tenho medo dele.

Assim que terminou de falar, o corpo de Baltazar se transformou em um enorme bloco de gelo, quando ouviu a voz do contramestre bem próximo a eles:

— O que todo esse alcatrão tá fazendo espalhado pelo pavimento?

— A gente tá arrumando o paiol, assim como você disse — Tony explicou. — Acabou escapando um pouco de alcatrão.

— Hmm… e nesse meio tempo tão querendo explodir a gente também? — Jay perguntou com ironia.

Os piratas trocaram olhares confusos. Lis riu divertindo-se com a situação, mas explicou logo em seguida:

— O alcatrão é uma substância que pode entrar em combustão com maior facilidade. 

— Vixi, cambada, vamo limpar!

Enquanto a discussão estava acontecendo, Taesung afastou-se deles e finalmente se dirigiu para a popa, onde pretendia ficar sozinho e aguardar a normalização da situação na enfermaria. 

Quando Jay se afastou seguindo os outros para garantir que os piratas não explodam o Luna, Lis viu o médico sentado em cima de uma caixa no fundo da embarcação, abrindo um livro com a ilustração de uma árvore grande e colorida na capa.

A beta aproximou-se silenciosamente e parou ao lado do amigo. De acordo com as páginas abertas, o livro fornece informações sobre espécies de plantas nativas de outros lugares. Somente quando leu o nome de um cogumelo, Taesung se deu conta da presença da garota: 

— Que lindo esse tal de orvastra.

— Ah! — O alfa sobressaltou. — Não me assusta assim.

— Desculpa… que coisinha fofa é essa que você tá vendo? — Ela mostrou no livro a imagem de um fungo amarelo meio alaranjado, com círculos azuis nas extremidades. 

— É um cogumelo extremamente nocivo. Aqui diz que sua toxina pode levar um alfa adulto a óbito em poucos minutos.

— Tá planejando assassinar alguém?

— Não — ele riu. — Quer dizer, nunca se sabe… só tô me distraindo um pouco.

— Você já lê demais. Desde que te conheci, vive com a cara nos livros. — A beta sentou ao lado dele. — Tá precisando de novas formas de distração.

— Não vejo muita coisa pra se fazer, cercado pelo oceano.

— Quando a gente chegar no Brasil, vou te levar pra conhecer pessoas. 

— Pra quê?

— Pra se distrair, se divertir.

— Já faço isso do meu jeito.

— Pra namorar…

— Não preciso.

— Então porque fugiu da enfermaria, justo quando tem um ômega no heat?

— Hyun não é qualquer ômega. 

— Mas é um. Tá, eu sei, o Hyun é muito novo. Ele é quase da idade da Zoe, mas se você sentiu algo, é porque está interessado.

— Você sabe que os alfas reagem ao aroma dos ômegas. Isso não significa que eu esteja interessado. Não é algo consciente, é uma reação do corpo. É como quando fazem cócegas em você. A gente ri, mas nem por isso é sinal de que estamos gostando.

— Entendi. Você ficou incomodado porque o Hyun é muito novo.

— É por esse caminho.

— Então se ele fosse mais velho, você ia querer namorar ele?

Taesung se virou para a beta com a boca aberta, mas não respondeu. O alfa, que sempre tinha a resposta afiada na ponta da língua, de repente perdeu a voz. Lis sorriu com a reação do amigo, mas não fez mais perguntas, enquanto o outro imediatamente voltou a ler o livro.

Continua…

Prometo não demorar outra eternidade pra atualizar

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